Autor Tópico: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio  (Lida 3891 vezes)

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Offline Luiz Souto

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #25 Online: 05 de Junho de 2008, 21:40:20 »

Vamos refinar os conceitos: quando escrevi doutrinação marxista, me referia ao marxismo de botequim, usualmente uma coleção de
lugares comuns, mentiras e falácias, que causam vergonha para a maioria dos pensadores de esquerda, e que podem ser resumidas a:
1) Toda motivação para qualquer ação é unicamente econômica;
2) a cultura e a psicologia dos indivíduos é irrelevante para explicar os eventos históricos;
3) a causa de toda a pobreza do mundo é a exploração dos pobres pelos ricos;
4) a democracia é uma farsa criada pela burguesia, e
5) as "massas", o "proleatariado", os pobres, etc. são nobres e puros de coração
enquantos os burgueses são os servos do demônio encarnados.


Pois é Manhattan, o problema é chamar este reducionismo econômico de marxismo quando o pensamento de Marx é bem mais complexo e nada determinista (aliás foi  interpretações como essas ,que já existiam quando era vivo, que  o fez declarar a Kugelmann em uma carta "eu não sou marxista").
Na verdade todas as correntes de interpretação histórica atuais , mesmo as não marxistas , partem da análise marxista por ser a primeira a apontar um mecanismo para a ocorrência das mudanças históricas.
Quando Marx postula que ao se analisar um evento histórico deve-se observar a forma com os agentes históricos agem ( e não os argumentos com que justificam a ação) dentro do contexto social amplo em que vivem , pois a interação entre os agentes dentro da sociedade e a forma como esta se mantém ( que é o substrato econômico) determinam em última análise o horizonte de opções dentro do qual realizarão suas ações , apresenta um método de análise que permite uma investigação sistemática em sociedades diversas.
Que o método marxista de análise histórica é bem diferente do "marxismo vulgar" (nome clássico do marxismo de botequim) fica evidente para quem ler  , por exemplo , o Dezoito Brumário de Luis Bonaparte ou A Era das  Revoluções do Hobsbawn. A questão é que a historiografia soviética , calcada nas interpretações de Stalin , é o exemplo clássico de marxismo vulgar e seu método foi amplamente difundida pelos PC´s em todo mundo. Um exemplo aberrante disso era a defesa pelos intelectuais brasileiros ligados ao PCB da existência de feudalismo no Brasil (já que os modos de produção devem seguir uma ordem inalterável em qualquer lugar) ; só no fim da década de 60 , com a crise do PCB , esta interpretação foi abandonada .

Quanto à questão da manipulação concordo com o Catino , pode haver aulas de filosofia de cunho religioso ( e os católicos tem alto know-how nisso) como de caráter reacionário ( estilo Olavão).
Mas isso não muda o fato da importância do retorno da Filosfia ao ensino médio , já que  a possibilidade de inserir um horizonte mais amplo de questões fundamentais para os adolescentes é um ganho apreciável. Que a procura por respostas a questionamentos existenciais (todos eminentemente filosóficos) é grande pode ser avaliado pelas vendas dos livros de auto-ajuda , que são um sucedâneo pobre a uma reflexão mais profunda. Não quer dizer que haverá grandes mudanças , mas a oportunidade é fundamental.
E só observar que no CC , embora existam até foristas que questionam a própia validade da Filosfia , os tópicos versam em última análise sobre temas de Ontologia , Epistemologia , Ética , etc...
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #26 Online: 05 de Junho de 2008, 22:36:54 »
Citar
Mas conheço inúmeros casos de professores que de fato propagavam as idéias dos ítens citados acima. Eu apenas tive sorte. E ainda
penso assim, mesmo depois de todos esses anos.

Dr Manhattan, concordo com tudo o que vc escreveu; inclusive para provar que é sempre melhor esclarecer do que começar uma discussão estérial a aprtir do que eu acho que vc quis dizer, hehehe...

