Autor Tópico: Discurso religioso, aborto e Estado laico  (Lida 1174 vezes)

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Offline Tabacof

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Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Online: 06 de Novembro de 2007, 23:47:03 »
Discurso religioso, aborto e Estado laico

Talvez seja, de fato, mais conveniente discutir sobre o aborto sem os padres na sala. Mas seria essa uma opção pluralista?

por JOÃO HELIOFAR DE JESUS VILLAR

O MINISTRO da Saúde, José Gomes Temporão, ao declarar tempos atrás que o aborto não é uma questão religiosa, e sim de saúde pública, reavivou o debate sobre a questão. A declaração é importante porque, a rigor, estabelece um limite para a invocação de razões religiosas no debate público, tema recorrente nesta Folha. Talvez seja, de fato, mais conveniente discutir sobre o aborto sem os padres na sala. Mas seria essa uma opção pluralista?

Há dois pontos de vista básicos sobre a origem da vida. Ou ela é fruto do acaso e consiste numa força cega, sem significado e propósito, que saiu do nada e vai para lugar nenhum, resultado de infinitas mutações que se desenvolvem a partir de uma forma absolutamente primária etc. etc., ou resulta de um ato de criação de um ser inteligente e, por causa disso, tem significado, propósito etc. etc.

Os dois pontos de vista são indemonstráveis. A vantagem do primeiro -a visão secular- consiste no fato de que sua argumentação, ainda que indemonstrada, é puramente naturalista e se ajusta ao método científico. Uso a expressão naturalista, que me parece melhor do que materialista, para nomear a visão de que a natureza é tudo o que existe, em contraposição àquela que concebe a existência de uma realidade sobrenatural.

Armand M. Nicholi Jr., professor de psiquiatria na Universidade Harvard (EUA), destaca em sua última obra que Freud dividia a humanidade em duas classes: os que crêem em Deus e os que não crêem. As visões de mundo de uns e de outros são radicalmente diferentes.

Entender, por um lado, que a vida é sagrada, por ser dom de Deus, ou, por outro, que é um acidente natural a que o homem empresta valor conforme suas condições culturais, evidentemente, estabelecerá radical distinção nos valores de quem crê numa ou noutra hipótese. E como o Estado laico se posiciona em relação a isso?

Não se posiciona. Deixa ambos com seus pontos de vista e não toma partido. Estado laico não significa uma opção oficial pelo ponto de vista exclusivamente naturalista do mundo, mas uma opção por não se meter na discussão, concedendo liberdade a quem crê e a quem não crê.

Vale lembrar o texto da primeira emenda da Constituição norte-americana, a primeira a regular a questão: "O Congresso não aprovará nenhuma lei relativa ao estabelecimento de religião ou que proíba seu livre exercício". Estado laico é aquele que está proibido de tomar partido em matéria de religião. Isso, obviamente, não impede ninguém de expor sua posição na arena pública fundado em suas convicções (ainda que religiosas). Nenhuma regra impede o religioso de invocar suas razões numa discussão oficial, especialmente se o objeto da controvérsia girar em torno de valores, campo em que a ciência é muda e o naturalismo nada tem a dizer.

Dizer que as razões que se apóiam numa convicção religiosa se contrapõem ao Estado laico é torcer a regra e, a rigor, subordinar a visão de mundo do religioso à secular, arbitrariamente. Se a argumentação de um religioso objetiva proteger um valor tutelado pelo direito, não importa que invoque uma razão espiritual para se definir nessa posição.

Não importa por quê? Porque o tema é levado ao debate e pode ser contestado por quem pensa de modo diferente. Não há obscurantismo quando se tem a honestidade de defender um valor protegido pelo direito com base numa visão de mundo não secular e se está aberto ao dissenso. O que gera o obscurantismo não é a fé, mas a proibição do dissenso, falha na qual incorrem muitos ao invocar o Estado laico para, em discussões oficiais, fechar a boca de quem crê em Deus. A imposição de silêncio ao religioso significa que o Estado o estaria obrigando a se posicionar sempre -e exclusivamente- a partir de postulados materialistas -tão metafísicos quanto os não materialistas- que violam sua convicção. O materialismo filosófico não é a única linguagem autorizada pelo Estado.

No fundo, o problema é outro: há no pensamento secular, ainda que não assumida, a convicção de que a fé é um perigo obscurantista que devemos banir do nosso meio o quanto antes, sob pena de restaurarmos a idade das trevas. Bobagem.

A história mostra que, para ser fanático, não é preciso ser religioso e que o obscurantismo não é fruto do fato de o sujeito crer em Deus e na existência de uma realidade sobrenatural. Hitler, Mao, Stálin etc. não criam em nada disso. Obscurantismo é a proibição do dissenso.

