Autor Tópico: É viável o Anarco-Capitalismo?  (Lida 3811 vezes)

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Rhyan

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É viável o Anarco-Capitalismo?
« Online: 04 de Agosto de 2008, 11:03:41 »
É viável o Anarco-Capitalismo?

Poderíamos dizer que todos os liberais compartilham a celebre máxima de Jefferson: “O melhor governo é aquele que menos governa”. Nesta mesma linha de raciocínio, defendemos o livre mercado e a liberdade do individuo frente à intervenção do Estado, apostamos ainda na desregulação e privatização em pontos como energia elétrica, saúde, educação, previdência, direito de cunhagem privada de moedas e ainda professamos uma aversão completa aos impostos e pelos “delitos sem vitimas”. Não obstante, alguns liberais levaram a máxima de Jefferson às suas ultimas conseqüências e sustentam que o melhor governo é aquele que não governa em absoluto: advogam pela desregulação e privatização de todos os serviços e espaços públicos e também pela abolição de todos os impostos. Esta corrente recebe o nome de anarco-capitalismo, ou anarquismo de mercado, e, a diferença do minarquismo, que patrocina um Estado mínimo, postula que o Estado é ilegítimo e abertamente contraproducente, inclusive nos âmbitos em que o Estado é considerado como imprescindível.

O Estado mínimo: agressivo, ineficiente... e utópico?

Do ponto de vista ético, o liberalismo pode reduzir-se ao principio de não agressão: é ilegítimo iniciar força contra terceiros, atentar contra a integridade física e a propriedade de outros. O Estado mínimo, tanto em relação à carga tributária (confiscando a propriedade alheia), ou impondo barreiras de entrada no âmbito comercial de certos tipos de serviços (emprega a coação para impedir a entrada de outros competidores que possam oferecer serviços de segurança, defesa e justiça), inicia a força necessariamente, logo, está em contradição com este principio.

O Estado monopoliza o uso da força em um determinado território. Um monopolista não tem incentivos para melhorar a qualidade de seus serviços nem para reduzir seus preços, pois não tem competidores. Se somente eu posso oferecer serviços de limpeza, por exemplo, não esperem que eu cobre pouco nem que limpe sua casa com cuidado. Por que deveria fazê-lo? Eu tenho o monopólio da limpeza, e você não poderá recorrer a mais ninguém.

No caso dos monopólios públicos em que a força nos obriga a paga-los (impostos), alem de não terem incentivo algum para nos oferecer serviços de qualidade, o Estado pode aumentar o preço que quiser aos beneficiários em forma de confiscação. Por outro lado, a impossibilidade do calculo econômico em um cenário carente de outros preços de mercado, é tão aplicável no âmbito de prestação de serviços de segurança ou do serviço de justiça, como também do de saúde ou das telecomunicações.

Nos setores nacionalizados pelo Estado não surgem preços de mercado, e os burocratas procedem livremente: quanto dinheiro deve se destinar à segurança e justiça: 5% de imposto? Por que não 15%? Por que não todo o imposto? Como estima o Estado o quão prioritária é a segurança e a justiça para os indivíduos sem preços de mercado? Em que medida os recursos destinados às ditas fatias produtivas não estariam melhores empregadas em noutro lugar? Como sabe o Estado que projetos devem ser financiados e qual a forma mais eficiente de racionalizá-los?

Porem, ainda há uma questão mais fundamental? É o Estado mínimo uma proposta realista? Por que o ônus da prova sobre a validade recai sobre o anarco-capitalismo e não sob o Estado mínimo? De pouco serve argüir que as sociedades sem Estado são uma anomalia histórica, pois nenhum Estado mínimo permaneceu mínimo por muito tempo. Neste sentido, vale a pena perguntar se um monopólio de força, uma vez estabelecido, pode chegar a permanecer limitado; ou o contrário, se sua estrutura de incentivos não leva os políticos ou grupos de interesse a aumentar incessantemente seus proventos, com que o que o Estado mínimo tenda a se degenerar em um Estado intervencionista.

A alternativa anarco-capitalista.

Por que é preferível a alternativa anarco-capitalista? Desde o ponto de vista ético, um sistema de mercado puro, em que não haja barreiras de entrada de todos os produtos e serviços que são vendidos e comprados voluntariamente (inclusive a segurança e justiça), é um sistema em que, per se, não implica o inicio de força contra inocentes. Não existem impostos, logo não se usurpa sistematicamente a propriedade alheia, e não se impede que pela força dos indivíduos estes se organizem para dispor de justiça e segurança (formando empresas, associações para qualquer tipo de atividade). Por outro lado, a provisão de justiça e segurança já não adoeceria dos problemas relacionados ao incentivo do problema do calculo econômico que padece o monopólio publico do Estado. As agencias de proteção (empresas dedicadas a proteger os indivíduos das agressões externas) teriam incentivos a prover o melhor serviço ao menor preço possível, e captar assim mais clientes. A emergência de preços e a possibilidade de testes entre esta e outras agencias permitiria que estas agências questionassem seus recursos do modo mais eficiente possível.

Também devemos considerar que se o Estado mínimo é, em efeito, utópico, por que a estrutura de incentivos que institui o empurra para a expansão, então a verdadeira diferença não se estabelece entre o anarco-capitalismo e o Estado mínimo, mas sim entre o anarco-capitalismo e o Estado de bem-estar social.