Vc teve sorte :)
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Offline Herf

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #27 Online: 13 de Junho de 2008, 03:28:14 »
12/06/2008
A volta da filosofia

A coluna de hoje será agitada. Começo traindo a classe. Embora eu tenha formação acadêmica na área de filosofia, vejo com desconfiança a recém-sancionada lei que torna obrigatório o ensino desta matéria e da sociologia nas três séries do ciclo médio em todo o país. A mudança, que não chega a ser uma revolução, pois as duas disciplinas já vinham sendo paulatinamente reincorporadas à rede, parece-me servir mais aos interesses de sindicatos e a um certo populismo educacional do que à causa do ensino propriamente dita.

Antes de prosseguir eu gostaria de desfazer alguns enganos comuns. Não, a filosofia não "ensina a pensar" nem a "ser ético". Trata-se de uma disciplina como outra qualquer. O aluno é apresentado a um universo conceitual específico e, depois, nas provas e trabalhos, instado a mostrar como lida com as novas "ferramentas". Não há mágica nenhuma. Não é porque o estudante vai ler textos que refletem sobre a aquisição do conhecimento, por exemplo, que se tornará mais apto a conhecer. De modo análogo, estudar como determinados autores pensaram a moral e a ética não é em absoluto garantia de que o aluno se tornará um ser mais moral e mais ético.

Concordo que, pelo menos no ciclo médio, é preciso alargar os horizontes do aluno. Não dá para ficar só ensinando português e matemática e as matérias "clássicas" como física, biologia, história. É preciso passar também algumas referências relevantes da cultura e da ciência ocidentais. A filosofia é uma boa candidata, mas está longe de ser a única. Por que não história da arte, direito, estatística, psicologia, medicina? O melhor, creio, seria deixar para cada escola definir o que convém mais a seu público. É esse espírito anarco-autonomista, que constava da redação original da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a popular LDB, que vem sendo revertido nos últimos anos.

Em termos práticos, a nova lei não muda muita coisa. Desde 2006 uma resolução do Conselho Nacional de Educação já obriga as escolas de ensino médio a ministrar as duas matérias. É claro que uma lei é mais forte do que uma resolução, e isso poderá levar os conselhos estaduais que vinham enrolando na implantação da norma a andar mais depressa. A principal alteração está na especificação de que as disciplinas devem ser oferecidas nas três séries do ensino médio. Pela resolução bastava uma. É aí que reside a esperteza dos sindicatos de sociólogos, que viram sua reserva de mercado multiplicar por três. Eu não saberia explicar por que os filósofos, que são provavelmente a única categoria sem representação sindical, também entraram na festa. Imagino que isso se deva ao fato de a disciplina, por razões que a própria razão desconhece, ainda gozar de um prestígio quase reverencial.

A turma da direita já saiu gritando que o novo diploma vai institucionalizar a doutrinação esquerdista. É um risco, admito. Mas há também um outro que eles não apontam: como as faculdades de filosofia dificilmente serão capazes de fornecer a legião de professores necessária para suprir a demanda, as escolas tenderão a recrutar seus docentes pela habilitação mais próxima da filosofia, que é a teologia. E se há algo tão ruim quanto um exército de marxistas vulgares armados de discursos antiimperialistas é uma hoste de padres brandindo catecismos. Pior mesmo só se forem clérigos disparando teologia da libertação, que junta as mais capengas categorias do marxismo ao mais caricatural reacionarismo católico, mas deixemos esse cenário apocalíptico de lado.

Meu propósito central nesta coluna é mostrar que a volta da filosofia e da sociologia ao ciclo básico não passa nem perto de ser uma solução para a grave crise que a educação enfrenta hoje.

