Autor Tópico: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?  (Lida 15311 vezes)

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Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #75 Online: 08 de Outubro de 2007, 15:27:54 »
Só não ganhamos a mesmo coisa, nem estudamos a mesma quantidade, nem temos a mesma expectativa de vida e nem somos vítimas de homicídios da mesma maneira.  :hihi:

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Se os brancos e os negros do Brasil formassem países separados, seriam 61 posições de diferença no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mundial, com base nos dados de 2000: 1) o IDH-M da população branca é de 0,814 (44ª posição no ‘ranking’ do IDH mundial); 2) o IDH-M da população negra é de 0,703 (105ª posição no ‘ranking’ do IDH mundial).

 A diferença entre o desenvolvimento humano da população branca e o da população negra está ligada sobretudo à renda (a renda da população negra é 40,01% da renda da branca).

Há maior concentração de pessoas negras abaixo das linhas de pobreza (R$ 75,50 ‘per capita’ em valores do ano 2000) e de indigência (R$ 37,75 ‘per capita’). Em 2001, 47% dos negros eram pobres (22% dos brancos) e 22% eram indigentes (8% dos brancos).

Os negros são as vítimas mais freqüentes de homicídios: a taxa de homicídios por 100 mil habitantes para a população negra (pretos e pardos) é de 46,3 (1,9 vez a dos brancos), com base em 2001 (30,6 homicídios por 100 mil habitantes contra 11,7 em 1980).

http://www.newton.freitas.nom.br/artigos.asp?cod=264
(Também baseado no relatório da ONU)
     

Ou seja, falta dizer completar na sua historinha, que estatisticamente o Zé Pretinho estaria fadado a ser uma qualidade de vida pior que a do Joãozinho Pálido. Além de morrer mais cedo e ter mais chances de ser vítima de um homícidio.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Alegra

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #76 Online: 08 de Outubro de 2007, 15:37:17 »
Isso é assustador...

Então não seria melhor fazer cotas para famílias de baixa renda? Englobava todas as pessoas independentemente da cor...  :?





Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

Offline Dr. Manhattan

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #77 Online: 08 de Outubro de 2007, 15:49:38 »
Não estou com muito tempo para escrever no momento, mas vou tentar resumir alguns dos aspectos questionáveis das cotas racistas:
Usar o termo cota racista é uma falácia de petição de princípio e falácia do argumento circular. Esta usando um termo para descrever a sua conclusão acerca de um termo. Totalmente parcial.
As cotas são racistas sim, Adriano, não tente tampar o sol com a peneira. O exemplo do Ricardo
M é claro: existindo cotas, um dois candidatos, do mesmo bairro, do mesmo extrato sócio-econômico,
podendo até ser vizinhos, vão ser discriminados em função da pigmentação da sua pele.
Discriminação é discriminação é discriminação. Pela enésima vez: estamos discutindo o sistema de cotas,
não a existência ou não do racismo no Brasil.

(a) questão lógica: é contraditório tentar combater a discriminação através da discriminação.
Raça é um conceito que não tem amparo científico, por isso as cotas teriam que se basear nos
mesmo critérios subjetivos utilizados pelos que discriminam.
Lógica? Somente lógica pessoal. Já discutimos muito aqui sobre o uso do termo raça do Brasil e que representa etnia, conforme é adotado na ONU. E não tem nada de subjetivo, principalmente considerando o racismo brasileiro que privilegia a cor, e por isso aqui a cor é um dos critério.
Não importa qual seja o uso do termo. Raça é um conceito subjetivo. Você diz que o racismo brasileiro
privilegia a cor, o que não discuto. Mas não podemos usar os mesmo critérios dos racistas! Além disso,
como sabemos, existe uma variedade enorme de tonalidades diferentes. Eu sou tratado como branco no
Brasil, mas nos EUA eu seria negro. Seria ridículo e estúpido usar o mesmo modo de pensar dos racistas
para combater o racismo.

(b) questão empírica: o maior exemplo de aplicação de cotas é os EUA. No entanto, apesar de existirem cotas nos EUA, os negros de lá ainda são pobres em sua maioria, tem pior saúde, e ainda persiste a discriminação. Ou seja, a experiência americana não pode ser usada como modelo.
As cotas não são para resolverem a distribuição de renda. E nos EUA existem muitos negros beneficiados pelas cotas e que estão em altos cargos na sociedade. Condoleezza Rice, a secretária de estado americano é um exemplo. O rodion captou bem o "espírito" das cotas, mas diferente dele eu aposto no sucesso.
E pra que servem, então? Se você mesmo, repetidas vezes cita a maior pobreza dos negros para ilustrar
o racismo no Brasil? Os fatos estão do meu lado: as cotas nem diminuiram o racismo nos EUA nem
acabaram com a desigualdade. Se o grande exemplo do sistema de cotas são os EUA, então seu fracasso
foi demonstrado empiricamente. E evidências anedóticas não contam.

As experiências internacionais não se restringem aos Estados Unidos, existem muitos outros países que compartilham resultados com o Brasil.
Que resultados? As cotas mal foram implantadas aqui!

E mais, a questão empírica que embasa as cotas. Pois o que é considerado uma estética social para uns, é mais um passo para uma democracia multiétnica.

(c) questão ética: as cotas seriam uma forma de punir brancos (ricos ou pobres) por crimes
supostamente* cometidos por seus ancestrais distantes.
Essa punição só é enxergada numa ótica racista de considerar vagas como sendo de propriedade de um determinado grupo. Por isso esse grupo se sente inconformado com a "perca" de vagas. Esse argumento é infeliz por inverter a busca de melhorias para uns como sendo punição para outros. De ética essa questão não tem nada, pelo contrário.
Por favor não distorça minha afirmação: nunca, em momento algum, afirmei que as vagas são de propriedade de um grupo étnico ou de outro. As vagas devem pertencer aos que demonstrarem conhecimento suficiente para entrar na universidade. A ótica racista é a dos defensores das cotas.


Ou seja, no fundo, o único argumento que pode ser feito a favor das cotas é um argumento de fé:
fé de que as cotas raciais dimuirão a desigualdade entre "negros" e "brancos", sem fomentar mais
preconceito.

Quem diria, o Adriano é um homem de fé! :lol:
Eu estou lidando com pesquísas empíricas e com uma opinião muito bem embasada sobre as cotas num contexto de ações afirmativas e mais ainda, numa nova visão de democracia expandida, que sai dos direitos formais e passa para a busca de igualdade material, que promove a liberdade.
Bullshit. Os dados que existem se referem ao racismo, não ao efeito das cotas, e é isso que estamos
discutindo. Repito: não existe base empírica para o sistema de cotas. Para ser mais claro: não existe um
lugar que tenha adotado as cotas e estas tenham estabelecido a igualdade racial. Seus argumentos são também questionáveis do ponto de vista da Ética. Você os defende baseando-se na fé.


You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

Alan Watts

Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #78 Online: 08 de Outubro de 2007, 17:01:45 »
Não estou com muito tempo para escrever no momento, mas vou tentar resumir alguns dos aspectos questionáveis das cotas racistas:
Usar o termo cota racista é uma falácia de petição de princípio e falácia do argumento circular. Esta usando um termo para descrever a sua conclusão acerca de um termo. Totalmente parcial.
As cotas são racistas sim, Adriano, não tente tampar o sol com a peneira. O exemplo do Ricardo
M é claro: existindo cotas, um dois candidatos, do mesmo bairro, do mesmo extrato sócio-econômico,
podendo até ser vizinhos, vão ser discriminados em função da pigmentação da sua pele.
Discriminação é discriminação é discriminação. Pela enésima vez: estamos discutindo o sistema de cotas,
não a existência ou não do racismo no Brasil.
As costas são uma discriminação positiva para compensar a gigantesca desigualdade racial (étnica) nas universidades. O exemplo do Ricardo contempla uma igualdade racial que não existe na prática. Os dados mostram que esse raciocínio tem uma premissa errada.

Querer igualar ação afirmativa com racismo é uma posição ideológica que toma o termo cotas racista para induzir como premissa uma conclusão que é no mínimo discutível.

E as ações afirmativas estão extremamente relacionadas a existência do racismo da sociedade e na universidade. Não de forma explícita, mas facilmente quantificado pelas estatísticas.

(a) questão lógica: é contraditório tentar combater a discriminação através da discriminação.
Raça é um conceito que não tem amparo científico, por isso as cotas teriam que se basear nos
mesmo critérios subjetivos utilizados pelos que discriminam.
Lógica? Somente lógica pessoal. Já discutimos muito aqui sobre o uso do termo raça do Brasil e que representa etnia, conforme é adotado na ONU. E não tem nada de subjetivo, principalmente considerando o racismo brasileiro que privilegia a cor, e por isso aqui a cor é um dos critério.
Não importa qual seja o uso do termo. Raça é um conceito subjetivo. Você diz que o racismo brasileiro
privilegia a cor, o que não discuto. Mas não podemos usar os mesmo critérios dos racistas! Além disso,
como sabemos, existe uma variedade enorme de tonalidades diferentes. Eu sou tratado como branco no
Brasil, mas nos EUA eu seria negro. Seria ridículo e estúpido usar o mesmo modo de pensar dos racistas
para combater o racismo.
Raça não é um conceito subjetivo, é amplamente utilizado na nossa sociedade e no meio acadêmico no sentido de etnia. O racismo prejudica os negros por considerar esses inferiores. As ações afirmativas dão oportunidades para os negros para mostrar o seu valor que foi prejudicado pelo racismo velado da sociedade. Ridículo, ao meu ver, é saber que existe racismo na sociedade, que prejudica os negros, e ser contra medidas que visam buscar uma igualdade através de compensações. Não é a solução perfeita, concordo, mas nem por isso deve ser deixada de lado.

(b) questão empírica: o maior exemplo de aplicação de cotas é os EUA. No entanto, apesar de existirem cotas nos EUA, os negros de lá ainda são pobres em sua maioria, tem pior saúde, e ainda persiste a discriminação. Ou seja, a experiência americana não pode ser usada como modelo.
As cotas não são para resolverem a distribuição de renda. E nos EUA existem muitos negros beneficiados pelas cotas e que estão em altos cargos na sociedade. Condoleezza Rice, a secretária de estado americano é um exemplo. O rodion captou bem o "espírito" das cotas, mas diferente dele eu aposto no sucesso.
E pra que servem, então? Se você mesmo, repetidas vezes cita a maior pobreza dos negros para ilustrar
o racismo no Brasil? Os fatos estão do meu lado: as cotas nem diminuiram o racismo nos EUA nem
acabaram com a desigualdade. Se o grande exemplo do sistema de cotas são os EUA, então seu fracasso
foi demonstrado empiricamente. E evidências anedóticas não contam.
As cotas servem para democratizar o acesso a universidade. Os resultados já estão ocorrendo, com o ingresso e com andamento de diversos alunos privilegiados pelas cotas. E os resultados não são a curto prazo, não é possível verificar os resultados em relação ao racismo na sociedade. E que fatos são esses de que as cotas não contribuiriam contra o racismo? Está afirmando apenas, já vi afirmação contrária de especialista.

As experiências internacionais não se restringem aos Estados Unidos, existem muitos outros países que compartilham resultados com o Brasil.
Que resultados? As cotas mal foram implantadas aqui!
Mas os alunos cotistas estão com bom aproveitamento.

E mais, a questão empírica que embasa as cotas. Pois o que é considerado uma estética social para uns, é mais um passo para uma democracia multiétnica.

(c) questão ética: as cotas seriam uma forma de punir brancos (ricos ou pobres) por crimes
supostamente* cometidos por seus ancestrais distantes.
Essa punição só é enxergada numa ótica racista de considerar vagas como sendo de propriedade de um determinado grupo. Por isso esse grupo se sente inconformado com a "perca" de vagas. Esse argumento é infeliz por inverter a busca de melhorias para uns como sendo punição para outros. De ética essa questão não tem nada, pelo contrário.
Por favor não distorça minha afirmação: nunca, em momento algum, afirmei que as vagas são de propriedade de um grupo étnico ou de outro. As vagas devem pertencer aos que demonstrarem conhecimento suficiente para entrar na universidade. A ótica racista é a dos defensores das cotas.
Todos os cotistas apresentam conhecimento suficiente. Realizam a prova vestibular e são aprovados. Quem é reprovado no vestibular não entra. E tem mais, não entram também mesmo quem tem conhecimento suficiente. E os negros sempre ficaram majoritariamente nesse grupo. Agora está sendo equalizado.


Ou seja, no fundo, o único argumento que pode ser feito a favor das cotas é um argumento de fé:
fé de que as cotas raciais dimuirão a desigualdade entre "negros" e "brancos", sem fomentar mais
preconceito.