Agora, nos encontramos em um cenário anarco-capitalista. Não existem impostos e os serviços de força pública (policia, ou serviços de proteção publica) são encontrados livremente no mercado, como qualquer outro bem. Neste contexto, Miguel contrata os serviços de proteção da agencia “A”, e Pedro, seu vizinho, os serviços da agencia de proteção “B”. A agencia “A” se compromete por contrato proteger Miguel das agressões de outros indivíduos em troca de um prêmio anual, e a agência “B” se compromete a proteger Pedro das agressões de outros indivíduos em troca, igualmente, de uma tarifa. Agora, suponhamos que surja um conflito entre ambos os vizinhos: Miguel acusa Pedro de roubar suas jóias. O que haveria de acontecer? Uma guerra entre as duas companhias, responderiam algumas pessoas. Miguel iria se socorrer em sua agencia para que possa recuperar suas jóias, e Pedro iria pedir ajuda a sua agência para que proteja Miguel de sua companhia. Deste modo, todos os conflitos entre clientes de diferentes agências seriam resolvidos a tiros, e o anarco-capitalismo derivará em uma anarquia hobbesiana.

Porém, por que assumir que as empresas resolveriam de forma violenta todos os conflitos que surgissem entre os seus clientes? As guerras são caras, e as empresas buscam maximizar seus benefícios, não seus gastos. É conveniente resolver de forma violenta todos os conflitos com as demais agências, ou chegar a um acordo e estabelecer mecanismos para revolver aquela questão de uma forma amigável? Assim, as agencias “A” e “B” poderiam acordar que os conflitos entre seus clientes fossem resolvidos por um tribunal determinado e comprometendo-se a acatar os seus veredictos. O conflito entre Miguel e Pedro seria levado a um tribunal privado. Em caso de se manifestar no sentido de ir contra Pedro, a agencia de Miguel o deteria e o obrigaria a restituir as jóias e o valor da restituição sem que a agência do primeiro faça nada para impedi-lo.

Examinemos a problemática dos conflitos entre as agencias por um outro ângulo. Na atualidade, quando um peruano, protegido pelo Estado peruano, acusa de crime um cidadão espanhol, protegido pelo Estado espanhol, é declarada alguma guerra entre a Espanha e o Peru? Existe uma impossibilidade prática deste conflito ser resolvido de maneira pacifica sem que intervenha uma entidade decisória superior, ou ambos os estados tem fortes incentivos para não se meterem em guerras e disputas deste tipo e articulam mecanismos cooperativos para evita-las?

De certa maneira, os cidadãos dos diferentes estados encontram-se, entre si, em uma situação de anarquia. Não se requer que nenhum supraestatado evite que surjam conflitos interestatais violentos quando um cidadão de um país cometa um crime contra um cidadão de outro país. De fato que o Estado espanhol seja mais poderoso que o Estado Peruano não impede que ambos resolvam a disputa pacificamente e de mútuo acordo. Então, se os conflitos entre cidadãos de distintos Estados resolvem-se regularmente de forma pacifica, sem a necessidade de nenhum governo mundial, por que não iriam as distintas agencias resolver os conflitos entre seus clientes de forma pacifica, sem a necessidade de que exista nenhum Estado? É um fato que existe no mundo um número grande de Estados e que uns sejam mais fortes que outros, mas nem por isso esta situação nos leva a uma guerra contínua de todos contra todos, nem exigindo para tanto um governo mundial, por que deveria ser o contrário nos casos das agencias de proteção privada?

Tem quem levante a questão de que as agencias de proteção lutariam entre si porque protegeriam seus clientes a qualquer preço. Por que assumimos isso como verdade? Por que as empresas não iriam estabelecer em seus contratos que a proteção se extingue caso seu cliente seja declarado culpado por um tribunal por ela reconhecido?

Em primeiro lugar, a agencia que iria proteger os indivíduos tidos por agressores perderiam toda a sua reputação em uma sociedade livre, convertendo-se assim em agencia protetiva de agressores. Os clientes não criminosos tenderiam a abandoná-la, por não quererem ficar vinculados a ladrões e assassinos. E, os clientes honrados, também dela se retirariam, pelo mesmo motivo. A mudança de clientes diminuiria o poder desta empresa.

Em segundo lugar, na medida em que a agencia protegesse os indivíduos considerados culpados por tribunais respeitados, enfrentar-se-iam as agencias das vítimas com as agencias dos agressores os auxiliam. Se a agencia em questão não aceitar se submeter ao veredicto de nenhum tribunal e seus clientes fossem julgados culpados por um tribunal socialmente respeitável, os conflitos seriam entre esta e as demais agencias resolvidos violentamente.

Tenha-se em conta que a agencia agressora resolveria todos os seus conflitos entre as agencias (não violentas) de formas violenta, enquanto que as demais somente o fariam com os que incluírem-se naquela. Como os enfrentamentos armados acarretam custos elevados e as agencias não podem externalizá-los (carregá-los sobre terceiros como faz o Estado via tributação), subiriam as tarifas para financiá-los. O que mais elevaria as tarifas, obviamente, seria a pratica de uma política belicista: que protegeria apenas os agressores. E de novo, estaríamos ante a um êxodo de clientes para as demais agências (as agencias que não protegem os criminosos)

Em definitivo, as agencias que protegessem os indivíduos sentenciados como criminosos se exporiam ao aumento de suas tarifas e a fuga de seus clientes, o que as levaria a bancarrota (ou a da derrota bélica). Os incentivos, pois, vão em outra direção.

Um mundo sem garantias.

Alega-se que as pessoas têm direito a serem livres, e que a proteção frente às agressões deva estar garantida. Não basta que a proteção seja provida pelo livre mercado: é necessário um Estado que garanta todos os seus direitos.

