No começo, vivíamos como os animais que somos. O poderoso se opondo aos demais qual fosse seu interesse, o sexo livre de valores e tantos outros amigos modernos se faziam presentes nessa época. Ao contrário de agora, não havia técnica suficiente para lidar com o alto grau de insatisfação que o regime impunha às pessoas, em outras palavras, não havia informação suficiente para desviar/definhar a atenção das pessoas.
Sendo assim os insatisfeitos começaram por pedir melhorias, mas os pedidos se tornavam inférteis na medida em que iam contra algum interesse dos poderosos; depois tentaram convencer esses de que as melhorias que propunham se faziam necessárias, mas não tinham poder para que a persuasão se impusesse; por fim só restou a eles a tentativa de coagir os poderosos, mas a coação militar se provou infrutífera, pois lhes faltava a estrutura que os poderosos já tinham há muito.
Enfim, não havia quem pudesse se impor aos interesses dos poderosos por meios "físicos", mesmo assim a esperança persistia a espera de alimento....
Um belo dia, um insatisfeito encontrou um conformado que olhava espantado para uma árvore gigante.
_Quem vem lá?
_Piludo do Mato!
_Piludo, que faz ai?
_A última vez que passei aqui, nesse mesmo lugar, havia uma árvore pequena e risquei um desenho nela pra não me perder quando precisa-se voltar, mas a arvorezinha sumiu e cá está essa grande.
O insatisfeito olhou, olhou....
_Piludo, você tinha desenhado a lua?
_Isso mesmo, como sabe? Foi você que pegou a arvorezinha?
_Não Piludo, veja! _ disse o insatisfeito apontando pro desenho que rapidamente foi reconhecido como o do conformado.
_Rapaz.... como será que ela ficou assim, tão grande?
O insatisfeito não viu boca na árvore, não viu movimentos na árvore.... então juntou e murmurou meia dúzia de palavras que mudariam o destino dele e de milhares de outras pessoas:
_Bem, Piludo.... alguém fez.
Logo, existia alguém que fazia árvores crescerem, água cair do céu, rios subirem e tudo mais quanto achassem crível os homens que pouco percebiam do mundo. Alguém mais poderoso que os poderosos, alguém a quem os poderosos estivessem subjulgados, enfim alguém que alimentasse a esperança de dias melhores.
Em alguns lugares, a crença que em outros derrubou a força dos poderosos pela união dos impotentes, foi instituída e se tornou uma das principais muletas do regime. O passo seguinte foi a adaptação da crença à realidade da comunidade, assim muitos credos se uniram aos cultos o que tornou cada vez mais completas suas instruções sobre como a "tal vida" deveria ser.
Estava ali, o arcabouço da religião, coisa sedutora demais para ser ignorada, tanto para o jóvem processador biológico ávido por instruções, quanto para o ser social que queria cruzar e ter segurança.
Desde então, religião é um conjunto de idéias fortes o suficiente para manter um grupo de semelhantes sob suas instruções.