Tópico: Alguém aqui já perdeu uma pessoa muito querida?

[Erika]

Na semana passada morreu uma menininha da escola onde trabalho.
Uma criança de seis anos, da classe do meu filho, num acidente dentro de casa.
As pessoas, os pais, professores, etc, procuram explicações ou indícios de algo mágico nessa morte e nessa existência.
Me senti estranhamente constrangida, porque me compadeci de verdade com a mãe, chorei com sinceridade sua dor, me coloquei em seu lugar, pensando se fosse com um dos meus. Mas achei um desperdício o fato da mãe não ter permitido a doação dos orgãos, ela teve morte cerebral decretada e todos os orgão estavam perfeitos. 

Fico tentando imaginar como será a morte de alguém que amo sem que eu tenha nada mágico para pensar.
Outra, foi um acidente em casa, pior, algo que poderia ser evitado.
Como seria a culpa?
Como será uma perda para alguém que não é nada místico?
Aconteceu com algum de vocês?

[Luis Dantas]

Já perdi muita gente querida por motivos mais evitáveis do que a morte.  Não estou convencido de que morte seja algo tão terrível em comparação.

[J Ricardo]

O acidente pode ser evitado, o cuidado com isso vai muito da educação da família, dos avós. Outros planejam uma casa já pensando nos filhos, que seja segura, e os advertem a todo momento. É uma pena o fato da menina ter morrido, lamento muito por isso, mas acidentes não são chamados assim por acaso, é algo impensável que vira realidade, muitas vezes por não prevenir os possíveis riscos. Uma casa mais planejada tem uma incidência menor de acidentes do que uma não-planejada. Os pais não são os culpados, muitas vezes uma tragédia dessas é um mal necessário para as futuras gerações da familia ligar o alerta pra não ocorrer isso novamente.

Sobre a questão de como será uma perda para alguem que não é nada místico é fácil. A dor do momento da perda é igual para todos, o que diferencia é que uns pensam (creem) que um dia haverá um reencontro e o outro não. É só uma maneira psicológica de amenizar a perda, seria bom se fosse verdade, mas aí a morte já não teria o mesmo sentido que tem.

[Erika]

A dor do momento da perda é igual para todos, o que diferencia é que uns pensam (creem) que um dia haverá um reencontro e o outro não. É só uma maneira psicológica de amenizar a perda, seria bom se fosse verdade, mas aí a morte já não teria o mesmo sentido que tem.

É fácil pensar assim, amenizar perdas, na realidade não amamos a pessoa e sim as sensações que ela nós dá portanto perder alguém é perder o prazer de ter a pessoa, etc...
Também penso assim, mas quando vivenciamos um fato é diferente.
Por isso a pergunta inicial, que você não respondeu: Você já viveu isso?

Ok, sobre a culpa. Penso assim, assim também, mas entenda que quero saber como é sentir.
Como deve ser você saber que uma pessoa morreu por negligencia sua, só e somente sua.
Sem ter como dizer que Deus, que o destino, que a fatalidade, que qualquer outra coisa...
Sendo racional sabemos que a maioria das tragédias são evitáveis. Não é terrível?
By the way, você tem filhos ou ainda só é filho?

[Erika]

Já perdi muita gente querida por motivos mais evitáveis do que a morte.  Não estou convencido de que morte seja algo tão terrível em comparação.

Cher Luís,

Me poupe 
Apague a pergunta inicial e responda essa, que é mais específica.
Alguém que você amava profundamente já morreu com você ainda amando?

[Narkus]

Já perdi muita gente querida por motivos mais evitáveis do que a morte.  Não estou convencido de que morte seja algo tão terrível em comparação.

É um ponto interessante...

Isso me faz lembrar a respeito de como, para nós que continuamos vivos, é importante para nosso ego as lembranças de alguém que se afastou de nós.

No que diz respeito às lembranças perder alguém querido por morte ainda é melhor do que perder alguém por alguma traição, mudança de caráter e de princípios. No primeiro caso ficam as lembranças de uma boa pessoa, que você teve o prazer de conhecer e conviver. No segundo caso fica a lembrança de você ter se iludido ou de ter visto uma transformação tão negativa de alguém que você gostava muito. O segundo caso deixa uma lembrança muito mais negativa, pois na minha opinião é a morte do que de melhor a pessoa tinha!

[Rodion]

Fico tentando imaginar como será a morte de alguém que amo sem que eu tenha nada mágico para pensar.

não precisa imaginar. sem querer parecer muito sombrio, mas sua hora ainda vai chegar...
morte de gente jovem freqüentemente é evitável, e pensar sobre a evitabilidade só piora as coisas. o que passou passou.

[Luis Dantas]

Já perdi muita gente querida por motivos mais evitáveis do que a morte.  Não estou convencido de que morte seja algo tão terrível em comparação.

Cher Luís,

Me poupe 

Quanta rudeza.