Quem diria, o Adriano é um homem de fé! :lol:
Eu estou lidando com pesquísas empíricas e com uma opinião muito bem embasada sobre as cotas num contexto de ações afirmativas e mais ainda, numa nova visão de democracia expandida, que sai dos direitos formais e passa para a busca de igualdade material, que promove a liberdade.
Bullshit. Os dados que existem se referem ao racismo, não ao efeito das cotas, e é isso que estamos
discutindo. Repito: não existe base empírica para o sistema de cotas. Para ser mais claro: não existe um
lugar que tenha adotado as cotas e estas tenham estabelecido a igualdade racial. Seus argumentos são também questionáveis do ponto de vista da Ética. Você os defende baseando-se na fé.
Claro que existem. Os dados da desigualdade racial nas universidades são os maiores.
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No Brasil, a porcentagem de negros e pardos é de 48%. Apenas 16,5% dessa parcela da população freqüenta o ensino superior. Esse índice na população branca é de 46,6%.
Em 2003, a Universidade de Brasília tinha apenas 2% de estudantes negros e 2% de professores negros.
http://www.secom.unb.br/unbagencia/ag0406-62.htm
Eu também questiono os seus argumentos do ponto de vista ético. Aliás discutir polícias sociais e mais especificamente as ações afirmativas, e mais específico ainda nas cotas, é totalmente voltado para a questão ética. São elas que embasam qualquer argumento ou posição contra ou a favor. Remetem as questões filosóficas sobre o que é a ética.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #79 Online: 08 de Outubro de 2007, 17:38:46 »
Quetzalcoatl dos céus :chorao:

Só não ganhamos a mesmo coisa, nem estudamos a mesma quantidade, nem temos a mesma expectativa de vida e nem somos vítimas de homicídios da mesma maneira.  :hihi:

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Se os brancos e os negros do Brasil formassem países separados, seriam 61 posições de diferença no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mundial, com base nos dados de 2000: 1) o IDH-M da população branca é de 0,814 (44ª posição no ‘ranking’ do IDH mundial); 2) o IDH-M da população negra é de 0,703 (105ª posição no ‘ranking’ do IDH mundial).

A diferença entre o desenvolvimento humano da população branca e o da população negra está ligada sobretudo à renda (a renda da população negra é 40,01% da renda da branca).

Há maior concentração de pessoas negras abaixo das linhas de pobreza (R$ 75,50 ‘per capita’ em valores do ano 2000) e de indigência (R$ 37,75 ‘per capita’). Em 2001, 47% dos negros eram pobres (22% dos brancos) e 22% eram indigentes (8% dos brancos).

Os negros são as vítimas mais freqüentes de homicídios: a taxa de homicídios por 100 mil habitantes para a população negra (pretos e pardos) é de 46,3 (1,9 vez a dos brancos), com base em 2001 (30,6 homicídios por 100 mil habitantes contra 11,7 em 1980).

http://www.newton.freitas.nom.br/artigos.asp?cod=264
(Também baseado no relatório da ONU)
     

Ou seja, falta dizer completar na sua historinha, que estatisticamente o Zé Pretinho estaria fadado a ser uma qualidade de vida pior que a do Joãozinho Pálido. Além de morrer mais cedo e ter mais chances de ser vítima de um homícidio.

É a mesma coisa para ambos se ambos tem a mesma renda/estão no mesmo estrato social! Apenas acontece que os estratos sociais são racialmente heterogêneos, como resultado dos escravos comprados da África terem sido negros! Pelamor de Vênus...

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #80 Online: 08 de Outubro de 2007, 17:45:43 »
Adriano, e os mecanismos? Vai explicar, dar números de quantos são os racistas, e que ações racistas fazem com que atrapalhem a ascenção social dos negros? São ações materiais, não? Ou o racismo tem efeitos meio "telepáticos", uma "energia racista negativa" prejudica a ascenção dos negros?

Além disso, ainda queria saber como os descendentes de escravos, depois da abolição, poderiam ter escalado socialmente até a homogeneidade racial nos estratos sociais. E porque o mesmo não ocorre por exemplo, entre brancos mesmo, porque há brancos de diversas classes sociais, em vez de todos terem alcançado o mesmo patamar, sendo que não há racismo de brancos contra brancos.

Seria parte da conspiração, algo ao qual uma parcela dos brancos se sujeita para manter a farsa de que os brancos não estão todos unidos ativamente impedindo a ascenção social dos negros, que já teriam, não fosse esse racismo (e seus mecanismos ocultos) atingido igualdade sócio-econômica depois da abolição? 

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #81 Online: 08 de Outubro de 2007, 17:56:28 »
Isso é assustador...

Então não seria melhor fazer cotas para famílias de baixa renda? Englobava todas as pessoas independentemente da cor...  :?

Segundo a "lógica" do Adriano, cotas econômicas fariam com que apenas brancos pobres fossem beneficiados, por motivos que ele deixou de explicar.

Para mim parece bastante claro, que se os pobres são na maior parte negros, as cotas sociais seriam incidentalmente raciais, por critérios mais objetivos e relevantes, levando mais pobres, na maioria negros, às faculdades.

Trariam com isso quaisquer benefícios quanto à igualdade racial que se suponha que fossem ser trazidos pela entrada de negros por critérios diretamente raciais, sem as desvantagens diversas dos critérios raciais.

Mas como mencionei, ele disse que as cotas sociais fariam apenas os brancos serem ajudados, por motivos que ele nunca explicou. E imagino que talvez, mesmo que ele aceitasse que os negros seriam os mais numericamente beneficiados, não iria ajudar para a "questão racial", como inclusive ele mencinou também em algum post anterior, pelo simples motivo de que os critérios não são raciais. A congruência das duas populações e o conseqüente resultado similar quanto a entrada de negros e mestiços nas faculdades, não importa.

Os critérios possivelmente tem algum efeito mágico, por estarem leis impressas dizendo que os negros entrarão na faculdade, esse encantamento exerce um poder na mente dos racistas, que lentamente deixam de sê-lo; se os negros entrassem lá apenas por serem pobres, o encanto não surtiria o mesmo efeito, porque não tem nada sobre negros especificamente nas palavras mágicas escritas na lei.

Offline Dr. Manhattan

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #82 Online: 08 de Outubro de 2007, 18:05:36 »
Putz. Fiz uma longa resposta ao Adriano, mas acabei apagando por engano. :(
Não tenho mais saco de repetir tudo o que escrevi, mas vou só resumir dois pontos principais:

(a) Discriminação com base na cor da pele é racismo. Não importa se você chamá-la de
"compensação kármica" ou "adequação histórico pigmental". Facilitar a entrada de alguem na
universidade com base na cor de sua pele é racismo. Ra-cis-mo.

(b) É antiético, imoral, dar oportunidades para uns e não para outros (novamente, os brancos pobres)
apenas devido à possibilidade de algum ancestral desses outros ter cometido um crime.

Buckaroo: recentemente li uma reportagem sobre o Prouni, e sobre como ele estava mudando a vida
de estudantes carentes. Não me surpreendi quando vi que todos os estudantes fotografados na reportagem
eram (aparentemente) negros.
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Alan Watts

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #83 Online: 08 de Outubro de 2007, 18:17:10 »
Sobre a questão etimológica/semântica

Uns podem usar "racismo" significando discriminação por critérios raciais com base na crença de super ou inferioridade racial ou étnica; outros podem considerar qualquer discriminação com base em raça ou etnia, mesmo que uma favorável, "boazinha", condescendente aos indivíduos de uma determinada raça, que não tenha por trás uma crença de super ou inferioridade de algum grupo.

Espero que baste para eliminar a discussão sobre se as cotas são "racistas" ou não. Depende de como se define "racismo".



O Adriano parece viver num Brasil onde os brasileiros só ouvem músicas "brancas", falam outro idioma diferente dos negros, se surpreendam com eventuais casos raros de miscigenação, e eventualmente demonstram curiosidade sobre aspectos culturais dos negros, como pratos exóticos como a "feiHoada" (leia-se com sotaque americano).

Offline Dr. Manhattan

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #84 Online: 08 de Outubro de 2007, 18:28:31 »
Ok. Para evitar futura confusão semântica, de agora em diante reservarei a palavra "racista" para
a discriminação racial baseada em uma ideologia de superioridade/inferioridade racial. Como as
cotas raciais têm como premissa a crença segundo a qual o status das pessoas de pele escura
é influenciado em sua maior parte por uma percepção de raça e, portanto, que predominâcia de
negros em níveis sócio-econômicos mais baixos é uma consequência direta da cor da pele,
configurando assim numa inferioridade efetiva, passarei a utilizar consistentemente a expressão
"Cotas racistas". :hihi:
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Alan Watts

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #85 Online: 08 de Outubro de 2007, 18:29:56 »
Putz. Fiz uma longa resposta ao Adriano, mas acabei apagando por engano. :(
ODEIO quando isso acontece. Tenho que cultivar o hábito de digitar posts potencialmente longos em um programa de texto, e ir salvando conforme digito, se o programa não fizer isso sozinho. É um convite a sair num frenezi assassino aleatório pelas ruas quando depois de digitar uma longa mensagem, o browser trava e tudo se perde. E o pior é que fica a provocativa "carcaça" do browser travado ainda por cima.


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(b) É antiético, imoral, dar oportunidades para uns e não para outros (novamente, os brancos pobres)
apenas devido à possibilidade de algum ancestral desses outros ter cometido um crime.

É meio como sair nas favelas prendendo cotas de pessoas, aleatoriamente quanto a terem cometido qualquer crime, e preferencialmente negros. Por esses, favelados e negros, estatisticamente (e de forma alguma intrinsecamente), serem mais "provavelmente" criminosos.



Citar
Buckaroo: recentemente li uma reportagem sobre o Prouni, e sobre como ele estava mudando a vida
de estudantes carentes. Não me surpreendi quando vi que todos os estudantes fotografados na reportagem
eram (aparentemente) negros.

[teórico conspiracionista]

Frisou bem: aparentemente. Obviamente é maquiagem, eram pintados de negro, ou negros que apenas posaram, forçados, para as fotos que visam sustentar a conspiração branca que rege o Brasil. As estatísticas não mentem.

E mesmo supondo que seja um caso isolado de não racismo, que só seria possível com as cotas raciais na maioria dos casos, não há provas que eles sejam negros puros. Podem ser reles mestiços, que nem valorizam a cultura negra, que sejam apenas negros por fora, mas brancos por dentro, corrompidos.

[/teórico conspiracionista]

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #86 Online: 08 de Outubro de 2007, 18:34:51 »
Ok. Para evitar futura confusão semântica, de agora em diante reservarei a palavra "racista" para
a discriminação racial baseada em uma ideologia de superioridade/inferioridade racial. Como as
cotas raciais têm como premissa a crença segundo a qual o status das pessoas de pele escura
é influenciado em sua maior parte por uma percepção de raça e, portanto, que predominâcia de
negros em níveis sócio-econômicos mais baixos é uma consequência direta da cor da pele,
configurando assim numa inferioridade efetiva, passarei a utilizar consistentemente a expressão
"Cotas racistas". :hihi:

É até a impressão que dá, de um racismo condescendente. De achar que os negros são menos capazes, que precisam de uma mãozinha dos brancos. Impressão algumas vezes aumentada por algumas declarações, como aquela de que, mesmo com cotas sociais, os mais beneficiados seriam brancos.

Mas o a crença subjacente na realidade não é na inferioridade dos negros, e sim num tenebroso poder racista pervasivo e ao mesmo tempo muito sutil, que não pode ser visto, senão pelas estatísticas (que concebivelmente mostrariam apenas o resultado da inércia sócio-econômica da abolição, que não seria diferente se os escravos tivessem sido brancos... como isso é repetitivo, meu Zeus)


Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #87 Online: 08 de Outubro de 2007, 20:43:30 »
Quetzalcoatl dos céus :chorao:

Só não ganhamos a mesmo coisa, nem estudamos a mesma quantidade, nem temos a mesma expectativa de vida e nem somos vítimas de homicídios da mesma maneira.  :hihi:

Citar
Se os brancos e os negros do Brasil formassem países separados, seriam 61 posições de diferença no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mundial, com base nos dados de 2000: 1) o IDH-M da população branca é de 0,814 (44ª posição no ‘ranking’ do IDH mundial); 2) o IDH-M da população negra é de 0,703 (105ª posição no ‘ranking’ do IDH mundial).

A diferença entre o desenvolvimento humano da população branca e o da população negra está ligada sobretudo à renda (a renda da população negra é 40,01% da renda da branca).

Há maior concentração de pessoas negras abaixo das linhas de pobreza (R$ 75,50 ‘per capita’ em valores do ano 2000) e de indigência (R$ 37,75 ‘per capita’). Em 2001, 47% dos negros eram pobres (22% dos brancos) e 22% eram indigentes (8% dos brancos).

Os negros são as vítimas mais freqüentes de homicídios: a taxa de homicídios por 100 mil habitantes para a população negra (pretos e pardos) é de 46,3 (1,9 vez a dos brancos), com base em 2001 (30,6 homicídios por 100 mil habitantes contra 11,7 em 1980).

http://www.newton.freitas.nom.br/artigos.asp?cod=264
(Também baseado no relatório da ONU)
     

Ou seja, falta dizer completar na sua historinha, que estatisticamente o Zé Pretinho estaria fadado a ser uma qualidade de vida pior que a do Joãozinho Pálido. Além de morrer mais cedo e ter mais chances de ser vítima de um homícidio.

