Idéia Zero: Esqueça tudo o que você pode ter lido sobre dualidade onda-partícula. Isso é balela. Objetos quânticos não são nem onda, nem partícula, mas algo completamente diferente. Quanto mais cedo você abandonar esta idéia, melhor.
É muito regozijante ouvir isso. Sabe, eu não sou físico no strictu sensu, pois não exerço a profissão diretamente. Mas por ser formado em física, professor e pesquisador em ensino de física, sinto-me um pouco (um pouco!) à vontade de discorrer sobre temas tão específicos como este, em função de leituras que sempre mantive a respeito. E chega-se, com isso, no que falastes. Eu ainda vejo muitos colegas da área dizer que um fóton, por exemplo, é uma onda e também uma partícula, mas de um modo muito definitivo. Há muito tempo digo que um fóton NÃO é uma partícula, e não é uma onda. E, sim, apresenta aspectos que podem ser asociados a uma e outra manifestação. Logo, sempre me foi natural pensar em partículas como algo que nós NÃO sabemos exatamente o que é, mas que nos permitem associá-las com entidades confortáveis da física, como ondas e partículas, em função do que sabemos delas.
Penso naquele experimento onde dois polarizadores são colocados a 90 graus e, com a inclusão de um outro, entre eles e com ângulação diferente, faz passar mais energia que sem este outro polarizador. Ou seja, existe algo (a luz polarizada) que é decomposto para se explicar o efeito, e o resultado desta projeção é uma maior permeabilidade à passagem da luz. Analogamente, existe uma "projeção" das entidades quânticas que nos faz "vê-las" como partículas ou ondas. Naturalmente, a analogia anterior (como todas) é limitada, uma vez que sabemos o que ocorre naquela situação. No caso da teoria quântica, temos (os físicos, não eu) muito a descobrir. O que sabemos não será jogado fora, até mesmo porque seus resutados são inquestionavelmente os mais fantásticos da ciência, mas a evolução dos conceitos da física mostra que nosso entendimento do mundo sempre é refinado com o tempo. Sabemos que as teorias que lidam com tentativas de unificações (Cordas, por exemplo) têm outras propostas para a fenomenologia que temos em relação às partículas subatômicas, e gosto muito desta efemeridade. É isto que move o cientista.
Por exemplo, o físico Brian Cox, que trabalha no LHC, mostra em seu documentario "The Big Bang Machine" que, para físicos diretamente envolvidos com a pesquisa de ponta em física de altas energias (sendo o LHC o mais importante brinquedo com esta finalidade), um grande cenário para a física seria o de o Bóson de Higgs NÃO ser encontrado, de maneira alguma. Isto faria as pessoas a voltarem para as pranchetas, e fazer a ciência "funcionar". O caso é que existe uma confiança não ingênua de sua descoberta (o melhor é dizer sua constatação empírica, uma vez que responde a uma teoria), devido a todos os outros sucessos da teoria quântica, mas gosto muito de ouvir coisas como (sou suspeito para falar) o Feynman dizia: "Inércia? Não sei o que é isso. Ninguém sabe."