O regime militar foi criticado, com razão, por ter eliminado, em 1971, as duas disciplinas do então colegial. Fê-lo por razões muito mais pragmáticas do que teóricas: essas matérias agregavam um número desproporcionalmente grande de professores com idéias de esquerda. É um erro, entretanto, considerar, como alguns ainda o fazem, que a extinção da filosofia e da sociologia foi a responsável pelo ocaso do ensino público que se percebe desde então. Um candidato muito mais verossímil é a massificação da escola. Entre os anos 30 --a era dourada do ensino público-- e os 90, o número de alunos da rede oficial aumentou nada menos do que 20 vezes. Os recursos aplicados cresceram num proporção bem menor.

O resultado foi duplamente perverso. De um lado, a incorporação de grandes contingentes de alunos do estrato social mais baixo significou uma queda na qualidade. Esse, entretanto, era um efeito esperado e que deveria ser transitório. De outro, a rápida ampliação da rede sem um aumento correspondente dos recursos investidos levou a uma espécie de proletarização do professorado. Esse fato, tomado por si só, tampouco precisaria ser um grande problema. A correlação entre salário dos mestres e desempenho dos discípulos é menos cristalina do que supõem os sindicatos.

Ocorre que essas ocorrências não se deram de forma isolada. Esses dois movimentos se reforçaram e, somados a outros que não cabe aqui mencionar, acabaram por provocar uma notável corrosão do prestígio do magistério. Até algumas décadas atrás, o professor, ao lado do padre e do juiz, compunha o rol das "autoridades" de uma cidade do interior. Hoje, os mestres são muitas vezes vistos como o "tipo ideal" do funcionário público indolente, mais preocupado em arrancar pequenas vantagens do Estado do que em cumprir sua obrigação de educar alunos.

É uma generalização e, como toda generalização, essencialmente injusta, mas não inteiramente desprovida de base empírica. Como a categoria de professores de escolas públicas amargou décadas sem obter aumentos salariais significativos, foi se contentando com pequenas concessões que lhe eram lançadas como migalhas pelos governantes. Foi assim que se acumularam, por exemplo, 19 dispositivos legais que permitem ao mestre faltar sem sofrer redução salarial. No Estado de São Paulo, professores têm abonadas até 32 ausências por ano (um mês extra de férias!, diriam alguns). O reflexo dessa política na rede oficial se mede numa taxa de absenteísmo de 12,8%, contra menos de 1% em escolas privadas. Se isso não contribui para a fama de vagabundo, é difícil imaginar o que possa fazê-lo.

É claro que não sou tradicionalista a ponto de chorar o prestígio perdido apenas pelo prestígio. A minha hipótese é que a desvalorização social do magistério é uma das principais causas do desastre educacional brasileiro. Não se trata de mero achismo. Como mostrou reportagem da Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal) desta segunda-feira, estudo encomendado pela Fundação Lemann e pelo Instituto Futuro Brasil mostra que apenas 5% dos melhores alunos que se formam no ensino médio desejam trabalhar como docentes da educação básica. Dos que ficaram entre os 20% mais bem colocados no Enem 2005 (Exame Nacional do Ensino Médio), 31% querem trabalhar na área da saúde e 18% se inclinam para a engenharia.

Isso significa que estamos recrutando nosso professorado entre os piores alunos, o que, acreditem, faz a diferença. Exaustivo trabalho da consultoria McKinsey (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal) de comparação de vários sistemas de educação do mundo, publicado no ano passado, revela que a primeira das três variáveis que mais se destacam nas redes de ponta é "escolher as melhores pessoas para se tornarem professores".

Na Coréia do Sul, por exemplo, a primeira colocada no ranking de leitura no Pisa 2006 (exame internacional), os futuros professores são obrigatoriamente escolhidos entre os 5% que se saem melhor na prova nacional para ingresso no ensino superior --o "vestibular" deles. Na Finlândia, segunda no mesmo ranking, os professores são selecionados entre os "top ten".

Trocando em miúdos, o "segredo" do ensino de qualidade é a soma de um truísmo (bons professores formam bons alunos) com uma obviedade (para recrutar os melhores profissionais, é preciso oferecer uma carreira atrativa, senão financeiramente, ao menos em termos de valorização social). É exatamente o que não estamos fazendo.