[JOÃO HELIOFAR DE JESUS VILLAR, 44, é procurador da República da 4ª Região. (FOLHA 6/11/07)]

*******

A príncipio, quando li esse artigo, quase que acreditei nele. Mas depois, pensando melhor, vi que se um discurso religioso é possível de ser usado na arena pública, então todos discursos religiosos são, o que inviabilizaria qualquer Estado de direito! Por isso, temos que subordinar sim o Estado à razão.

Ah, sem falar nessa velha falácia de "Hitler, Mao, Stálin..", pft.

Mas alguém tem algum argumento melhor contra ele?

Offline Dbohr

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #1 Online: 07 de Novembro de 2007, 00:07:34 »
Ah, eles adoram citar o espantalho do ditador ateu :roll:

Bom, eu concordo em parte com o autor do artigo - não é pelas razões de uma pessoa serem de ordem religiosa que deveriam ser desconsideradas a priori. Entretanto, se essas mesmas razões - ou de qualquer outra ordem - não se sustentam sob escrutínio rigoroso, devem ser descartadas.

Infelizmente, nem tudo é tão simples quanto pode parecer.

Particularmente, sou contra o aborto na maior parte dos casos. Existem métodos contraceptivos muito mais eficazes e menos traumáticos. E ao mesmo tempo, sou favorável ao direito de escolha da mulher sobre o próprio corpo. Ou seja, sou a favor da lei, mas contra o ato.

Offline Alenônimo

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #2 Online: 07 de Novembro de 2007, 00:16:34 »
Texto idiota. Apelo à Ignorância.
“A ciência não explica tudo. A religião não explica nada.”

Offline Spitfire

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #3 Online: 07 de Novembro de 2007, 12:14:30 »
Citar
Lei de Godwin:

Quanto mais se alongar uma discussão online, maior a probabilidade de alguém fazer uma comparação com Hitler ou com nazistas.

A Lei de Godwin surgiu nos longínquos tempos da Usenet, mais especificamente em 1990, mas continua válida e muito citada para listas de discussão por email ou fóruns de debate online. Mike Godwin, autor do livro Cyber Rights - Defending Free Speech in the Digital Age, incomodado com o que considerava um excesso de referências ao nazismo, formulou sua lei como uma provocação destinada a fazer pensar melhor antes de escrever mais uma comparação com Hitler ou com nazistas. Tornou-se comum declarar perdedor de alguma discussão o primeiro que fizer a aparentemente inevitável comparação e confirmar a Lei de Godwin.


Suyndara

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #4 Online: 07 de Novembro de 2007, 14:45:51 »
Texto idiota. Apelo à Ignorância.

Totalmente :ok:

Só existe uma questão: existe vida em um embrião ou não?


Offline Tabacof

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #5 Online: 07 de Novembro de 2007, 18:01:04 »
Texto idiota. Apelo à Ignorância.

Você poderia explicar melhor? É que quando li esse texto senti que algo estava errado, alguma falácia bem escorregadia, mas não consegui estruturar isso na minha mente.

Obrigado!

Offline Spitfire

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #6 Online: 07 de Novembro de 2007, 18:59:07 »
Texto idiota. Apelo à Ignorância.

Você poderia explicar melhor? É que quando li esse texto senti que algo estava errado, alguma falácia bem escorregadia, mas não consegui estruturar isso na minha mente.

Obrigado!

Um dos declives é intitular a religião cristã católica como o único contraponto teísta a ser escutado... e os budistas? e os umbandistas? e os espíritas? e os muçulmanos? e os ateus (sim, os ateus!... estado laico não significa estado ateu)... deveríamos então ter um representante de cada religião existente no Brasil, com poder "decisório" igual (poder decisório de fato seriam os votos do plebiscito... oriundos da coletividade) e/ou valor de poderação iguais.

No entanto o texto cita o teísmo mas renvindica a opinião a apenas uma delas, desconsiderando as outras opiniões.... e atribui a condição favorável ao aborto exclusivamente aos ateus.... MENTIRA! Aqui mesmo no fórum existem inúmeros ateus que são contrários ao aborto.

Eu, por exemplo.... sintonizo na integra o pensamento do Dbohr... como decisão pessoal sou contrário ao aborto, mas como coletividade penso que cada um deve escolher o que é melhor... o legítimo poder da mulher em escolher seu destino. Vou mais além, penso que o voto da mulher deveria ter peso 2 sobre o voto masculino.

Lixo... puro lixo chatólico.
« Última modificação: 07 de Novembro de 2007, 19:04:13 por Spitfire »

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #7 Online: 07 de Novembro de 2007, 20:38:38 »
É engraçado como os cristãos não raramente usam a tática de Hitler de repetir mentiras até que virem verdade, para tentar fazer acreditar que Hitler mesmo não era cristão.

