Socialistas EnvergonhadosExistem basicamente dois tipos de socialistas: os inocentes úteis e os que buscam poder. Estes manipulam as emoções, o romantismo bem intencionado mas sem conhecimento devido daqueles. Falam em fins supostamente nobres, como “justiça social”, “igualdade” ou “solidariedade”, conquistando os corações dos sonhadores despreparados. Em seguida, concentram poder em si próprios, dominando os ingênuos e entregando o oposto do prometido. Tem sido assim faz tempo, desde a utopia pregada na Terra, o paraíso de eterna paz e amizade, sem competição ou avareza.
Mas o inevitável ocorre cedo ou tarde: a experiência desse modelo irracional. E com ela, vem a desgraça, a miséria, escravidão e morte. Enfim, a União Soviética, a China de Mao Tse Tung, a Coréia do Norte ou Cuba de Fidel. Muitos aprendem da forma mais dura, apanhando, sofrendo na pele. A desilusão é enorme ao acordar para a realidade, enxergar que acreditava em algo errado. Mas não é fácil transformar em sucata anos de “aprendizado”, abandonar totalmente uma ideologia. Muitos migram então para algo misto, receosos de dar o braço a torcer e reconhecer o sucesso do “inimigo”, o “malvado” capitalismo liberal. Passam a pregar o welfare state, no fundo alimentando ainda grande desprezo pela parte livre desse modelo, e enaltecendo justamente a beleza da intervenção estatal. Não aprenderam a admirar a liberdade, a livre competição, as trocas voluntárias entre adultos responsáveis. Desconfiam ainda dos empresários, do lucro, do capital. Querem que o Estado tome conta da “besta”, controlando-a com sua rédea curta e muitos impostos. São socialistas envergonhados.
Os que buscam poder, naturalmente, enxergam nesse modelo a alternativa para o socialismo, o qual eles prefeririam pelo total controle sobre seus súditos. Mas como o ótimo é inimigo do bom, e a política é a arte do possível, eles aceitam dar alguns anéis para manter os dedos e muitas outras jóias. Cedem espaço para o “mercado”, fazem algumas reformas liberais, abrem mais a economia, mas sempre lutando para manter o máximo de poder possível. Concessões pragmáticas para manter a governabilidade, mas sem abrir mão da concentração de poder. Ainda falam em “justiça social”, em “menor desigualdade”, como se não fosse o Estado justamente a maior máquina de desigualdade. Conquistam ainda muitos adeptos, e mesclando o peso ineficiente do Estado com alguma agilidade econômica, ganham mais tempo de vida.
Só que aí vem a chata da globalização, pressionando cada vez mais por competitividade e eficiência. A competição agora é global, e quem não for ágil na adaptação irá perecer. Os países mais flexíveis mudam, a abertura comercial impõe um padrão de eficiência incompatível com a burocracia inchada, o livre fluxo de capitais obriga menores impostos sob a ameaça de mudar de país, as multinacionais competindo no mundo todo não toleram os pesados encargos sociais na folha trabalhista, o protecionismo comercial afasta os insumos necessários para a competitividade do país, a insegurança jurídica afugenta os investidores etc. Em resumo, a competição em escala mundial força uma constante busca pela eficiência, que simplesmente não combina com o dinossauro do welfare state.
Alguns países, ricos herdeiros do liberalismo e com pequena população, vão agüentando até onde é possível. Mas mesmo os escandinavos se vêem obrigados a reformar o sistema, privatizar estatais, abrir mais a economia, flexibilizar as leis trabalhistas, atacar o problema previdenciário. Os políticos respiram um pouco mais com isso, mas não será suficiente para competir no mundo moderno, quando Cingapura luta para virar a Suíça asiática, Hong Kong reduz os custos para os investidores, China oferece mão-de-obra barata, e Índia começa a abraçar finalmente o capitalismo. O welfare state deverá ser reformado por completo. Quando os economistas da escola austríaca anteciparam o inevitável declínio do socialismo, não foram levados muito a sério. Estavam certos. Hoje, alguns estão prevendo a bancarrota do Estado de bem-estar social inchado, assistencialista, ineficiente e pesado. Será uma questão de tempo. O modelo está esgotado, e não é compatível com um mundo veloz, globalizado e competitivo. Por isso o sentimento antiglobalização alimentado nos socialistas envergonhados. A competição é terrível para o ineficiente!
Mas os que buscam sempre o poder político não costumam desistir facilmente. São adaptáveis também, e vão migrando o discurso para onde for possível defender mais governo. O objetivo é sempre o mesmo: ter poder nas mãos. Os mais espertos já descobriram o caminho, o novo refúgio dos idólatras do Estado: a religião verde. O pânico da catástrofe iminente, o jargão técnico perante leigos, as previsões apocalípticas mais certas que o conhecimento do passado, tudo isso vai preparando o terreno para que os inocentes úteis uma vez mais depositem no Estado o poder de seu destino. Se há um inquestionável aquecimento global, se a ação humana é sem dúvida a causa, e se as empresas são as grandes culpadas, não tem porque discutir: mais poder ao Estado é a única solução viável.
Não importa que sejam especulações apenas, e que tantos “especialistas” tenham errado grosseiramente no passado. Não importa que Marte talvez esteja aquecendo também. Não importa que no passado a Terra tenha experimentado fortes ciclos climáticos. Não importa que onde o Estado teve mais poder concentrado tivemos mais poluição em termos relativos, como fica claro nos países socialistas. Não importa nada disso. Importa a “certeza” de que somente o governo tem capacidade para cuidar do problema, e por isso devemos concentrar mais poder nele. A liberdade fica ameaçada uma vez mais. Os socialistas, ainda que envergonhados pela desgraça inegável da experiência socialista, não querem largar o osso do poder. Precisam sempre achar uma forma de pregar mais e mais poder concentrado no governo. E sempre existem os inocentes úteis prontos para serem manipulados. O preço da liberdade é a eterna vigilância.
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