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Ninguem está falando em forçar as pessoas a fazerem o que não querem. Mas não é saudável passar a vida sentado em frente a um computador, por exemplo. Nem do ponto de vista físico, nem do psicológico. Não é forçar. É só um aquestão de fazê-los entender que é bom manter uma vida equilibrada.
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Eles são hostilizados porque não sabem como se enturmar. Mas está certo quando diz que é preciso parar com a a discriminação. O problema é que fica dificil isso se tornar realidade com reportagens como essa da Veja exaltando a nerdice como algo desejável.
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Defeito sim. Pessoas tem qualidades e defeitos. E nenhum dos dois é necessariamente culpa do indivíduo. A culpa está em não tentar mudar isso. Quando o tímido sabe que é tímido, percebe que isso o está prejudicando de alguma forma e não procura ajuda, aí sim a culpa pelo defeito se torna dele. No caso de crianças, quando os pais e professores percebem isso e não procuram ajuda.
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Orbe, concordo com muita coisa que você diz... mas acho que você não percebe uma coisa: é muito legal se preocupar com os nerds e com suas dificuldades de adaptação e tal, e propor que o nerd deve (pelo menos tentar) mudar, mas da forma como você coloca, parece que toda pressão pela mudança cabe aos nerds.
Porém qualquer mudança, qualquer tentativa de fazer um nerd de se aproximar do resto da turma deve necessariamente ser precedida por uma mudança de atitude da turma.
Nenhum nerd vai deixar de sê-lo enquanto continuar a ser ridicularizado e agredido pelo resto da turma, até por uma questão de proteção pessoal. Mesmo porque não é verdade que os nerds não sabem se enturmar. Eles parecem pefeitamente capazes de se enturmar com outros nerds, se não conseguem se relacionar com o resto da turma não é apenas porque tem dificuldades próprias (emocionais), mas também (e arrisco dizer, principalmente, em vista do fato de que se relacionam com outros como eles) porque o resto da turma os hostiliza.
Nenhum nerd vai deixar de ser nerd enquanto ele ouvir, seja da turma, seja do professor ou dos pais (como parece que você propõe) que é "defeituoso" ou "indesejável". Aliás, francamente, colocando as coisas nesses termos você deixa aberta a interpretação, alguma discriminação (e até agressividade). Pode até ser "ruim" ser nerd, mas é pior ainda ser nerd e ser agredido e discriminado por isso.
Em resumo, embora eu ache muito louvável sua proposta de "desnerdização" promovendo a integração entre os alunos e estimulando os nerds a realizar atividades diferentes, não acho de maneira alguma que a melhor maneira de fazê-lo seja sugerindo que nerds são indesejáveis e defeituosos (nas suas próprias palavras) principalmente se você pretende que essa sua proposta seja voltada para crianças e adolescentes nerds.
E acho que você está levando essa reportagem da Veja longe demais, exagerando... não me parece que ela vá levar muita gente a querer ser nerd, até porque o tipo de recepção que os nerds tem na escola geralmente é bem desencorajadora.
Prejudica a sociedade de maneira geral. Eles são apontados, principalmente pela mídia, como o exemplo de pessoa estudiosa. O que não é verdade. Eles são exemplos de fanáticos por estudos. Isso distorce totalmente a idéia do que é uma pessoa estudiosa. Estudioso passa a ser o sinônimo de nerd. E como poucos querem o "status" de nerd, a maioria foge dos estudos. O correto seria incentivar as pessoas a serem equilibradas e não a serem nerds.
Aí está o exagero... até porque os nerds
não são apontados pela mídia (e aí entram principalmente cinema e TV) como exemplo de pessoa estudiosa, mas sim como exemplo de pessoa "indesejável" e "defeituosa", incapaz de viver em sociedade, repulsiva, o mesmo tipo de imagem que você está trazendo aqui. Geralmente os nerds são ridicularizados como personagens caricatos e estereotipados (mesmo nos filmes e séries "pró-nerds"). Aliás, essa foi a primeira vez que vi o termo "nerd" ser exaltado num veículo de comunicação de massa.
Mas concordo que ser estudioso não precisa necessariamente estar relacionado a ser nerd.
Seria interessante você aproveitar e estudar esse "fenômeno" de exclusão pós-boletim. Achar soluções para reverter o problema.
Como falei antes, o fenômeno não é pós-boletim. Além das características que você mesmo citou e que levam à discriminação do nerd (a dificuldade de se relacionar, a inaptidão para atividades físicas e a aparência e/ou forma física[1]), a habilidade para os estudos não aparece apenas quando sai o primeiro boletim, mas desde muito antes disso - quando o nerd prefere prestar atenção à aula a bater papo, participa ativamente da aula e das atividades propostas em sala, resolve ou tenta resolver exercícios considerados "difíceis", sempre entrega as tarefas de casa - bem antes das primeiras provas. E essas coisas também levam o nerd a ser discriminado, desde muito antes de suas notas altas serem do conhecimento do resto da turma.
A partir daí, uma vez que um aluno tenha sido rotulado como nerd pelo resto da turma num determinado ano, vai ser nerd no ano seguinte, e assim por diante. Logo não tem nada a ver essa sua história de "fenômeno pós-boletim".
[1] E só pra esclarecer uma coisa, não é razoável supor que alguém, seja ou não nerd, deva obrigatoriamente se arrumar pra evitar discriminação, senão pelos motivos óbvios, porque boa parte das escolas têm uniformes e códigos a respeito do que se pode ou não vestir na escola.