Em primeiro lugar, que eu tenha o direito a ser livre não significa que tal direito deva ser garantido por ninguém, no sentido de que outros tenham a obrigação de prover-me de serviços como justiça e segurança. Tenho direito a que outros não me roubem, porem, não tenho o direito a roubar outros para isso.

Em segundo lugar, alguns crêem que, pelo fato do Estado dizer que garante algo ou que se goza de determinados direitos, verdadeiramente aquelas garantias que os torna efetivo. Pergunta: Temos a segurança e justiça garantida por mero capricho por que está prescrito na Constituição ou nas leis? As pessoas agredidas a quem a policia não atendeu porque estava efetuando prisões contra usuários de drogas; as vitimas que não recebem nenhum centavo de restituição porque o sistema não está orientado para as vitimas; os que vêem como seus ofensores são postos em liberdade logos após cumprir uma pena simbólica; têm ainda aqueles que já nem denunciam os delitos, ante a ineficácia de justiça; tem aqueles que esperam anos para que sua casa seja analisada nos tribunais públicos; há os que sofrem abusos policiais ou maltratados nas prisões lotadas porque não se cuida da reputação em um processo competitivo... a todos esta indivíduos importa bem pouco o que diz a Constituição ou as leis. Para as pessoas que padecem dia a dia pela ineficiência do monopólio público da segurança e da justiça, a proteção não está organizada. A proteção não está claramente garantida. O relevante, portanto, não é se em uma sociedade sem Estado será garantida formalmente a proteção adequada a todos e cada um de seus integrantes, mas sim que o sistema possa oferecer na pratica uma melhor proteção.

Conclusão e Estado

Poderia se formar um conluio entre as distintas agências para submeter os as outras pessoas? Poderiam as agencias de proteção tornarem-se agressivas e instituírem elas um Estado? É possível, nada nega que não seja. A pergunta deve ser outra, entretanto. É provável que isso se suceda?

Se uma agencia oferecer um serviço ruim, ou se tornar despótica da noite para o dia, seus clientes mudariam de companhia e esta ficaria sem fundos. Com o Estado, por outro lado, isto não se sucede: não podemos mudar de provedor se o Estado vai à guerra, se aumenta os impostos ou presta um serviço ruim.

Ademais, os mesmo incentivos que supostamente promovem a criação de um cartel explorador são os mesmos que o fazem instável e apontam para sua dissolução, pois a empresa que foge de um cartel atrairia a todos aqueles clientes que não querem ser explorados. Por outro lado, se as agencias estão agindo de forma a funcionarem a formar um Estado, por que os diferentes Estados nacionais não se fundem e formam um governo mundial?

Resulta curioso que, ante a possibilidade das agencias se voltarem agressivas e se fundirem, se defenda a instituição do Estado, que é agressivo per se. Ou seja, temendo a formação de um monopólio explorador, alguns advogam por instituir... um monopólio espoliador.

Por ultimo, e não porque seja menos importante, a resistência da população a ser submetida dificultaria a consolidação de tal monopólio espoliador. Uma sociedade anarco-capitalista pressupõe uma maioria social hostil às agressões e a formação de um Estado, e, se as empresas decidirem converter-se em Estado, estariam arriscando as suas rendas certas provenientes de seus clientes por uma renda futura incerta procedente de alguns contribuintes. Isso sem levar em conta as restrições morais dos próprios empresários e empregados das agencias de proteção. É razoável pensar que as pessoas que um dia estarão protegendo outras pessoas passarão, ao dia seguinte, a subjugá-las e explorá-las? Na atualidade, a polícia e o exército podem sublevar-se e tomarem o controle das instituições, não obstante, não o fazem. Por que?

Anarco-capitalismo, consenso popular e direito consuetudinário.

Qualquer sistema requer um consenso popular suficiente para permanecer operativo. Nós não teríamos liberdade se a maioria das pessoas fosse favorável a um comunismo fervoroso. A democracia e o Estado de Bem Estar existem porque as pessoas os toleram, ativa ou passivamente.

O anarco-capitalismo não é nenhuma exceção à regra. Sua viabilidade exige que uma maioria suficientemente da população o aceite expressa ou tacitamente. Deste modo, posto que as leis seriam provida pelo mercado, seu conteúdo obedecer-lhe-ia, de acordo com a demanda da população. Se a população demandasse leis liberais, se em geral os indivíduos demandassem leis que os protegessem das agressões (assassinatos, roubos, violações, fraude etc.), os tribunais que acudissem as agencias desenvolveriam preceitos legais atendendo aos principio liberais.

O resultado seria um sistema legal descentralizado, similar ao sistema da common law, em que os jurados e juizes tentariam resolver as disputas guiados tanto pelos princípios abstratos de justiça como pelos precedentes estabelecidos anteriormente, e examinando acerca do contexto factual e todas as suas variáveis. As agencias de segurança levariam os casos de seus clientes a estes tribunais e executariam os seus veredictos.

A historia demonstra que o anarco-capitalismo...

A historia não pode, por definição, demonstrar algo que depende da vontade dos homens, precisamente porque a historia estuda feitos históricos, passados. A historia, resumidamente, somente pode nos dizer que até o presente momento a anarquia não existiu, e que sempre houve um Estado; porem, não pode sentenciar que no futuro continuará assim. Afinal, quando não havia nenhuma democracia no mundo, os monarcas também poderiam ter acusado de utópicos os democratas, dizendo-lhes que o sistema que defendiam não era aplicável porque a historia apenas recorria a exemplos de democracia. Hoje, não obstante, a democracia é o sistema de governo mais usual.

