Autor Tópico: Bioética: aperfeiçoando o ser humano  (Lida 3483 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Bioética: aperfeiçoando o ser humano
« Resposta #25 Online: 01 de Janeiro de 2008, 20:07:20 »
:hein:

Há genes que estendem os períodos mais críticos de aprendizado e desenvolvimento geral pela vida toda?

Há genes que explicam o "imprinting" estudado por Konrad Lorentz. Não canso de citar, mas você precisa ler "o que nos faz humanos" :D


Ah, sim, em última instância de certa forma "tudo" é genético, até mesmo o que não é geneticamente determinado, uma vez que animais como cães e homens tem mais espaço para plasticidade do que peixinhos de aquário ou platelmintos.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Bioética: aperfeiçoando o ser humano
« Resposta #26 Online: 01 de Janeiro de 2008, 20:41:53 »
Lendo melhor a sua mensagem original, parece que você está focalizando principalmente testes genéticos que visam a detectar compatibilidades e predisposições a certas doenças.

Se for isso, eu não vejo _grande_ problema ético.  Depende principalmente dos custos.  Assim como muitos outros recursos da medicina atual, o maior problema é que os custos efetivamente os tornam uma ferramenta de discriminação sócio-econômica.  Mas se houver perspectiva de barateamento, e principalmente se for para evitar doenças sérias e até crueis como lúpulo e hidrocefalia, então realmente acho muito louvável.

MAS essa é uma solução que causa um problema potencialmente maior.  Haverá pais irresponsáveis e/ou excessivamente ricos que vão querer "insistir até acertar", idéia enojante e imoral.  Paternidade já é um direito exercido com mais frequência do que seria conveniente, e pelo menos inicialmente haveria um grupo de deslumbrados agindo por empolgação.

É uma idéia interessante em si, mas na minha opinião não pode se sustentar sozinha; é preciso alcançar um bocado de maturidade social sobre o papel e as responsabilidades da reprodução antes que seja recomendável pensar nesse "screening".  Do contrário os problemas que já existem só vão se agravar.

Algo a se pensar: toda tecnologia tem sua margem de falhas.  Quando se trata de produzir itens inanimados como liquidificadores isso não é tão sério.  Mas o que fazer quando (nem digo se) acontecer de uma combinação genética vista como desejável mostrar mais tarde ter algum problema sério?

O que quero dizer é que gerar um filho é um ato extremamente sério, e não podemos nos queixar depois do fato.  Essa tecnologia ou qualquer outra não pode ser responsabilizada pela possibilidade sempre real de que a criança não saia como o esperado, seja por que motivo for.  Nisso nossa sociedade já tem uma dívida mal trabalhada que eu não gostaria de ver aumentar mais ainda.


Respondendo brevemente porque estou meio fulo por ter perdido a resposta anterior mais detalhada por ter passado o tempo do log in.



Na verdade, me refiro não só a evitar alguns possíveis problemas, mas também melhorias. Como genes, terapias ou drogas que por exemplo, dessem QIs de, talvez 180, quando o normal é 100. Viver mais, ser mais forte.

E não vale apenas para filhos, mas para as pessoas adultuas, também.

No primeiro post explorei um pouco sobre a questão de desigualdade e etc, e acho que talvez não seja tão diferente de termos, por exemplo, as melhores faculdades do mundo e etc, acessíveis só a uns poucos. Será que deveríamos fechá-las por serem tão exclusivas e bem cotadas?

E acho que o barateamento talvez até dependa da coisa um dia ter sido exorbitantemente cara, acessível só a uns poucos. Acho que não tem muito como antecipar o barateamento quando a coisa ainda está na prancheta. E se não for viável o barateamento, não sei se seria muito mais catastrófico que as desigualdades de saúde que já temos. E não sei se tem qualquer vantagem em impedir a melhora das condições das pessoas que estão no topo, isso não vai melhorar substancialmente as condições das pessoas que estão no fundo. Ainda que na verdade há até uma relação causal sim, da desigualdade apenas implicar em problemas de saúde, se comparado aos mesmos status sócio econômicos consideravelmente ruins, numa situação geral de mais igualdade. São mecanismos psicológicos afetando a saúde. De qualquer forma, não acho que é o suficiente para impedir o progresso de quem conseguir progredir um pouco. Na verdade, seria um argumento para travar o desenvolvimento, por exemplo, da África ou de comunidades pobres, até que de alguma forma pudéssemos melhorar as condições de todos simultâneamente.

 Quanto a coisas que consideremos irresponsabilidades de personalidade, como gente querendo ter filho atrás de filho para ter o "último modelo", não sei se é uma coisa que valeria a pena pensar para se considerar a proibição dessas coisas, pois perderíamos também os seus benefícios, e se formos proibir todas as coisas por raciocínios similares quanto a não considerarmos ser o modo ideal de se ter filhos e etc, a coisa fica um tanto subjetiva demais.

