Putz, Eremita...publica ai esse livro....a amostra gratis já foi bacana
Valeu!!!
Tenho mais umas poesias... tá, não são românticas, mas vou tacar aqui que não vou criar um tópico novo só pra isso.
Concreto ArmadoCercado de muros de tijolos
Protejo-me da minha própria liberdade
Cercado de aço e alumínio
Pertenço a um mundo decadente
Cercado de fórmica e nylon
Descubro valores vagos e vazios
Cercado de cédulas e celulares
Sinto minha solidão tomando forma.
Cercado de THC e anfetaminas
Vejos sonhos disformes de um mundo melhor
Cercado de concreto armado
Percebo como ainda somos selvagens
[EDIT: eu esqueci de colar o último verso, "percebo como..." O.o]
Os Mortos, IBusca o chinelo com os olhos,
São cinco para as sete na tarde tardia,
De um feriado picareta,
Cúmplice lisérgico do vagabundo cotidiano.
O Sol pela janela digere, pouco-a-pouco,
As obras de arte geradas pelo travesseiro.
Deixa para trás, apenas:
A blusa rota,
A confortável entorpecência
O sermão fora de missa,
O rádio ligado fora de estação,
O standby da CPU mental,
E de qualquer sangue a 60 Hertz na veia,
Pois ele ainda se sente.
Seu cachorro velho
(Tão velho que nasceu velho)
Coça e lambe as próprias chagas,
Em apoio moral a sua decadência.
Lá fora nubla, se chove ignora, não sai ver;
E a cidade, tão oca quanto sua barriga
(Mas a preguiça mata o jantar).
Celebra um sanduíche,
O pão e o cão são contemporâneos...
Um mínimo nutritivo
E substituto do sabor ausente.
Jaz sua mente em sono profundo,
Dormita em sepulcro.
Não importa. Dormiu a tarde inteira,
O dia inteiro,
A vida inteira.
E agora, perambula pela casa,
Zumbi burro que só assombra a si mesmo.
Os Mortos, IIDiga-me, e se preciso minta:
Já passam das seis da manhã?
Estou cansado,
E meu sono desistiu há tempos
De aplacar o tédio.
Peço-lhe coisas simples:
Um cigarro e uma vida menos infeliz.
O resto, o tempo arranja.
Dê-me algum, aliás, se tiver...
Pois o tempo que tenho está estragado,
Não me serve mais.
O Marx e o Bakunin juntam pó,
As traças proletárias fazem deles melhor uso.
As moscas já expropriaram a cozinha
E a burguesia do Homo está decadente.
Quanto à vida, esquece.
Fica pros próximos quinze minutos.
Afinal, viver é sempre @diável...
Jardim de Inverno Um por um os cacos feriram o chão, era inevitável... não negarei o prazer dos golpes, e que os estilhaços cintilando em meus ouvidos eram como uma melodia bela, fúnebre e violenta.
O que é belo um dia perece; mas o jardim de inverno, merecia. Intocável demais, sagrado demais, puro demais; para visto e admirado de longe.
Tinha eu, no final: o rosto sangrando dos cacos desesperados, os olhos embotados de raiva e felicidade, e os braços fatigados pelo martelo.
Ainda havia uma touceira de beijos-de-frade, intacta. Única, pela ousadia de florescer sem ser plantada; única, por ser palpável, vulgar; únicos, escondida frente à exuberância da elite da primavera. E, única, escapou assim acidentalmente da minha cólera. A ela, não restou outra solução além de um vaso em minha janela.
Em meio a tanta beleza rara e inatingível, o comum e atingível torna-se a única coisa que merece ser preservada.