Apague a pergunta inicial e responda essa, que é mais específica.
Alguém que você amava profundamente já morreu com você ainda amando?

Não.  Morrer, não.

[Erika]

 
Luís,
Fiquei até com remorso.
Desculpe pela rudeza, mas entenda que minha pergunta se refere a vivência não a conhecimento teórico. 
É uma coisa que comentei ontem mesmo em outro post, existem coisas que só aprendemos com a vivência e acho que a perda de alguém que se está amando pela morte é uma delas...
Desculpe-me de novo.

[Erika]

No que diz respeito às lembranças perder alguém querido por morte ainda é melhor do que perder alguém por alguma traição, mudança de caráter e de princípios.

 
Para mim a morte ainda é terrível, talvez porque quando penso em alguém que amo penso nos meus filhos, as únicas pessoas pelas quais sofreria.

É interessante sua colocação... mas não acredito em mudança de caráter, ou princípios, creio que quando uma pessoa trai ou faz algo ruim ela revela algo que já existia nela, porque como o próprio nome diz princípios são princípios.
Assim, quando perdemos alguém dessa maneira, podemos pensar que o melhor dela não morreu, apenas passou... deixando boas e más lembranças.
Pode ser em Polianna, mas é no mínimo um bom subterfúgio..

[Diegojaf]

Faz alguns anos, uma namorada minha morreu 1 semana depois de brigarmos em uma festa... mais ou menos nessa época do ano... Gostava muito dela e restou uma sensação horrível de não termos encerrado o que a gente tinha e não ter podido dizer pra ela tudo o que eu queria ter dito...

[Lua]

Perdi minha avó há exatamente duas semanas atrás...  :'(  Ela foi uma das pessoas mais importantes da minha vida e ainda não absorvi direito a idéia de que ela se foi... Talvez pelo fato de ainda não ter retornado ao interior depois do enterro e ter tido pouco tempo para pensar a respeito. 

Não existe coisa mais triste e deprimente do que perder alguém que amamos... A sensação de que não vou ver mais me sufoca... Não consigo esquecer dela segurando minha mão no hospital e me mandando sorrir... Dizendo que ia cuidar de mim de longe...  :'( :'( :'( Estou triste agora...

[Danieli]

Já perdi amigos queridos e familiares, pessoas a quem eu amei de verdade. E dói, e a dor demora a passar, lembro de uma amiga que faleceu quando tínhamos 15 anos, as vezes ainda sonho com ela, e por infelicidade via os pais da menina quase sempre no meu trabalho, eles olhavam para mim e lembravam dela e eu os olhava e tinha a mesma sensação. O luto durou um bom tempo e na época eu ainda era cristã, é uma memória triste a ser recordada.

Mas a pior sensação que se tem é a de "perder" alguém que está vivo. Por muitos anos vivi de luto pela ausência completa do meu pai, simplesmente não entendia a razão da distância que ele queria da família, cheguei até a concluir que se ele tivesse morrido, era um problema a menos afinal de contas eu saberia que não é uma escolha de estar ou não próximo a mim e sim a condição de estar morto, mas depois pensando melhor conclui que a dor seria irreparável ao menos para mim.
Por sorte, hoje ele é uma boa pessoa que eu conheço e posso conviver.

[Lua]

Verdade, Danieli. Em muitos casos, perder alguém que está vivo é uma sensação tão dolorosa quanto perder quem morreu. O apego que temos a determinadas pessoas e a necessidade que criamos com o convívio tornam a dor da 'perda' quase insuportável. No entanto, em muitos casos, optar por 'matar' a outra pessoa dentro de nós nos ajuda a conviver com a dor de não mais contar com a presença, os gestos, as palavras. Como diria um amigo meu "às vezes é melhor fingir que está morto a encarar o fato de não mais fazer parte de nossas vidas". Acho que não disse coisa com coisa... Mas... Dá pra entender...

[Danieli]

É complexo isso de "matar" o outro dentro de si, e normalmente não costuma dar certo, justamente por saber que a outra pessoa vive, e embora não importe-se conosco, lidar com essa espécie de rejeição dessa maneira não me soa muito maduro. Quando se é adolescente ainda dá-se um desconto porque está formando uma identidade. Mas enfim, optar por isso, de aniquilar a presença do outro,  chega a ser a única opção no desespero, digo isso por ter vivido algo semelhante.

[Lua]

Exato. Também já passei pela tentativa e não deu certo. Nos momentos de desespero, parece a melhor solução. A curto prazo, claro. A longo prazo, é um fardo que acaba sendo deixado de lado e volta a ocupar um espaço não tão grande quanto antes - mas que ainda existe.

A princípio, é perturbador. Depois, torna-se indiferente lembrar ou não. E mesmo a indiferença vez ou outra dá aquele 'friozinho'. Coisas da vida...

[Orbe]

Fico tentando imaginar como será a morte de alguém que amo sem que eu tenha nada mágico para pensar.

