Waldo é autor de um dos livros mais impresisonantes da chamada literatura mediúnica. O título da Obra: Cristo espera por ti. Um subtítulo impresso na capa esclarece: "Romance de Balzac".
O livro foi o último publicado por ele antes de abandonar o espiritismo. Na época, aos 33 anos, Waldo trabalhava incessantemente, ao lado de Chico, para atender os necessitados de Uberaba e de outros estados do Brasil. Atendia, em média, 95 pessoas por dia, cinco manhãs por semana. Gente em busca de remédio, alimentos, atendimento médico e dentário, conselhos, apoio. À noite, ele estava no centro, sem hora para encerrar a sessão, às voltas com o estudo da doutrina e com a psicografia de mensagens, receituários e poemas.
Nos intervalos entre uma sessão e outra, e em breves temporadas num apartamento em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro, Waldo conseguiu ter alguma paz e privacidade para pôr no papel o romance assinado pelo autor da Comédia humana. Trezentas e vinte duas páginas pountuadas por vocábulos franceses, expressões de época, trechos de canções antigas, descrições precisas de cenários e costumes da vida provinciana francesa nas primeiras décadas do século XIX.
A introdução do livro, assinada por Honoré de Balzac, começa com uma interrogação:
E o leitor dirá: "será mesmo?".
Decerto, quem nos conhece não espera encontrar, nestas páginas, o mesmo Balzac, em tudo semelhante àquele de mais de século atrás. Imensas transformações se operaram dentro e fora de nós, tivemos outras experiências, passamos enormes temporadas sem vestir o burel, sem empunhar a pena, sem ingerir café. Mas isso não quer dizer que deixamos de ser nós próprios. Quem quiser averiguá-lo analise com imparcialidade os múltiplos ângulos deste volume e nos encontrará, intrinsecamente qual éramos, apresentando, não qualquer reedição do que já escrevemos, mas uma história original.
Um dos mais importantes estudiosos da obra de Balzac no Brasil, o professor Osmar Ramos Filho, encontrou um exemplar do romance atribuído a seu autor preferido na livraria de um centro espírita em maio de 1983. As primeiras impressões sobre o exemplar foram as piores possíveis. O romance com o 'título bastante piegas de "Cristo espera por ti", logo pareceu ao especialista um pastiche qualquer, mais uma "pseudopsicografia".
Cético, o autor se lembrou da biblioteca de uma tia, num subúrbio carioca, repletad e inéditos de Victor Hugo, Tostoi, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco. Livros supostamente psicografados, que ele, então jovem estudante de Letras na Universidade Federal, se recusava a folhear.
Apesar da desconfiança inicial, Osmar Ramos levou o exemplar de Cristo espera por ti para casa e iniciou uma leitura que não conseguiu interromper. O que era apenas uma curiosidade se transformou numa obra de 594 páginas, uma investigação minuciosa do livro psicografado por Waldo Vieira - de quem nunca Osmar tinha ouvido falar.
A conclusão do pesquisador, escrita após sete anos de pesquisas, foi resumida na introdução do livro intitulado O avesso de um Balzac contemporâneo:
em nosso confronto dos textos psicografados com os balzaquianos, encontramos a incrível soma de cerca de duas mil semelhanças, abrangendo não somente a Comédia humana, mas mesmo toda a obra romancista. [...] Espantoso, porém, é que as reduzidas trezentas e vinte cinco páginas do livro tenham podido comportar esta cifra tão elevada de analogias, inseridas com absoluta adequação nas diversasr passagens, servindo, além disso, à composição de personagens e ao desenrolar de um enredo inteiramente originais, com ressonâncias psicológicas e biográficas tão sutis que se tornam difícieis de traduzir de modo mais generalizado.
Detalhe: Waldo estava longe de ser um especialista em Balzac e Osmar Ramos não tinha qualquer vínculo com o espiritismo.
O último parágrafo da introdução desse estudo se resume a duas linhas sobre Cristo espera por ti:
Romance complexo, perturbador, contraditório, que nos deixa ao mesmo tempo insatisfeitos e perplexos. Autêntico romance de Balzac.
A contracapa do livro exibe um texto assinado por outro balzaquista ferrenho: Paulo Rónai. Ele não vai tão longe, mas afirma:
Essa leitura [do livro Cristo espera por ti] levou-me à conclusão de que o autor desse livro, fosse quem fosse, devia saber bem francês, estar impregnado da cultura francesa do século passado e conhecer a fundo o universo balzaquiano. Quanto à explicação da gênese do livro, não posso arriscar nenhuma hipótese.
O tema é polêmico, controvertido.