Autor Tópico: Keynesianismo - O Tópico  (Lida 4282 vezes)

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Keynesianismo - O Tópico
« Online: 17 de Julho de 2008, 23:35:30 »
Há vários tópicos aqui em que o keynesianismo é tratado. Há inclusive um que eu criei há muito tempo. Porém em todos esses tópicos nunca foi feita uma discussão sobre a polêmica keynesianismo vs economia clássica de forma mais consistente, focando apenas o aspecto econômico ou técnico da coisa. Ao contrário, nesses tópicos o assunto acabou desandando para disputas político-ideológicas de caráter mais panfletário do que lógico.

Pretendo então abrir uma discussão econômica sobre o keynesianismo, onde cada um poderá dar sua opinião dentro das suas possibilidades, desde que tenha pelo menos lógica.

O keynesianismo surgiu com o lançamento do livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda por Lord Keynes em 1936. Nesse livro, Keynes faz algo como uma tentativa de "reforma pela raíz" da teoria econômica, ou seja, põe em xeque postulados e princípios sobre a poupança, o juro, o equilíbrio econômico, o emprego e a moeda que até então eram considerados intocáveis.

A teoria econômica anterior a Keynes, desenvolvida por nomes como Adam Smith, David Ricardo, J.S.Mill, Alfred Marshall, Pigou e muitos outros, conhecida como liberalismo econômico, foi chamada em conjunto por Keynes de "Teoria Clássica".

Colocarei agora algumas diferenças fundamentais entre a teoria clássica e keynesiana, ou seja, as formas como cada teoria enxerga diferentes entes básicos da economia:

1- Juros: Para a economia clássica, os juros são um pagamento pelo adiamento do consumo. Eles possuem uma relação estreita com a "eficiência marginal do capital" (termo keynesiano, significa a perspectiva de lucro dos investimentos), ou seja, quando a EMC aumenta, a demanda por capital para investimentos aumenta, o que faz o preço do capital (juros) subir. Esse aumento dos juros provoca um incremento da poupança, ou seja, grande parte do dinheiro que seria gasto em bens de consumo é desviado para a poupança em busca dessa maior remuneração. Esse aumento da poupança fornece exatamente a quantidade extra de capital necessária para os investimentos. Como se vê, para a economia clássica, o juro é a referência para o equilíbrio entre poupança e investimento, da mesma forma que o preço é a referência para o equilíbrio entre a oferta e demanda.

Para a economia keynesiana, os juros são uma compensação pelo risco da ausência de liquidez, ou seja, as pessoas cobram juros não porque estão ávidas para consumir e ficarão um tempo sem poder, mas porque temem   
de alguma forma não terem o dinheiro em mãos quando precisarem ou mesmo nunca o terem de volta. Keynes cita vários tipos de "incentivos para a liquidez" (colocarei texto abaixo). O mais importante é saber que para Keynes,  há muitos outros motivos que estimulam ou desestimulam as pessoas a pouparem, grande parte deles com mais influência do que a própria taxa de juros. E ao contrário dos economistas clássicos, Keynes não considerava que a taxa de juros assegurasse automaticamente o equilíbrio entre poupança e investimento: o nível de poupança dependeria de muitos fatores objetivos e subjetivos que não estão necessariamente "sincronizados" com a demanda de capital.

A seguir, o trecho da Teoria Geral onde é citado os motivos para a liquidez:


"(i) O motivo-renda. Uma das razões para conservar recursos líquidos é garantir a transição entre o recebimento e o desembolso da renda. A força deste motivo para induzir uma decisão de conservar um montante agregado de moeda dependerá, principalmente, do montante da renda e da duração normal do intervalo entre o seu recebimento e o seu desembolso. O conceito de velocidade-renda da moeda é estritamente apropriado apenas a este contexto.

(ii) Os motivos-negócios. Da mesma maneira, os recursos líquidos são conservados para assegurar o intervalo entre o momento em que começam as despesas e o do recebimento do produto das vendas, incluindo-
se sob este título os recursos líquidos que conservam os empresários para garantir o intervalo entre a compra e a realização. A intensidade desta demanda dependerá, principalmente, do valor da produção corrente (e, portanto, do rendimento corrente) e do número de mãos através das quais passa essa produção.

(iii) O motivo-precaução. Entre outros motivos para conservar recursos líquidos, destacam-se os de atender às contingências inesperadas e às oportunidades imprevistas de realizar compras vantajosas e os de conservar um ativo de valor fixo em termos monetários para honrar uma obrigação estipulada em dinheiro. A força desses três tipos de motivos dependerá, em parte, do custo e da segurança dos métodos para obter dinheiro em caso de
necessidade, por meio de alguma forma de empréstimo temporário, especialmente retiradas a descoberto ou o seu equivalente, pois não há necessidade de conservar dinheiro ocioso para assegurar os intervalos se se pode obtê-lo sem dificuldade no momento oportuno. Sua força dependerá, também, do que podemos denominar o custo relativo da retenção de recursos líquidos. Se os recursos líquidos só podem ser retidos mediante o sacrifício da compra de um bem lucrativo, esta circunstância aumenta o custo relativo de sua retenção e, portanto, debilita o motivo para guardar certo montante de recursos líquidos. Se os depósitos auferem juros ou se se evitam despesas bancárias conservando o dinheiro, isso diminui o custo e reforça o motivo. Este fator, contudo, pode ser de importância secundária, salvo em caso de grandes alterações no custo da retenção de recursos líquidos.

