Você fez uma simplifação gigantesca de Kant. Primeiro, é preciso entender que a representação das coisas do mundo empírico é a forma que o entendimento usa para acessar a realidade das coisas, e essa representação possui, também, realidade, assim como as idéias. A sensibilidade é feita de meros estímulos, a representação de uma cadeira, por exemplo, não é simplesmente a cadeira em sua realidade material, e sim a forma utilizada pelo entendimento para apreender essa realidade. A coisa-em-si não é incognoscível por ser transcendente, e sim por ter sua existência, de forma pura, inacessível à consciência. E representação não é o mesmo que fenômeno, devo salientar. No fim do seu post você mistura esses dois conceitos.
A matemática, por sua vez, não existe na natureza. Não existem idéias na natureza. Existe interação entre matéria e energia. Se nós humanos observamos a natureza e, através de juízos lógicos do entendimento, dizemos que existem leis universais que a regem, segundo regras matemáticas, podemos cair na confusão de que existem leis (enquanto idéias) na natureza, e não interações naturais, e que as coisas materiais seguem a matemática (idéias, mecanismos, cálculos), e não suas interações naturais, completamente cegas. Daí seria preciso admitir que existe abstração na natureza, coisa que necessariamente só existe em um ser racional. Mas você tem razão quanto ao tempo e espaço, foi uma das críticas que Schopenhauer fez a Kant. O tempo e o espaço existem como condição necessária para o entendimento, e se não formos muito céticos, devem existir na natureza. Mas a
idéia de tempo e de espaço, isso não é natural; a natureza nos inspira a matemática, não o contrário: como você disse, a matemática é uma
ferramenta de compreensão, um mecanismo racional (sem conteúdos), não uma coisa com existência objetiva, regente dos astros. Fora isso, Kant também pensava que a matemática existe aprioristicamente na razão, mas não tenho certeza disso, então não vou comentar.
Quanto ao moralista protestante, isso é simplificação rasa do imperativo categórico. A moral kantiana, expressa pelo IC, é deduzida de um mecanismo sem conteúdos. É uma moral lógica, por isso é capaz de proferir um juízo universal e necessário, similar ao geômetra deduzindo um teorema. Também não é solipsista, ou meramente psicológica, pois é condição necessária para aquele que deseja universalizar uma máxima, querendo torná-la uma lei moral, fazê-la passar pelo teste de uma das formulações do imperativo categórico: "Age como se tuas máximas tivessem que servir ao mesmo tempo como uma lei
universal (para
todas as pessoas razoáveis e racionais)”. É óbvio que a moral não é um fim apenas no sujeito, senão não haveria necessidade para qualquer moral. Além disso, não se pode ser protestante por culpa do IC; protestantismo é um conteúdo, um conjunto de máximas. Pra ser protestante, é preciso ter fé. O IC não poderia admitir que a fé é condição universal e necessária para a moralidade, no meu entender. Sendo assim, pouco importa para a filosofia se Kant era protestante.
Por último, seu desafio. Já que parece gostar de matemática, Hume, por exemplo, inspirou a criação disso:
http://en.wikipedia.org/wiki/Hume%27s_principleDescartes inventou o plano cartesiano e falou sobre ele num livro de filosofia, sem contar o grande número de ensaios sobre o método científico.
Fora das Exatas, Platão e Aristóteles foram os primeiros a colocar a questão da política na investigação científica. Husserl foi importante pra psicologia, Schopenhauer pra psicanálise. Imagine a ciência moderna sem Popper... Para entender a realidade, é preciso saber o que é entender, o que significa entender, quais são os limites do entendimento e como ele se dá.