É a mesma coisa para ambos se ambos tem a mesma renda/estão no mesmo estrato social! Apenas acontece que os estratos sociais são racialmente heterogêneos, como resultado dos escravos comprados da África terem sido negros! Pelamor de Vênus...
Foram pessoas compradas como escravas e escravizadas em nosso país. Questão econômica nenhuma justifica a escravidão. Se os negros estão em pior situação hoje, o principal motivo é a escravização deles pelos brancos. Mas isso não significa também que o racismo não causou mais prejuízo a população negra até os dias atuais.

Adriano, e os mecanismos? Vai explicar, dar números de quantos são os racistas, e que ações racistas fazem com que atrapalhem a ascenção social dos negros? São ações materiais, não? Ou o racismo tem efeitos meio "telepáticos", uma "energia racista negativa" prejudica a ascenção dos negros?
Citação de: Hélio Schwartsman
É perfeitamente correto que exista uma norma jurídica proibindo o Estado de discriminar negros, homossexuais, judeus ou qualquer outro grupo em empregos públicos preenchidos por sistemas de seleção, vá lá, objetivos.É evidente, porém, que a coisa não funciona em escala privada. Se um negro é preterido após uma entrevista, é impossível provar que o foi por ser negro. O empregador sempre poderá alegar, para o juiz e para sua consciência, que preferiu o candidato branco por considerá-lo mais capacitado ou apenas mais "simpático" --no que estaria em seu direito. O racismo é um fenômeno muito mais fácil de perceber nas estatísticas --o pequeno número de negros em postos qualificados ou de comando-- do que na esfera das relações interpessoais.

Os efeitos do racismo é contatado observando a sociedade como um todo e vendo a diferença entre negros e branco. Tem pesquisas que mostram diferenças de salários entre as etnias mas com o mesmo grau de escolaridade.

As ações afirmativas buscam atenuar os efeitos do racismo. O seu questionamento sobre racismo é na área de direito penal, o que garanto que tem muita coisa também palpável sobre esse crime.

Além disso, ainda queria saber como os descendentes de escravos, depois da abolição, poderiam ter escalado socialmente até a homogeneidade racial nos estratos sociais. E porque o mesmo não ocorre por exemplo, entre brancos mesmo, porque há brancos de diversas classes sociais, em vez de todos terem alcançado o mesmo patamar, sendo que não há racismo de brancos contra brancos.
Não existe racismo de branco para branco, mas existe a discriminação social. Pobre é discriminado também. E a escravidão foi uma grande exploração da mão de obra negra. Foram eles que construíram a riqueza do nosso país. Mas não tiveram benefícios com isso e até hoje sobrem com a pobreza.

Seria parte da conspiração, algo ao qual uma parcela dos brancos se sujeita para manter a farsa de que os brancos não estão todos unidos ativamente impedindo a ascenção social dos negros, que já teriam, não fosse esse racismo (e seus mecanismos ocultos) atingido igualdade sócio-econômica depois da abolição? 
Você fala de uma forma, como que para justificar o racismo este teria que ser consciente. Não é bem assim. As teorias racistas de eugenia realmente foram muito impactantes em nossa sociedade. Tem uma autora que escreveu um livro sobre a teoria eugenia aqui no Brasil. Entrevista no Jô
Veja no nosso caso. Cada um defende uma posição que considera anti-racista e julga o pensamento oposto como sendo racista. Talvez um seja mesmo, mas não aceita isso. Eu mesmo acho que são vocês que não aceitam.  :P

« Última modificação: 08 de Outubro de 2007, 20:46:33 por Adriano »
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Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #88 Online: 08 de Outubro de 2007, 20:52:18 »
Putz. Fiz uma longa resposta ao Adriano, mas acabei apagando por engano. :(
Não tenho mais saco de repetir tudo o que escrevi, mas vou só resumir dois pontos principais:

(a) Discriminação com base na cor da pele é racismo. Não importa se você chamá-la de
"compensação kármica" ou "adequação histórico pigmental". Facilitar a entrada de alguem na
universidade com base na cor de sua pele é racismo. Ra-cis-mo.
Então vamos nos basear na realidade social. Estamos falando de ações afirmativas e são utilizados os termos cotas raciais. Cota racista é uma expressão ideológica de quem é contra. Use o que quiser, só expressei a minha opinião a respeito do termo.

(b) É antiético, imoral, dar oportunidades para uns e não para outros (novamente, os brancos pobres)
apenas devido à possibilidade de algum ancestral desses outros ter cometido um crime.
A escravidão não foi uma possibilidade. Nem o racismo. São acontecimentos reais em nossa sociedade. E eu parto dessa premissa, e considero que devem ser tomadas medidas. Por isso para mim são éticas e morais, sinais de uma atitude para atenuar o que para mim existe.

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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #89 Online: 08 de Outubro de 2007, 22:32:31 »
Quetzalcoatl dos céus :chorao:

Só não ganhamos a mesmo coisa, nem estudamos a mesma quantidade, nem temos a mesma expectativa de vida e nem somos vítimas de homicídios da mesma maneira.  :hihi:

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Se os brancos e os negros do Brasil formassem países separados, seriam 61 posições de diferença no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mundial, com base nos dados de 2000: 1) o IDH-M da população branca é de 0,814 (44ª posição no ‘ranking’ do IDH mundial); 2) o IDH-M da população negra é de 0,703 (105ª posição no ‘ranking’ do IDH mundial).

A diferença entre o desenvolvimento humano da população branca e o da população negra está ligada sobretudo à renda (a renda da população negra é 40,01% da renda da branca).

Há maior concentração de pessoas negras abaixo das linhas de pobreza (R$ 75,50 ‘per capita’ em valores do ano 2000) e de indigência (R$ 37,75 ‘per capita’). Em 2001, 47% dos negros eram pobres (22% dos brancos) e 22% eram indigentes (8% dos brancos).

Os negros são as vítimas mais freqüentes de homicídios: a taxa de homicídios por 100 mil habitantes para a população negra (pretos e pardos) é de 46,3 (1,9 vez a dos brancos), com base em 2001 (30,6 homicídios por 100 mil habitantes contra 11,7 em 1980).

http://www.newton.freitas.nom.br/artigos.asp?cod=264
(Também baseado no relatório da ONU)
     

Ou seja, falta dizer completar na sua historinha, que estatisticamente o Zé Pretinho estaria fadado a ser uma qualidade de vida pior que a do Joãozinho Pálido. Além de morrer mais cedo e ter mais chances de ser vítima de um homícidio.

É a mesma coisa para ambos se ambos tem a mesma renda/estão no mesmo estrato social! Apenas acontece que os estratos sociais são racialmente heterogêneos, como resultado dos escravos comprados da África terem sido negros! Pelamor de Vênus...
Foram pessoas compradas como escravas e escravizadas em nosso país. Questão econômica nenhuma justifica a escravidão.
Pela enésima vez, ninguém está dizendo que a escravidão foi justa!


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Se os negros estão em pior situação hoje, o principal motivo é a escravização deles pelos brancos. Mas isso não significa também que o racismo não causou mais prejuízo a população negra até os dias atuais.

Sim, mas de forma alguma significa que sem o racismo, os negros já teriam atingido equiparação sócio-econômica após a abolição. Porque não são seres com capacidade sobrehumanas de enriquecimento, e mesmo para os brancos, não vitimados por racismo, não é possível esse grau de ascenção econômica. 



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Adriano, e os mecanismos? Vai explicar, dar números de quantos são os racistas, e que ações racistas fazem com que atrapalhem a ascenção social dos negros? São ações materiais, não? Ou o racismo tem efeitos meio "telepáticos", uma "energia racista negativa" prejudica a ascenção dos negros?
Citação de: Hélio Schwartsman
É perfeitamente correto que exista uma norma jurídica proibindo o Estado de discriminar negros, homossexuais, judeus ou qualquer outro grupo em empregos públicos preenchidos por sistemas de seleção, vá lá, objetivos.É evidente, porém, que a coisa não funciona em escala privada. Se um negro é preterido após uma entrevista, é impossível provar que o foi por ser negro. O empregador sempre poderá alegar, para o juiz e para sua consciência, que preferiu o candidato branco por considerá-lo mais capacitado ou apenas mais "simpático" --no que estaria em seu direito. O racismo é um fenômeno muito mais fácil de perceber nas estatísticas --o pequeno número de negros em postos qualificados ou de comando-- do que na esfera das relações interpessoais.

Os efeitos do racismo é contatado observando a sociedade como um todo e vendo a diferença entre negros e branco. Tem pesquisas que mostram diferenças de salários entre as etnias mas com o mesmo grau de escolaridade.
Sim, e o IBGE diz que mesmo assim não é possível concluir que seja resultado de racismo. As pessoas mais pobres, de modo geral, mesmo com a mesma escolaridade de pessoas que ganhem mais, possivelmente vão ganhar menos - algo meio implícito em serem pobres. Mesmo as brancas. Como os negros são a maioria entre os pobres, eles são os que tem maior chance de estar ganhando menos.

Quanto a citação do Schwartzman, é como eu disse anteriormente; a forma mais concebível do racismo estar afetar alguém é nesse tipo de situação. Agora, qual o potencial, qual a escala do efeito que esses racistas nessas posições de avaliador de candidatos à vagas de emprego, podem ter? Não pode ser muito grande, a menos que você considere que apenas você e uma meia dúzia de pessoas não são racistas; ou que os racistas conseguiram de alguma forma se posicionar estrategicamente na sociedade para selecionarem os candidatos para vagas de emprego.



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As ações afirmativas buscam atenuar os efeitos do racismo.

Como é que as cotas para negros nas faculdades vão fazer com que esse cenário descrito pelo Schwartzman diminua ou desapareça?

Eu não vejo como. Acho que só desapareceria com algum tipo de fiscalização.



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O seu questionamento sobre racismo é na área de direito penal, o que garanto que tem muita coisa também palpável sobre esse crime.

:hein:

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Além disso, ainda queria saber como os descendentes de escravos, depois da abolição, poderiam ter escalado socialmente até a homogeneidade racial nos estratos sociais. E porque o mesmo não ocorre por exemplo, entre brancos mesmo, porque há brancos de diversas classes sociais, em vez de todos terem alcançado o mesmo patamar, sendo que não há racismo de brancos contra brancos.
Não existe racismo de branco para branco, mas existe a discriminação social.  Pobre é discriminado também.

Então os empresários só contratam pessoas que já são ricas, que já ganham bem? E as diferenças de riquezas entre países? É fruto de um país discriminando o outro? As bolsas de valores tendo saldo positivo ou negativo são reflexo de uma guerra de discriminação xenófoba internacional?


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E a escravidão foi uma grande exploração da mão de obra negra. Foram eles que construíram a riqueza do nosso país. Mas não tiveram benefícios com isso e até hoje sobrem com a pobreza.
E o simples fato deles precisarem de notas mais baixas para entrar na faculdade deixa todos quites?

Acho que seria mais o caso de ver quem foram os donos de escravos, traçar uma "genealogia" dos lucros obtidos com a escravidão, e exigir indenização em dinheiro das famílias, ou ações nas empresas que tenham sido levantadas, algo assim. Me parece fazer muito mais sentido. O problema disso é essa complexidade do fluxo das riquezas; dinheiro feito às custas do trabalho escravo pode estar "espalhado" em diferentes mãos na medida em que as famílias cresceram, que pessoas faliram e etc.  Complica ainda mais a história se levar em conta a miscigenação, que pode até ter ter misturado linhagens de escravos e escravistas, e conseqüentemente algo da riqueza produzida pelos antepassados escravos.

Me parece (mas não tenho certeza) que seria difícil reconstruir essa "trajetória", e haveria uma porção de problemas legais com tudo isso, em fazer essas indenizações, eu acho. Assim, talvez fosse melhor fazer simplesmente cotas para negros nas universidades, não é mesmo?

O problema agora é que simplesmente se está negligenciando um monte de não-negros pobres que não tiveram nada a ver com escravidão. E acabam "pagando a conta". Será que é um modo correto de corrigir os erros de uns poucos no passado?

Eu acho que não. Devido à complexidade da história, e outros problemas legais, a indenização, meio que pagando os "direitos trabalhistas" dos descendentes de escravos não poderia ser feita, ao menos não "contra" os descendentes dos donos de escravos*. Talvez a coisa mais próxima fosse algum tipo de ação contra o estado, por no passado ter legalizado a escravidão. Talvez conjunta contra uma ação contra Portugal, para o período anterior à independência, e aos países vendedores de escravos, se for aplicável.

Se isso também não for muito viável qualquer motivo, e imagino que seja, infelizmente, cotas sociais beneficiam automaticamente os negros, sem prejudicar brancos pobres que nada tiveram a ver com a história da escravidão, sem os problemas de ter que aferir a pureza racial das pessoas, tanto práticos quanto éticos e os seus impactos (negativos) na sociedade.