(iv) Resta o motivo-especulação. Ele requer um estudo mais detalhado que os outros, tanto pelo fato de ser menos compreendido, como por ser especialmente importante para transmitir os efeitos de uma variação na quantidade de moeda.

Em circunstâncias normais, o volume de moeda necessário para satisfazer os dois motivos, transação e precaução, é principalmente o resultado da atividade geral do sistema econômico e do nível da renda
nacional em termos monetários. Todavia, a administração monetária (ou, em sua ausência, as mudanças fortuitas que podem advir da quantidade de moeda) faz sentir seu efeito sobre o sistema econômico por sua influência sobre o motivo-especulação. Isso porque a demanda de moeda para satisfazer os motivos anteriores é, em geral, insensível a qualquer influência que não a de uma alteração efetiva na atividade econômica geral e no nível da renda, ao passo que a experiência mostra que a demanda de moeda para satisfazer o motivo-especulação varia
de modo contínuo sob o efeito de uma alteração gradual na taxa de juros, isto é, há uma curva contínua relacionando as variações na demanda de moeda para satisfazer o motivo-especulação com as que ocorrem
na taxa de juros, devidas às variações no preço dos títulos e às dívidas de vencimentos diversos.

De fato, se assim não fosse, as operações de mercado aberto seriam impraticáveis. Eu disse que a experiência indica a relação constante há pouco mencionada porque de fato o sistema bancário está sempre apto, em circunstâncias normais, a comprar (ou vender) títulos e obrigações em troca de moeda, oferecendo por eles um preço de mercado modestamente maior (ou menor); e quanto maior for a quantidade de recursos líquidos que os bancos desejam criar (ou cancelar) pela compra (ou venda) de títulos e dívidas, maior deverá ser a baixa (ou alta) na taxa de juros. Entretanto, quando as operações de mercado aberto (como nos Estados Unidos em 1933-1934) se limitam à compra de títulos de vencimento muito próximo, o seu efeito pode, evidentemente, limitar-se
à simples taxa de juros a prazo muito curto e provocar apenas ligeira reação sobre as taxas de juros a longo prazo, que são muito mais importantes.

Ao tratar do motivo de especulação, convém distinguir, entre as variações da taxa de juros, as que se devem a mudanças na oferta de moeda disponível para satisfazer esse motivo, sem que haja ocorrido alteração alguma na função de liquidez, e as que têm como causa principal as mudanças nas expectativas que afetam diretamente essa função. As operações de mercado aberto podem, sem dúvida, influir sobre a taxa de juros de ambas as maneiras, quer alterando o volume de moeda, quer dando origem a novas expectativas relativamente à política futura do banco central ou do governo. As mudanças próprias da função de liquidez, resultantes de modificações nas informações que provocam revisão das previsões, são freqüentemente descontínuas e engendram descontinuidades correspondentes nas variações da taxa de juros. Decerto, só haverá lugar para uma atividade maior de negócios no mercado de títulos na medida em que a variação de informações for interpretada de modo diferente pelos diferentes indivíduos ou afete os interesses individuais de maneira desigual. Quando uma mudança
no noticiário afeta a opinião e as necessidades de cada um de forma precisamente idêntica, a taxa de juros (tal como é indicada pelos preços de títulos e dívidas) se ajustará imediatamente à nova situação sem necessidade de quaisquer transações de mercado. Assim sendo, no caso mais simples em que todos os indivíduos têm opiniões e interesses semelhantes, uma alteração nas circunstâncias ou nas expectativas não ocasionará nenhum deslocamento de moeda;apenas modificará a taxa de juros no grau necessário para contrabalançar o desejo que, no nível anterior de juro, cada indivíduo sentia no sentido de ajustar suas reservas líquidas às circunstâncias ou expectativas novas, e, desde que todos mudem, no mesmo grau, suas idéias quanto à taxa que os induzam a alterar suas reservas líquidas, não resultará transação alguma. A cada conjunto de circunstâncias e de expectativas corresponderá uma taxa de juros apropriada e nunca se verificarão suspeitas de alguém modificar suas reservas líquidas habituais. De modo geral, entretanto, uma alteração nas circunstâncias ou expectativas provocará um reajuste nas reservas líquidas individuais — desde que, de fato, uma mudança influa nas idéias dos diferentes indivíduos de modo diverso, devido, em parte, às diferenças de meio ambiente e ao motivo que os levou a guardar dinheiro e, em parte, às diferenças de conhecimento e interpretação da nova situação. Desse modo, a nova posição de equilíbrio da taxa de juros estará associada a uma redistribuição da retenção dos recursos líquidos. Todavia, o que mais nos interessa é a mudança na taxa de juros e não a redistribuição dos recursos líquidos. Esta última é devida apenas a diferenças eventuais entre os indivíduos ao passo que o fenômeno essencial é o que ocorre no caso mais simples. Mais do que isso, mesmo no caso geral, a variação da taxa de juros é, comumente, o efeito mais importante da reação a uma mudança nas informações. O movimento nos preços dos títulos e obrigações está, como costumam dizer os jornais, “fora de qualquer proporção com a atividade dos negócios” — e é natural que assim o seja, tendo-se em vista que as reações dos diversos indivíduos
às informações são muito mais similares do que dessemelhantes. "

Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Keynes. Capítulo 15. Seção I




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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #1 Online: 18 de Julho de 2008, 00:00:35 »
2- Poupança.