E não me parece que a introdução da filosofia e da sociologia em regime obrigatório e intensivo contribuam para reverter nossa penúria pedagógica. Essa é antes uma manobra diversionista, mais uma compensação a sindicatos que ficaram por algum tempo de fora do butim. Uma mudança de verdade implicaria redefinir quais são as carreiras com e sem prestígio no país. E isso envolveria redesenhar os feudos já estabelecidos pela república das corporações em que o Brasil tristemente se converteu.

Hélio Schwartsman

http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u411269.shtml

Offline uiliníli

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #28 Online: 13 de Junho de 2008, 18:13:15 »
Belo texto do Scwartsman, como sempre, mas eu reitero o que todo mundo já sabe e ele mesmo mencionou: essas duas disciplinas só vão servir para aumentar a propaganda esquerdista no colegial. Eu costumava ser a favor de incluir Economia como matéria obrigatória no ensino médio, mas depois de ser obrigado a fazer essa disciplina na faculdade eu mudei de idéia - imaginem vocês que logo no primeiro dia de aula o professor disparou que Economia não é ciência, mas ideologia e que quem quisesse ser aprovado ia ter que seguir a dele - e estávamos proibidos de ler Veja, Época, Folha e Estado ou assistir a qualquer jornal da Globo, SBT, Band ou Record, enfim, a "grande mídia"... Só daí vocês já devem imagianr o tom das aulas que recebo...

Eu acho que o colegial estaria bom demais só com as disciplinas clássicas... e olhe lá! Eu tenho minhas dúvidas sobre se a disciplina de História merece realmente ser obrigatória nos currículos escolares.

Offline Herf

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #29 Online: 13 de Junho de 2008, 22:18:39 »
Eu acho que o colegial estaria bom demais só com as disciplinas clássicas... e olhe lá!
E olhe lá mesmo, pois há quem veja até mesmo a matemática como um potencial instrumento de doutrinação ideológica... hehe.

Offline uiliníli

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #30 Online: 13 de Junho de 2008, 22:48:30 »
É triste, mas é verdade... A matemática já foi acusada de ser machista e eurocentrista! Claro que tinha que ser o pessoal de filosofia (pós-modernistas, claro, sempre eles...) para espalhar essas baboseiras.

Offline Orbe

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #31 Online: 13 de Junho de 2008, 22:53:39 »
Infelizmente essas aulas vão servir apenas como mais uma oportunidade de doutrinação esquerdiota.
Se você se importasse não estaria discutindo e sim agindo...

Offline FZapp

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #32 Online: 14 de Junho de 2008, 12:45:26 »
É verdade, todo sociólogo usa barba, fuma em cachimbo e tem fotos de Trostky no banheiro.
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Offline uiliníli

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #33 Online: 14 de Junho de 2008, 14:11:41 »
É verdade, todo sociólogo usa barba, fuma em cachimbo e tem fotos de Trostky no banheiro.

Isso não é verdade! Quem usa barba, fuma cachimbo e tem uma foto no banheiro é psicanalista. Mas a foto geralmente é da mãe deles...

Offline FZapp

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #34 Online: 14 de Junho de 2008, 14:29:12 »
É verdade, me confundi de estereótipo: esquerdistas usam barba, tem a foto da mãe com charuto cubano e um busto Trotsky com flores vermelhas ... :P
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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #35 Online: 14 de Junho de 2008, 14:54:26 »
Mas Catino, estereótipo ou não, eu não sei se você chegou a estudar o colegial ou fazer faculdade aqui no Brasil, mas o que eu e muitos colegas foristas percebemos é que há uma tendência generalizada de os professores dos cursos de ciências humanas serem de esquerda. Até aí tudo bem, não há nada de errado em alguém ser de esquerda, essa é uma sociedade democrática e cada um tem o direito de nutrir as simpatias políticas que quiser. O problema é que também é generalizado entre os professores o péssimo hábito de misturar os conteúdos que deveriam ensinar em aula com propaganda política e doutrinação ideológica. Passei por isso durante todo o colegial e achava que estaria livre agora na faculdade, mas como relatei mais acima estou passando de novo em uma disciplina de economia no colégio. Não é que todos os bacharéis em humanas sejam esquerdistas ou todos os professores esquerdistas façam propaganda, mas a quantidade de profissionais que se encaixam nesse perfil é assustadoramente alta e isso é um sério problema educacional.

