Nada como uma dose cavalar de irritação para começar o dia...
Para começo de conversa, meu besteirômetro indica que esse reitor da UFBA tem uma
clara tendência à embromação e à demagogia. Basta ver o trecho:
Para o reitor da UFBA, Naomar Almeida Filho, um dos articuladores da proposta, a nova conjuntura conceitual exige que a universidade faça a articulação dos saberes, por meio da inter e da transdisciplinaridade, e de paradigmas alternativos de formação, que resgatem o pensamento complexo. "Não é possível que a universidade brasileira continue a ser uma instituição inculta", disse.
É típico do embromador (e não, essa não é uma crítica velada a ninguem do CC, podem acreditar, eu já
reclamo disso a anos) usar os clichês para revestir um pensamento banal com uma roupagem de profundidade.
Muitas vezes tenho vontade de mandar "inserir a articulação dos paradigmas alternativos" dessas pessoas
num certo lugar de sua anatomia onde o sol não bate.
De acordo com a "Universidade Nova", o primeiro ciclo do ensino superior duraria três anos e seria composto por interdisciplinas, isto é, propiciaria ao aluno uma formação nas áreas de Humanidades e Ciências em geral, além de educação para cidadania. Quem optasse por uma profissão, passaria por uma seleção específica ao final desse período e cursaria o segundo ciclo, dedicado à formação profissional. Dependendo de cada curso, esse período poderia variar entre um e quatro anos.
Estranho, não conheço nenhuma universidade dos países desenvolvidos que inclua essa tal "educação para
cidadania" no seu currículo. Pode ser que exista, mas o único caso desse tipo que me vem à memória foi
aqui no Brasil mesmo: durante a ditadura, os militares "inseriram no paradigma da articulação dos saberes"
a disciplina de ESPB (Estudo dos Problemas Brasileiros), que era universalmente considerada menos que
inútil e cuja exitinção foi recebida com alívio.
Já aqueles que demonstrassem vocação para a carreira científica poderiam fazer o mestrado e doutorado sem precisar cursar as disciplinas técnicas que hoje são obrigatórias em qualquer bacharelado. Desse modo, a formação de um doutor seria reduzida dos atuais 10 anos (quatro de graduação, dois de mestrado e quatro de doutorado) para um período que poderia chegar a seis anos.

Gente, a formação de um doutor é demorada por um bom motivo: é preciso "inserir no contexto da mente"
do estudante uma quantidade enorme de informação. Nos EUA, o doutorado apenas leva pelo menos 5 anos!
O que se pode fazer é criar a opção de se pular o mestrado, o que economizaria de 1 a 2 anos. Outra coisa:
o Brasil já forma 10000 doutores por ano! Essa é uma quantidade digna de países do primeiro mundo. Não
há necessidade de se reinventar a roda. O que esses idiotas têm na cabeça? Ah, já sei: "novos paradigmas da
inter e transdisciplinaridade". Ah tá...
A "Universidade Nova" prevê ainda a criação de cursos superiores de curta duração, que propiciem a formação de "tecnólogo", para aqueles alunos que necessitam de uma formação profissional mais rápida.