O papel e a importância da poupança, na economia clássica, é por demais conhecido. Grosso modo, quanto mais as pessoas pouparem, mais recursos haverão disponíveis para serem investidos em aumento da capacidade produtiva da economia e, consequentemente, maior quantidade de bens essa sociedade poderá desfrutar no futuro, se tornando tanto mais próspera quanto maior for o nível de sua poupança.

Keynes não contesta de todo essa tese, contesta apenas a sua validade geral e absoluta. Ele defende que o nível de poupança, acima de um nível crítico, se torna mais fator de depressão, desemprego e pobreza do que de expansão, emprego e prosperidade. Eis a introdução do capítulo 16 da Teoria Geral onde ele trata disso:

"Um ato de poupança individual significa — por assim dizer — uma decisão de não jantar hoje, mas não implica, necessariamente, a decisão de jantar ou de comprar um par de sapatos daqui a uma semana ou um ano, ou de consumir uma coisa específica numa data especificada. Assim sendo, produz um efeito depressivo sobre as atividades econômicas aplicadas na preparação do jantar de hoje, sem estimular as que prepararam algum ato futuro de consumo. Não é uma substituição da demanda de consumo presente por uma demanda de consumo futuro, mas apenas uma diminuição líquida desta demanda. Além disso, a expectativa de consumo futuro está de tal modo baseada no conhecimento do consumo presente que qualquer redução do último provavelmente deprimirá o primeiro, com o resultado de que esse ato de poupança não apenas fará baixar o preço dos bens de consumo, independentemente da eficiência marginal do capital existente, como também pode enfraquecer esta última. Nesse caso pode reduzir a demanda de investimento atual tanto quanto a demanda de consumo presente.

Se a poupança consistisse não apenas em abster-se de um consumo presente, mas também em fazer, simultaneamente, uma reserva específica para um consumo posterior, o resultado poderia ser bem diferente. Aumentaria, pois, em tal caso, a expectativa de tirar certo rendimento do investimento, e os recursos liberados da disposição do consumo presente poderiam ser utilizados na provisão do consumo futuro. Não que esses recursos o fossem, mesmo neste caso, numa escala necessariamente igual ao montante dos recursos liberados, visto que o intervalo desejado de espera poderia exigir um método de produção tão desfavoravelmente “indireto” que a sua eficiência se tornasse bastante inferior à taxa de juros corrente; então, o efeito favorável ao emprego determinado por uma encomenda para consumo futuro não se manifestaria logo, senão numa data posterior, de tal modo que a conseqüência imediata do ato de poupar continuaria sendo ainda adversa ao emprego. De qualquer maneira, uma decisão individual de poupar não significa, de fato, emitir um pedido concreto para consumo posterior, mas apenas o cancelamento de um pedido presente. Assim sendo, admitindo-se que a expectativa de consumo seja a única raison d’être do emprego, não há nenhum paradoxo na conclusão de que uma diminuição na propensão a consumir tenha, coeteris paribus, um efeito depressivo sobre o emprego.

A dificuldade surge do fato de que o ato de poupar supõe não uma substituição do consumo presente por algum consumo adicional específico, cuja preparação exija tanta atividade econômica quanto a que se necessitaria para o consumo equivalente à soma poupada, mas antes um desejo de “riqueza” como tal, isto é, a possibilidade de consumir um artigo indeterminado em uma data indeterminada. A idéia
absurda, embora quase universal, de que um ato de poupança individual é tão favorável à procura efetiva quanto outro de consumo individual, emana da falácia, muito mais plausível do que a conclusão dela derivada, de que o desejo de possuir mais riqueza, sendo mais ou menos idêntico ao de fazer mais investimentos, deve, aumentando a procura de investimento, estimular a produção respectiva; de onde segue que a poupança individual favorece o investimento corrente à mesma medida que diminui o consumo atual.

É muito difícil eliminar esta falácia da mente dos homens. Ela provém da suposição de que o proprietário de riqueza deseja um bem de capital por si mesmo quando, na realidade, o que ele realmente deseja é o seu rendimento provável. Ora, este rendimento provável depende inteiramente da previsão da procura efetiva em relação às futuras condições da oferta. Portanto, se um ato de poupança nada faz por melhorar o rendimento provável, também em nada contribuirá para estimular o investimento. Além disso, para que um indivíduo que poupa possa atingir o seu fim, que é o de adquirir riqueza, não é necessário que um novo bem de capital seja produzido para satisfazê-lo. O mero ato de poupar realizado por um indivíduo, sendo bilateral, como demonstramos antes, obriga outro indivíduo a transferir-lhe alguma
riqueza, velha ou nova. Cada ato de poupança implica transferência “forçada” inevitável de riqueza a quem poupa, embora este, por sua vez, possa sofrer as conseqüências da poupança dos outros. Essas
transferências de riqueza não requerem a criação de riqueza nova — na realidade, como vimos, podem ser ativamente antagônicas. A criação de riqueza nova depende inteiramente de que o seu rendimento provável alcance o nível estabelecido para a taxa corrente de juros. O rendimento provável do novo investimento marginal não aumenta pelo fato de que alguém deseje aumentar sua riqueza, pois que ele depende da expectativa de procura de determinado bem em data determinada.