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Seria parte da conspiração, algo ao qual uma parcela dos brancos se sujeita para manter a farsa de que os brancos não estão todos unidos ativamente impedindo a ascenção social dos negros, que já teriam, não fosse esse racismo (e seus mecanismos ocultos) atingido igualdade sócio-econômica depois da abolição? 
Você fala de uma forma, como que para justificar o racismo este teria que ser consciente. Não é bem assim. As teorias racistas de eugenia realmente foram muito impactantes em nossa sociedade. Tem uma autora que escreveu um livro sobre a teoria eugenia aqui no Brasil. Entrevista no Jô
Veja no nosso caso. Cada um defende uma posição que considera anti-racista e julga o pensamento oposto como sendo racista. Talvez um seja mesmo, mas não aceita isso. Eu mesmo acho que são vocês que não aceitam.  :P

Eu não acho que nenhum de nós seja racista, muito embora as cotas raciais dão essa impressão de condescendência com uma inferioridade intrínseca. Eu assisti essa entrevista, não vejo grande relevância pelos motivos que já mencionei: mesmo tendo havido esse pensamento de eugenia e etc (que era lamarckista no Brasil, o que tem relevância, porque condenava qualquer hábito ruim, mais do que genes, linhagens), ele não pode ter tido muito impacto, devido À quantidade de miscigenação e assimilação cultural que houve. Esses 44% de mestiços não surgiram do nada, mas de casamentos de pessoas que não compartilham dessas idéias de eugenia. Significa que os 52-3% de brancos restantes sejam todos racistas eugenistas? Claro que não. Provavelmente sempre foi, e ainda é, uma minoria das pessoas que realmente é racista. Outro exemplo é a própria grande aceitação das cotas raciais que você citou, ao menos numa perspectiva otimista, sem contar a possibilidade de racismo condescendente. A parcela contrária não pode ser vista em grande parte como racista pelo próprio fato da correlação ser principalmente sócio econômica, isso é, mesmo entre os negros mais ricos e de maior instrução, a desaprovação às cotas sobe.

E da minoria racista, apenas uma fração pequena está em posição de afetar negativamente a ascenção sócio-econômica das raças que odiar, e mesmo os que estão, não podem fazer isso de maneira "definitiva"; não é porque um nazista rejeita um candidato negro ou  judeu a uma vaga de emprego que essa pessoa ficará marcada para sempre, que será sempre rejeitado por todos os demais, e mais numerosos, avaliadores não-racistas.

A menos que os racistas tenham, como eu já disse, dado um jeito de alcançar sempre posições estratégicas como avaliadores de candidatos a vagas de emprego e similares, o efeito do racismo pós-abolição deve ser estatisticamente indetectável, negligenciável.

E contra esse, de qualquer forma, não adiantariam as cotas nas faculdades, mas fiscalização. Uns dizem que essa fiscalização seria errada, tiraria a liberdade e etc, mas para mim parece perfeitamente razoável, um tipo de coisa pela qual uma empresa devesse responder, está sujeita às leis do país, dentre as quais, as que proíbem a discriminação racial. Não digo que fosse a coisa mais simples do mundo avaliar o racismo, mas também não acho que é impossível, afinal, currículos e entrevistas não são coisas aleatórias. E apenas a mera existência da fiscalização talvez já desperte maior atenção dos próprios empresários sobre o perfil de quem está por trás da seleção de candidatos para vagas de emprego.





* Em alguns casos, não sei se seria tão difícil assim. Já vi uma vez num fórum de supremacistas brancos internacional um cara brasileiro se gabando de que era descendente de donos de escravos.

Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #90 Online: 08 de Outubro de 2007, 23:47:49 »
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Se os negros estão em pior situação hoje, o principal motivo é a escravização deles pelos brancos. Mas isso não significa também que o racismo não causou mais prejuízo a população negra até os dias atuais.

Sim, mas de forma alguma significa que sem o racismo, os negros já teriam atingido equiparação sócio-econômica após a abolição. Porque não são seres com capacidade sobrehumanas de enriquecimento, e mesmo para os brancos, não vitimados por racismo, não é possível esse grau de ascenção econômica. 
Mas foram prejudicados pela escravidão, e não é justo dizer que a ínfima participação de negros na universidade seja por uma falta de mérito por parte deles em relação aos outros.

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Adriano, e os mecanismos? Vai explicar, dar números de quantos são os racistas, e que ações racistas fazem com que atrapalhem a ascenção social dos negros? São ações materiais, não? Ou o racismo tem efeitos meio "telepáticos", uma "energia racista negativa" prejudica a ascenção dos negros?
Citação de: Hélio Schwartsman
É perfeitamente correto que exista uma norma jurídica proibindo o Estado de discriminar negros, homossexuais, judeus ou qualquer outro grupo em empregos públicos preenchidos por sistemas de seleção, vá lá, objetivos.É evidente, porém, que a coisa não funciona em escala privada. Se um negro é preterido após uma entrevista, é impossível provar que o foi por ser negro. O empregador sempre poderá alegar, para o juiz e para sua consciência, que preferiu o candidato branco por considerá-lo mais capacitado ou apenas mais "simpático" --no que estaria em seu direito. O racismo é um fenômeno muito mais fácil de perceber nas estatísticas --o pequeno número de negros em postos qualificados ou de comando-- do que na esfera das relações interpessoais.

Os efeitos do racismo é contatado observando a sociedade como um todo e vendo a diferença entre negros e branco. Tem pesquisas que mostram diferenças de salários entre as etnias mas com o mesmo grau de escolaridade.
Sim, e o IBGE diz que mesmo assim não é possível concluir que seja resultado de racismo. As pessoas mais pobres, de modo geral, mesmo com a mesma escolaridade de pessoas que ganhem mais, possivelmente vão ganhar menos - algo meio implícito em serem pobres. Mesmo as brancas. Como os negros são a maioria entre os pobres, eles são os que tem maior chance de estar ganhando menos.
O IBGE é fonte primária de dados, não cabe a eles concluir nada. Mas as pesquisas com bases nesses dados foram aprofundados pela ONU que concluiu o racismo. Aliás as teses de racismo sempre existiram, mas agora vieram as evidências científicas. O que eu soube da pesquisa é sobre renda e grau de escolaridade entre as etnias (usam o termo raça). Você está supondo os resultados não sejam devido a racismo e sim discriminação social. Eu já acredito que seja racismo mesmo, e a renda não tenha tanta influência. Sua idéia é sempre justificar o racismo através da situação econômica. Não vejo por aí, existe o racismo, e pessoas preteridas devido a raça, podem perder bons empregos e ter que pegar outros não tão bons.


Quanto a citação do Schwartzman, é como eu disse anteriormente; a forma mais concebível do racismo estar afetar alguém é nesse tipo de situação. Agora, qual o potencial, qual a escala do efeito que esses racistas nessas posições de avaliador de candidatos à vagas de emprego, podem ter? Não pode ser muito grande, a menos que você considere que apenas você e uma meia dúzia de pessoas não são racistas; ou que os racistas conseguiram de alguma forma se posicionar estrategicamente na sociedade para selecionarem os candidatos para vagas de emprego.
Eu já disse que não vejo o racismo sendo feito de forma consciente. Nenhum racista vai se considerar racista, será racista pelas medidas tomadas. E a nossa sociedade e a nossa cultura é racista. Existe o comportamento racista, mesmo que as pessoas fiquem dizendo que não são racistas e façam comentários elogiosos a negros. O que vale são as atitudes práticas, e é mais fácil para quem é vítima saber. Sua preocupação é em detectar pessoas racistas para concluir que o racismo prejudica e muito a população negra. Eu sempre tive essa percepção.

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As ações afirmativas buscam atenuar os efeitos do racismo.

Como é que as cotas para negros nas faculdades vão fazer com que esse cenário descrito pelo Schwartzman diminua ou desapareça?

Eu não vejo como. Acho que só desapareceria com algum tipo de fiscalização.
Vão colocar os negros em setores privilegiados da sociedade. Vai mudar o quadro das universidades, com mais negros, e estes não vão precisar ouvir que não passaram no vestibular por que tem menos mérito. O pai que perde um bom emprego devido ao racismo, fica com menos condições propiciar o estudo adequado ao seu filho.

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O seu questionamento sobre racismo é na área de direito penal, o que garanto que tem muita coisa também palpável sobre esse crime.

:hein:
Digo que é possível verificar na área jurídica muitos casos de racismo que foram condenados. Embora muitos se percam, alguma porcentagem deve ser presa. Isso para a sua preocupação em identificar racistas. De certo há muitos já condenados. Teve o caso daquele professor num tópico aqui. Ele foi punido pela universidade e não foi a toa, embora muitos quiseram defende-lo.

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Além disso, ainda queria saber como os descendentes de escravos, depois da abolição, poderiam ter escalado socialmente até a homogeneidade racial nos estratos sociais. E porque o mesmo não ocorre por exemplo, entre brancos mesmo, porque há brancos de diversas classes sociais, em vez de todos terem alcançado o mesmo patamar, sendo que não há racismo de brancos contra brancos.
Não existe racismo de branco para branco, mas existe a discriminação social.  Pobre é discriminado também.

Então os empresários só contratam pessoas que já são ricas, que já ganham bem?
Sim, quanto mais alto o cargo, mais qualificação a pessoa tem que ter. Tem muita relação. A pesquisa que peguei sobre a teoria do ciclo intergeracional da pobreza fala sobre isso, da manutenção das classes mais favorecidas devido ao investimento no capital humano da família. Educação não é barato, e a pública não é boa.

E as diferenças de riquezas entre países? É fruto de um país discriminando o outro? As bolsas de valores tendo saldo positivo ou negativo são reflexo de uma guerra de discriminação xenófoba internacional?
No Brasil foi elaborado na área de desenvolvimento econômico, as teses cepalinas de centro e periferia. E as teorias de comércio internacional também mostram isso. Lembre-se que muitas guerras tiveram motivações econômicas. O pensamento sempre foi de crescimento nacional e o sentimento de patriotismo. A globalização que está tornando uma aldeia global e mudando isso. As guerras modernas são econômicas. Ou você considera que os subsídios são devidos a uma falta de entendimento da economia de livre mercado? Subsídios são protecionismo, semelhante ao que Adam Smith criticava no mercantilismo.


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E a escravidão foi uma grande exploração da mão de obra negra. Foram eles que construíram a riqueza do nosso país. Mas não tiveram benefícios com isso e até hoje sobrem com a pobreza.
E o simples fato deles precisarem de notas mais baixas para entrar na faculdade deixa todos quites?
:ayes: Ajuda muito. Mas como sempre digo, as cotas raciais são apenas uma parte de uma gama ampla de medidas de ações afirmativas, uma tendência mundial.

Acho que seria mais o caso de ver quem foram os donos de escravos, traçar uma "genealogia" dos lucros obtidos com a escravidão, e exigir indenização em dinheiro das famílias, ou ações nas empresas que tenham sido levantadas, algo assim. Me parece fazer muito mais sentido. O problema disso é essa complexidade do fluxo das riquezas; dinheiro feito às custas do trabalho escravo pode estar "espalhado" em diferentes mãos na medida em que as famílias cresceram, que pessoas faliram e etc.  Complica ainda mais a história se levar em conta a miscigenação, que pode até ter ter misturado linhagens de escravos e escravistas, e conseqüentemente algo da riqueza produzida pelos antepassados escravos.

Me parece (mas não tenho certeza) que seria difícil reconstruir essa "trajetória", e haveria uma porção de problemas legais com tudo isso, em fazer essas indenizações, eu acho. Assim, talvez fosse melhor fazer simplesmente cotas para negros nas universidades, não é mesmo?

O problema agora é que simplesmente se está negligenciando um monte de não-negros pobres que não tiveram nada a ver com escravidão. E acabam "pagando a conta". Será que é um modo correto de corrigir os erros de uns poucos no passado?
Os pobres brancos podem ser pobres devido ao mérito, em tese, desconsiderando o racismo. Esses não foram prejudicados pelo racismo. Embora sabemos que a desigualdade social sem causas sistêmicas e o PROUNI é um programa voltado para esse problema.

E na UnB não é considerado a classe social, somente a cor. Outras universidades que adotaram o critério socio-econômico.

Eu acho que não. Devido à complexidade da história, e outros problemas legais, a indenização, meio que pagando os "direitos trabalhistas" dos descendentes de escravos não poderia ser feita, ao menos não "contra" os descendentes dos donos de escravos*. Talvez a coisa mais próxima fosse algum tipo de ação contra o estado, por no passado ter legalizado a escravidão. Talvez conjunta contra uma ação contra Portugal, para o período anterior à independência, e aos países vendedores de escravos, se for aplicável.
Inviável.

Se isso também não for muito viável qualquer motivo, e imagino que seja, infelizmente, cotas sociais beneficiam automaticamente os negros, sem prejudicar brancos pobres que nada tiveram a ver com a história da escravidão, sem os problemas de ter que aferir a pureza racial das pessoas, tanto práticos quanto éticos e os seus impactos (negativos) na sociedade.
E de onde você tira que os brancos pobres são prejudicados? Eles sofrem racismo? Nenhum sistema é perfeito, mas esse me parece muito bom como medida prática para atenuar o quadro de desigualdade racial nas universidades.

