Vamos lá. Vou tentar explicar usando como exemplo dois elétrons emaranhados A e B da forma mais simples que conseguir. Considere que o elétron pode ter o spin "para cima" e "para baixo", representados para o elétron A pela simbologia |A+> e |A->, respectivamente, e de modo análogo para o B.
O emaranhamento é uma superposição dos estados dos elétrons A e B, de forma que não podem ser "fatorados" em estados puros, isto é, uma parte só com A e outra parte só com B.
Um dos estados possíveis para o emaranhamento é, por exemplo:
|Psi> = (1/sqrt(2))(|A+>|B-> - |A->|B+>)
onde sqrt(2) significa raiz quadrada de 2.
Isso é uma superposição dos estados dos elétrons A e B. Como os estados estão superpostos a princípio você não sabe em que estado um elétron se encontra. Apenas após realizar uma medida o estado colapsa para um dos dois possíveis, spin "para cima" ou "para baixo".
A característica peculiar que é explorada neste estado emaranhado é que se você medir o estado do elétron A, por exemplo, e obtiver como resultado |A+> o elétron B vai estar obrigatoriamente no estado |B-> e se você obtiver |A-> o B estará com certeza no estado |B+>, e isto independe da distância, ocorrendo aparentemente de forma instantânea.
Agora, aqui que entra a falha de raciocínio do Didi e da Lara. Eles imaginaram, por exemplo, estabelecer um código em que você atribui ao estado |B+> o valor de 1 e ao estado |B-> o valor de 0. Desta forma, projetando o estado do elétron em |A-> ou |A+> seria possível transmitir informações por meio de uma seqüência de 0 e 1.
Parece lógico, não é? Só existe um detalhe que passou despercebido. Lembram quando falei que a princípio você não sabe em que estado o elétron se encontra devido aos estados estarem superpostos? Então, você simplesmente não consegue escolher qual estado do elétron A, existe 50% de chance de obter tanto |A+> quanto |A->. Ou seja, você simplesmente não consegue enviar informação nenhuma porque a seqüência é aleatória.
Pior ainda. Vamos supor que quem está do outro lado obtenha como medida |B->. Então ele vai pensar: "certamente quem tem o elétron A obteve a medida |A+>, por isso estou obtendo |B->". Só que também é provável que A sequer tenha efetuado qualquer medida em seu elétron!
Se A realizar uma medida, B com certeza vai obter o valor oposto, mas se A não realizar nenhuma medida, B vai continuar obtendo resultados, só que com 50% de chance para cada valor, como se ele fosse A e estivesse "enviando sua medida" para B. E ele não tem como saber se é um caso ou outro!
Ou seja, o emaranhamento não só não transmite informação, como sequer B consegue distingüir se a medida que obteve é resultado da medida de A ou ele obteve esse valor "por acaso"! O emaranhamento sozinho é inútil!
Por isso faz-se necessário um canal clássico para enviar de A para B o resultado de suas medidas.
Em um exemplo bem mais simples que o teletransporte quântico do outro link, vamos supor que A e B concordem com o código acima (+ = 1, - = 0).
Então B realiza uma série de medidas em elétrons emaranhados que possui e obtêm uma sequência de medidas +,+,+,-,+,-,+,-,-. Só que antes de "traduzir" isto para 0 e 1, ele precisa receber uma informação de A para cada medida, dizendo se mantém (M) o sinal (p.ex. A queria medir |A+> e obteve isso mesmo), se inverte (I) (p.ex. A queria medir |A+> e ao invés, obteve |A->), ou se desconsidera (D) (A não fez qualquer medida e portanto o resultado obtido por B não significa nada).
Vamos supor, que após B medir essa seqüência, recebeu de A, via canal clássico, a informação: MMIMDIIMI, então ele modifica a leitura para +,+,-,-, ,+,-,-,+. E o resultado final da mensagem é 1100 1001.
Viram agora porque emaranhamento não transmite informação e é necessário um canal clássico?
Q.E.D.