Não escapamos a esta conclusão argumentando que o possuidor de riqueza deseja não um rendimento provável determinado, porém o rendimento provável mais vantajoso entre os que lhe são oferecidos,
de maneira que um desejo maior de possuir riqueza reduz o rendimento provável com que terão de confrontar-se os produtores de novos investimentos. Este raciocínio não considera, pois, o fato de que sempre se pode opor uma alternativa à propriedade de bens reais de capital, ou seja, a propriedade de dinheiro ou débitos; desse modo o rendimento provável com que terão de contentar-se os produtores de investimentos novos não pode baixar além do nível fixado para a taxa de juros corrente. E a taxa de juros corrente depende, conforme vimos, não da intensidade do desejo de possuir riqueza, mas da intensidade do desejo de conservá-la respectivamente em forma líquida ou ilíquida, aliada à magnitude da oferta de riqueza, numa dessas formas em relação à sua oferta na outra. Se o leitor se acha ainda perplexo, pergunte-se por que, permanecendo inalterada a quantidade de dinheiro, um novo ato de poupança deveria diminuir a soma que se deseja conservar em forma líquida à taxa existente de juros."

Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Keynes. Capítulo 16. Seção I

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #2 Online: 18 de Julho de 2008, 23:24:35 »
3- Lei de Say

Transcrevo aqui um texto que eu havia postado em outro tópico sobre a Lei de Say, que é um dos pilares da economia clássica:


A Lei de Say afirma que "a oferta cria sua própria demanda", ou seja, quando uma determinada quantidade de produtos ou serviços é produzida, todos os fatores envolvidos na produção (em última instância os trabalhadores e empresários) são remunerados, ou seja, recebem uma determinada renda. A soma total dessa renda será igual ao valor total dos bens e serviços produzidos, ou seja, as pessoas envolvidas na produção terão uma renda total que permite comprar toda essa produção. Olhando o mercado como um todo, concluimos que nunca haverá superprodução ou sub-produção, pois a quantidade de bens disponíveis será sempre igual à renda total recebida por todos os fatores de produção envolvidos na produção dos mesmos.

Essa é a Lei de Say. Keynes a contesta, argumentando do seguinte modo:

Da renda recebida pelos fatores de produção (trabalhadores e empresários, em última instância), uma parte será usada para comprar os produtos e serviços que foram produzidos no mercado, ou seja, para consumo. Uma outra parte será poupada. Daí, uma parte dos bens e serviços produzidos terá que necessariamente não ser bens de consumo, mas investimentos; caso contrário, uma parte dos bens e serviços não será comprada e portanto sua produção terá que ser diminuída, acarretando desemprego dos fatores que estiveram envolvidos na produção dessa parte.
Normalmente, a quantidade de investimentos feitos tende a cobrir esse hiato que fica entre o total de bens produzidos e o total consumido, ou seja, uma parte dos fatores de produção não produz bens de consumo,mas de capital.

 Quando a renda é baixa, ela tende a ser gasta toda em bens de consumo. À medida que a renda vai aumentando, uma parte da mesma vai progressivamente sendo destinada à poupança, e assim sucessivamente. Acompanhando esse incremento na poupança, há incremento nos investimentos. Porém, à partir de um certo ponto, a quantidade de poupança e capital disponíveis é tão grande que a "eficiência marginal do capital" (grosso modo, a perspectiva de lucratividade dos investimentos) vai diminuindo, fazendo com que a quantidade de investimentos não aumente o suficiente para cobrir o hiato provocado pela crescente poupança. Nesse momento, ocorre desequilíbrio entre oferta e demanda, ou seja,a Lei de Say não atua.

A consequência disso, segundo Keynes, é que parte da produção não será comprada, fazendo com que a produção seja diminuída, desempregando-se fatores de produção. Esse desemprego tende a diminuir mais ainda a demanda efetiva, criando um círculo vicioso. É a recessão.

Keynes considera a recessão algo inevitável, e ele defende que o Estado pode atuar para retardar a sua chegada, ou para acelerar a recuperação. A receita básica é cobrir o máximo possível o hiato entre produção e consumo com investimentos estatais. Ele também diz que qualquer tipo de gasto em bens de consumo, mesmo suntuários (bens de luxo, obras faraônicas, etc) tende a retardar a chegada da recessão, por manter os fatores de produção "ocupados" funcionando, mantendo os bens e "valores" em circulação, sem ociosidade.

 





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Offline Moro

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #3 Online: 19 de Julho de 2008, 00:01:11 »
Pode definir e apresentar como meço a EMC para que eu entenda o seguinte racional?