Será uma morte como qualquer outra.

Outra, foi um acidente em casa, pior, algo que poderia ser evitado.

Se não foi evitado é porque não podia ser evitado.

Como seria a culpa?

Não sei. Nunca me senti culpado, com remorso ou consciência pesada.

Como será uma perda para alguém que não é nada místico?

É apenas mais um momento da vida como tantos outros.

Aconteceu com algum de vocês?

Sim.


Se você ficou impressionada desse jeito com uma morte de uma criança, imagina como seria se você trabalhasse com idosos, por alguns anos, como eu trabalhei... Todo ano pelo menos 3 deles morriam. Se eu fosse sentir a morte de cada um deles, passaria o ano inteiro de luto.

[Dodo]

Como seria a culpa?

Dependendo da pessoa e do tipo de morte, alguns carregam um sentimento de culpa, mesmo sem ter razão para tal. É mais comum um certo remorso, por não ter dito certas coisas para aquela pessoa, ou então, agido diferente com ela, enquanto ainda estava viva. 

Como será uma perda para alguém que não é nada místico?

Isso varia de pessoa para pessoa, mística ou não. Cada um tem a sua maneira de vivenciar o luto. A grosso modo, quando alguém perde um filho, o sentimento dor, na maioria dos casos, parece ser mais forte e duradouro do que, em teoria, seria; caso fosse destinado a uma outra pessoa. Porém, isto não é regra, acontece também quando as pessoas são muito ligadas, saja por laços de parentesco ou amizade.

Aconteceu com algum de vocês?

Sim, já perdi parentes, amigos, colegas de trabalho.

[Luis Dantas]

É complexo isso de "matar" o outro dentro de si, e normalmente não costuma dar certo, justamente por saber que a outra pessoa vive, e embora não importe-se conosco, lidar com essa espécie de rejeição dessa maneira não me soa muito maduro. Quando se é adolescente ainda dá-se um desconto porque está formando uma identidade. Mas enfim, optar por isso, de aniquilar a presença do outro,  chega a ser a única opção no desespero, digo isso por ter vivido algo semelhante.

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[Fernando Silva]

Sim, já perdi todos os meus antepassados diretos.
Doeu, chorei muito, segui em frente.
O tempo cura quase tudo exceto, p. ex., o sentimento de culpa, mas não foi o caso.
Eu sabia, desde criança, que eles morreriam um dia. Por mais que tenha doído, aconteceu o esperado.

[Adriano]

A morte da filha de Darwin, Annie, em 1851 foi o evento que minou definitivamente a crença de Darwin em um Deus benevolente.

Essa me parece ter sido uma situação muito sofrida  :'(

[Mussain!]

Essa me parece uma mudança de idéia precipitada e puramente egoísta, Adriano...

Sobre morte de um ente muito querido, ainda não aconteceu comigo, porém não vejo a morte como algo ruim ao extremo.... Também não vejo como algo que nunca vai acontecer... (Tem pessoas que acham que outras e ela viverá para sempre, só pode...) Eu vou morrer, vc que está lendo, os possíveis descendentes de vcs e etc...
Ninguém vive pra sempre e isso é fato. Tudo que é vivo um dia morre. Acho que nossa sociedade repassa e encarna demais esse fato "morte" como se fosse algo ruim, assustador, e piora com a crendice do povo...

[Lua]

Uma das razões que me fez aceitar melhor a morte de minha avó foi o fato de que ela permaneceria com sequelas graves (ela teve um avc). E o grande problema é que ela proclamava aos quatro ventos que preferia morrer a ficar sobre uma cama dependendendo dos outros para tudo...

É absolutamente normal que as pessoas partam, é assim que penso. No entanto, acho que a saudade, o fato de não contar mais com a presença da pessoa... tudo isso são fatores que tornam a aceitação da morte ainda mais difícil. Por isso, é comum as pessoas precisarem da idéia de que existe uma vida melhor após a morte ou que essa é apenas mais uma etapa entre tantas. Não é tão simples aceitar a idéia do fim.

[Mussain!]

E o grande problema é que ela proclamava aos quatro ventos que preferia morrer a ficar sobre uma cama dependendendo dos outros para tudo...

Boa observação. Eu penso assim também. Acho té que deveria haver uma lei para isto, ou melhor dizendo, legalizem a eutanásia. 

[Lua]

Bem, eu realmente fiquei feliz (há quem não tenha compreendido a minha aceitação de forma tão passiva - seria usual jogar-se no chão e lamentar eternamente ) com o fato dela não precisar ficar em cima de uma cama. Quando não sentia mais as pernas, ela me disse "Minha filha, eu já estou morta". Isso mudou a forma como eu via as coisas .

Sem contar que o médico dela disse que a tendência seria piorar gradativamente... E sem sombra de dúvida, ela entraria em depressão... Tinha quase oitenta anos de idade e cuidava da casa inteira sozinha. E cuidava muito bem, diga-se de passagem.