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Seria parte da conspiração, algo ao qual uma parcela dos brancos se sujeita para manter a farsa de que os brancos não estão todos unidos ativamente impedindo a ascenção social dos negros, que já teriam, não fosse esse racismo (e seus mecanismos ocultos) atingido igualdade sócio-econômica depois da abolição? 
Você fala de uma forma, como que para justificar o racismo este teria que ser consciente. Não é bem assim. As teorias racistas de eugenia realmente foram muito impactantes em nossa sociedade. Tem uma autora que escreveu um livro sobre a teoria eugenia aqui no Brasil. Entrevista no Jô
Veja no nosso caso. Cada um defende uma posição que considera anti-racista e julga o pensamento oposto como sendo racista. Talvez um seja mesmo, mas não aceita isso. Eu mesmo acho que são vocês que não aceitam.  :P

Eu não acho que nenhum de nós seja racista, muito embora as cotas raciais dão essa impressão de condescendência com uma inferioridade intrínseca. Eu assisti essa entrevista, não vejo grande relevância pelos motivos que já mencionei: mesmo tendo havido esse pensamento de eugenia e etc (que era lamarckista no Brasil, o que tem relevância, porque condenava qualquer hábito ruim, mais do que genes, linhagens), ele não pode ter tido muito impacto, devido À quantidade de miscigenação e assimilação cultural que houve. Esses 44% de mestiços não surgiram do nada, mas de casamentos de pessoas que não compartilham dessas idéias de eugenia. Significa que os 52-3% de brancos restantes sejam todos racistas eugenistas? Claro que não. Provavelmente sempre foi, e ainda é, uma minoria das pessoas que realmente é racista, e dessas, apenas uma fração pequena está em posição de afetar negativamente a ascenção sócio-econômica das raças que odiar, e mesmo os que estão, não podem fazer isso de maneira "definitiva"; não é porque um nazista rejeita um candidato negro ou  judeu a uma vaga de emprego que essa pessoa ficará marcada para sempre, que será sempre rejeitado por todos os demais, e mais numerosos, avaliadores não-racistas.
A sua percepção de racismo é muito diferente da minha. A miscigenação não foi necessariamente algo intencional da população branca, devido a um acolhimento dos negros. Penso que os brancos sempre foram os preferidos para se casarem, tanto pelos negros, quanto pelos brancos. Até hoje se fala que negro gosta de loira.  Foi mais um acontecimento inevitável devido a nossa cultura de que os escravos aqui eram bem tratados e passavam bem. Mas não tinham liberdade. Outros eram bastardos, filhos de escravas abusadas sexualmente. Enfim, considero que a grande quantidade de negros, forçou a miscigenação, e pela própria informalidade de nosso país, enquanto nos Estados Unidos as instituições sempre foram presentes, e por isso o segregacionismo instituional.


A menos que os racistas tenham, como eu já disse, dado um jeito de alcançar sempre posições estratégicas como avaliadores de candidatos a vagas de emprego e similares, o efeito do racismo pós-abolição deve ser estatisticamente indetectável, negligenciável.
Não é não, essa parte eu não vi muito a respeito, mas o racismo persistiu mesmo após a abolição e com efeitos na composição da sociedade atual.

E contra esse, de qualquer forma, não adiantariam as cotas nas faculdades, mas fiscalização. Uns dizem que essa fiscalização seria errada, tiraria a liberdade e etc, mas para mim parece perfeitamente razoável, um tipo de coisa pela qual uma empresa devesse responder, está sujeita às leis do país, dentre as quais, as que proíbem a discriminação racial. Não digo que fosse a coisa mais simples do mundo avaliar o racismo, mas também não acho que é impossível, afinal, currículos e entrevistas não são coisas aleatórias. E apenas a mera existência da fiscalização talvez já desperte maior atenção dos próprios empresários sobre o perfil de quem está por trás da seleção de candidatos para vagas de emprego.
Essa é sua opinião, mas eu concordo com o Hélio Schwartsman.

E por falar em ineficiência de repressão, uma correlação estatística entre proibição e violência. No direito existem juristas que defendem o direito penal mínimo.

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Re: Re:Re:Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Cotas raciais
« Resposta #91 Online: 09 de Outubro de 2007, 02:47:34 »
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Se os negros estão em pior situação hoje, o principal motivo é a escravização deles pelos brancos. Mas isso não significa também que o racismo não causou mais prejuízo a população negra até os dias atuais.

Sim, mas de forma alguma significa que sem o racismo, os negros já teriam atingido equiparação sócio-econômica após a abolição. Porque não são seres com capacidade sobrehumanas de enriquecimento, e mesmo para os brancos, não vitimados por racismo, não é possível esse grau de ascenção econômica. 
Mas foram prejudicados pela escravidão, e não é justo dizer que a ínfima participação de negros na universidade seja por uma falta de mérito por parte deles em relação aos outros.

Eu acho não acho que "mérito" seja uma coisa muito pertinente, a não ser como qualificação/capacitação apenas; porque mérito pode ter o sentido mais amplo de merecimento, aí se poderia dizer coisas como que todo ser humano tem o direito à isso ou aquilo. O problema é que terem o direito e terem a capacidade de eventualmente exercê-lo são coisas distintas. Todo ser humano tem o direito a ter uma Ferrari, mas são, sei lá, só umas poucas centenas de pessoas que tem. O mesmo vale para várias outras situações, cursar faculdade é uma delas. Todo ser humano deveria ter o direito à prestar faculdade. Mas isso não significa que qualquer um pode entrar; não podem entrar bebês, crianças, adultos analfabetos ou sem ensino médio ou supletivo concluídos. Por último, aqueles que não passarem no vestibular. Vão ter diversas situações pessoais/particulares que não vão contribuir para isso, e é normal.   

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Adriano, e os mecanismos? Vai explicar, dar números de quantos são os racistas, e que ações racistas fazem com que atrapalhem a ascenção social dos negros? São ações materiais, não? Ou o racismo tem efeitos meio "telepáticos", uma "energia racista negativa" prejudica a ascenção dos negros?
Citação de: Hélio Schwartsman
É perfeitamente correto que exista uma norma jurídica proibindo o Estado de discriminar negros, homossexuais, judeus ou qualquer outro grupo em empregos públicos preenchidos por sistemas de seleção, vá lá, objetivos.É evidente, porém, que a coisa não funciona em escala privada. Se um negro é preterido após uma entrevista, é impossível provar que o foi por ser negro. O empregador sempre poderá alegar, para o juiz e para sua consciência, que preferiu o candidato branco por considerá-lo mais capacitado ou apenas mais "simpático" --no que estaria em seu direito. O racismo é um fenômeno muito mais fácil de perceber nas estatísticas --o pequeno número de negros em postos qualificados ou de comando-- do que na esfera das relações interpessoais.

Os efeitos do racismo é contatado observando a sociedade como um todo e vendo a diferença entre negros e branco. Tem pesquisas que mostram diferenças de salários entre as etnias mas com o mesmo grau de escolaridade.
Sim, e o IBGE diz que mesmo assim não é possível concluir que seja resultado de racismo. As pessoas mais pobres, de modo geral, mesmo com a mesma escolaridade de pessoas que ganhem mais, possivelmente vão ganhar menos - algo meio implícito em serem pobres. Mesmo as brancas. Como os negros são a maioria entre os pobres, eles são os que tem maior chance de estar ganhando menos.
O IBGE é fonte primária de dados, não cabe a eles concluir nada. Mas as pesquisas com bases nesses dados foram aprofundados pela ONU que concluiu o racismo. Aliás as teses de racismo sempre existiram, mas agora vieram as evidências científicas.
Você poderia resumir quais seriam as argumentações da ONU concluindo o racismo? E como esse racismo estaria causando os efeitos observados nas estatísticas?


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O que eu soube da pesquisa é sobre renda e grau de escolaridade entre as etnias (usam o termo raça). Você está supondo os resultados não sejam devido a racismo e sim discriminação social.

Não é nem discriminação social. Apenas a velha inércia da situação dos negros na abolição. Há, para uma mesma faixa de escolaridade, diferentes faixas de renda. Não é necessário ter racismo ou discriminação social para isso ocorrer. Ao mesmo tempo, os negros, por serem descendentes de escravos paupérrimos, estarão mais numerosamente entre os mais pobres. E logo mais provavelmente haverão brancos, que não são descendentes de escravos, tendo uma escolaridade igual, mas rendimento maior, porque não são descendentes de escravos.



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Eu já acredito que seja racismo mesmo, e a renda não tenha tanta influência. Sua idéia é sempre justificar o racismo através da situação econômica.
???
Não estou em momento algum justificando racismo, estou explicando as disparidades sócio econômicas entre as raças como inércia da situação dos escravos na abolição, é muito diferente. (O que também não é "justificar a escravidão")


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Não vejo por aí, existe o racismo, e pessoas preteridas devido a raça, podem perder bons empregos e ter que pegar outros não tão bons.

E quais seriam as estimativas disso? Os estudos da ONU tem algo relacionado a isso, quantos racistas estariam em posições de contratar ou não negros e mestiços, e quantos seriam rejeitados injustamente ou demitidos por racismo?

Eu sei lá. São 38,5% (eu tinha dito 44 antes, me confundi) de mestiços, (ou mais, considerando os brancos (e negros) que tendem mais para uma cor ou outra), mais 6,2% de negros, e os contratadores tem que colocar pessoas para trabalhar, para poder ganhar o próprio dinheiro deles. Tem que contratar dentre os desempregados, em uma boa parte do tempo, exceto para funções bastante especializadas, o que não compõe grande parte do mercado de trabalho. Isso é uma parcela muito grande da população, assim não sei se dá para os contratadores racistas se darem ao luxo de contratar apenas pessoas dentro dos critérios raciais que eles preferem (brancos, preferencialmente puros). A taxa de desemprego no país é de 6%, e não acho que todos os brancos estejam empregados (eu não estou, hehe), ou coincidam exatamente com os negros.



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Quanto a citação do Schwartzman, é como eu disse anteriormente; a forma mais concebível do racismo estar afetar alguém é nesse tipo de situação. Agora, qual o potencial, qual a escala do efeito que esses racistas nessas posições de avaliador de candidatos à vagas de emprego, podem ter? Não pode ser muito grande, a menos que você considere que apenas você e uma meia dúzia de pessoas não são racistas; ou que os racistas conseguiram de alguma forma se posicionar estrategicamente na sociedade para selecionarem os candidatos para vagas de emprego.
Eu já disse que não vejo o racismo sendo feito de forma consciente. Nenhum racista vai se considerar racista, será racista pelas medidas tomadas. E a nossa sociedade e a nossa cultura é racista. Existe o comportamento racista, mesmo que as pessoas fiquem dizendo que não são racistas e façam comentários elogiosos a negros. O que vale são as atitudes práticas, e é mais fácil para quem é vítima saber. Sua preocupação é em detectar pessoas racistas para concluir que o racismo prejudica e muito a população negra. Eu sempre tive essa percepção.

Mas é claro que existe racismo consciente, e nem necessariamente os racistas rejeitarão o rótulo, ainda que hajam os que o façam, mas sustentem abertamente (ou tão abertamente quanto for possível sem correr risco de ter problemas com a lei) opiniões racistas de inferioridade de negros e etc. Esse racismo inconsciente que é novidade para mim. Como é que é isso? E como é que essas atitudes podem estar tendo efeito sobre a situação econômica dos negros e mestiços? Os brancos estariam "sem perceber" rejeitando negros, mesmo que bem qualificados, por ordem de um racismo entranhado no seu inconsciente? A gente vai no psicanalista e ele analisa os nossos sonhos e nos diagnostica como racistas ou não? Se não tem uma certa quantidade/cota de pessoas de determinadas raças nos nossos sonhos, somos racistas? :D


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As ações afirmativas buscam atenuar os efeitos do racismo.

Como é que as cotas para negros nas faculdades vão fazer com que esse cenário descrito pelo Schwartzman diminua ou desapareça?

Eu não vejo como. Acho que só desapareceria com algum tipo de fiscalização.
Vão colocar os negros em setores privilegiados da sociedade. Vai mudar o quadro das universidades, com mais negros, e estes não vão precisar ouvir que não passaram no vestibular por que tem menos mérito.

Mas com cotas especificamente raciais vão ouvir que só passaram por ajuda das cotas. Mesmo que você mostre dados como que cotistas podem ter tirado até notas melhores no próprio vestibular e ter tido melhor desempenho durante o curso. É um ótimo argumento para os racistas conseguirem doutrinar mais pessoas "em cima do muro".

Sem falar que, se as cotas são sociais, o efeito é praticamente o mesmo, e o resultado também; apenas reduz a chance de brancos pobres perderem vagas apesar de terem tido resultados que os favorecessem se competissem de igual para igual. Sem os inconvenientes de ter que se ter um comitê avaliador de pureza racial, sem criar esse desconforto/conflito desnecessário, tratando as pessoas como pessoas, como gente, como iguais, como deveria ser se se tem como objetivo combater a discriminação racial.

Um detalhe que considero importante, é que as cotas raciais (mas o mesmo vale para as sociais) idealmente não devem de qualquer forma colocar muito mais negros nas faculdades. Porque, se o vestibular é um processo seletivo e não um sorteio, estarão sim, sendo colocadas pessoas menos aptas para o curso superior (repetindo, o que vale para cotas raciais ou sociais). E como reflexo disso se teria possivelmente desempenho mais baixo na faculdade desses cotistas, o que seria péssimo em muitos sentidos. Seria tudo que os racistas poderiam querer como fonte de argumentações racistas (sejam os critérios raciais ou sociais, porque de qualquer forma a entrada de negros seria volumosa), criaria um estigma, etc.