Citar
ou seja, quando a EMC aumenta, a demanda por capital para investimentos aumenta, o que faz o preço do capital (juros) subir. Esse aumento dos juros provoca um incremento da poupança, ou seja, grande parte do dinheiro que seria gasto em bens de consumo é desviado para a poupança em busca dessa maior remuneração. Esse aumento da poupança fornece exatamente a quantidade extra de capital necessária para os investimentos. Como se vê, para a economia clássica, o juro é a referência para o equilíbrio entre poupança e investimento, da mesma forma que o preço é a referência para o equilíbrio entre a oferta e demanda.
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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #4 Online: 19 de Julho de 2008, 01:37:27 »
EMC é Eficiência Marginal do Capital. É um termo cunhado por Keynes e significa a rentabilidade ou lucro que um bem de capital (máquina, terra, etc) dará ao seu possuidor durante sua vida útil.

Não há uma forma objetiva de se medir isso, apenas dá para ter uma idéia geral baseada no estado em que se encontra o mercado, e essa expectativa é muito instável.
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Rhyan

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #5 Online: 19 de Julho de 2008, 19:50:03 »
O keynesianismo fahou, não conseguiu criar pleno emprego sem inflação.

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #6 Online: 20 de Julho de 2008, 11:42:32 »
O keynesianismo fahou, não conseguiu criar pleno emprego sem inflação.


Rhyan, antes que eu responda só gostaria de lhe perguntar uma coisa: o laissez-faire radical "falhou" ou "acertou" na sua opinião? Por quê?
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Rhyan

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #7 Online: 20 de Julho de 2008, 23:05:04 »
O Laissez-Faire nunca foi totalmente aplicado na sua forma mais pura (austríaca), mas deu bons resultados onde foi um pouco aplicado. Hong Kong, Irlanda, Nova Zelandia, Autrália, e etc..

Na AL temos o exemplo do Chile que experimentou um pouco da liberdade dos Chicagos Boys.

Offline JJ

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #8 Online: 21 de Julho de 2008, 11:02:18 »
O Laissez-Faire nunca foi totalmente aplicado na sua forma mais pura (austríaca), mas deu bons resultados onde foi um pouco aplicado. Hong Kong, Irlanda, Nova Zelandia, Autrália, e etc..

Na AL temos o exemplo do Chile que experimentou um pouco da liberdade dos Chicagos Boys.


Muito Legal o que os Bad Boys de Chicago fizeram . Legal mesmo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoliberalismo_chileno


História

A história de construção da estabilidade financeira do Chile foi marcada por muito mais tentativas e erros do que se costuma supor. Muitos analistas costumam dividir o "milagre chileno" em dois "milagres": um "primeiro milagre" (1973-1982), quando os Chicago Boys e suas idéias monetaristas da Escola de Chicago reinaram absolutas - e que terminou na grande depressão de 1982 - e um "segundo milagre" chileno (definitivo), que foi o idealizado por Hernán Büchi (1985-1989).

O primeiro milagre 1973 –1982
 
Uma primeira crise irrompeu logo após o golpe que levou Pinochet ao poder, durante a primeira fase da crise do petróleo em 1973. Outra, iniciada em 1975, foi causada pela queda dos preços do cobre e pela alta do petróleo na segunda fase de sua crise.

Em 1981 a economia do Chile passou por seus mais graves abalos, que fez cambalear o modelo econômico neoliberal dos técnicos de Chigago, durante os quais faliu a sólida refinaria de açúcar Viña del Mar, espalhando pânico no setor empresarial.

Diante disso, Pinochet decidiu contrariar os conselhos neoliberais, desvalorizando o peso de 39 para 46 por dólar. Em 1982 o PIB do Chile caiu 13.4% e o desemprego chegou a 19,6%. As pessoas cuja sobrevivência passou a depender exclusivamente de programas assistenciais chegaram a representar 30% da população.

O sistema bancário entrou em colapso, e houve uma corrida aos bancos. A fazenda teve que retroceder nas liberalizações, elevando a tarifa de importação de 9% para 20%. De 1973 a 1986 praticamente não houve crescimento econômico no Chile.

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Já tô até vendo o Chile ficar semelhante a Coréia do Sul ou o Japão, afinal de contas eles têm uma grande base industrial e investem muito em ciência e tecnologia.   :biglol:

Super Chile para o alto e avante!   :hihi:

Uma pessoa já me disse que o Super Chile recebia benesses dos EUA justamente para ser um exemplo do Neo Liberalismo na AL e assim os outros países da AL  pensarem que era uma boa submeter-se aos EUA.

« Última modificação: 21 de Julho de 2008, 11:54:28 por Helder »

Offline DDV

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #9 Online: 21 de Julho de 2008, 13:34:45 »
O Laissez-Faire nunca foi totalmente aplicado na sua forma mais pura (austríaca), mas deu bons resultados onde foi um pouco aplicado. Hong Kong, Irlanda, Nova Zelandia, Autrália, e etc..

Na AL temos o exemplo do Chile que experimentou um pouco da liberdade dos Chicagos Boys.


Engraçado, você me faz lembrar os comunistas, que dizem que o verdadeiro socialismo nunca foi aplicado de fato.

Eu particularmente não sou um intervencionista radical, e muito menos opositor radical do laissez-faire (me considero 60% keynesiano e 40% neoliberal  :)), porém dizer que o laissez-faire radical é a melhor opção para a economia a essa altura, após tudo o que a história mostrou, é algo tão crivado de irrealidade quanto dizer que o comunismo também o é.