Esse texto me lembrou de outro recente:
../forum/topic=13184.0.html

Tarcísio

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #8 Online: 07 de Novembro de 2007, 21:13:42 »
Citar
Lei de Godwin:

Quanto mais se alongar uma discussão online, maior a probabilidade de alguém fazer uma comparação com Hitler ou com nazistas.

A Lei de Godwin surgiu nos longínquos tempos da Usenet, mais especificamente em 1990, mas continua válida e muito citada para listas de discussão por email ou fóruns de debate online. Mike Godwin, autor do livro Cyber Rights - Defending Free Speech in the Digital Age, incomodado com o que considerava um excesso de referências ao nazismo, formulou sua lei como uma provocação destinada a fazer pensar melhor antes de escrever mais uma comparação com Hitler ou com nazistas. Tornou-se comum declarar perdedor de alguma discussão o primeiro que fizer a aparentemente inevitável comparação e confirmar a Lei de Godwin.

O que não quer dizer que a comparação esteja errada ;)

Offline Spitfire

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #9 Online: 07 de Novembro de 2007, 22:10:19 »
Citar
Lei de Godwin:

Quanto mais se alongar uma discussão online, maior a probabilidade de alguém fazer uma comparação com Hitler ou com nazistas.

A Lei de Godwin surgiu nos longínquos tempos da Usenet, mais especificamente em 1990, mas continua válida e muito citada para listas de discussão por email ou fóruns de debate online. Mike Godwin, autor do livro Cyber Rights - Defending Free Speech in the Digital Age, incomodado com o que considerava um excesso de referências ao nazismo, formulou sua lei como uma provocação destinada a fazer pensar melhor antes de escrever mais uma comparação com Hitler ou com nazistas. Tornou-se comum declarar perdedor de alguma discussão o primeiro que fizer a aparentemente inevitável comparação e confirmar a Lei de Godwin.

O que não quer dizer que a comparação esteja errada ;)

Então mostre o erro... palavras (e falatório vazio), para mim, são palavras ao vento.... sem valor nenhum.  ::) :zzz:

Papinho sucrilho Kellogs... bullshit.  :wink:
« Última modificação: 07 de Novembro de 2007, 22:13:25 por Spitfire »

Offline Mr."A"

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #10 Online: 08 de Novembro de 2007, 00:05:50 »
Estado laico, ao meu ver, significa: vamos legalizar se for para um bem estar comum a todos, as leis existindo para o nosso bom convívio, religião não se mete. Se o aborto for legalizado, a mulher escolhe abortar ou não, se for pecado ela que acerte suas contas com Deus.
« Última modificação: 08 de Novembro de 2007, 00:55:38 por Acolon »
8-)

Tarcísio

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #11 Online: 08 de Novembro de 2007, 08:18:17 »
Citar
Lei de Godwin:

Quanto mais se alongar uma discussão online, maior a probabilidade de alguém fazer uma comparação com Hitler ou com nazistas.

A Lei de Godwin surgiu nos longínquos tempos da Usenet, mais especificamente em 1990, mas continua válida e muito citada para listas de discussão por email ou fóruns de debate online. Mike Godwin, autor do livro Cyber Rights - Defending Free Speech in the Digital Age, incomodado com o que considerava um excesso de referências ao nazismo, formulou sua lei como uma provocação destinada a fazer pensar melhor antes de escrever mais uma comparação com Hitler ou com nazistas. Tornou-se comum declarar perdedor de alguma discussão o primeiro que fizer a aparentemente inevitável comparação e confirmar a Lei de Godwin.

O que não quer dizer que a comparação esteja errada ;)

Então mostre o erro... palavras (e falatório vazio), para mim, são palavras ao vento.... sem valor nenhum.  ::) :zzz:

Papinho sucrilho Kellogs... bullshit.  :wink:
:?:

rizk

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Re: Discurso religioso, aborto e Estado laico
« Resposta #12 Online: 08 de Novembro de 2007, 23:39:26 »
Aí é que está: todo mundo tem direito de achar X e fazer propaganda disso. Os problemas são 1) naturalmente, o lobby da CNBB; 2) que perante o estado de direito a convicção religiosa da pessoa não deve ter mais valor do que a filiação partidária e a crença (ou não) no aquecimento global.

Pluralismo demais é que é bobagem. Sabemos que democracia tinha a ver com maioria, etc - e, convenhamos, tem a ver com nivelar por baixo. Se os cidadãos forem sentir culpa por ganharem por serem maioria, a coisa fica impraticável.

 

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