Padre bane sucessos funk de rádio de Morro Redondo
Jovens protestaram contra proibições
FÁBIO SCHAFFNER/ Morro Redondo
Uma espessa cerração ainda cobria Morro Redondo quando o silêncio da manhã
de domingo foi quebrado pelo surgimento dos primeiros manifestantes. Com
cartazes e palavras de ordem, eles protestavam contra a censura que baniu da
única rádio da cidade de colonização alemã a leitura do horóscopo e músicas
com letras de duplo sentido.
O alvo das reclamações era o padre Valmir Silva, ex-pároco do município e
patrono da Bonfim FM, emissora comunitária criada há quatro anos. Segundo os
manifestantes, o religioso proibiu a execução de funks e forrós com versos
picantes, sucesso entre os jovens da comunidade de 5 mil habitantes.
À frente da caminhada, as irmãs Taís e Daniele Wotter, de 13 e 19 anos, eram
as mais indignadas.
- Eles dizem que horóscopo não existe, é coisa sem significância. Proibiram
até músicas que não têm nome feio. Terminaram com nossa única diversão -
reclama Taís, cujas noites se prolongavam até as 2h escutando a rádio.
No índex de padre Valmir constam os funks Me Usa, do Bonde do Tigrão, e
Atoladinha, do grupo Bola de Fogo, além da canção Maria Tha Tha Tha, da
banda Brazas do Forró. Na primeira, os funkeiros cantam rimas como: "Eu te
uso e você me usa, então tira a minha blusa, eu te quero até de manhã, então
tira meu sutiã".
Por conta da proibição, André Aires, um dos mais antigos locutores da rádio,
se desligou da emissora. Ele conta que recebia mais de 200 pedidos de música
no programa Trilha Sonora, nas noites de quarta, quinta e sexta-feira.
- Depois que saí, apagaram um monte de música do computador. Desapareceram
até com Corta Essa, da Kelly Key, só porque falava em santinho do pau oco -
revela.
Ao final do protesto, a direção da rádio recebeu os manifestantes, mas
manteve a proibição das músicas de duplo sentido. Hoje residindo em Canguçu,
padre Valmir não estava na cidade no domingo.
( fabio.schaffner@zerohora.com.br )
Contraponto
O que diz Ronaldo Amaral, diretor da rádio Bonfim FM:
"Nossa função é cultivar a tradição e a cultura do município. Vamos manter o
bom nível da emissora, sem tocar essas músicas profanas. Estávamos recebendo
reclamações do pessoal que apóia a rádio e procuramos manter a boa música.
Como vamos passar cultura para uma criança de sete anos com uma música
chamada Atoladinha?"
O que diz o padre Valmir Silva, patrono da rádio e ex-pároco de Morro
Redondo:
"Nossa rádio tem de ter um padrão cultural. Há pessoas que gostam desse tipo
de música, mas também tem muita gente que não gosta e recebemos reclamações
por conta das letras de algumas canções. Esse rapaz (André Aires) é muito
teimoso e não comunga com o padrão que queremos para a Bonfim FM. Temos de
ter cuidado para evitar apelações. Já o horóscopo é uma coisa sem sentido,
que induz o ouvinte à decepção. Onde já se viu alguém dizer que, se tu
usares tal roupa, vais conseguir um namorado? Você acha que isso tem
sentido?"
As músicas proibidas
- Maria Tha Tha Tha, do Brazas do Forró
(...) Quando chegou, arrumou um namorado,
um velho já cansado em matéria de nhá-nhá
Todas as noites o velhinho se matava
quando Maria anunciava "vou fazer o tha tha tha"
- Atoladinha, do Bola de Fogo
Vai me enterrar na areia?
Não, não, vou atolar
Tô ficando atoladinha
Tô ficando atoladinha
Tô ficando atoladinha
Calma, calma foguentinha
- Me Usa, do Bonde do Tigrão
Eu te uso e você me usa
Então tira a minha blusa
Eu te quero até de manhã
Vem tira meu sutiã
De manhã, de tarde a noitinha
Então tira minha sainha
Eu ganhei minha tchutchuquinha