Para focar melhor essa discussão, temos que ter em mente os seguintes pontos:

1- A teoria econômica clássica (laissez-faire) afirma que a economia se auto-regularia de tal forma que tenderia espontaneamente ao pleno-emprego (dentro da teoria econômica clássica não há lugar para desemprego involuntário não-transitório) e não haveria crises cíclicas.

2- A teoria econômica keynesiana afirma que o pleno-emprego não é uma tendência automática da economia, mas que ela tende a entrar em um "equilíbrio" com desemprego. Afirma também serem as crises cíclicas plenamente naturais ou mesmo inevitáveis, mesmo em uma economia regulada ( a intervenção estatal teria mais um papel de retardar a chegada e acelerar a saída da crise com um mínimo de efeitos nocivos).

Provavelmente ninguém aqui irá discutir, e todos concordarão que a realidade se comporta mais como em 2 do que em 1. Isso não significa, porém, que o laissez-faire radical esteja errado e a intervenção estatal preconizada pelo keynesianismo esteja correta. Apena serve para afunilar o foco da defesa do laissez-faire radical. Uma defesa do laissez-faire radical deverá basear-se necessariamente no seguinte ponto:

Os países antes da década de 30 não praticavam o laissez-faire "puro", e eram essas práticas não-condizentes com o laissez-faire que ocasionavam o desemprego involuntário crônico (não-transitório) e as crises cíclicas.


Você citou alguns países onde a adoção de um laissez-faire acima da média mundial teria ocasionado um desenvolvimento econômico, redução do desemprego e estabilidade econômica também acima da média mundial. O problema é que também há muitos países que atingiram índices melhores ou iguais a esses que não praticam o laissez-faire radical, assim como nesses países é possível apontar intervenções estatais em áreas bastante significativas. O Chile, por exemplo, tem uma economia bastante dependente da exportação estatal de cobre, a Auistrália eu não sei como anda atualmente, mas tem um forte histórico de intervenção estatal (Keynes cita a política de salários reais (não os nominais) rígidos adotados pelo governo australiano).

Em fim, a realidade e o ideal não está nem com o intervencionismo radical nem com o laissez-faire radical, mas em algum ponto intermediário. Porém o laissez-faire radical é muito mais irrealista, pois enquanto o maior defeito do keynesianismo é a subestimação da inflação, o laissez-faire superestima coisas demais na economia.     

 
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Offline JJ

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #10 Online: 21 de Julho de 2008, 13:55:02 »
O meu posicionamento é bem semelhante ao do Dono da Verdade !  :ok:

Nem 100% de liberalismo nem 100% de intervencionismo.

Sequer os EUA, que são apologistas do liberalismo econômico, são 100% liberais.

Tem gente que quer ser mais realista do que o rei!  :o

Offline Moro

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #11 Online: 21 de Julho de 2008, 21:00:27 »
ops, postei no tópico errado. era aqui: ../forum/topic=16905.50.html#msg341999
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Offline Luiz Souto

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #12 Online: 22 de Julho de 2008, 13:42:52 »
O Laissez-Faire nunca foi totalmente aplicado na sua forma mais pura (austríaca), mas deu bons resultados onde foi um pouco aplicado. Hong Kong, Irlanda, Nova Zelandia, Autrália, e etc..

Na AL temos o exemplo do Chile que experimentou um pouco da liberdade dos Chicagos Boys.

Engraçado, você me faz lembrar os comunistas, que dizem que o verdadeiro socialismo nunca foi aplicado de fato.

Eu particularmente não sou um intervencionista radical, e muito menos opositor radical do laissez-faire (me considero 60% keynesiano e 40% neoliberal  :)), porém dizer que o laissez-faire radical é a melhor opção para a economia a essa altura, após tudo o que a história mostrou, é algo tão crivado de irrealidade quanto dizer que o comunismo também o é.


Tanto com os neo liberais como com os comunistas o discurso é de viés religioso: a doutrina está certa mas os erros dos homens é que não a fazem funcionar... E todos os fatos em contrário são respondidos com um " nunca foi aplicado como deveria ser". Em suma : utopias.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Rhyan

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #13 Online: 22 de Julho de 2008, 13:55:31 »
Utopias? Talvez. Mas me diga quem se deu melhor, a União Soviética ou a Irlanda por ex.?

Offline Luiz Souto

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #14 Online: 22 de Julho de 2008, 14:27:57 »
A Irlanda aplicou o laissez faire puro , austriacamente falando?
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Offline -Huxley-

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #15 Online: 23 de Julho de 2008, 23:52:29 »
Dono da verdade,

O paradigma keynesiano parte do pressuposto que a abordagem clássica do equilíbrio não funciona porque estas condições não são satisfeitas:  i) flexibilidade dos preços dos fatores (capital, trabalho); ii) funções de (excesso) de demanda ‘bem comportadas’ por fatores de produção em geral, e por “capital” em particular. Para entender isso e também a razão da necessidade da adoção do princípio da demanda efetiva, ver :
http://franklinserrano.files.wordpress.com/2008/03/equilibrio-neoclassico-mercado-de-fatores.pdf

Eu sugeriria o blog como um todo, ele é fantástico!