Eu acabei mencionando poucas vezes, até por já ter mencionado anteriormente em outras ocasiões, que acho que o melhor mesmo que cotas fosse, como paliativo, além da melhora do ensino público, cursos pré-vestibulares gratuitos, para pessoas de baixa renda. Aí entram no vestibular de igual para igual, que é melhor para a visão das pessoas sobre a capacitação deles, para a capacitação mesmo e para a própria auto-estima, por não estar entrando na faculdade porque teve uma colher de xá, porque "deixaram". Entrou porque teve mérito mesmo.
 


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O seu questionamento sobre racismo é na área de direito penal, o que garanto que tem muita coisa também palpável sobre esse crime.

:hein:
Digo que é possível verificar na área jurídica muitos casos de racismo que foram condenados. Embora muitos se percam, alguma porcentagem deve ser presa. Isso para a sua preocupação em identificar racistas. De certo há muitos já condenados. Teve o caso daquele professor num tópico aqui. Ele foi punido pela universidade e não foi a toa, embora muitos quiseram defende-lo.
Tinha esquecido daquilo... depois eu ainda queria ver melhor qual foi o contexto todo...


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Além disso, ainda queria saber como os descendentes de escravos, depois da abolição, poderiam ter escalado socialmente até a homogeneidade racial nos estratos sociais. E porque o mesmo não ocorre por exemplo, entre brancos mesmo, porque há brancos de diversas classes sociais, em vez de todos terem alcançado o mesmo patamar, sendo que não há racismo de brancos contra brancos.
Não existe racismo de branco para branco, mas existe a discriminação social.  Pobre é discriminado também.

Então os empresários só contratam pessoas que já são ricas, que já ganham bem?
Sim, quanto mais alto o cargo, mais qualificação a pessoa tem que ter. Tem muita relação.
Claro, até aí tudo bem. Mas esses altos cargos não correspondem a uma fatia significativa do mercado de trabalho. Não dá para contratar apenas médicos neurocirurgiões de ascendência alemã ou polonesa para trabalhar como peão na Volks.




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E as diferenças de riquezas entre países? É fruto de um país discriminando o outro? As bolsas de valores tendo saldo positivo ou negativo são reflexo de uma guerra de discriminação xenófoba internacional?
No Brasil foi elaborado na área de desenvolvimento econômico, as teses cepalinas de centro e periferia. E as teorias de comércio internacional também mostram isso. Lembre-se que muitas guerras tiveram motivações econômicas. O pensamento sempre foi de crescimento nacional e o sentimento de patriotismo. A globalização que está tornando uma aldeia global e mudando isso. As guerras modernas são econômicas. Ou você considera que os subsídios são devidos a uma falta de entendimento da economia de livre mercado? Subsídios são protecionismo, semelhante ao que Adam Smith criticava no mercantilismo.

Sim, de fato subsídios tem até um viés nacionalista, como quando o Lula reclamou de que plataformas de petróleo tinham sido fabricadas por não-brasileiros no outro governo. Mas no que se refere à condição de um país, ainda que as relações comerciais internacionais tenham seus papéis, as riquezas são em muito produzidas internamente*, não é como se para que um país enriqueça outro precise empobrecer, ou que a crise de um seja causada pelo nacionalismo dos demais.

 

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E a escravidão foi uma grande exploração da mão de obra negra. Foram eles que construíram a riqueza do nosso país. Mas não tiveram benefícios com isso e até hoje sobrem com a pobreza.
E o simples fato deles precisarem de notas mais baixas para entrar na faculdade deixa todos quites?
:ayes: Ajuda muito. Mas como sempre digo, as cotas raciais são apenas uma parte de uma gama ampla de medidas de ações afirmativas, uma tendência mundial.

Sei lá. Acho que achar que isso limpa a barra dos escravistas do passado é meio como o papa dizer sobre o suporte da ICAR ao nazismo "aí, foi mal" no que tange a tornar as coisas quites. Eu acho uma  atitude menos presunçosa não se propor a corrigir "heroicamente"/simbolicamente  os erros dos antepassados, com uma esmola dessas.

Eu não sei o que se poderia fazer para "limpar a barra" dos antepassados escravistas dos brancos, e nem acho que é algo que devia ser feito. Para começar, não vejo como possível. Acho que isso seria até meio insultoso. As coisas mais parecidas seriam ter dias nacionais e monumentos, mas realmente achar que somos capazes de quitar as coisas é presunção inigualável, é ridicularizar, diminuir ao extremo as situações que foram impostas aos escravos.

Não acho que devessemos pensar em nós como brancos, negros, mestiços, verdes ou vermelhos, e assumir a culpa dos antepassados, como se a pele branca (ou negra) fosse uma espécie de instituição.

Passou, não tem como corrigir, o melhor que se faz é não se cometer o mesmo erro de tratar as pessoas diferentemente por serem de raças diferentes. Acho que é o mais que de respeitoso e justo se pode fazer.

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Se isso também não for muito viável qualquer motivo, e imagino que seja, infelizmente, cotas sociais beneficiam automaticamente os negros, sem prejudicar brancos pobres que nada tiveram a ver com a história da escravidão, sem os problemas de ter que aferir a pureza racial das pessoas, tanto práticos quanto éticos e os seus impactos (negativos) na sociedade.
E de onde você tira que os brancos pobres são prejudicados? Eles sofrem racismo? Nenhum sistema é perfeito, mas esse me parece muito bom como medida prática para atenuar o quadro de desigualdade racial nas universidades.

Os brancos pobres são prejudicados na medida em que competem em desvantagem com os negros, tem que ter melhor desempenho para ter o mesmo benefício. Eles estão sofrendo "racismo", na acepção "tratamento diferencial baseado em raças".

Se as cotas fossem sociais, tanto uma maioria de negros pobres entraria, sem que isso representasse deixar de fora eventuais brancos pobres, mas igualmente capazes, apenas por não serem da raça certa.



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Seria parte da conspiração, algo ao qual uma parcela dos brancos se sujeita para manter a farsa de que os brancos não estão todos unidos ativamente impedindo a ascenção social dos negros, que já teriam, não fosse esse racismo (e seus mecanismos ocultos) atingido igualdade sócio-econômica depois da abolição? 
Você fala de uma forma, como que para justificar o racismo este teria que ser consciente. Não é bem assim. As teorias racistas de eugenia realmente foram muito impactantes em nossa sociedade. Tem uma autora que escreveu um livro sobre a teoria eugenia aqui no Brasil. Entrevista no Jô
Veja no nosso caso. Cada um defende uma posição que considera anti-racista e julga o pensamento oposto como sendo racista. Talvez um seja mesmo, mas não aceita isso. Eu mesmo acho que são vocês que não aceitam.  :P

Eu não acho que nenhum de nós seja racista, muito embora as cotas raciais dão essa impressão de condescendência com uma inferioridade intrínseca. Eu assisti essa entrevista, não vejo grande relevância pelos motivos que já mencionei: mesmo tendo havido esse pensamento de eugenia e etc (que era lamarckista no Brasil, o que tem relevância, porque condenava qualquer hábito ruim, mais do que genes, linhagens), ele não pode ter tido muito impacto, devido À quantidade de miscigenação e assimilação cultural que houve. Esses 44% de mestiços não surgiram do nada, mas de casamentos de pessoas que não compartilham dessas idéias de eugenia. Significa que os 52-3% de brancos restantes sejam todos racistas eugenistas? Claro que não. Provavelmente sempre foi, e ainda é, uma minoria das pessoas que realmente é racista, e dessas, apenas uma fração pequena está em posição de afetar negativamente a ascenção sócio-econômica das raças que odiar, e mesmo os que estão, não podem fazer isso de maneira "definitiva"; não é porque um nazista rejeita um candidato negro ou  judeu a uma vaga de emprego que essa pessoa ficará marcada para sempre, que será sempre rejeitado por todos os demais, e mais numerosos, avaliadores não-racistas.
A sua percepção de racismo é muito diferente da minha. A miscigenação não foi necessariamente algo intencional da população branca, devido a um acolhimento dos negros. Penso que os brancos sempre foram os preferidos para se casarem, tanto pelos negros, quanto pelos brancos. Até hoje se fala que negro gosta de loira.

Mas o que é isso? Falácia de apelo ao dito popular? "Se fala" que todos gostam mais de loiras. Não é por isso que as loiras viraram a maioria, como seria previsto se as morenas fossem suficientemente discriminadas, e não acho que se possa atribuir tudo a tintura e água oxigenada.

Eu acho que, ao mesmo tempo em que existe e existiu racismo, o motivo por uma preferência do casamento com brancos ou entre brancos deve estar mais ligado à classe social do que à raça, sendo ligado a raça praticamente apenas nos casos entre brancos (que não contam para produzir a miscigenação). Nos casamentos de negros e mestiços com brancos teria que se supor um "auto-racismo" do mestiço ou negro e no mínimo não-racismo por parte do branco. 


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Foi mais um acontecimento inevitável devido a nossa cultura de que os escravos aqui eram bem tratados e passavam bem. Mas não tinham liberdade. Outros eram bastardos, filhos de escravas abusadas sexualmente.

Escravos bem tratados?  :o Então é por isso que apenas dar umas cotinhas faz com que fiquemos "nós" brancos e eles todos quites?

Não acho que descendentes de escravas estupradas componham parte estatisticamente significativa da população mestiça.

 

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A menos que os racistas tenham, como eu já disse, dado um jeito de alcançar sempre posições estratégicas como avaliadores de candidatos a vagas de emprego e similares, o efeito do racismo pós-abolição deve ser estatisticamente indetectável, negligenciável.
Não é não, essa parte eu não vi muito a respeito, mas o racismo persistiu mesmo após a abolição e com efeitos na composição da sociedade atual.

Bem, eu não sei. Me parece teoria da conspiração, ou no mínimo algo como que tenhamos uma quantidade enorme de pessoas que tenham que ir para a CADEIA. Uns 30% dos brancos, talvez. É o que imagino, chutando, que fosse necessário de racistas para ter um efeito significativo na ascenção social dos negros dotados com capacidade sobrehumana de enriquecimento.



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E contra esse, de qualquer forma, não adiantariam as cotas nas faculdades, mas fiscalização. Uns dizem que essa fiscalização seria errada, tiraria a liberdade e etc, mas para mim parece perfeitamente razoável, um tipo de coisa pela qual uma empresa devesse responder, está sujeita às leis do país, dentre as quais, as que proíbem a discriminação racial. Não digo que fosse a coisa mais simples do mundo avaliar o racismo, mas também não acho que é impossível, afinal, currículos e entrevistas não são coisas aleatórias. E apenas a mera existência da fiscalização talvez já desperte maior atenção dos próprios empresários sobre o perfil de quem está por trás da seleção de candidatos para vagas de emprego.
Essa é sua opinião, mas eu concordo com o Hélio Schwartsman.

Bem, você pode até achar que fiscalização não adiantaria; eu mesmo não acho que fosse ser uma maravilha que fosse colocar todo racista na cadeia. O problema é que, se há isso dos empregadores racistas atrapalhando a ascenção dos negros por nunca contratá-los, o mesmo vai continuar ocorrendo se houverem um pouco mais de negros com um diploma na mão. Seriam inócuas as cotas quanto a isso. Não só as cotas para faculdade, sociais ou raciais, mas até cursinhos gratuitos para pobres que colocassem mais negros nas faculdades por mérito igual.

As cotas para resolver isso teriam que ser cotas raciais nas empresas. Não que eu defenda isso, acho mais decente a fiscalização, quanto ao racismo especificamente, e políticas diversas para melhora da educação para diminuir a pobreza independentemente da cor do pobre.


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E por falar em ineficiência de repressão, uma correlação estatística entre proibição e violência. No direito existem juristas que defendem o direito penal mínimo.

Então, se abolissem as leis contra o racismo, talvez ele desaparecesse? :hein:





*Jared Diamond expõe no seu livro "armas, germes e aço", que as riquezas naturais determinaram a geografia das principais concentrações de riqueza de forma que se mantém em muito até hoje, apesar do advento do dinheiro em si, que é uma riqueza móvel, e tem o poder de se deslocar mais livremente. Ainda assim, há grande inércia de algo tão básico como as riquezas naturais. Houve, de qualquer forma, bastante nacionalismo, evidenciado pela palavra "armas" no título.

Offline Jeanioz

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #92 Online: 09 de Outubro de 2007, 12:55:50 »
Re: Re:Re:Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Cotas raciais

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Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #93 Online: 09 de Outubro de 2007, 13:35:42 »
Mas foram prejudicados pela escravidão, e não é justo dizer que a ínfima participação de negros na universidade seja por uma falta de mérito por parte deles em relação aos outros.