Offline FZapp

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #36 Online: 14 de Junho de 2008, 15:07:40 »
Eu fiz faculdade aqui no Brasil, mas era de tecnologia, professores e alunos de lá tinham até aberração a literatura, por exemplo.

Como disse o velho Hélio, o problema é outro: a qualidade dos professores, sejam de esquerda, centro, direita.

Por outro lado, a nossa tendência em categorizar as pessoas nos faz pensar que todo sociólogo é de esquerda: acontece que em América Latina é comum ter estudado teorias de esquerda controversas 30 anos atrás, então essas teorias (proibidas no passado) estão mais presentes hoje, para bem e para mal.

O que você relatou antes é um absurdo, mas é a balança caindo mais para a esquerda depois de muitos anos de esquecimento total do assunto, asuntos inclusive proibidos, como questionar a relação do mercantilismo com escravidão e o papel da Igreja Católica como aliada à erradicação dos índios rebeldes e a importação de escravos da África (tidos como mais 'dóceis')
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Offline Rodion

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #37 Online: 14 de Junho de 2008, 15:14:18 »
a coisa é que a redemocratização se deu há 20 anos, e nas universidades essas teses revisionistas já gozavam de algum prestígio desde meados do século passado. algumas disciplinas, no brasil, estão sendo monopolizadas pela esquerda. não é tanto o caso da economia; no caso da economia, é mais questão de perguntar 'onde'. na fgv, no ibmec, na puc-rio e na fea-usp a abordagem predominante é neoclássica como nas boas faculdades de economia do mundo. na unicamp, ufrj e todo o resto.. isso é bom; o vestibulando esperto que não seja muito constringido por questões financeiras e familiares pode acabar escolhendo qual estudo vai ter, e isso se reflete futuramente com um debate público de mais tendências participantes com, é o mais importante, alguma paridade.
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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #38 Online: 14 de Junho de 2008, 15:18:58 »
Resumindo: sem querer ofender, mas os bons professores foram expulsos a bastonadas (bom, aqui fecharam faculdades de filosofia, na Argentina tem a 'Noche de los Bastones Largos', quando o exército invadiu várias universidades e expulsou os profesores a golpes de cassetete), então ficamos com os professores ruins, e pagando o que se paga, a coisa só piorou.
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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #39 Online: 14 de Junho de 2008, 15:20:44 »
O que não quer dizer que esse movimento pendular entre a esquerda e a direita seja positivo. Acredito que um educador deva se manter neutro e se ater aos fatos em vez de às suas opiniões particulares. Mas há uma dificuldade epistemológica envolvida quando alguém, como o professor que eu citei, diz que "não ter ideologia" também é uma ideologia (e a pior de todas, segundo ele...) E eu também faço um curso de tecnologia, estudo Engenharia, mas infelizmente sou obrigado a fazer algumas matérias de "Humanidades"... Ele me disse em tom de pena e de desdém que os estudantes de exatas têm uma "mania tola" de tentar enxergar as coisas com neutralidade :x

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #40 Online: 14 de Junho de 2008, 15:23:56 »
Dizer que não ter ideologia é uma ideología é como os que dizem que ser ateus são religiosos. É uma ignorância ao ceticismo, a todo um ramo cínico da filosofia, à neutralidade científica que a sociologia tem que ter (para identificar como rituais o batismo assim como um ritual dos ianomami).
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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #41 Online: 14 de Junho de 2008, 16:28:34 »
Sou bacharel em história por universidade federal, não fiz a opção posterior para licenciatura, realmente o marxismo era a ideologia dominante.
« Última modificação: 14 de Junho de 2008, 16:37:07 por Waldon »

