Quando a Veja tiver a mesma veia crítica com Jesus, posso começar a pensar se há algum senso jornalístico além do ataque ferrenho ao que a Veja considera a esquerda. Digo 'ao que a veja considera' porque a direção já se mostrou anti-Lula, anti-governos de esquerda, e já foi pró-Collor. Aliás, a Veja é a revista que mais tomou partido, e para mim isso já é um contra-senso de jornalismo.
Alenônimo, mais do que apontar erros da reportagem, há omissões, numa tentativa de mostrar o Che como uma pessoa fraca. O episódio da sua captura, por exemplo, não está completo. Além de ter se rendido (e é verdade), também é verdade que recomendou fazer um torniquete num soldado da 'resistência' (ou seja, aos quais eles estavam atirando) para estancar a hemorragia. Isto é, para ele os inimigos eram os membros da oligarquia, não o pobre coitado que estava atirando contra ele.
E digo mais: o episódio estaria completo se dissesse que quem matou mesmo o Che foram os trabalhadores rurais da Bolívia ao impedir que eles consigam água e comida, e ao colaborar com o governo (de direita, estatizante, repressivo, como sempre foi na Bolivia).
Então a figura do Che é muito maior e mais complexa que a Veja tenta pintar.
Quanto à historia, eu a conheço, não é um mar de rosas, nunca foi. Guevara não é um dos meus ídolos, principalmente por defender a guerrilha (essencialmente violenta) e a disciplina hierárquica, que acaba por ajudar a novas ditaduras, desta vez de esquerda. Mas a Veja carrega as tintas procurando defeitos, assim como seus admiradores só ressaltam as qualidades.
Eu como argentino e cético não quero cair nem para um lado nem para o outro. Aliás, por muito tempo na Argentina foi tão proibido falar que El Che era argentino que tem gente que não sabe disso :O