Seja como for, tampouco é certo que não haja havido nunca sociedades sem Estado, ou exemplos de lei policêntrica ou privada: estão estes na Irlanda celta, Islândia na idade média, na common law inglesa em seus primórdios; o Direito comercial anglo-saxão; as comunidades primitivas como os papuas na Nova Guiné ou no Selvagem Oeste norte-americano, que não foi tão selvagem graças ao surgimento de mecanismos privados de resolução de conflitos.

Em qualquer caso, se o anarco-capitalismo é teoricamente o sistema mais desejável, por que não foi imposto por de cima dos demais sistemas? Em primeiro lugar, desta pergunta parece depreender que a historia tem sido suficientemente larga para como o anarco-capitalismo tenha oportunidade para triunfar; porém, ainda cremos estar no cume da evolução, ou melhor, da história da Humanidade. Por outro lado, podemos sugerir algumas hipóteses desde a sociologia: talvez os indivíduos tenham a extrapolar os esquemas familiares e tribais da esfera política; ou suas crenças cientificistas e suas incompreensões do real processo de mercado levou-os a tradicionalmente propor soluções não satisfatórias aos problemas sociais; ou alguns, ainda, se limitaram a substituir a deidade religiosa pela secular.

Ao mesmo tempo, pode ser que seja difícil instaurar o Estado em um primeiro momento, mas uma vez estabelecido torna-se difícil de desmantelá-lo. Por ultimo, nada exime aos homens de persistirem continuamente ao erro. Não esqueçamos que as boas idéias às vezes tardam em ser descobertas, mas, uma vez descobertas, às vezes tardam em aplicá-las.

É viável o anarco-capitalismo?

A viabilidade do anarco-capitalismo, como de qualquer outro sistema político (seja o Estado de Bem Estar ou o totalitarismo cubano), requer a aceitação tácita ou explicita de uma massa crítica da população. Neste sentido, não se trata de se hoje o anarco-capitalismo é viável ou não. Tanto quanto a maior parte da população for de idéias estatista, obvio que esta não será anarco-capitalista. A questão é se o anarco-capitalismo é uma ordem social potencialmente viável, isto é, se pode ser viável. E enquanto sua implantação somente seja concebida em longo prazo, isso não que dizer que o anarco-capitalismo não sirva de guia na hora de determinar agora como deveriam ser as coisas de onde deveríamos partir.

http://precodosistema.blogspot.com/2008/03/poderamos-dizer-que-todos-os-liberais.html

Offline FxF

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #1 Online: 04 de Agosto de 2008, 19:08:22 »
Se você quer um mapa da pobreza, basta analisar o "Índice de Liberdade Econômica".


Mais liberdade, melhor economia. Meio liberal, economia meio fraca. Pouco liberal, economia ruim.

Porque continuam a insistir "o Estado tem que regular..."??

Rhyan

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #2 Online: 04 de Agosto de 2008, 19:22:43 »
O Anacap parece algo para o futuro, se dermos sorte de seguir o caminho da Liberdade. Ao longo dos séculos os governos vieram perdendo força, o mercado vem ganhando espaço, até que o mercado englobe tudo.

Se a Somália tivesse um livre mercado monetário e agências de segurança em vez de milícias, seria um bom ex. de Anacap.

Tem um livro que fala sobre a segurança 100% privada:
http://libertyzine.blogspot.com/2007/04/teoria-do-caos-robert-p-murphy.html

Offline JJ

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #3 Online: 04 de Agosto de 2008, 19:59:15 »
Nos morros do Rio de Janeiro existem algumas experiências de  A-Narco-Capitalismo .


 :histeria:

 
Lá o Estado é fraquinho,  fraquinho !      :histeria: 

Rhyan

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #4 Online: 04 de Agosto de 2008, 20:51:47 »
Algum cometário útil, Helder?

Offline Donatello

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #5 Online: 04 de Agosto de 2008, 21:13:55 »


Engraçado na metodologia deste índice é que são levados em conta, para determinar o nível de liberdade econômica, alguns critérios que não têm patavinas a ver com liberdade econômica: liberdade política e nível de corrupção...

Well, de qualquer modo, cada um vê o que quer e é daltônico ao seu próprio gosto. Eu vejo alguns dos países nos quais mais gostaria de viver (França, Espanha) pintados de amarelo; vejo alguns dos países em que menos gostaria de viver (EUA, Japão...) pintados de azul e verde. É claro que eu tenho que fazer um certo esforço para não ver Chile e Holanda pintados de verde, mas não um esforço maior do que outros fizeram para não enxergar Estônia, Lituânia e Armênia pintados com a mesma cor libertária ou a Noruega pintada de um amarelo social-democrata.

Quem fez tal esforço não viu também que o melhor IDH da África é vermelho, vermelhusco, vermelhão no mapa das "liberdades econômicas (afetado por liberdades outras)"; nem viu a Argentina (o outro país dentre os de melhor qualidade de vida da Sudamerica, além do Chile e do Uruguai) pintada de laranja. Nem ao menos viu o falimentar Paraguai e o ferrado Peru pintados com cores bem mais clarinhas que os relativamente estáveis (para os padrões sulamericanos) Brasil e Venezuela.

Viva o daltonismo seletivo!!! Com ele fica todo mundo feliz com sua religião ideologia econômica :ok:

IDH 2007 ->

« Última modificação: 04 de Agosto de 2008, 22:46:30 por Donatello van Dijck »

Offline FxF

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #6 Online: 05 de Agosto de 2008, 13:42:38 »
Se você quer criticar os métodos de avaliação do Index of Emonomic Freedom, não faz sentido falar em IDH...
IDH leva em conta, por exemplo, analfabetismo. O que impede um governo de colocar quem não sabe escrever o próprio nome como alfabetizado? Aliás, o Brasil para diminuiu a média de escolas para 4. Cuba tem fama de ter método de ensino "especial", aliás um dos objetivos oficiais de Cuba não é trabalhar o IDH?

