Pois é, aí está um ou o problema, ajustar para fatores que reconhecidamente estão envolvidos não significa ajustar para todos os fatores que de fato estão envolvidos. Falha na metodologia que faz o trabalho ser falho. Não puderam/quiseram saber de fato o que as pessoas comeram e em qual quantidade provavelmente (espero) por inviabilidade prática do estudo mas, faz muita diferença se a pessoa que ingeriu refrigerante também ingeriu outros alimentos ricos em carboidratos e quem costuma beber refrigerante costuma abusar de ingestão de carboidratos, por esse motivo se faz necessário saber ao menos a quantidade de carboidratos e lipídeos ingeridos.
Muka , você só pode ajustar o grupos para os fatores reconhecidamente conhecidos para uma patologia , já que os fatores ainda não reconhecidos é que serão as variáveis a serem estudadas ( como a ingesta de refrigerantes, no caso). É claro que fatores completamente desconhecidos podem estar envolvidos . mas não se pode ajustar os grupos para o que se desconhece.
O padrão da ingesta alimentar foi levantado por inquérito nutricional daí podendo-se definir para cada participante a ingesta calórica total , o índice glicêmico ( que mede o efeito metabólico dos carboidratos) e os níveis séricos de lipídeos ( em especial LDL e HDL , já que este nível sérico e não a ingesta bruta de lipídeos que se associa à SM) , assim o perfil de ingesta foi corretamente levantado permitindo fazer a normatização entre os grupos.
O objetivo de um estudo é responder uma pergunta , de preferência o mais simples possível ( p.ex. ingesta de refrigerante aumenta o risco de SM ?) com o menór numero de variáveis a serem estudadas ,para se evitar vieses e resultados inconclusivos ou falsos. O conjunto de estudos diferentes sobre uma mesma patologia é que permitirá uma avaliação global de todos ou a maioria dos fatores envolvidos , utilizando-se técnicas de metanálise para comparação de estudos de tamanhos e resultados diferentes. Esta metodologia é a que permite uma análise racional das patologias ( em especial as multifatoriais como as cardiovasculares) e abre caminho para estudos específicos dos mecanismos que levam à doença.
No caso do estudo acima foi constatado uma relação entre ingesta de refrigerantes e SM , o mecanismo pelo qual isso acontece não pode ser determinado pois não foi este o objetivo da pesquisa ; certamente ele dará ensejo a outros grupos reproduzirem esta pesquisa em outras populações para confirmar o achado; a validação pela confirmação da relação refrigerante/SM em outros estudos é que permitirá afirmar que esta ingesta deve ser considerada de risco ( como foi feito com a hipertensão , o perímetro abdominal , o indice de massa corpórea,etc...)
A questão principal que eu levanto é a da má interpretação e da má conclusão!
Seria bem legal se tivessem incluído um grupo controle que não bebe refrigerantes mas água com gás e não consomem grandes quantidades de carboidratos! E melhor ainda um grupo cuja única fonte de carboidratos ou pelo menos a fonte principal fosse dos refrigerantes! Daí sim eu daria nota 10 pra esse estudo! rs
Índice glicêmico não presta pra saber qual a quantidade total de carbs ingerida!
Quem toma 2 ou mais refrigerantes ao dia provavelmente ingere mais carboidratos no total por causa dos refrigerantes normais em sí e provavelmente mais carboidratos de outros alimentos pelo hábito de ingerir carbs. Mesmo os que tomam refri diet tbm podem estar abusando dos carbs de outros alimentos justamente por não ingerirem carbs dos refris!
Esse estudo (pela metodologia e resultados) associou o desenvolvimento da SM ao consumo de refri de forma enganosa, de acordo com o estudo as pessoas que tomam mais refrigerante têm maior tendência a desenvolver os fatores de risco mas, não evidencia de forma alguma que esse risco aumentou por causa do refrigerante em sí mas sim ao hábito geral alimentar dos consumidores de refris! Sacou?
De novo, as pessoas que tomam mais refrigerante estão num grupo de risco, não necessariamente pelo consumo de refrigerante em sí mas talvez pelos hábitos periféricos que o consumo de refrigerante tráz (consumo daquilo de que é feito refrigerante, principalmente carboidrato).
A conclusão, a forma como está escrita, leva a crer que o refrigerante é a causa da doença, e de fato a única coisa que se pode concluir (pelos métodos e resultados) é que existe uma associação entre o consumo de refrigerante e a doença sem qualquer evidência de que o refrigerante seja o causador! O título do tópico e a conclusão do trabalho leva a crer que o veneno é o refrigerante quando essa relação não está de forma alguma comprovada pelo trabalho, apenas existe a relação entre os bebedores de refrigerante e a doença!
Exagerando um pouco, é mais ou menos (só pra ser mais redundante ainda e tentar deixar bem claro) como relacionar o fumo ao problema de gastrite, concluindo que quem fuma tem mais gastrite por fumar muito e não por ingerir café e outros fatores (genética, hábitos alimentares, etc), colocando o cigarro como único vilão e esquecendo que fumantes têm hábitos alimentares diferentes de não fumantes!
Bebedores de refrigerantes têm hábitos diferentes dos não bebedores de refrigerantes! Não significa (e por minha experiência é bem improvável) que o refrigerante seja o grande vilão! É muito mais provável que a ingestão excessiva de carboidratos seja o fator principal e o refrigerante apenas faz parte tbm do "cenário" dessas pessoas!
O título deste tópico leva a crer que o refrigerante é ruim para o coração quando isso não foi elucidado pelo estudo anexo!
Mais explicado que isso, mais redundante acho que eu não consigo! rs
Retirado do próprio estudo: "...it is conceivable that residual confounding by lifestyle/dietary factors not adjusted for may have contributed to the metabolic risks associated with soft drink intake."