Deixem me discordar tanto do Criacionista quanto do Atheist. (principalmente do criacionista, como é previsível, do atheist é quase que em semântica e picuinhas menores)
A teoria da evolução prevê menos formas transicionais do que a hipótese dos seres não formarem uma só árvore filogenética, não tantas quanto as "comuns".
Isso pela própria natureza do que é uma árvore filogenética.
Por exemplo, considerando que os peixes são ancestrais dos anfíbios, e esses são ancestrais dos répteis, e os répteis, ancestrais dos mamíferos e das aves. A partir disso, só esperamos haver formas intermediárias:
- entre peixes e anfíbios
- entre anfíbios e répteis
- entre répteis e mamíferos
- entre répteis e aves
Não esperamos encontrar formas intermediárias:
- entre peixes e mamíferos (como sereias, ou algum ser que se pudesse maginar compartilhando características importantes de peixes e mamíferos)
- entre mamíferos e anfíbios
- entre répteis e peixes.
- entre peixes e aves
- entre mamíferos e aves
- entre anfíbios e aves
Essas formas intermediárias, são teoricamente possíveis, mas incompatíveis com a hipótese de uma única árvore genealógica. Portanto, algo razoável de se esperar se a origem das espécies não fosse um processo genealógico, que é o único mecanismo concebível para criar uma árvore genealógica real.
Apesar dessas listas de formas intermediárias abrangentes já mostrar que uma hipótese não-genealógica (ou "nula", nesse caso) prevê mais intermediários do que uma hipótese genealógica, a coisa é ainda pior se formos detalhar mais.
A evolução prevê, por exemplo, que, os anfíbios não descendem de diversas espécies de peixes, como por exemplo, os sapos descendendo de peixes-lua, as salamandras de sardinhas, as cecílias descendem de enguias. Em vez disso, uma única forma de peixes deu origem ao ancestral comum de todos os anfíbios, que por sua vez se dividiram nas formas diversas de anfíbios como essas citadas, e outras extintas.
Ou seja, na teoria da evolução, também não se espera uma vasta quantidade de formas intermediárias mesmo entre os grupos que são realmente aparentados. Mas essas formas, teoricamente, também poderiam existir (era inclusive previsto na antiga e obsoleta, descartada, teoria de evolução Lamarckista, que considerava que não houvesse ramificação dos filos, mas apenas linhas contínuas, sem uma origem comum).
E assim, se contarmos o número de todas as espécies existentes, todos os "pseudo-parentescos" possíveis são imensamente mais numerosos do que os poucos parentescos que fazem sentido. Exemplos de formas intermediárias entre grupos menos abrangentes, também não previstas pela teoria da evolução:
- entre beija flores e peixes voadores
- entre sagüis e águias
- entre lagartixas e tamanduás
- entre cães e antílopes
- entre ursos e gorilas
- entre lontras e morcegos
- entre gofinhos e tigres
- entre brontossauros e girafas
- entre pterossauros e morcegos
- entre morcegos e aves
- entre baleias e ictiossauros
- entre ictiossauros e peixes
- entre triceratops e rinocerontes
- entre anatossauros e patos
Etc. E note que, em diversos desses casos, eu não estou fazendo comparações esdrúxulas, mas comparando animais parecidos nos nichos/adaptações, que nem são apenas as únicas possibilidades. E ainda mais: estou comparando apenas entre vertebrados, sendo que há outros filos animais, e ainda há vegetais e fungos. Todos esses grupos, esses primeiros "galhos" da árvore genealógica, teoricamente (se não houvesse uma genealogia real) poderiam ter características misturadas.
Mais do que isso, certas características dos seres podem ser consideradas típicas de ancestrais, e outras típicas de descendentes. Assim, há ainda mais formas intermediárias teoricamente possíveis que seriam contrárias a evolução, mesmo que entre grupos que consideramos serem realmente aparentados. Uma dessas características são as carcterísticas vestigiais. Caracteres vestigiais são estruturas que são identificáveis como as mesmas em outras espécies, nas quais estão mais plenamente desenvolvidas. Como por exemplo, as asas de kiwi, que não servem para voar, ou o cóccix dos humanos e dos grandes macacos sem cauda, que é uma pequena cauda óssea que fica "para dentro". Não se espera caracteres vestigiais nos ancestrais, apenas nos descendentes.
