um link interessante:
http://www.unb.br/fac/sos/casos/100casos.htmNádegas no ar. Sob o pretexto de ajudar pessoas desamparadas e até de suprir as lacunas do Estado, da saúde pública, da polícia e das instituições, programas sensacionalistas exploram a condição humana, sob o pretexto de ajuda humanitária, dada a constatação já há muito tempo notória para as emissoras de tevê, de que a morbidez e os dramas humanos rendem pontos de audiência. Segundo a revista Imprensa (junho de 1998, p. 35) “cerca de 2 mil pessoas procuram, diariamente, a produção do programa Ratinho Livre, mas no máximo só dez casos são mostrados no ar”. Ou seja, somente aqueles que combinam os ingredientes de sensacionalismo, a exemplo, do caso do homossexual Evandro Silva (11.4.98) que, a pedido do apresentador Carlos Massa, baixou as calças e teve as suas nádegas apalpadas para que “Ratinho” constatasse o problema para o qual pedia amparo: precisava de uma cirurgia para retirar um implante malfeito de silicone.
Invasão de privacidade. Em Brasília, a filha de uma personalidade envolvida num crime, seqüestro seguido de assassinato, no caso, da esposa do assassino e mãe da pessoa espionada, teve os seus muros escalados por fotógrafos e foi seguida em vias públicas para a realização de fotos não autorizadas. Ora, em casos como esses, já não basta a dor de ter um pai criminoso e de ter perdido a mãe de forma tão trágica? Além do mais, que culpa tem uma pessoa de ser filha de um homicida, se culpa não se transfere? Numa outra circunstância, também em Brasília, um cão matou uma criança. O fotógrafo, para obter a foto do cão, valeu-se de um buraco da cerca e o fotografou. Nesse caso, a invasão de privacidade foi pertinente? Justifica-se? A argumentação óbvia é: se o fotógrafo tivesse tocado a campainha da residência dos donos do cão, poderia ter sido impedido de realizar a foto. A questão, no entanto, é a seguinte: a foto, mesmo em se tratando de um cão, se obtida de forma oculta, não torna antiético o procedimento do jornalista? Algum jornalismo é válido, se tiver praticado um deslize moral? O interesse público justifica licenças morais e éticas?
Manipulação criminosa. O programa de televisão Aqui Agora, do SBT, foi condenado a pagar indenização de 15 mil salários mínimos pela exploração sensacionalista do suicídio da adolescente Danielle Lopes Alves, de 17 anos (5.7.93), seguida de entrevista que obteve dos pais da garota, que ainda não sabiam que a filha estava morta. O casal foi convidado pela reportagem a ir a uma delegacia e, de lá, convencer a filha a não pular de um prédio. A entrevista era uma farsa e tinha como única finalidade rechear a reportagem com mais sensacionalismo e, assim, assegurar a sua maior duração e maior audiência
Cesariana. Em Brasília, o ginecologista e obstetra Ademir Neves foi acusado por uma paciente de ser o responsável pela morte de seu filho, durante trabalho de parto. O médico alega que seguiu todos os procedimentos técnicos e foi este o parecer do Conselho Regional de Medicina. Mesmo assim, a paciente revolveu levar o caso à Justiça, podendo tornar-se o primeiro caso de um suposto erro médico a ser julgado por um júri popular. O caso desenrola-se por cinco anos, sem que a Justiça tenha chegado a uma conclusão. A carreira do Dr. Ademir, no entanto, ficou prejudicada, apesar do apoio dos seus pares. A imprensa local noticiou amplamente o caso e, embora tenha ouvido o médico e o CRM, a desproporção entre acusação e defesa foi muito grande.
Maestro – “abuso sexual”. Em Caruaru (PE), um maestro montou uma orquestra com a participação de crianças pobres. A iniciativa fez sucesso e os pequenos músicos foram contemplados com reportagens e elogios da mídia, incluindo telejornais e programas dominicais de grande audiência. Posteriormente, o maestro ganhou notoriedade pela falsa acusação de ter abusado sexualmente de uma das crianças. Maestro e orquestra foram por água abaixo por causa de um boato.
Pegadinha - 1. Uma família de São Paulo (um casal e três filhos), ao passear no Parque Ibirapuera, encontrou uma carteira contendo R$ 50 (cerca de US$ 25, correntes) e um papel com o endereço de uma suposta proprietária. Dirigiram-se a um telefone público, quando foram abordados por três rapazes, pertencentes à produção do programa de tevê Domingo Legal, do SBT, que informaram tratar-se de uma “pegadinha”, brincadeira bastante comum em que as pessoas são filmadas sem o saber, em situações ‘engraçadas’. As cenas só foram ao ar um ano depois (16.11.1997), por coincidência, num dia em que era noticiada uma ‘pesquisa semelhante’, em âmbito mundial. Durante a exibição das imagens, o apresentador do programa, Augusto (Gugu) Liberato, fez comentários jocosos e incorretos, um deles, o seguinte: “Eles pegaram a carteira e foram embora...”. Quando foram abordados pela produção do programa, o casal assinou um documento permitindo o uso das imagens. Depois que isso aconteceu, no entanto, os membros da família passaram a ser objeto de piadinhas em qualquer lugar (‘Escondam as carteiras, que o fulano chegou’). As crianças foram ridicularizadas na escola e o casal alega ter tido prejuízos nos negócios. Sílvia Parisi Couri, veterinária, acredita ter perdido clientes em função do vexame a que foi exposta, numa “pesquisa sobre a honestidade dos cidadãos”. O marido, um consultor autônomo, deixou de fechar negócios. Sua sorte é que não era empregado de alguma empresa, pois, correria o risco de demissão. Embora tenha procurado telefonar para a suposta dona da carteira, a família foi mostrada como desonesta para uma audiência de 2 milhões de telespectadores. Neste caso, o SBT e o programa foram processados.
Chico Buarque. Processou por racismo o Diário da Manhã, de Goiânia, por ter-se referido, em abril de 1997, ao seu neto, filho do cantor e compositor Carlinhos Brown, então recém-nascido, como “mulatinho de nariz chato e beiços largos”.