E quantos aos CEFETS? Não servem pra nada? Porque essa necessidade de reinventar a roda?
Avanços
O presidente da UNE acredita que a proposta trará avanços importantes para a educação superior. Para ele, este é um projeto que não se rende à lógica do mercado, "aquela que visa apenas uma especialização profissional exclusiva, sem uma formação geral em cultura humanística, artística e científica". Entre os aspectos positivos, ele destacou o fim do exame de vestibular. Na sua opinião, esse tipo de prova é "um mecanismo traumático, excludente e não avalia a capacidade de raciocínio e criatividade das pessoas".
E para que serve o ensino médio e fundamental? Isso não faz sentido: se o objetivo é diminuir o tempo do
estudante na universidade, então o que se deve fazer é tornar o ensino mais focalizado na área específica
relacionada à sua atividade profissional! Isso aí me parece uma tentativa de certos esquerdistas de "inserir no
novo paradigma da universidade" uma boa dose de doutrinação ideológica. E que besteira é essa de reclamar
que o vestibular é excludente? Ele
tem que ser excludente: ele deve selecionar os alunos com
conhecimento suficiente para entrar na universidade!
"Sabemos que as formas de seleção, neste sistema hoje em que a educação foi inserida, sempre vão existir. Mas o fato é que o vestibular é um processo extremamente estressante e angustiante. Por isso, é preciso se pensar outros instrumentos.
Ohhhhh... estou morrendo de peninha dos estudantes estressados.... O vestibular não é o melhor sistema,
é verdade, mas por ser uma prova abrangente demais (por necessidade). O melhor seria uma forma de avaliação
que ocorra durante todo o ensino médio, como a citada abaixo.
E que frescura é essa de se fazer a inserção da palavra inserir, inserida em todos as frases inseridas no texto?
O Universidade Nova propõe avaliar os futuros universitários durante o ensino médio, através de avaliação curricular ou do Exame Nacional do Ensino Médio. Talvez este seja um bom caminho.
Incrível! Concordei com algo nesse texto!
Petta lembrou que o próprio reitor da UFBA fez críticas ao vestibular, afirmando que caso ele prestasse o exame, não conseguiria passar. A justificativa é que a prova se resume a um sistema de memorização, vazio e sem competência para agregar conhecimento ao aprendizado do aluno.
Estranho, pois eu tenho certeza que
se estudasse para o vestibular, eu seria perfeitamente capaz de
passar novamente. Eu aconselharia esse reitor a parar de agregar sua preguiça às suas críticas ao vestibular.
Em entrevista ao EstudanteNet no fim do ano passado, Naomar explicou a idéia do fim do vestibular: "Nosso projeto não tem como objetivo primeiro acabar com o vestibular. Criticamos o seu caráter socialmente excludente e distorcido em termos pedagógicos. O vestibular é hoje muito mais uma seleção para eliminar e não para identificar talentos. E é traumático, em termos psicológicos", observou. (Leia aqui)
Frescura. E o objetivo do vestibular, como mencionei acima, é eliminar mesmo. Ou ele acha que uma simples
prova (ou mesmo sistemas alternativos ao vestibular) vai identificar talentos?
O presidente da UNE destacou a importante participação estudantil ao longo de todo o debate e construção da proposta de reforma universitária. Ele reclamou do sucateamento das instituições públicas e da expansão desenfreada do ensino privado, sem vinculação com os interesses do País ou com as demandas regionais. Cobrou também mais investimentos nas universidades: "A reforma universitária como um todo só vai ser completa com mudanças que garantam maior investimentos nas universidade", disse.
Sinceramente não entendi o trecho: "sem vinculação com os interesses do país". Quer dizer que formar
profissionais não é do interesse do país? Novamente: suspeito que no fundo o autor queria dizer "sem
vinculação com doutrinação ideológica". Mas posso estar errado.
O deputado Rui Pauletti (PSDB-RS) afirmou que a reforma universitária "é necessária e urgente" e citou como exemplos as avaliações feitas por instituições internacionais que não relacionam nenhuma das universidades brasileiras entre as 500 instituições de ensino superior mais importantes no mundo.
Já o reitor da UFBA questionou, entretanto, os critérios usados nessas avaliações e lembrou que há universidades brasileiras reconhecidas internacionalmente por sua qualidade de ensino.
O que faltou citar é que, além da infraestrutura e da qualidade dos professores, as melhores universidades do
mundo (ex.: Harvard, MIT, Oxford, Cambridge, Tokyo) fazem também uma seleção rigorosa de estudantes.
O que faltou citar também é que em muitas das melhores universidades (não sei se são todas) existe também
mecanismos de avaliação do desempenho dos professores (como o sistema de "tenure" nos EUA). Esses
mecanismos, estranhamente, parecem estar ausentes dessa proposta de reforma. As universidades públicas
poderiam melhorar bastante se muitos dos seus professores deixassem de ser uns enormes
vagabundosque só estão interessados na "inserção" de benefícios e em "agregar" o salário ao seus respectivos bolsos, e
não estão preocupados em dar boas aulas ou em fazer pesquisa. A quem interessar possa: eu sou professor
universitário, em uma universidade pública.
De acordo com o reitor da UFBA, o ensino superior no Brasil tem uma "profusão terminológica" e evidencia sérios problemas de articulação. Segundo ele, entre os problemas gerados pelo atual modelo de estrutura curricular estão: precocidade nas escolhas de carreira profissional;
Incrível! Concordei novamente!
seleção limitada e pontual para ingresso na graduação;
Ok, isso pode ser mudado.
elitização da educação universitária;

rigidez nos currículos da graduação; incompatibilidade quase completa com modelos de arquitetura acadêmica vigentes em outros países.
Não sei de onde ele tirou isso... Quando fiz doutorado no Canadá, pude até aproveitar disciplinas do mestrado
do Brasil.
Investimentos
O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) defende a flexibilização dos currículos como forma de ampliar as vagas. O presidente da entidade Paulo Marcos Borges Rizzo, explicou que, desde 1997, as universidades federais tiveram um aumento de 40% na oferta de vagas, mas o número de professores e funcionários diminuiu no mesmo período. Ele expressou a preocupação dos professores com a expectativa do governo de ampliar a oferta sem aumentar os investimentos nas universidades.
Isso é verdade, mas também não é tão simples: a razão aluno/professor nas universidades públicas era muito
menor que em outros países. Além disso, certas universidades estavam saturadas de ASPONES.
A verdade é que um universitário custa caro, e vai permanecer caro por bastante tempo ainda.