Offline Donatello

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #7 Online: 06 de Agosto de 2008, 00:58:48 »
Uai! Então a liberdade econômica com a qual você tanto sonha tem um fim em sí mesma? Ok!Sendo assim não há dúvidas... concordo com você: os países mais livres economicamente são... deixe me ver... mais livres economicamente. Sim é isso!

É que eu pensava que as doutrinas econômicas (mesmo as que pregam um mercado totalitário e coisa e tal) tivessem como fim a possibilidade de maior expectativa de vida, menores índices de violência, incremento dos índices educacionais, coisas deste tipo... Também sempre pensei que uma economia sólida fosse, ainda, um meio e não o fim.

Então, se fosse isso, realmente a sua postagem não faria o menor sentido, já que a análise do mapa de liberdade econômica nos mostra países com economia forte, robusta e saudabilíssima pintados de amarelo; países com economia capenga pintados de verde; países com excelentes padrões de educação, saúde, distribuição de renda pintados de diversas cores.

Mas já que não é essa a questão, então eu dou o braço a torcer. Você é que está certo.

edit: Ah, e o que eu falei sobre os métodos de avaliação foi só uma ressalva. Eu realmente não ví o sentido em se contabilizar a liberdade política e os índices de corrupção para verificar o grau de liberalismo econômico em um país. Não tão mal comparando seria como levar em conta o número de apaixonados por futebol para definir o índice de desenvolvimento humano de um país, você não acha?
« Última modificação: 06 de Agosto de 2008, 01:07:39 por Donatello van Dijck »

Offline FZapp

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #8 Online: 06 de Agosto de 2008, 08:10:31 »
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Desde o ponto de vista ético, um sistema de mercado puro, em que não haja barreiras de entrada de todos os produtos e serviços que são vendidos e comprados voluntariamente (inclusive a segurança e justiça), é um sistema em que, per se, não implica o inicio de força contra inocentes.

Rhyan, não sei se sabe a resposta mas lá vai:

- Como poderia acusar-denunciar-julgar-condenar um ladrão ?
Uma coisa que deveriamos começar a pensar seria a eliminação de intermediários para constituição de câmaras de um poder legislativo que não mais representa a população (isto é, um meio de pauta e voto de itens pela população por voto direto e não por vereadores/deputados/senadores), então indo na mesma linha eu acho que sim poderiamos estabelecer e manter um regime de direito sem representantes. Mas isso ainda pressupõe a ação do judiciário, o direito de defesa, a prisão, julgamento, inclusive porque ainda estamos num esado de direito, isto é, temos deveres e direitos como cidadões.

Isto é: a polícia seria contratada ? Por quem ? De alguma maneira nós não contratamos já a polícia ? Porque cada ordem de prisão, mandado de segurança, busca e apreensão, boletim de ocorrência, é um 'chamado'. Isto é, a solicitação de atendimento. A diferença é que você não pode escolher pelo serviço, e aí falamos em concorrência. Num anarco-capitalismo então teriamos leis, direitos e deveres, aparelho judiciário, mas teriamos uma polícia privada ? E o judiciário ?

- Como poderiamos estabelecer o atendimento no ensino ?
Sem querer reproduzir todo o item sobre as escolas, e evitando a coleção de absurdos que apareceu nela, e tentando novamente perguntar o que perguntei e não fui respondido (e sim tachado de Maldito Marxista Estatizante Filho do Fidel), o importante é que, entre outros aspectos, o ensino precisa ser regulado.

Para ser prático e útil para as gerações que estão se formando (e por isso sendo ensinadas, dã), precisa de certa padronização, e entre elas temos métodos de ensino, que podem variar mas acabam convergindo numa série de itens, como avaliação, métricas para esta avaliação, métodos para avaliar a didática do professor, etc. E por outro lado um currículo mínimo para poder dizer o que é passar para a próxima série, por exemplo. Ou quando um sujeito está alfabetizado. Estas métricas são dinâmicas e mudam conforme a sociedade muda. Fiz uma comparação (tosca, mas é o que se me ocorreu) com o ABNT, isto é, embora haja centenas de milhares de empresas revendedoras e indústrias de ferramentas, existem organismos neutros para a padronização de tamanhos, modelos e processos de industrialização dessas ferramentas, que na verdade ajudam e muito a padronização do mercado, inclusive para saber se uma empresa prestas serviços bons ou não.

Pode me responder que a solução para o ensino é similar, isto é, a criação de um órgão regulador que mantenha estas métricas, currículo, grade para professores, grade para alunos, etc, .. mas acho que neste caso falariamos de Estado Mínimo e não de Anarco-Capitalismo.
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Offline FZapp

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #9 Online: 06 de Agosto de 2008, 08:15:02 »
Uma observação sobre anarquia. Eu acho que nosso modelo democrático deve tender para a anarquia, isto é, um modelo de maior responsabilidade de cada indivíduo, para o bem comum, sem a pressão da obrigação do estado dizendo o que devemos fazer para o bem comum.

Um exemplo disto é a reciclagem do lixo; não precisa um representante do estado me dizer que o lixo fede, e na verdade atrapalha quando me obriga a usar um aterro da minha regiã, que não recicla.