Eu acho não acho que "mérito" seja uma coisa muito pertinente, a não ser como qualificação/capacitação apenas; porque mérito pode ter o sentido mais amplo de merecimento, aí se poderia dizer coisas como que todo ser humano tem o direito à isso ou aquilo. O problema é que terem o direito e terem a capacidade de eventualmente exercê-lo são coisas distintas. Todo ser humano tem o direito a ter uma Ferrari, mas são, sei lá, só umas poucas centenas de pessoas que tem. O mesmo vale para várias outras situações, cursar faculdade é uma delas. Todo ser humano deveria ter o direito à prestar faculdade. Mas isso não significa que qualquer um pode entrar; não podem entrar bebês, crianças, adultos analfabetos ou sem ensino médio ou supletivo concluídos. Por último, aqueles que não passarem no vestibular. Vão ter diversas situações pessoais/particulares que não vão contribuir para isso, e é normal.   
Mas o que é passar no vestibular? Eu considero como ter o aproveitamento mínimo para concluir o curso, que é estabelecido pelo vestibular. As notas de corte surgiram devido ao "mercado" de candidatos oferecer uma quantidade muito maior de concorrentes do que de vagas. Portanto tem uma grande diferença entre não passar no vestibular, no sentido de não ser capacitado para o curso, e não passar no vestibular por não ter atingido a nota de corte devido a uma concorrência maior. E essa concorrência reflete a desigualdade da sociedade seja racial ou social.

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Sim, e o IBGE diz que mesmo assim não é possível concluir que seja resultado de racismo. As pessoas mais pobres, de modo geral, mesmo com a mesma escolaridade de pessoas que ganhem mais, possivelmente vão ganhar menos - algo meio implícito em serem pobres. Mesmo as brancas. Como os negros são a maioria entre os pobres, eles são os que tem maior chance de estar ganhando menos.
O IBGE é fonte primária de dados, não cabe a eles concluir nada. Mas as pesquisas com bases nesses dados foram aprofundados pela ONU que concluiu o racismo. Aliás as teses de racismo sempre existiram, mas agora vieram as evidências científicas.
Você poderia resumir quais seriam as argumentações da ONU concluindo o racismo? E como esse racismo estaria causando os efeitos observados nas estatísticas?
O racismo está por toda a sociedade. Tem o estudo da UNESCO demonstrando o racismo nas escolas em todos os níveis de ensino. Esse mesmo estudo que propõe ações afirmativas e as cotas. Tem estudos apontando racismo nas práticas jurídicas, com maior condenação dos negros. A população carcerária também tem maior quantidade de negros que na população. São muitas pesquisas comprovando os efeitos maléficos do racismo.

Mas de qualquer maneira o foco não está em oferecer melhores condições para a população negra que está em desvantagem em relação a branca. O relatório da ONU é inovador por medir o IDH intermunicipal e constatar essas diferenças. O negro pobre está em desvantagem com o branco pobre. Isso ocorre em todas as classes sociais, com a renda do negro sendo inferior. Por isso o seu argumento de que o branco pobre estará sendo discriminado não confere, pois ele está numa situação melhor.


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O que eu soube da pesquisa é sobre renda e grau de escolaridade entre as etnias (usam o termo raça). Você está supondo os resultados não sejam devido a racismo e sim discriminação social.

Não é nem discriminação social. Apenas a velha inércia da situação dos negros na abolição. Há, para uma mesma faixa de escolaridade, diferentes faixas de renda. Não é necessário ter racismo ou discriminação social para isso ocorrer. Ao mesmo tempo, os negros, por serem descendentes de escravos paupérrimos, estarão mais numerosamente entre os mais pobres. E logo mais provavelmente haverão brancos, que não são descendentes de escravos, tendo uma escolaridade igual, mas rendimento maior, porque não são descendentes de escravos.
A escravidão é sim a principal causa da direfença racial. Por isso que digo que o marco zero não é a abolição. Mas isso também não anula os efeitos atuais do racismo que não se dissipou totalmente na sociedade, embora tenha melhorado a situação.

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Não vejo por aí, existe o racismo, e pessoas preteridas devido a raça, podem perder bons empregos e ter que pegar outros não tão bons.

E quais seriam as estimativas disso? Os estudos da ONU tem algo relacionado a isso, quantos racistas estariam em posições de contratar ou não negros e mestiços, e quantos seriam rejeitados injustamente ou demitidos por racismo?
O racismo não é medido pelo mercado de trabalho. Existem muitas outras situações de racismo que prejudicam os negro. Por isso só percebemos no somatório, nas estatísticas, que demonstrar de forma gritante muitas teses de racismo defendidas. O que faltava eram as evidências empíricas.

Eu sei lá. São 38,5% (eu tinha dito 44 antes, me confundi) de mestiços, (ou mais, considerando os brancos (e negros) que tendem mais para uma cor ou outra), mais 6,2% de negros, e os contratadores tem que colocar pessoas para trabalhar, para poder ganhar o próprio dinheiro deles. Tem que contratar dentre os desempregados, em uma boa parte do tempo, exceto para funções bastante especializadas, o que não compõe grande parte do mercado de trabalho. Isso é uma parcela muito grande da população, assim não sei se dá para os contratadores racistas se darem ao luxo de contratar apenas pessoas dentro dos critérios raciais que eles preferem (brancos, preferencialmente puros). A taxa de desemprego no país é de 6%, e não acho que todos os brancos estejam empregados (eu não estou, hehe), ou coincidam exatamente com os negros.
Você está considerando o conceito econômico de racionalidade dos contratadores. Logo, se eles consideram equivocadamente os negros inferiores, no conceito deles contratar brancos é o melhor para o negócio. E como é algo privado ninguém vai se justificar publicamente por essa atitude pois é crime. Para o racista, o branco é mais eficiente e lhe trará mais lucros.

Mas é claro que existe racismo consciente, e nem necessariamente os racistas rejeitarão o rótulo, ainda que hajam os que o façam, mas sustentem abertamente (ou tão abertamente quanto for possível sem correr risco de ter problemas com a lei) opiniões racistas de inferioridade de negros e etc. Esse racismo inconsciente que é novidade para mim. Como é que é isso? E como é que essas atitudes podem estar tendo efeito sobre a situação econômica dos negros e mestiços? Os brancos estariam "sem perceber" rejeitando negros, mesmo que bem qualificados, por ordem de um racismo entranhado no seu inconsciente? A gente vai no psicanalista e ele analisa os nossos sonhos e nos diagnostica como racistas ou não? Se não tem uma certa quantidade/cota de pessoas de determinadas raças nos nossos sonhos, somos racistas? :D
As origens do racismo nos indivíduos tem muito de cultural. Não vem da intenção de prejudicar os negros, as vezes é até de querer ajudar uma pessoas com menos capacidade, que é o pensamento racista. Piadas e brincadeira muitas vezes sem nenhuma intenção de maldade transmitem um estereótipo negativo sobre os negros. Mas isso não outras questão, a de determinar os mecanismos do racismo.

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Vão colocar os negros em setores privilegiados da sociedade. Vai mudar o quadro das universidades, com mais negros, e estes não vão precisar ouvir que não passaram no vestibular por que tem menos mérito.

Mas com cotas especificamente raciais vão ouvir que só passaram por ajuda das cotas. Mesmo que você mostre dados como que cotistas podem ter tirado até notas melhores no próprio vestibular e ter tido melhor desempenho durante o curso. É um ótimo argumento para os racistas conseguirem doutrinar mais pessoas "em cima do muro".
Não existe essa de oferecer argumentos para os racistas. A tese das raças foram derrubadas, o racismo é um crime tanto quanto o nazismo. Usar argumentos para o racismo é crime. Se alguém usar isso deve ser denunciado. Qualquer possibilidade de dizer que negros são inferiores são condenados pela lei, nesse sentido ela é muito útil.

Os negros estão mesmo passando devido a ajuda das cotas. Mas se não fossem as cotas eles nem estariam cursando a faculdade o que é pior do que ter um suposto desempenho pior que os brancos. Mas não é isso que está acontecendo, estão tendo bom aproveitamento.

Sem falar que, se as cotas são sociais, o efeito é praticamente o mesmo, e o resultado também; apenas reduz a chance de brancos pobres perderem vagas apesar de terem tido resultados que os favorecessem se competissem de igual para igual. Sem os inconvenientes de ter que se ter um comitê avaliador de pureza racial, sem criar esse desconforto/conflito desnecessário, tratando as pessoas como pessoas, como gente, como iguais, como deveria ser se se tem como objetivo combater a discriminação racial.

Um detalhe que considero importante, é que as cotas raciais (mas o mesmo vale para as sociais) idealmente não devem de qualquer forma colocar muito mais negros nas faculdades. Porque, se o vestibular é um processo seletivo e não um sorteio, estarão sim, sendo colocadas pessoas menos aptas para o curso superior (repetindo, o que vale para cotas raciais ou sociais). E como reflexo disso se teria possivelmente desempenho mais baixo na faculdade desses cotistas, o que seria péssimo em muitos sentidos. Seria tudo que os racistas poderiam querer como fonte de argumentações racistas (sejam os critérios raciais ou sociais, porque de qualquer forma a entrada de negros seria volumosa), criaria um estigma, etc.
As cotas sociais beneficiariam os brancos pobres devido a eles terem melhores condições que os negros pobres. A competição nunca seria igual, a renda dos negros pobre também é menor, entre outras medições do IDH.

Não considero que as cotas coloquem pessoas menos aptas ao curso superior. A competência para o curso superior está na aprovação do vestibular e não na nota de corte que varia conforme a demanda de vagas. O vestibular é processo seletivo que tinha como regra apenas a demanda de alunos para corte. Agora é considerado a questão racial. Perceba que as cotas são uma determinada porcentagem e que aumentando o desempenho da população negra como um todo, ela vai ser extinta naturalmente, tendo em vista a quantidade maior de negros na população. 

E as suas hipótese de incentivo ao racismo devido as cotas carece de dados. São especulações.

Eu acabei mencionando poucas vezes, até por já ter mencionado anteriormente em outras ocasiões, que acho que o melhor mesmo que cotas fosse, como paliativo, além da melhora do ensino público, cursos pré-vestibulares gratuitos, para pessoas de baixa renda. Aí entram no vestibular de igual para igual, que é melhor para a visão das pessoas sobre a capacitação deles, para a capacitação mesmo e para a própria auto-estima, por não estar entrando na faculdade porque teve uma colher de xá, porque "deixaram". Entrou porque teve mérito mesmo.
Mas estão entrando por mérito mesmo. Estão fazendo o exame vestibular e concorrendo com inúmeros outros negros. O mérito é ser aprovado e não estar acima de uma nota de corte que privilegia apenas os brancos, como no caso da UnB que tinha 2% de brancos.

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Sim, quanto mais alto o cargo, mais qualificação a pessoa tem que ter. Tem muita relação.
Claro, até aí tudo bem. Mas esses altos cargos não correspondem a uma fatia significativa do mercado de trabalho. Não dá para contratar apenas médicos neurocirurgiões de ascendência alemã ou polonesa para trabalhar como peão na Volks.
Mas existe uma correlação forte entre anos de estudo e renda. Se há uma diferença de renda entre brancos e negros da mesma escolaridade, então não está sendo avaliado somente a competência.


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No Brasil foi elaborado na área de desenvolvimento econômico, as teses cepalinas de centro e periferia. E as teorias de comércio internacional também mostram isso. Lembre-se que muitas guerras tiveram motivações econômicas. O pensamento sempre foi de crescimento nacional e o sentimento de patriotismo. A globalização que está tornando uma aldeia global e mudando isso. As guerras modernas são econômicas. Ou você considera que os subsídios são devidos a uma falta de entendimento da economia de livre mercado? Subsídios são protecionismo, semelhante ao que Adam Smith criticava no mercantilismo.

Sim, de fato subsídios tem até um viés nacionalista, como quando o Lula reclamou de que plataformas de petróleo tinham sido fabricadas por não-brasileiros no outro governo. Mas no que se refere à condição de um país, ainda que as relações comerciais internacionais tenham seus papéis, as riquezas são em muito produzidas internamente*, não é como se para que um país enriqueça outro precise empobrecer, ou que a crise de um seja causada pelo nacionalismo dos demais.

 *Jared Diamond expõe no seu livro "armas, germes e aço", que as riquezas naturais determinaram a geografia das principais concentrações de riqueza de forma que se mantém em muito até hoje, apesar do advento do dinheiro em si, que é uma riqueza móvel, e tem o poder de se deslocar mais livremente. Ainda assim, há grande inércia de algo tão básico como as riquezas naturais. Houve, de qualquer forma, bastante nacionalismo, evidenciado pela palavra "armas" no título.
As teorias de comércio internacional demonstram algumas das teses cepalinas, de centro e periferia, os países desenvolvidos tem uma produção que emprega maior tecnologia. Já os países subdesenvolvidos a produção tem nenos tecnologia e os produtos tem pouco valor agregado, sendo a matéria prima o peso principal. Assim exportam tecnologia e importam insumos industriais. Por isso não vejo necessidade das barreiras comerciais dos países ricos. É contra as teorias de comércio exterior, o livre mercado. Nessa situação eles não permitem os mais pobre enriquecer com suas condições naturais. E entre os desenvolvidos e os subdesenvolvidos temos os emergentes, que são compostos pela sigla BRIC. Serão  as próximas potências.


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:ayes: Ajuda muito. Mas como sempre digo, as cotas raciais são apenas uma parte de uma gama ampla de medidas de ações afirmativas, uma tendência mundial.