Offline Rodion

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #42 Online: 14 de Junho de 2008, 16:38:27 »
O que não quer dizer que esse movimento pendular entre a esquerda e a direita seja positivo. Acredito que um educador deva se manter neutro e se ater aos fatos em vez de às suas opiniões particulares. Mas há uma dificuldade epistemológica envolvida quando alguém, como o professor que eu citei, diz que "não ter ideologia" também é uma ideologia (e a pior de todas, segundo ele...) E eu também faço um curso de tecnologia, estudo Engenharia, mas infelizmente sou obrigado a fazer algumas matérias de "Humanidades"... Ele me disse em tom de pena e de desdém que os estudantes de exatas têm uma "mania tola" de tentar enxergar as coisas com neutralidade :x

ele tem lá sua razão. no caso, a abordagem mais científica da economia é a neoclássica, que é encarada como de direita. é menos mal ter uma tendência e assumi-la, deixando-a bem clara, do que pretensamente não ter uma e passá-la como se fosse o ponto neutro e, portanto, próximo do correto.
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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #43 Online: 14 de Junho de 2008, 16:45:01 »
é menos mal ter uma tendência e assumi-la, deixando-a bem clara, do que pretensamente não ter uma e passá-la como se fosse o ponto neutro e, portanto, próximo do correto.
Perfeito.
Aliás, há a mania de se confundir meio-termo com imparcialidade.

Offline Rodion

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #44 Online: 14 de Junho de 2008, 16:50:13 »
aliás, isso é algo bom da gv. tenho um amigo que fez um semestre economia na de são paulo e ele disse que o esquema era o seguinte; ia ter macroeconomia, vinha um neoclássico, ia ter história econômica e vinha um esquerdão. parece que a intenção da faculdade é mesmo meio que jogar um ponto de vista contra o outro e deixar ao aluno decidir. é a impressão que ele teve, ao menos.
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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #45 Online: 14 de Junho de 2008, 17:00:25 »
Melhor isso pelo menos do que ficar um monólogo. Mas eu ainda acho que o economista deve ao menos tentar ser imparcial e evitar contaminar o conteúdo com discurso ideológico. oU melhor ainda, eu acharia melhor não ter que fazer essa matéria :P

Offline Adriano

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #46 Online: 14 de Junho de 2008, 17:05:13 »
Porém não deixa de ter um aspecto interessante sobre a questão da ideologia econômica. As faculdades que são mais voltadas ao mercado de trabalho tem uma forte carga de estudo econométrico, praticamente uma engenharia econômica, mas voltada ao atendimento das necessidades empresariais. (O que eu classifico como direita, devido voltar-se mais ao mercado).

Já outras universidades, como a Unicamp e a UFRJ, que tem tradição em prover economistas para atuarem no governo, tem uma formação mais histórica econômica e em macroenômica, me parece. Assim com a tomada do PT no poder, o departamento de economia ficou até desfalcado com a ida de muitos professores do institudo a Brasília.

Em São Paulo sempre teve essa divisão entre USP e UNICAMP, onde a primeira é altamente matematizada, não que a UNICAMP não seja, mas esta tem uma preocupação maior com a história econômica, tem um alinhamento heterodoxo e diferenciado dentro; é o que eu considero de esquerda.
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Offline FxF

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #47 Online: 14 de Junho de 2008, 19:23:21 »
Citação de: Adriano
Porém não deixa de ter um aspecto interessante sobre a questão da ideologia econômica. As faculdades que são mais voltadas ao mercado de trabalho tem uma forte carga de estudo econométrico, praticamente uma engenharia econômica, mas voltada ao atendimento das necessidades empresariais. (O que eu classifico como direita, devido voltar-se mais ao mercado).