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Rhyan

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #10 Online: 06 de Agosto de 2008, 09:30:34 »
Rhyan, não sei se sabe a resposta mas lá vai:

- Como poderia acusar-denunciar-julgar-condenar um ladrão ?
Uma coisa que deveriamos começar a pensar seria a eliminação de intermediários para constituição de câmaras de um poder legislativo que não mais representa a população (isto é, um meio de pauta e voto de itens pela população por voto direto e não por vereadores/deputados/senadores), então indo na mesma linha eu acho que sim poderiamos estabelecer e manter um regime de direito sem representantes. Mas isso ainda pressupõe a ação do judiciário, o direito de defesa, a prisão, julgamento, inclusive porque ainda estamos num esado de direito, isto é, temos deveres e direitos como cidadões.

Isto é: a polícia seria contratada ? Por quem ? De alguma maneira nós não contratamos já a polícia ? Porque cada ordem de prisão, mandado de segurança, busca e apreensão, boletim de ocorrência, é um 'chamado'. Isto é, a solicitação de atendimento. A diferença é que você não pode escolher pelo serviço, e aí falamos em concorrência. Num anarco-capitalismo então teriamos leis, direitos e deveres, aparelho judiciário, mas teriamos uma polícia privada ? E o judiciário ?

Imagino que teriamos tribunais privados e a vítima contrataria uma empresa de segurança para se defender e acusar ou prender o ladrão. O David Friedman defende um mercado de leis, mas eu não conheço bem essa idéia.
O livro Teoria do Caos explica melhor esses pontos, dê uma olhada se te interessar.

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- Como poderiamos estabelecer o atendimento no ensino ?
Sem querer reproduzir todo o item sobre as escolas, e evitando a coleção de absurdos que apareceu nela, e tentando novamente perguntar o que perguntei e não fui respondido (e sim tachado de Maldito Marxista Estatizante Filho do Fidel), o importante é que, entre outros aspectos, o ensino precisa ser regulado.

Por que o ensino precisa ser regulado? Não poderia ser regulado por um orgão não-estatal?


Offline Barata Tenno

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #11 Online: 06 de Agosto de 2008, 10:29:45 »
Qual a diferença entre ser regulado por um órgão estatal ou um não-estatal?
He who fights with monsters should look to it that he himself does not become a monster. And when you gaze long into an abyss the abyss also gazes into you. Friedrich Nietzsche

Rhyan

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #12 Online: 06 de Agosto de 2008, 12:22:31 »
A diferença é que o orgão não-estatal não seria obrigatório. Faz parte dele quem quer.

Offline JUS EST ARS

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #13 Online: 06 de Agosto de 2008, 12:38:19 »
No órgão estatal que regula o ensino (MEC), a participação não é obrigatória. Se o integrante quiser sair ninguém cortará seu mindinho. Aliás, pessoas ingressam de forma facultativa, e querem tanto tomar parte que até estudam para um concurso público.

É evidente que há quem busque apenas um emprego, mas terá que antes ganhar na prova, demonstrando capacidade. Fosse privado, ocorreria de haver também quem só buscasse emprego, ou notoriedade, ou os dois.

Não vejo relevância portanto, nesse ponto.




*editado para corrigir erros gramaticais.
« Última modificação: 06 de Agosto de 2008, 12:40:47 por JUS EST ARS »

Offline Galthaar

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #14 Online: 06 de Agosto de 2008, 14:23:31 »

Acho que a participação a qual o Rhyan se refere é a obrigatoriedade de ser regulado pelo órgão, ou seja, ser incluso como instituição aprovada pelo órgão, e não de fazer parte dele como funcionário. Se eu estiver errado, por favor me corrija Rhyan.

"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

Moishe Postone, Tempo, trabalho e dominação social

Rhyan

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #15 Online: 06 de Agosto de 2008, 14:26:24 »
Como? As escolas não são obrigadas a seguir o mec?

Offline Galthaar

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #16 Online: 06 de Agosto de 2008, 14:37:21 »


Acho que está havendo uma confusão aqui Rhyan, o JUS EST ARS quis dizer que a participação da sociedade (como funcionários) não é obrigatória. Pelo menos foi o que eu entendi, mas posso também estar fazendo uma confusão...

"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

Moishe Postone, Tempo, trabalho e dominação social

Offline JUS EST ARS

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #17 Online: 06 de Agosto de 2008, 14:45:57 »

Entendi isso mesmo que o Galthaar falou.

Pois bem. Nesse modelo do Rhyan, uma escola de medicina desenvolveria uma grade que ensinaria somente homeopatia, florais de bach e curas místicas. O aluno ao final do curso seria habilitado a exercer a carreira médica, da mesma forma que um médico pode hoje.

Não sei, mas não me parece ser uma muito boa idéia.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #18 Online: 06 de Agosto de 2008, 19:56:21 »
Não li o texto principal ainda, só os comentários. Vou ler, mas já deixo a questão que vou procurar no texto: como é que o anarco-capitalismo não resultaria em plutocracia? Como é que o mercado favoreceria algo análogo à isonomia legal, sem ser "de cima para baixo", mas emergindo espontâneamente?

As respostas que considero possíveis seriam que 1 - num anarco-capitalismo ou algo similar as pessoas prosperariam mais, não sendo roubadas pelo estado nem presas em redes assistencialistas, logo se teria algo bem próximo de igualdade social e equilíbrio de poder econômico, atingindo algo bem próximo à democracia, mas via plutocracia, e 2 - fé na humanidade, na regra de ouro; as pessoas tenderiam a ser boas e justas mesmo que isso não fosse a melhor opção econômica e/ou seria a melhor opção econômica.

Há ainda a possibilidade de aceitação de qualquer coisa que decorrer das desigualdades de poder econômico como algo não problemático.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #19 Online: 06 de Agosto de 2008, 20:20:51 »

Entendi isso mesmo que o Galthaar falou.