Offline RickRJ

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Re: Bioética: aperfeiçoando o ser humano
« Resposta #27 Online: 01 de Janeiro de 2008, 21:40:30 »
Olha, os limites são muito tênues mesmo! Mas peguemos o exemplo do álcool.Antes de termos todas estas campanhas na mídia, as pessoas tinham 'desculpas' pra dirigirem embriagadas, pra tudo o mais.
Hoje,sabemos que o álcool,apesar de ser uma substância lícita,causa vários danos ao longo da vida de um indivíduo que o utilize pesadamente ou até mesmo moderadamente.
E mais,existem leis que punem motoristas embriagados.Se são ou não condenados, é um assunto pra outra discussão.
Penso que o 'aperfeiçoamento' genético é um tabu hoje,numa sociedade ainda impregnada de dogmas religiosos.Mas num futuro um pouco distante, poderá tornar-se uma realidade.Talvez existam leis para o aperfeiçoamento para fins militares e a própria clonagem impedindo os eventuais problemas da questão que o Luís levantou sutilmente.
Imaginem uma pele nova aos 40? Ou mais músculos aos 60? Qual o problema? Não vejo nenhum.Mas se uma pessoa e/ou organização utiliza estes conhecimentos pra fins não muito éticos, aí sim enxergo um perigo.
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Offline Luis Dantas

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Re: Bioética: aperfeiçoando o ser humano
« Resposta #28 Online: 02 de Janeiro de 2008, 02:49:31 »
Respondendo brevemente porque estou meio fulo por ter perdido a resposta anterior mais detalhada por ter passado o tempo do log in.

Putz, isso é chato mesmo quando acontece.

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Na verdade, me refiro não só a evitar alguns possíveis problemas, mas também melhorias. Como genes, terapias ou drogas que por exemplo, dessem QIs de, talvez 180, quando o normal é 100. Viver mais, ser mais forte.

A tentação é forte demais para que não aconteça.  Mas há desvantagens também.  Você sabe que há problemas de vários tipos para quem tem QI acima de 130, por exemplo?  De dificuldade de integração social até TDAH incapacitante?

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E não vale apenas para filhos, mas para as pessoas adultas, também.

Mudar o próprio conteúdo genômico DEPOIS de nascido e formado?  Não sei se isso é possível.  Ou seguro, do ponto de vista médico.

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No primeiro post explorei um pouco sobre a questão de desigualdade e etc, e acho que talvez não seja tão diferente de termos, por exemplo, as melhores faculdades do mundo e etc, acessíveis só a uns poucos. Será que deveríamos fechá-las por serem tão exclusivas e bem cotadas?

Claro que não. Mas devemos pensar nas consequências de sua existência e funcionamento, principalmente as negativas, e procurar administrá-las da melhor forma possível.  O que envolve entre outras coisas cuidar para não criar castas sociais muito distantes umas das outras.

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E acho que o barateamento talvez até dependa da coisa um dia ter sido exorbitantemente cara, acessível só a uns poucos. Acho que não tem muito como antecipar o barateamento quando a coisa ainda está na prancheta. E se não for viável o barateamento, não sei se seria muito mais catastrófico que as desigualdades de saúde que já temos.

Tudo é muito especulativo a esta altura, mas a premissa parece ser a de que esses tratamentos podem literalmente mudar a saúde e o potencial da pessoa pela vida inteira e inclusive para sua prole, não?

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E não sei se tem qualquer vantagem em impedir a melhora das condições das pessoas que estão no topo, isso não vai melhorar substancialmente as condições das pessoas que estão no fundo. Ainda que na verdade há até uma relação causal sim, da desigualdade apenas implicar em problemas de saúde, se comparado aos mesmos status sócio econômicos consideravelmente ruins, numa situação geral de mais igualdade. São mecanismos psicológicos afetando a saúde. De qualquer forma, não acho que é o suficiente para impedir o progresso de quem conseguir progredir um pouco. Na verdade, seria um argumento para travar o desenvolvimento, por exemplo, da África ou de comunidades pobres, até que de alguma forma pudéssemos melhorar as condições de todos simultâneamente.

Não sei se estou te acompanhando.  Acho complicado e nocivo tentar melhorar mais ainda a situação do topo da pirâmide em uma realidade social como a do Brasil, em que até mesmo o entendimento entre as várias camadas já está em risco.

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Quanto a coisas que consideremos irresponsabilidades de personalidade, como gente querendo ter filho atrás de filho para ter o "último modelo", não sei se é uma coisa que valeria a pena pensar para se considerar a proibição dessas coisas, pois perderíamos também os seus benefícios, e se formos proibir todas as coisas por raciocínios similares quanto a não considerarmos ser o modo ideal de se ter filhos e etc, a coisa fica um tanto subjetiva demais.

É mesmo?  Eu cheguei à conclusão oposta, para ser sincero; na minha cabeça é praticamente o fator decisivo para que se proíba.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

 

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