E quantos alunos são como você, Eremita? Eu também me lembro de vários professores com carinho, entretanto, sei que a maioria dos meus colegas os desprezam e não respeitam.
No EM, somente alguns reconhecem, mesmo; mas os outros, embora não reconheçam, aprendem a ser um pouco mais exigentes consigo mesmos.
Já na faculdade, muitos aprendem a ser... principalmente quando notam que ter aula com os professores mais exigentes no primeiro ano te dá alívio nos anos mais difíceis.
Deixa eu contar um exemplinho... na minha primeira facul, lembro bem que no primeiro ano haviam dois professores dos quais todo mundo reclamava. Nem vou fazer questão de esconder os nomes, já que no final das contas tô elogiando os dois:
Shirley - laboratório de [Química] Geral. Se você tava fazendo besteira no experimento, não adiantava esconder - ela ia ver, comentar, e dependendo do tempo, ia obrigar você a refazer. O experimento tema livre tinha pré-relatório, e
sempre voltava cheio de rabiscos vermelhos do tipo "formatação errada", "tá misturando procedimentos com conclusão!" e coisas do tipo. Os alunos ficavam fulos da vida com ela.
Patrício - também da Geral, mas da teórica. Contas, contas e mais contas, ele passava para a gente calcular a porcentagem de um componente numa mistura que passou por cinco ou seis reações e diluições, o que boicotava qualquer tentativa de "ah, decora a fórmula e usa" - se você não entendesse, esqueça! E forçava conceito também - certa vez, ele passou para a gente calcular o pH de uma solução aquosa de 10⁻⁸ de HCl. O pessoal só não reclamava mais dele porque, embora ele cobrasse muito, dava uma aula empolgantíssima de ser assistida.
Então, no segundo ano... [Química Analítica] Qualita[tiva]. Quem teve aula com a Shirley fez brincando os experimentos, e apresentou relatórios de decentes a excelentes quando a gente teve que escolher uma amostra qualquer para detectar cátions.
Terceiro ano, Quantita[tiva]. Quem teve aula com o Patrício não só sabia o que estava fazendo (titulações, gravimetrias, etc.), como ainda por cima sabia detectar quando um cálculo dava resultados absurdos (e portanto, ou houve erros no procedimento, ou nas contas).
As Físico-Químicas, que eram o terror de muita gente (relatório semanal, professores exigentes, etc.)? Quem teve aula com os dois via as notas como resultado do próprio esforço; quem não teve resmungava e pronto.
Aí o pessoal via o quão importante foram os bons professores... não os que passavam a matéria nas coxas, mas os que realmente cobravam e se dedicavam a fazer o aluno aprender.
[Divagando...]
O prof. Patrício é um que lembro com certo carinho. Não só por ter feito a gente aprender muito com a aula dele; mas ele tem algo que raramente se encontra em professores, a capacidade de fazer o aluno se maravilhar com a matéria, de empolgar mesmo. E o impacto que ele deu na sala no primeiro dia de aula foi muito engraçado - "se voxês querem um exemplo a ser seguido, podem seguir a mi' - eu xou uma pexoa felix" (frase + sotaque chileno = apelidado de "pexoa felix" pelo resto do ano

)