Pois bem. Nesse modelo do Rhyan, uma escola de medicina desenvolveria uma grade que ensinaria somente homeopatia, florais de bach e curas místicas. O aluno ao final do curso seria habilitado a exercer a carreira médica, da mesma forma que um médico pode hoje.

Não sei, mas não me parece ser uma muito boa idéia.


Bem, se não me engano, hoje o estado brasileiro e o cubano aceitam a homeopatia como prática médica válida mesmo.

Sou meio dividido quanto a isso. Cada posição tem aspectos positivos e negativos. Uma certa imposição/censura estatal pode ser negativa, como no governo Bush (onde mercado e estado não são antagônicos, mas aliados na anti-ciência) e o lisenkoísmo, por exemplo, mas por outro lado poderia ter o efeito inverso, como talvez seja o caso do criacionismo/fundamentalismo ser mantido fora das salas de aula dos EUA apesar do forte apoio "popular-mercadológico", que teria o potencial de levar diversas áreas de pesquisa e produção científica do país à falência.

A coisa de certa forma não é apenas sobre estado ou não, de qualquer forma. Teoricamente se poderia ter alguns benefícios similares ao de algo análogo ao estado, de uma regularidade e padronização do ensino, só que sem ser algo propriamente estatal, poderia ser um tipo de ONG, defendendo as mesmas coisas.

E talvez até melhor. Se o estado resolver defender o criacionismo e homeopatia, não temos como não financiar isso com impostos embutidos em todos produtos.

Se fossem ONGs e coisas do tipo, teríamos a opção de não sermos tratados por homeopatas, de buscar tratamento médico baseado em ciência (o que não é algo inerentemente garantido pelo estado), ou de tirarmos nossos filhos de escolas que começassem a ensinar criacionismos ou qualquer coisa do tipo.

Já se homeopatia e criacionismos fossem aceitos pelo estado, não teríamos como não financiá-los e talvez fosse mais complicado fugir dessas coisas. Se o Brasil adotasse o criacionismo ou qualquer anti-ciência como ciência estatal, não se poderia impedir que os filhos assistissem a essas aulas inúteis, no máximo instruir eles em casa de que o que aprendem na escola é lixo, mas que tem que "aprender" para passar de ano e ter um diploma.

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #20 Online: 06 de Agosto de 2008, 20:42:47 »
Isso é muito fé na lei do mercado. Tomemos como exemplo a saúde pública. O estado mantém agências reguladoras como a vigilância sanitária ou a Food and Drugs Administration. Agora, sem agências reguladoras, quanta gente teria que morrer até que os consumidores deixassem de consumir um medicamento ineficiente ou freqüentar um restaurante sem uma cozinha higiênica.

Offline Dodo

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #21 Online: 07 de Agosto de 2008, 00:40:59 »
O Dante tocou num ponto interessante: fé.

É interessante notar que a maioria dos conservadores americanos, bem como suas cópias brasileiras - que agora tem visibilidade graças aos tropeços do PT na área internacional - sejam religiosos e ferrenhos defensores das tradições judaico-cristãs. Curiosamente também é a fé que justifica os governos ditatoriais.

Regimes totalitários são autofágicos por natureza, nenhum dos regimes que tiveram início no século XX irá perdurar até 2050, isso se deve muito as suas próprias contradições e disputas internas. A China sobrevive por que aprendeu com os erros da antiga União Soviética e, sabedora que empresas capitalistas amam o dinheiro mais do que a liberdade alheia, hoje negocia abertamente com estas, graças a uma estratégica abertura de mercado.

Analistas e economistas de renome mundial previram nesta abertura o início do fim do comunismo chinês, só que enganaram-se redondamente, pois também é motivo para o sucesso do regime totalitário naquele país o rígido controle sobre as informações a que seu povo tem acesso. A bem da verdade, companhias estrangeiras contribuiram para isso, seja vendendo equipamentos (Cisco) ou limitando o acesso ao conteúdo global (Yahoo e Google).

menos informações = menos dúvidas = mais certezas = fé

No cenário oposto encontra-se os EUA, a maior nação do mundo livre e sua tão propalada defesa dos direitos individuais. Não é a toa que é de lá que partem todas as teorias sobre os benefícios da extinção do Estado. O raciocínio é simples: se com menos Estado, já chegamos até aqui; o que não fariamos sem Estado nenhum?

Estes defensores do Estado inexistente parecem esquecer que tentativas de controle, sejam elas de qualquer natureza, não são exclusivas de um regime totalitário. Como exemplo temos o controle sobre alguns serviços da internet sendo discutido em diversos países do mundo livre, inclusive no Brasil, onde existe um projeto que tem por objetivo coibir crimes cibernéticos. Grandes grupos cinematográficos exigem uma ação mais dura dos governos no combate à pirataria, pois alegam que a troca de filmes e músicas, através das redes p2p, tem acarretado sucessivas perdas para as produtoras.

Acima temos um exemplo de cooperação entre mercado e Estado que pode muito bem fugir do controle e resultar numa brecha que permita a censura; sai a necessidade de proteger os direitos autorais e entra em cena a segurança nacional. Quem tiver o poder sobre a justiça e as comunicações terá o monopólio da verdade. Num hipotético futuro sem Estados, o detentor deste poder pode muito bem estar nas mãos de uma corporação de alcance mundial. Por quanto tempo ainda existiria o conceito de nação?
« Última modificação: 07 de Agosto de 2008, 00:49:44 por Dodo »
Você é único, assim como todos os outros.
Alfred E. Newman

Offline Buckaroo Banzai

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #22 Online: 07 de Agosto de 2008, 01:04:25 »
Isso é muito fé na lei do mercado. Tomemos como exemplo a saúde pública. O estado mantém agências reguladoras como a vigilância sanitária ou a Food and Drugs Administration. Agora, sem agências reguladoras, quanta gente teria que morrer até que os consumidores deixassem de consumir um medicamento ineficiente ou freqüentar um restaurante sem uma cozinha higiênica.

