Acho perigoso uma pessoa que tem depressão, "deixar de tê-la" só porque encontrou uma religião. É um elo de dependência que se cria. E particularmente eu acho que fé religiosa não é algo que se deva confiar ou deixar ser um pilar da sua vida. Ela pode estar bem com isso, mas não deixa de ser uma fuga da realidade. Não por achar que o ateísmo é o certo e o resto errado (e eu acho), mas mais pelo fato dela talvez ter aquilo por ter um trauma de infância que podia ser tratado na terapia, da depressão, que realmente é uma patologia e precisar ser tratada com medicamentos, e tal, e isso ser interrompido por uma mentira, um escape, um placebo.
Isso fode, sabe? Se sentir feliz não infere na resolução dos nossos problemas.
Ela pode estar bem hoje, o espiritismo pode ter ajudado-a a ter esperanças agora. Mas é muito comum uma religião influenciar na pessoa para que ela diga que está bem graças a ela, quando na verdade está tudo ferrado na vida da pessoa. Conheço pessoalmente VÁRIOS casos assim.
Acho que você fez certo em discutir, Willy. Eu também discutiria e falaria tudo o que penso para ela.
Será que depender de remédios e/ou de terapia é melhor do que depender da fé? Concordo que a religião não resolve os problemas das pessoas, mas remédio também não. Tanto uma como o outro combatem os sintomas, a raiz do problema fica debaixo da superfície, latente. Quanto à terapia, veja por exemplo o valor da psicanálise, que hoje merece o descrédito da comunidade científica, é até considerada charlatanismo por alguns, mas que mesmo assim ajuda e ajudou muitas pessoas - seria isso um tipo de efeito placebo semelhante ao das religiões? Claro que sobrou a alternativa de se tratar em uma forma de terapia com mais teor científico, como comportamental ou cognitiva, mas talvez ela não tenha tido essa escolha, afinal, psicólogo é caro, quem atendeu ela foi uma profissional ligada à universidade e minha colega não sabe dizer se ela é psicanalista ou não.
Outra coisa, lembre-se que ela foi atéia, ela chegou a tomar remédios e a fazer terapia, mas infelizmente ela concluiu que isso não era suficiente, ela só encontrou satisfação pessoal agora, e não digo que ela encontrou satisfação porque ela me diz que encontrou, essa mudança é visível. Se essa felicidade é baseada em uma mentira? Bem, eu, como você, acho o espiritismo uma mentira. Só que ela não acha - pelo menos não mais, hoje ela chega ao ponto de dizer que espiritismo é uma ciência
. A verdade absoluta sobre as coisas é algo que nem eu, nem você, nem ela e nem ninguém conhece, mas mesmo assim vamos vivendo como se conhecêssemos, ou, pelo menos, como se tivéssemos uma boa idéia de como ela é, uma visão geral de como ela é, apesar de a realidade ser que não passamos de ignorantes. Sendo assim, quem pode dizer a quem que sua fé está errada? Eu dizer a um espírita que sua crença está errada tem o mesmo peso que um espírita dizer para mim que minha falta de crença está errada, ou seja, impacto nulo. Tentar desmontar as bases lógicas da doutrina, além de dar bastante trabalho, não vai surtir muito efeito porque sei que a pessoa religiosa quando pressionada é capaz de invocar todos os tipos de raciocínios
ad hoc imagináveis - e explicar para alguém o que é falácia sempre soa aos ouvidos do crente como algo do tipo "Eu sou o dono da bola, então quem faz as regras do jogo sou eu!"
Espiritismo, especificamente, costuma ser nocivo com muito mais frequência do que ajuda.
E o pior é que a pessoa realmente se sente melhor enquanto afunda nesse caminho…
Claro que é bom que a sua amiga não esteja mais deprimida, Willy. Mas minha experiência com espíritas me deixa seriamente desconfiado de que ela pode estar trocando uma angústia por algo muito pior.
Mas o meu problema não é com a crença em Deus em si; ela não é importante. O problema está com aquilo em que se acredita e que se faz em termos práticos. Algumas religiões são mais propensas a abuso e corrupção moral do que outras, e o Espiritismo está lá perto da base do barril, logo acima de umas três ou quatro que nem tentam se levar a sério.
Dantas, eu mesmo já fui espírita durante minha infância e pré-adolescência e estou ciente do mal que ele me fez. Cresci paranóico e inseguro pois sempre tive receio de ser julgado pelos entes invisíveis que povoavam a minha imaginação. Sempre me punha para baixo pensando no quanto eu era um espírito inferior aos outros mais iluminados ao meu redor, vivia um inferno de culpa e de medo, enfim, foi uma experiência muito nociva para mim. Mas cada pessoa reage diferente a isso, um mesmo remédio pode ser bom para uma pessoa e causar alergia a outra. Com a minha experiência eu sempre estarei disposto a ajudar quem manifestar essa mesma reação alérgica que eu tive, mas se há pessoas que se sentem genuinamente felizes com suas crenças que motivo terei eu para intervir?
Quanto à degradação moral implícita ao espiritismo, eu concordo com você que ela não é lá uma religião muito virtuosa em termos absolutos, eu acredito que o espiritismo constrói uma falsa meritocracia na qual, obviamente, os próprios espíritas se posicionam num estágio moral superior ao do resto da humanidade, eles se vêem como instrutores, orientadores, modelos a serem seguidos - espíritas exalam arrogância por todos os poros e têm seus sentidos tão distorcidos que sentem nesse suor cheiro de humildade e compaixão. Entretanto eu não a acho uma das mais danosas, longe disso, para mim o espiritismo é uma das religiões menos piores - cheira mal, mas não machuca (só aos naturalemente alérgicos). Compare ao hinduísmo, por exemplo, que divide a sociedade em castas e legitima a segregação, pior ainda, relega a algumas pessoas a condição de não-humanos… Acho que o espiritismo teria que apodrecer muito para chegar aos pés do hinduísmo.