Sei lá. Acho que achar que isso limpa a barra dos escravistas do passado é meio como o papa dizer sobre o suporte da ICAR ao nazismo "aí, foi mal" no que tange a tornar as coisas quites. Eu acho uma  atitude menos presunçosa não se propor a corrigir "heroicamente"/simbolicamente  os erros dos antepassados, com uma esmola dessas.

Eu não sei o que se poderia fazer para "limpar a barra" dos antepassados escravistas dos brancos, e nem acho que é algo que devia ser feito. Para começar, não vejo como possível. Acho que isso seria até meio insultoso. As coisas mais parecidas seriam ter dias nacionais e monumentos, mas realmente achar que somos capazes de quitar as coisas é presunção inigualável, é ridicularizar, diminuir ao extremo as situações que foram impostas aos escravos.

Não acho que devessemos pensar em nós como brancos, negros, mestiços, verdes ou vermelhos, e assumir a culpa dos antepassados, como se a pele branca (ou negra) fosse uma espécie de instituição.

Passou, não tem como corrigir, o melhor que se faz é não se cometer o mesmo erro de tratar as pessoas diferentemente por serem de raças diferentes. Acho que é o mais que de respeitoso e justo se pode fazer.
Não é buscar os culpados, é buscar corrigir os erros cometidos. É possibilitar uma igualdade devido ocasionada por erros do passado. O erro é que pessoas foram prejudicadas pela cor da pele, e oferecer condições a essas pessoas de progredir de maneira igualitária não é errar de novo. Não é uma competição, e sim dar poder caminhar junto ao futuro. Mas todos com iguais oportunidades, o que não acontece com a população negra que foi e é prejudicada pelo racismo e pela escravidão.

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A sua percepção de racismo é muito diferente da minha. A miscigenação não foi necessariamente algo intencional da população branca, devido a um acolhimento dos negros. Penso que os brancos sempre foram os preferidos para se casarem, tanto pelos negros, quanto pelos brancos. Até hoje se fala que negro gosta de loira.

Mas o que é isso? Falácia de apelo ao dito popular? "Se fala" que todos gostam mais de loiras. Não é por isso que as loiras viraram a maioria, como seria previsto se as morenas fossem suficientemente discriminadas, e não acho que se possa atribuir tudo a tintura e água oxigenada.

Eu acho que, ao mesmo tempo em que existe e existiu racismo, o motivo por uma preferência do casamento com brancos ou entre brancos deve estar mais ligado à classe social do que à raça, sendo ligado a raça praticamente apenas nos casos entre brancos (que não contam para produzir a miscigenação). Nos casamentos de negros e mestiços com brancos teria que se supor um "auto-racismo" do mestiço ou negro e no mínimo não-racismo por parte do branco. 
O racismo acontece com pessoas brancas e negras. Assim como o machismo também acontece com homens e mulheres. O que não significa que seja uma grande problema.

Bem, você pode até achar que fiscalização não adiantaria; eu mesmo não acho que fosse ser uma maravilha que fosse colocar todo racista na cadeia. O problema é que, se há isso dos empregadores racistas atrapalhando a ascenção dos negros por nunca contratá-los, o mesmo vai continuar ocorrendo se houverem um pouco mais de negros com um diploma na mão. Seriam inócuas as cotas quanto a isso. Não só as cotas para faculdade, sociais ou raciais, mas até cursinhos gratuitos para pobres que colocassem mais negros nas faculdades por mérito igual.
Negros com uma boa formação tem muito mais condições. E a universidade é o grau máximo de formação, por isso esse ser o ícone da representação da igualdade racial e o lugar de tanta polêmica. A pouca participação de negros na universidade é devido a causas já bem discutidas e não por um merecimento qualquer. O vestibular aprova muita gente que não consegue a vaga pela nota de corte, e com as cotas os negros tem vagas garantidas após mostrarem competência para cursar a graduação que é a aprovação no vestibular, com pelo menos os requisitos mínimos, e mesmo assim eles tem a concorrência entre os interessado nas cotas, que são muitos.

As cotas para resolver isso teriam que ser cotas raciais nas empresas. Não que eu defenda isso, acho mais decente a fiscalização, quanto ao racismo especificamente, e políticas diversas para melhora da educação para diminuir a pobreza independentemente da cor do pobre.
Eu acredito que as empresas vão ter essa preocupação assim como tem com relação aos portadores de deficiência. Na europa é comum ver negros em vários postos, inclusive na mídia, e isso por conta das corporações.

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E por falar em ineficiência de repressão, uma correlação estatística entre proibição e violência. No direito existem juristas que defendem o direito penal mínimo.

Então, se abolissem as leis contra o racismo, talvez ele desaparecesse? :hein:
Não, é que não adianta atuar somente na fiscalização e penalização. Somente a coesão não tem resultado, e as ações afirmativas e a igualdade material, buscam igualar as oportunidades.
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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #94 Online: 09 de Outubro de 2007, 14:43:52 »
Tipo, dava para ser mais sintético e reduzir o tamanho das respostas?? Não consigo mais acompanhar a discussão.

Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #95 Online: 09 de Outubro de 2007, 14:54:45 »
Tipo, dava para ser mais sintético e reduzir o tamanho das respostas?? Não consigo mais acompanhar a discussão.
É que teve vários desdobramentos, mas o principal do meu post aí de cima é sobre a desigualdade de brancos pobres e negros pobres, no qual os negros tem um IDH menor que os Brancos em todas as classes. Por isso a necessidade de medidas para mudar esse quadro.

Citação de: Relatório ONU
A análise de indicadores desagregados por cor/raça e sexo não deixa dúvidas
quanto aos aspectos fundamentais da questão racial na construção do panorama
social do Brasil. Do total dos rendimentos de todas as fontes apropriadas
pelas famílias brasileiras em 2000, 50% provinham de homens brancos e 24% de
mulheres brancas (ou seja, a população branca respondia por 74% do total).Na
outra ponta, os homens negros detinham 18% do total de rendimentos e as mulheres
negras apenas 8%. Portanto, do total dos rendimentos disponíveis para as
famílias no Brasil, apenas 26% tinham por origem alguma forma de remuneração
de pessoas negras.

« Última modificação: 09 de Outubro de 2007, 15:00:15 por Adriano »
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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #96 Online: 09 de Outubro de 2007, 14:55:13 »
Eu também não. Até que eu gostaria de ler tudo, mas com outras coisas para fazer, fico sem tempo.
Só respondendo à resposta do meu post:

Putz. Fiz uma longa resposta ao Adriano, mas acabei apagando por engano. :(
Não tenho mais saco de repetir tudo o que escrevi, mas vou só resumir dois pontos principais:

(a) Discriminação com base na cor da pele é racismo. Não importa se você chamá-la de
"compensação kármica" ou "adequação histórico pigmental". Facilitar a entrada de alguem na
universidade com base na cor de sua pele é racismo. Ra-cis-mo.
Então vamos nos basear na realidade social. Estamos falando de ações afirmativas e são utilizados os termos cotas raciais. Cota racista é uma expressão ideológica de quem é contra. Use o que quiser, só expressei a minha opinião a respeito do termo.
Que tal "Cotas discriminatórias"?

(b) É antiético, imoral, dar oportunidades para uns e não para outros (novamente, os brancos pobres)
apenas devido à possibilidade de algum ancestral desses outros ter cometido um crime.
A escravidão não foi uma possibilidade. Nem o racismo. São acontecimentos reais em nossa sociedade. E eu parto dessa premissa, e considero que devem ser tomadas medidas. Por isso para mim são éticas e morais, sinais de uma atitude para atenuar o que para mim existe.
Você não entendeu: a possibilidade a que me refiro é a possibilidade do "Zé branquinho" ser descendente
de um dono de escravos. Você quer (mesmo que se refira a isso com outro nome) de certa forma punir
pessoas que não foram acusadas nem julgadas. Isto é: os "brancos" pobres, que não tiveram acesso a
uma boa educação, e que terão de concorrer em pé de igualdade com "brancos" ricos e em pé de
desigualdade, por assim dizer, com negros pobres. Sem falar dos brancos ricos que, apesar de
tirar uma nota maior, não serão aceitos em virtude das cotas. E isso tudo usando como critério a cor da
pele*. Essa é a questão ética a que me refiro.

*E o dizer do Zé branquinho que tem ancestrais escravos, e do Zé neguinho que tem ancestrais negros
que eram donos de escravos? Há que se reconhecer que esse critério é uma m**da.

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Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #97 Online: 09 de Outubro de 2007, 15:10:15 »
Eu também não. Até que eu gostaria de ler tudo, mas com outras coisas para fazer, fico sem tempo.
Só respondendo à resposta do meu post:

Putz. Fiz uma longa resposta ao Adriano, mas acabei apagando por engano. :(
Não tenho mais saco de repetir tudo o que escrevi, mas vou só resumir dois pontos principais:

(a) Discriminação com base na cor da pele é racismo. Não importa se você chamá-la de
"compensação kármica" ou "adequação histórico pigmental". Facilitar a entrada de alguem na
universidade com base na cor de sua pele é racismo. Ra-cis-mo.
Então vamos nos basear na realidade social. Estamos falando de ações afirmativas e são utilizados os termos cotas raciais. Cota racista é uma expressão ideológica de quem é contra. Use o que quiser, só expressei a minha opinião a respeito do termo.
Que tal "Cotas discriminatórias"?
Não deixa de ser um termo ideológico, composto para a defesa da sua tese de que as cotas são ineficientes. Mas isso não vem ao caso, use o que achar melhor.

(b) É antiético, imoral, dar oportunidades para uns e não para outros (novamente, os brancos pobres)
apenas devido à possibilidade de algum ancestral desses outros ter cometido um crime.
A escravidão não foi uma possibilidade. Nem o racismo. São acontecimentos reais em nossa sociedade. E eu parto dessa premissa, e considero que devem ser tomadas medidas. Por isso para mim são éticas e morais, sinais de uma atitude para atenuar o que para mim existe.
Você não entendeu: a possibilidade a que me refiro é a possibilidade do "Zé branquinho" ser descendente
de um dono de escravos. Você quer (mesmo que se refira a isso com outro nome) de certa forma punir
pessoas que não foram acusadas nem julgadas. Isto é: os "brancos" pobres, que não tiveram acesso a
uma boa educação, e que terão de concorrer em pé de igualdade com "brancos" ricos e em pé de
desigualdade, por assim dizer, com negros pobres. Sem falar dos brancos ricos que, apesar de
tirar uma nota maior, não serão aceitos em virtude das cotas. E isso tudo usando como critério a cor da
pele*. Essa é a questão ética a que me refiro.

*E o dizer do Zé branquinho que tem ancestrais escravos, e do Zé neguinho que tem ancestrais negros
que eram donos de escravos? Há que se reconhecer que esse critério é uma m**da.
Os critérios são as desigualdades atuais. São persistentes e sem melhoras da pobreza dos negros. Os brancos não menos pobres que os negros, e a diferença é grande.

O exemplo do Zé branquinho e do Zé neguinho só é igualdade num país imaginário. No Brasil um negro e um branco com o mesmo IDH poderiam ser um negro rico e um branco classe média em relação as rendas das respectivas etnias.

O relatório tem a introdução da parte histórica, desenvolve bem essa parte, mas os dados estão mesmo é nos últimos capítulos e agora que me dei mais atenção a eles.
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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #99 Online: 09 de Outubro de 2007, 20:12:44 »
Pois é, mas antes de me voltar ao tema original do tópico, devo enfatizar mais uma vez os
pontos do meu argumento.

Além dos problemas práticos, as cotas constituem um sério problema ético: a idéia por trás das
cotas é a de que é possível fazer "justiça no atacado". Quero dizer, seria um sistema que
seria hora justo com uns, hora injusto com outros, com a esperança (fé mesmo) de que, na
soma total, a justiça seja feita para a maioria (daí a eterna citação de estatísticas e IDHs).
Esse contraste entre a posição do Adriano e a minha (e talvez dos demais também) é consequência
do fato de que damos importância ao efeito dos critérios raciais sobre os indivíduos.
Ou seja, desejamos que todos sejam avaliados por um critério de mérito individual, isto é
o nível de conhecimento necessário para a aceitação na universidade (se não existem vagas
suficientes para todos os candidatos que atingem a nota mínima, isso é outro problema). Essa é
um princípio essencial de uma democracia, na qual não devem existir indivíduos "mais iguais" que
outros. Daí que tanto faz se o IDH de brancos for maior ou menor que o dos negros, se estamos
falando de indivíduos, com direitos que devem ser assegurados.

Outro problema ético é o fato de que a política de cotas acaba (intencionalmente ou não) punindo os possíveis ancestrais daqueles que cometeram o crime (no caso, a escravidão), o que, no meu livro pelo menos, é algo
repugnante.

Finalmente, existe o aspecto empírico: a política de cotas não parece ter feito muito para mudar
a realidade dos negros nos EUA, onde tem sido crescentemente questionada. Além disso, programas
que beneficiem estudantes pobres (com bolsas de estudo, por exemplo) acabam realizando o que se espera que as cotas façam.

Portanto, já que não tem havido muito progresso nessa discussão, prefiro me concentrar agora na pergunta
do tópico: talvez. Dependendo de quem o classificasse. Mas acho que 99% das vezes ele seria tratado
como negro.
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