Estou viajando e por isso sem muito tempo para postar.
Como o assunto se desviou tema do outro tópico melhor eu responder nesse. Também quero esclarecer meus argumentos e me defender das acusações de fé.
Pois é, mas antes de me voltar ao tema original do tópico, devo enfatizar mais uma vez os
pontos do meu argumento.
Além dos problemas práticos, as cotas constituem um sério problema ético: a idéia por trás das
cotas é a de que é possível fazer "justiça no atacado". Quero dizer, seria um sistema que
seria hora justo com uns, hora injusto com outros, com a esperança (fé mesmo) de que, na
soma total, a justiça seja feita para a maioria (daí a eterna citação de estatísticas e IDHs).
Esse contraste entre a posição do Adriano e a minha (e talvez dos demais também) é consequência
do fato de que damos importância ao efeito dos critérios raciais sobre os indivíduos.
Ou seja, desejamos que todos sejam avaliados por um critério de mérito individual, isto é
o nível de conhecimento necessário para a aceitação na universidade (se não existem vagas
suficientes para todos os candidatos que atingem a nota mínima, isso é outro problema). Essa é
um princípio essencial de uma democracia, na qual não devem existir indivíduos "mais iguais" que
outros. Daí que tanto faz se o IDH de brancos for maior ou menor que o dos negros, se estamos
falando de indivíduos, com direitos que devem ser assegurados.
Adriano, por favor responda o meu argumento (em negrito), e não crie espantalhos. Não sei de onde você
tirou a idéia de que usei um ad populum aí. Apenas, para enfatizar o contraste de opiniões, citei a opinião
minoritária (aqui no CC), ou seja, a sua, e comparei com o que percebo ser a opinião majoritária (novamente,
aqui no CC - detesto ter que ficar fazendo essas qualificações, mas com você elas parecem ser sempre
necessárias).
Outro problema ético é o fato de que a política de cotas acaba (intencionalmente ou não) punindo os possíveis ancestrais daqueles que cometeram o crime (no caso, a escravidão), o que, no meu livro pelo menos, é algo
repugnante.
Por favor, responda-me: você discorda da avaliação acima? (Sei que você não concorda com a repugnância).
Note, antes de me acusar de moralista, o texto em negrito, que se trata de uma opinião pessoal.
Finalmente, existe o aspecto empírico: a política de cotas não parece ter feito muito para mudar
a realidade dos negros nos EUA, onde tem sido crescentemente questionada. Além disso, programas
que beneficiem estudantes pobres (com bolsas de estudo, por exemplo) acabam realizando o que se espera que as cotas façam.
Por favor, responda a esse argumento. Não vou perder tempo com seus espantalhos, como os que seguem abaixo em
negrito:
Dr. Manhattan, o seu moralismo é absurdo nessa questão ao considerar a sua defesa de argumentos como sendo a detentora da moral e da ética. Isso sim é a base da fé, onde a certeza pessoal de um assunto se faz prevalecer perante os argumentos. Assim, falar de fé é apelar para uma suposta autoridade moral.
Não bastasse isso ainda usa de falácia ad populum, pela maioria de pessoas contrárias as cotas nas discussões.
E mais espantalhos, que nesse caso atribuo a sua dificuldade de interpretação de textos que não se adequem
a sua ideologia [1] (minha resposta: leia novamente o que escrevi):
O seu pouco caso com a desigualdade racial, "tanto faz o IDH", contrasta com a sua "defesa" da democracia no ambiente universitário, onde a desigualdade racial é muito maior. A idéia de mérito nesse contexto de desigualdade é racista por considerar que a maioria composta por brancos tem melhor mérito do que os negros. Isso sim é considerar brancos superiores a negros, baseado nos "méritos" individuais. Talvez para justificar essa "superioridade" branca fosse necessário usar dos dados do IDH e outras justificativas históricas, mas daí não é "tanto faz", pois é para justificar um ideal "democrático" que promove a exclusão racial na universidade.
[1] EDIT: Para não parecer uma ofensa pessoal, vamos fazer a seguinte brincadeira: quantos foristas escreveram
coisas como: "Pela enésima vez, não estamos negando a existência de racismo" ou "Repito, não estou defendendo
a escravidão" ou algo parecido nos tópicos de cotas?