Lockwood é mais um dos que apostam na mente quântica. Infelizmente não está sozinho, o número de adeptos a mente quântica vem aumentando e com grandes nomes como o fisico-matemático Roger Penrose.
Uma informação para você: produzir um computador quântico é DIFÍCIL. Sem entrar em questões técnicas,
para se produzir um sistema que use efeitos quânticos para processar informações é preciso primeiro criar os
chamados "qubit", que são o equivalente quântico dos bits usuais. O problema é que, grosso modo, esses qubits ou,
mais precisamente, o emaranhamento quântico dos qubits, é um negócio extremamente frágil. É por isso
que até hoje não se consegui produzir computadores quânticos que sirvam para fazer algo de útil. Além disso, os
computadores quânticos são (em princípio) muito eficientes para lidar com certos tipos de problemas,
como a fatorização de grandes números. E nem mesmo o Penrose chegou a afirmar que o cérebro humano é um
computador quântico. Se lembro bem, ele afirmou que o fenômeno da consciência só poderia ser explicado por meio de algum (misterioso) processo quântico a nível celular. E quase ninguem acredita nele.
O argumento dele é mais ou menos o seguinte: "eu não acredito que a consciência pode ser explicada por um
sistema clássico. Portanto, deve haver algo mais. Já sei! Um efeito quântico nos neurônios!"
Ou seja: pura especulação.
Eu não sei que idéia te passa a passagem "Infelizmente não está sozinho". Você escreve como se eu defendesse ou simpatizasse com a "mente quântica" ou simpatizasse com Penrose.
Pois bem... Segue abaixo a última coisa que escrevi sobre Penrose:
Alguns físicos por motivos diversos acharam que poderiam contribuir com a questão mente-cérebro com investigações da mecânica quântica. O resultado se mostra bastante infrutífero se comparado com as contribuições efetivas de neurologistas à questão. É mais ou menos como o neurofisiologista teórico William Calvin nos alerta “quando você considerar o quão pouco eles realmente abrangem (muito menos explicam) da ampla gama de temas envolvidos na consciência e na inteligência, deverá achar (como eu acho) que eles são apenas ‘muito barulho por muito pouco’” E continua “Os neurocientistas sabem que uma explicação científica útil para a nossa vida interior deve explicar mais do que apenas uma lista de capacidades mentais. Ela também deve explicar os erros característicos que os físicos da consciência ignoram – as distorções das ilusões, a inventividade das alucinações, as armadilhas dos delírios, a falta de confiabilidade da memória (...)” [Como o Cérebro Pensa, Calvin,38-39]
Penrose é um renomado físico-matemático que ressuscitou e deu uns retoques no argumento do filósofo Jonh Lucas contra o computacionalismo usando o Teorema de Gödel.
O Teorema de Gödel nos diz que “toda teoria formal suficientemente poderosa produz uma proposição verdadeira mas que não se pode provar” e pode ser expresso de maneira equivalente da forma “todo algoritmo que decida uma verdade matemática precisa falhar ao decidir corretamente alguma proposição.”
Penrose diz que matemáticos “intuem” verdades matemáticas que não podem ser provadas por algoritmos que provam teoremas, então não usaríamos algoritmos para intuir verdades matemáticas, como computadores só poderiam obter verdades via algoritmos, computadores não podem simular nossa consciência matemática. Como a física clássica é computável, a mecânica quântica é computável temos que buscar a resposta da consciência numa nova teoria quântica misteriosa não computável que ele torce que exista.
O problema é que esse raciocínio só não funciona com algoritmos heurísticos, que não garantem a verdade ou a resposta ótima a um problema. E são justamente os algoritmos heurísticos os mais trabalhados na IA, foi com algoritmos heurísticos que um computador derrotou Kasparov no xadrez (o computador não usou um “algoritmo para dar xeque-mate”), algoritmos heurísticos conseguiram reproduzir inventos idênticos a 15 projetos previamente elaborados pelas cabeças mais criativas e inteligentes de alguns institutos de pesquisas, como o Negative Feedback Amplifier (AT&T) e o Circuito Integrado Analógico-Digital Misto para produzir capacitância variável (IBM). Além de recriar invenções humanas, eles também tem mérito em suas obras originais, como o Programa de Jogo de Futebol que conseguiu uma posição média concorrendo entre 34 invenções humanas na competição RoboCup 1998.
Mas Penrose continua não dando muita bola para algoritmos heurísticos achando inconcebível que matemáticos pensem através deles.
Para algoritmos que garantam uma verdade matemática parte do argumento de Penrose está correta para algoritmos heurísticos o Teorema de Gödel é inaplicável.
Boa parte dos seus críticos acham que Penrose está confundindo níveis de abstração, José da Silva, com doutorado em IA pela PUC-RIO explica:
“Nas minhas aulas de IA nós freqüentemente estudamos a programação heurística, programas que usualmente nos dão respostas certas, porém não é garantido que seja sempre assim. Em toda aula eu provoco meus alunos com a seguinte questão: Como é possível que o programa seja heurístico, se ele roda num computador que age apenas algoritmicamente? A resposta que espero apresenta vários níveis de abstração. A execução de um programa de IA que realiza uma busca heurística em um espaço de solução de um problema está simplesmente executando um algoritmo no nível da máquina. Esse algoritmo não necessariamente alcança o estado objetivo. Em um outro nível de abstração ele está realizando uma busca heurística.”
Penrose também dá muito crédito ao “reconhecimento de verdades matemáticas” por matemáticos, existem vários casos em que não existe consenso sobre a verdade matemática de proposições. O Teorema das quatro cores teve uma “resolução” errada, porém que foi aceita pela comunidade matemática por vários anos, a intuição matemática de matemáticos é falível logo não há impedimento de que um algoritmo heurístico possa estar por trás dela.
Dennett acha que a proposta de Penrose deveria ser encarada como um elogio à teoria computacional da mente pois para tentar refutá-la ele teve que apostar todas as suas fichas numa teoria física quântica que sequer existe (a gravidade quântica não computável) e rejeitar boa parte do nosso conhecimento em neurociência, biologia evolucionista e física.
Para algo bem mais aprofundado e que sinceramente eu não li (apesar de eu ter lido Dennett, Searle e alguns pesquisadores de IA) e duvido que alguém irá ler (mas é bom saber onde encontra-los):
G. LaForte, P. J. Hayes, K M. Ford (1998). Why Gödel’s theorem cannot refute computationalism. Artificial Intelligence 104, 265-286, 1998
Bringsjord, S. Xiao, H. (2000) “A Refutation of Penrose’s Godelian Case Against Artificial Intelligence,” Journal of Experimental and Theoretical Artificial Intelligence 12: 307
Outra coisa: sobre o primeiro post. O parágrafo citado é apenas um grande non-sequitur. Não há a menor
necessidade de se invocar a Teoria da Relatividade para afirmar que a mente tem um caráter espacial.
Aliás, ele também não demonstra o caráter temporal da mente (pense na "mente" de um personagem de
ficção em um livro em sua estante. Ela tem caráter temporal?).
Em outras palavras: que monte de b**l s**t!
(1) O argumento de Lockwood não demonstra temporalidade, ela a usa como premissa. Dizer que ele não demonstra a premissa é chuver no molhado.
(2) A analogia com uma "mente" de um personagem não tem sentido algum.