Agora é minha vez de dar a opinião.

Um ponto interessante da teoria de Keynes é a eficiência marginal do capital (EMgK). EMgK é a expectativa do valor presente do lucro adicional (na margem) gerada pela aquisição de uma unidade adicional do bem de capital (Le) ao longo de sua vida útil, dividida pelo preço de oferta do bem de capital (Pk). EMgK= Le/Pk. O capitalista só investe quando a taxa de juros de empréstimo está menor do que a eficiência marginal do capital. Há volatilidade nas expectativas de EMgK, logo esta é a fonte básica da instabilidade da demanda, da produção e do emprego na economia capitalista segundo Keynes. O que poderia causar uma queda na lucratividade esperada? Por exemplo, digamos que os consumidores resolvessem economizar ¼ de seus rendimentos, o que aconteceria? Na visão de Keynes, a menor demanda geraria uma queda na lucratividade esperada e redução da produção. Mas para o neoclássico Eugen von Böhm-Bawek, isso não aconteceria porque:

“Não é difícil observar a falha de raciocínio. Ela está relacionada a uma das premissas; aquela que afirma que a redução do consumo pelo prazer imediato deve envolver também redução da produção está errada. A verdade é que a redução do consumo envolve não uma redução genérica da produção, mas somente, através da lei da oferta e da demanda, a redução de certas ramificações. (...) Porém, não haverá uma menor produção de bens de uma forma geral, porque a produção reduzida de bens prontos para o consumo direto pode ser desviada por um aumento na produção de ‘bens intermediários’ ou bens de capital. (...) Em outras palavras, aqueles que economizam reduzem seu interesse por bens de consumo no momento simplesmente para aumentar proporcionalmente a demanda por bens de consumo no futuro.”

E. Böhm-Bawerk: The Function of Saving The ANNALS of the American Academy of Political and Social Science, n.304, p.62, maio de 1901. 

Se a taxa de juros é inteiramente flexível e a demanda por investimento elástica em relação à taxa de juros, o equilíbrio de mercado garante que toda esta poupança extra será absorvida pelo investimento aumentado. Entretanto, se por algum motivo a taxa de juros nominal for rígida (como pensava Keynes) ou demanda por investimento for inelástica em relação à taxa de juros (como pensam Samuelson e outros da síntese neoclássica), não há como uma redução de consumo por si só gerar aumento de investimento. Ainda na visão de Keynes, uma queda nos salários nominais no caso de desemprego certamente AUMENTARIA a taxa real de juros, uma vez que a deflação de salários e preços ocorreria tendo como pano de fundo uma taxa nominal de juros fixa.

O Keynesianismo, na forma mais próxima da pura, existe numa vertente chamada de "pós-keynesianos". Eles são mais bem próximos de Michal Kalecki, que sempre foi mais fiel ao princípio da demanda efetiva que o próprio Keynes. Algumas características do principal guru dos pós-keynesianos (escrita numa comunidade do orkut por um kaleckiano), que muitos consideram superior a Keynes: a) escrita clara e objetiva; b) leva a demanda efetiva até as ultimas consequências; c) não faz concessões aos neoclássicos, como aceitar que o salário real é igual a produtividade marginal do capital (a teoria de concorrência imperfeita é de 1933); d) tem uma preocupação com o desenvolvimento da periferia, por isso avança mais na teoria da restrição externa; e) cria o príncipio do risco crescente; f) desenvolve uma teoria de preços microeconômica. Devido a essas coisas, eu também sugeriria a leitura de "Teoria da Dinâmica Econômica" de Michal Kalecki (Editora Abril Cultural).
« Última modificação: 24 de Julho de 2008, 00:00:33 por -Huxley- »

Offline Herf

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #16 Online: 24 de Julho de 2008, 14:15:07 »
O Laissez-Faire nunca foi totalmente aplicado na sua forma mais pura (austríaca), mas deu bons resultados onde foi um pouco aplicado. Hong Kong, Irlanda, Nova Zelandia, Autrália, e etc..

Na AL temos o exemplo do Chile que experimentou um pouco da liberdade dos Chicagos Boys.

Engraçado, você me faz lembrar os comunistas, que dizem que o verdadeiro socialismo nunca foi aplicado de fato.

Eu particularmente não sou um intervencionista radical, e muito menos opositor radical do laissez-faire (me considero 60% keynesiano e 40% neoliberal  :)), porém dizer que o laissez-faire radical é a melhor opção para a economia a essa altura, após tudo o que a história mostrou, é algo tão crivado de irrealidade quanto dizer que o comunismo também o é.


Tanto com os neo liberais como com os comunistas o discurso é de viés religioso: a doutrina está certa mas os erros dos homens é que não a fazem funcionar... E todos os fatos em contrário são respondidos com um " nunca foi aplicado como deveria ser". Em suma : utopias.
Adeptos do "socialismo democrático" também não vêm com esta explicação?
« Última modificação: 24 de Julho de 2008, 14:19:11 por Herf »

Offline DDV

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #17 Online: 24 de Julho de 2008, 15:14:01 »
Utopias? Talvez. Mas me diga quem se deu melhor, a União Soviética ou a Irlanda por ex.?

