Engraçado é que o atual Papa condena veementemente o que ele chama de "católicos de bufê", ou seja, aquelas pessoas que ficam com as partes que lhes interessam da doutrina e deixam de lado as partes de que não gostam. Para ele, a doutrina tem que ser um pacote fechado: ou pega, ou larga.
Não vejo como não haver contradição se se assume uma postura assim.
Sistemas de leis absolutas, impostas por um deus, geram conflitos entre elas. É proibido matar, mas podemos matar um bandido para não sermos mortos por ele? Podemos violar uma lei de Deus se isto evitar um mal maior?
Ou seja, as leis têm que estar relacionadas à vida e às necessidades humanas. É para isto que existem juízes e tribunais: para decidir entre valores relativos, para definir graus de gravidade de um crime, conforme as circunstâncias.
Por se basearem na vontade de deuses diferentes, sistemas religiosos também conflitam entre si e, por serem absolutos, divorciados da realidade, não há como usar uma referência comum para se chegar a um entendimento. Muito sangue já foi derramado por causa disto.
O mundo é complexo demais para se encaixar em definições do tipo "ou isto ou aquilo". E a compaixão humana, ou seja, a capacidade de alguém se identificar com o sofrimento dos outros, dispensa e supera leis absolutas.
Leis devem ser consideradas como mutáveis, aperfeiçoáveis por tentativa e erro, sem medo de que isto gere o caos.
Seres humanos são perfeitamente capazes de inventar suas próprias leis.
As leis humanas não requerem explicações. Sua finalidade é clara. Só precisamos de justificativas quando se inventam leis absolutas e não diretamente relacionadas com o bem estar da humanidade.