Em algum lugar entre os extremos geralmente está a melhor opção. Liberdade total para todo tipo de coisa tem obviamente problemas, mas regulação exagerada também. Pode-se perguntar quantas pessoas não morreriam por remédios ineficientes, mas também podemos nos perguntar quantas vidas seriam salvas se as pessoas fossem permitidas avaliar os possíveis riscos e benefícios de tratamentos de ponta ainda não aprovados pela burocracia, acelerando o desenvolvimento médico, ao mesmo tempo em que nos lembramos que a regulação não garante de forma alguma que não hajam tratamentos e remédios ineficientes, haja visto que homeopatia/água agitada é algo que não é proibido apesar da regulação. Como outro oposto, possível exemplo de regulação exagerada, nos EUA a dipirona é proibida, enquanto que aqui é de venda irrestrita e administrada cotidianamente em hospitais, até misturada com benzetacil e dada à bebês e crianças.

Não que não tenha seus riscos, temos no fórum um caso de alguém que foi na UTI depois de tomar, mas a menos que os anglo-saxões sejam geneticamente mais suscetíveis (acho improvável), me parece algo exagerado. Mas esse caso nem é tanto o problema, uma vez que se teria outras alternativas talvez menos potencialmente arriscadas, como AAS e paracetamol. O problema é mesmo se você tem alguma doença ainda supostamente sem cura, com tecnologia que possivelmente já poderia te ajudar ou até te livrar dela, mas não pode fazer uso dela porque o estado acha que sabe o que é melhor para você.

Quanto a restaurantes, acho que a regulação seria de importância ainda menor. Basta que eles pudessem ser processados por casos de algum problema de intoxicação alimentar e etc, que as pessoas naturalmente procuram instalações de melhor higiene e etc. As donas-de-casa que cozinham todos os dias para as famílias não tem nenhum tipo de regulação, e nem por isso as pessoas estão morrendo às pencas, ainda que se possa argumentar que a alimentação geral não é sempre da melhor qualidade possível considerando as verbas disponíveis para cada lar. Mas ainda assim seria melhor campanhas de esclarecimento e promoção de dieta saudável do que fiscalização das cozinhas de todas as casas.

Offline DDV

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #23 Online: 08 de Agosto de 2008, 01:55:48 »
Uma dúvida: na ausência do estado, o que garantiria que as pessoas se comportem "anarco-capitalisticamente" e não anarquicamente?


Foi falado aqui sobre uma possível plutocracia na ausência de estado. Isso é muito otimismo!

O que garantiria que os fortes armados procedam de forma "fair" com os fracos desarmados endieirados?


Digamos: o Sr. João tem "dinheiro" (no caso, seriam metais preciosos, bens móveis e imóveis, etc) e contrata o Sr Alfredo (um sujeito habilidoso no uso de armas, agressivo e determinado, que possui um séquito de fieis capangas que o seguem por "respeito" e outros vínculos informais) para protegê-lo juntamente com suas propriedades.

Não seria mais lucrativo para o Sr, Alfredo simplesmente tomar todos os bens do Sr. João, usando-os inclusive para fortalecer mais ainda o seu bando?  Quem viria em socorro de Sr João? Os outros "bandoleiros" não estariam ocupados demais caçando endieirados indefesos para virem ajudar o Sr João, arriscando-se a enfrentar um outro bando em troca de apenas uma pequena parte dos seus bens?

Pensando com mais profundidade, podemos concluir que uma ausência total do estado dificilmente se concretiza, e muito menos perdura. Em um momento inicial teríamos diversos "clãs" armados controlando pequenos "feudos", formados por pessoas desarmadas e fracas que aí acorrem para trabalharem para os fortes armados em troca da proteção.Os vínculos contratuais, legais e formais se tornam inúteis pois não há nada que obrigue as partes a obedecê-los. Os vínculos passariam a ser mais "pessoais", informais. Ter maiores e melhores vínculos pessoais se torna muito mais vital do que ter "dinheiro".

 Em um segundo momento os grupos armados dominantes entrariam em confronto pelo controle de terras, águas, instalações e "servos" (os fracos desarmados. É óbvio que a partir de certo momento a possibilidade de ascenção de um fraco desarmado para a categoria de forte armado vai se tornando cada vez mais difícil, já que os fortes armados trabalhariam nesse sentido).

 Nessas lutas, aparece algum forte armado mais habilidoso e carismático que consegue reunir uma boa quantidade de pessoas sob seu comando e aliados, e vão acontecendo "unificações" de "feudos" de forma paulatina até termos o nosso indesejável estado de volta, para alívio dos fracos desarmados.




Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline André Luiz

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Re: É viável o Anarco-Capitalismo?
« Resposta #24 Online: 08 de Agosto de 2008, 09:10:57 »
Seria uma espécie de deja-vu da idade média ? he,he

Um vazio de poder devido a queda do império romano, depois a criação de feudos e suas milícias e por fim a re-organização em estados

Ah, mas no "fantástico mundo do anarquia" todos sao bonzinhos, nao existirão armas (nem mesmo paus e pedras) porque todos passaram pela "educação libertaria"

Tá, viagem minha, eu só nao queria perder a piada


 

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