Meu entendimento é que há realmente duas atitudes muito distintas, chamadas pelo mesmo nome.
O ceticismo epistemológico, ou seja, o ceticismo como filosofia do conhecimento, é a tese de que saber é impossível. No máximo se pode achar - mas é impossível ter certeza. O chamado "ceticismo duro". Ao contrário do que afirmou o tópico original, é este o ceticismo verdadeiramente patológico - pois se levado a sério nega a própria capacidade racional do homem. Não por acaso, esta tese é auto-contraditória e portanto sabidamente falsa: se é impossível saber, é impossível conhecer esta impossibilidade.
É importante aqui entender que isso se refere apenas a não poder ter certezas.
Podemos "achar" com base nas aparências, mas sempre existe a possibilidade de estarmos enganados.
Isso é um ceticismo saudável, é uma postura muito mais cética que a dos cético científicos.
O outro ceticismo é o "ceticismo prático". É o "duvido até que haja evidência a favor", "não acredito sem prova". Isso não é nada mais se não o entendimento de uma verdade metafísica inegável - apenas a existência deixa evidências, a inexistência não - uma consequência óbvia da causalidade. Logo as afirmações positivas sobre a realidade requerem prova - mas apenas as positivas. Este "ceticismo" é saudável. Evita que se acredite no que não existe, mas admite que o conhecimento é possível e que seu fundamento é a evidência que percebemos pelos sentidos.
Esse é o tipo de ceticismo normalmente usado por ateus.
O problema dele é que por vezes cria na pessoa uma "ilusão" do que é mais ou menos provável.
A pessoa não apenas acredita no que é provado pela ciência, mas também passa a julgar as probabilidades segundo o que julga ser uma visão mais científica das coisas. Isso pode limitar um pouco o questionamento.
A maioria dos que pensam usar desse ceticismo acabam caindo em erro.
Esse ceticismo é uma postura prática, uma ótima ferramenta no meio científico, mas não muito util ao se fazer extrapolações de certas coisas, principalmente sobre aquilo que a ciência desconhece.
Por exemplo, digamos que eu ouvi os pensamentos de algumas pessoas.
Eu não apenas "achei" que escutei e confiei nisso, eu por diversos meios pude comprovar que realmente estava ouvindo pensamentos dos outros, inclusive confirmando com meu irmão, pedindo para ele pensar em um número de 12 dígitos e confirmando.
Digamos que isso ocorreu de forma espontânea e simplesmente passou.
Pois bem, eu não poderia "provar" isso a terceiros.
Como céticos não podemos acreditar no relato de alguém que diz isso.
Esse tipo de ceticismo quando mal utilizado, pode levar a pessoa a explicar como "alucinação auditiva" ou relato falso. Muitos "acreditam" nessas hipóteses por elas "parecerem" mais próxima da realidade que elas conhecem, visto que não acreditam e fenômenos como a telepatia.
O problema aqui é não manter-se em uma posição "neutra". A pessoa acredita na hipotese levantada por ela e descarta sem poder verificar, a hipótese telepatia.
O problema é que ao discutir com alguém que passou por isso, essas pessoas acham que isso não ocorreu e que a pessoa apenas "acredita" que tenha ocorrido.
Na cabeça delas a pessoa é crente, deveria ignorar o fato que ela observou em primeira pessoa e esperar os cientistas dizerem se isso é possível ou não.
Mesmo que fosse possível verificar isso pessoalmente, se não for de conhecimento científico essas pessoas acreditam que é falso.
Esses são os pseudo-céticos de fato.
São pessoas que gostam de "acreditar" nos relatos de cientistas que dizem que algo foi comprovado.
Normalmente não percebem as diferenças entre as diversas teorias verossímeis das ciências, nem que o grau de confiança que se pode dar em cada área muda bastante.
Alguns chegam a acreditar em "especulações" científicas por acabar achando que são fatos.
Numa analise filosófica do mundo é necessário um ceticismo mais filosófico para acompanhar esse ceticismo científico prático.
É preciso também entender as diferenças entre comprovação pessoal, conhecimento científico e comprovação científica.
As pessoas podem comprovar diversas coisas pessoalmente, se isso não é de conhecimento científico, não devemos pedir para ignorarem as evidências que viram, enquanto aguardam cientistas estudarem o assunto e relatarem o que pensam sobre isso. Isso é acreditar em relatos de cientistas e ignorar as evidências.
O ceticismo científico é uma atitude prática que necessita de uma postura investigativa.
Ele não exige que ignoremos os fatos, só por ainda serem desconhecidos pela comunidade científica.
Usar o ceticismo científico não significa acreditar apenas no que cientistas relatam ter comprovado.
Pseudo-céticos normalmente distorcem o ceticismo científico e "acham" que fazem uso dele.
O mais importante é não esquecer que a postura correta é a neutralidade cética.
Não acreditar em algo, é bem diferente de acreditar que algo é falso ou impossível.
O cético filosófico não pode participar de debates, se for honesto consigo mesmo. Ele está convicto que não sabe nada. Seria temerário tentar convencer outro de algo que nem ele tem certeza.
Isso não é uma coisa tão radical assim.
Por mais que não possamos conhecer a essência das coisas, podemos por diversas vezes dizer o que elas não são, bem como falar sobre o que elas tem maior chance de ser.
Existem também diferenças entre os tipos de ceticismo filosóficos.
Se uma pessoa faz uma afirmação falsa ou improvável, não existe motivo para não debater, nem motivos para não colocar em debate nossos achismos e aquilo que aparenta maior probabilidade.
Alguns pirrônicos é que gostam de se mostrar muito radicais, mas ninguém vive sem julgar o mundo.
A única diferença é que sempre admitem que certezas não podem ter.