Rhyan, a URSS era comunista, portanto não tem cabimento citá-la aqui num debate entre keynesianismo e neoliberalismo. É como se em uma discussão sobre o Audi ser melhor ou pior do que o BMW alguém colocasse o Chevete no meio. Ninguém aqui está questionando a economia de mercado ("capitalismo"). Suécia e França são exemplos mais apropriados para você citar.

Muita gente acha que o keynesianismo é algo "de esquerda". Tanto a direita faz essa associação como a esquerda muitas vezes "recruta" o keynesianismo para suas fileiras ideológicas. Mas isso está errado. A preocupação de Keynes era puramente econômica. Ele não defendia intervenção estatal para fazer "justiça social" ou coisa do tipo, mas simplesmente porque para ele a economia funcionaria melhor assim, beneficiando a todos, inclusive os ricos.


Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Offline DDV

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Re: Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #18 Online: 24 de Julho de 2008, 15:24:20 »
Huxley

Vou dar uma olhada no link que você postou, me parece ser muito bom.

Sobre essa citação de Böhm-Bawek, tentando refutar a tese de que o aumento da poupança diminui a demanda global:

Não é difícil observar a falha de raciocínio. Ela está relacionada a uma das premissas; aquela que afirma que a redução do consumo pelo prazer imediato deve envolver também redução da produção está errada. A verdade é que a redução do consumo envolve não uma redução genérica da produção, mas somente, através da lei da oferta e da demanda, a redução de certas ramificações. (...) Porém, não haverá uma menor produção de bens de uma forma geral, porque a produção reduzida de bens prontos para o consumo direto pode ser desviada por um aumento na produção de ‘bens intermediários’ ou bens de capital. (...) Em outras palavras, aqueles que economizam reduzem seu interesse por bens de consumo no momento simplesmente para aumentar proporcionalmente a demanda por bens de consumo no futuro.”


Ele cai exatamente na mesma explicação clássica: a de que um aumento na poupança levará necessariamente a um aumento nos investimentos na mesma proporção, e portanto a redução da demanda por bens de consumo será compensada pelo aumento da demanda de bens de capital. Mas Keynes refuta isso no texto que eu postei sobre a poupança, dizendo que uma abstenção do consumo atual não sinaliza automaticamente um aumento do consumo em uma determinada época futura, e portanto não causa impacto positivo na eficiência marginal do capital na mesma proporção em que causa impacto negativo na demanda efetiva atual.
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Offline Fabi

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Re:Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #19 Online: 05 de Novembro de 2011, 00:19:49 »
Eu tava lendo sobre o New Deal e a queda da bolsa de Nova York em 1929, e descobri que todas as melhoras do capitalismo não foram obras de Marx ou comunistas/socialistas mas sim de Keynes.

Salário mínimo, seguro desemprego, redução de hora de trabalho.... Nada disso é obra de Marx, na verdade Marx odiava a idéia de melhora de condições para os operários, porque segundo ele isso faria o operário se sentir burguês. Marx pregava a constante tensão entre as classes, coisa que Mao Tse Tung e Pol Pot fizeram muito bem. 

A única coisa que as idéias de Karl Marx fizeram foi matar 100 milhões de pessoas a troco de uma utopia furada...:tedio:

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Offline Moro

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Re:Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #20 Online: 05 de Novembro de 2011, 00:33:08 »
Utopias? Talvez. Mas me diga quem se deu melhor, a União Soviética ou a Irlanda por ex.?

Ihhh.. cadê o Rhyan agora :-)
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Offline LaraAS

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Re:Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #21 Online: 05 de Novembro de 2011, 00:56:38 »
Eu tava lendo sobre o New Deal e a queda da bolsa de Nova York em 1929, e descobri que todas as melhoras do capitalismo não foram obras de Marx ou comunistas/socialistas mas sim de Keynes.

Salário mínimo, seguro desemprego, redução de hora de trabalho.... Nada disso é obra de Marx, na verdade Marx odiava a idéia de melhora de condições para os operários, porque segundo ele isso faria o operário se sentir burguês. Marx pregava a constante tensão entre as classes, coisa que Mao Tse Tung e Pol Pot fizeram muito bem. 

A única coisa que as idéias de Karl Marx fizeram foi matar 100 milhões de pessoas a troco de uma utopia furada...:tedio:


        Bom ,mas no caso de social-democratas eles ajudaram a fazer essas melhoras (e em alguns países os social-democratas são chamados de "socialistas")  a redução das horas de trabalho ,foi feita antes da implemantação do Keynesianismo,na verdade os social-democratas mesmo quando ainda se diziam formalmente marxistas já tinham abandonado o marxismo na prática ,e depois entre as décadas de 50 e 70 abandoram formalmente de vez ,abandonaram o marxismo de jure mesmo.
       

Offline Sergiomgbr

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Re:Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #22 Online: 06 de Novembro de 2011, 18:56:52 »
Keynesianismo - Utópico
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Bolsonaro neles

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Re:Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #23 Online: 11 de Novembro de 2011, 14:39:39 »
Só passei aqui pra dizer que o DDV é comunista.

Offline Gaúcho

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Re:Keynesianismo - O Tópico
« Resposta #24 Online: 11 de Novembro de 2011, 20:09:23 »
Só passei aqui pra dizer que o DDV é comunista.

Por que você o odeia?
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