Por exemplo, os répteis são ancestrais dos mamíferos. Não se espera que sejam encontrados répteis com glandulas mamárias ou mamilos vestigiais (como nos machos das espécies de mamíferos), porque esses órgãos só surgiram plenamente nos mamíferos (e nem em todos eles, por exemplo, o ornitorrinco, que é um mamífero que bota ovos como réptil, não tem mamilos, apenas poros, que secretam o seu leite - justamente num mamífero com características intermediárias tão evidentes como botar ovos). Assim, apesar de se esperar intermediários entre peixes e anfíbios, entre anfíbios e répteis, entre répteis e mamíferos, e entre répteis e aves, não esperamos:
- anfíbios plenos que pareçam de alguma forma ser ancestrais de peixes
- répteis plenos que pareçam ser ancestrais de anfíbios
- mamíferos plenos que pareçam ser ancestrais de répteis
- aves plenas que pareçam ser ancestrais dos répteis
É claro que há alguma razoável tolerância quanto a esse último tipo de forma intermediária "indevida", porque essa distinção entre ancestral e descendente proximamente aparentados, é muitas vezes embaçada justamente pela sua proximidade. Por exemplo, a ave mais antiga, o Archaeopteryx, que mais parece um dinossauro, é praticamente um Compsognato com braços um pouco mais esticados e penas nos braços e nos dedos dos braços. Nem bico tem, mas tem uma boca cheia de dentes, como os dinossauros (e outras das primeiras aves). E há alguns dinossauros (como o Velociraptor) que talvez possam ser, na verdade, aves que perderam o vôo bem cedo na história da evolução, meio como ocorreu com os avestruzes e kiwis mais tarde. Isso não é um problema, na verdade evidencia mais o parentesco entre os grupos (ao mesmo tempo em que não há evidências de parentesco igualmente próximo entre aves e mamíferos ou anfíbios, nem mesmo entre qualquer réptil). Seria problemático se encontrar algum tipo de ave que parecesse ser um ancestral de algum tipo de réptil bem mais primitivo, não justamente dos répteis que são vistos como os intermediários imediatos entre os répteis e as aves. Isso é uma situação similar à da genealogia das raças de cães, que é muito complexa, e por serem todos muito parecidos, pelo parentesco próximo, é difícil de se montar a genealogia exata apenas a partir de suas características físicas.
Até agora só discordei do criacionista, agora vou ao Atheist: ainda que seja de certa forma tecnicamente correto que toda forma é intermediária, seja no sentido que elas não foram criadas do nada e no futuro podem vir a ser outra coisa, ou que, chimpanzés e orangotangos podem ser vistos como intermediários entre humanos e os macacos caudados, ou ornitorrincos como intermediários entre répteis e mamíferos, também não é inconcebível ou ridículo considerar apenas intermediários os organismos entre os grupos "principais", como citados anteriormente, ou de outros sub grupos maiores, ou até mesmo entre espécies (ainda que as transições "literais" entre espécies sejam geologicamente rapidas demais para serem preservadas na maior parte do tempo), que na maior parte do tempo geológico são "as mesmas", apesar da modificações menores, em vez de em qualquer momento geológico ou local geográfico se ter algo incontestávelmente intermediário... na verdade, na maior parte do tempo, se terá representantes de táxons elevados já conhecidos, e não novos intermediários entre um e algum outro (até porque não seriam tantos assim), e até mesmo (ou principalmente) indivíduos de espécies já conhecidas, não necessariamente intermediários entre espécies.
Fora isso, acho que isso de dizer que toda espécie é intermediária pode também passar um pouco essa impressão de que a minhoca pode ser intermediária entre beija flores e sapos, e etc, que é tudo irrefutável ou algo assim, mas talvez já esteja exagerando...