Já outras universidades, como a Unicamp e a UFRJ, que tem tradição em prover economistas para atuarem no governo, tem uma formação mais histórica econômica e em macroenômica, me parece. Assim com a tomada do PT no poder, o departamento de economia ficou até desfalcado com a ida de muitos professores do institudo a Brasília.

Em São Paulo sempre teve essa divisão entre USP e UNICAMP, onde a primeira é altamente matematizada, não que a UNICAMP não seja, mas esta tem uma preocupação maior com a história econômica, tem um alinhamento heterodoxo e diferenciado dentro; é o que eu considero de esquerda.
Ora, questão de lógica.

A esquerda do Brasil sataniza o lucro e a realização. Um empresário vai ter mais chances de sucesso com qual ideologia?

E na política, bem, esquerda não é dar mais poder ao estado? Como esses políticos brasileiros como são não iam gostar da idéia??

Offline Adriano

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #48 Online: 14 de Junho de 2008, 19:30:02 »
Citação de: Adriano
Porém não deixa de ter um aspecto interessante sobre a questão da ideologia econômica. As faculdades que são mais voltadas ao mercado de trabalho tem uma forte carga de estudo econométrico, praticamente uma engenharia econômica, mas voltada ao atendimento das necessidades empresariais. (O que eu classifico como direita, devido voltar-se mais ao mercado).

Já outras universidades, como a Unicamp e a UFRJ, que tem tradição em prover economistas para atuarem no governo, tem uma formação mais histórica econômica e em macroenômica, me parece. Assim com a tomada do PT no poder, o departamento de economia ficou até desfalcado com a ida de muitos professores do institudo a Brasília.

Em São Paulo sempre teve essa divisão entre USP e UNICAMP, onde a primeira é altamente matematizada, não que a UNICAMP não seja, mas esta tem uma preocupação maior com a história econômica, tem um alinhamento heterodoxo e diferenciado dentro; é o que eu considero de esquerda.
Ora, questão de lógica.

A esquerda do Brasil sataniza o lucro e a realização. Um empresário vai ter mais chances de sucesso com qual ideologia?

E na política, bem, esquerda não é dar mais poder ao estado? Como esses políticos brasileiros como são não iam gostar da idéia??
É bem por aí mesmo, uma questão de pragmatismo. Eu associo a minha tendência ideológica de esquerda com a minha origem social, que é de filho de pedreiro. Nada mais natural no meu caso. Enfrentei muitos percalços para conseguir meia graduação e tive problemas financeiros que a interromperam. Fiz inscrição no ENEM e vou fazer igual meu irmão esta fazendo, graduação pelo PROUNI. Na minha ótica a esquerda e o governo atual são ótimos e tenho arcabouço teórico o suficiente para defender essa tese até chegar na filosofia econômica que é a parte que cuida das ideologias.

Está valendo mais discutir o pragmatismo, a sua validade e aplicação, a sua origem americana, os principais expoentes, a influência no Brasil, etc...

 :D
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline uiliníli

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Re: Filosofia e sociologia passam a ser obrigatórias no ensino médio
« Resposta #49 Online: 18 de Junho de 2008, 22:52:23 »
Mais uma de meu professor de Economia comunista: ele qualificou como "genial" e "brilhante" em sala de aula uma frase que atribuiu a Mao Tse Tung (embora eu não a tenha encontrado na Internet) mais ou menos como a seguinte "Há pessoas que são um peso para a classe proletária. A eliminação física dessas pessoas faz bem ao mundo." Uma frase dessa ser defendida por alguém que foi responsável direto ou indireto pela morte de 100 milhões de pessoas não me surpreende. O que me surpreende e me revolta é um professor universitário nos dias de hoje defender a idéia - mesmo que ele estivesse brincando, defender o assassinato de pessoas não é aceitável nem como brincadeira, ainda mais tendo ele deixado a dúvida sobre se não estaria falando sério afinal... Eu tinha medo de ser reprovado se o questionasse demais, agora teria medo é de ser morto  :|  Preocupante.
« Última modificação: 18 de Junho de 2008, 22:54:37 por uiliníli »

 

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