Uma dúvida: na ausência do estado, o que garantiria que as pessoas se comportem "anarco-capitalisticamente" e não anarquicamente?
Foi falado aqui sobre uma possível plutocracia na ausência de estado. Isso é muito otimismo!
O que garantiria que os fortes armados procedam de forma "fair" com os fracos desarmados endieirados?
O que garante que os estados procederão de forma justa com os fracos desarmados, sejam outros estados ou pessoas?
Como disseram por aí, estados e outras formas de organizações são feitas por pessoas, e ambas são sujeitas à falhas humanas. Há dos dois lados uma tendência a um tipo de deificação, seja do estado ou do mercado, como se essas instituições de alguma forma não estivessem sujeitas à falhas humanas, muitas vezes, exatamente as mesmas falhas.
Digamos: o Sr. João tem "dinheiro" (no caso, seriam metais preciosos, bens móveis e imóveis, etc) e contrata o Sr Alfredo (um sujeito habilidoso no uso de armas, agressivo e determinado, que possui um séquito de fieis capangas que o seguem por "respeito" e outros vínculos informais) para protegê-lo juntamente com suas propriedades.
Não seria mais lucrativo para o Sr, Alfredo simplesmente tomar todos os bens do Sr. João, usando-os inclusive para fortalecer mais ainda o seu bando? Quem viria em socorro de Sr João? Os outros "bandoleiros" não estariam ocupados demais caçando endieirados indefesos para virem ajudar o Sr João, arriscando-se a enfrentar um outro bando em troca de apenas uma pequena parte dos seus bens?
E a polícia estatal é incorruptível, não forma coisas como milícias e etc.
Nesse exemplo, você não chega a nem "escorrergar" pelo declive escorregadio, mas já começa por um cenário "feudalóide", dando-o como certo.
E se, fosse tudo mais ou menos como é? Por exemplo, teoricamente, o estado poderia terceirizar a segurança, não poderia? Ou isso já culminaria em catástrofe? Bem, nos casos de presídios ao menos, parece que os terceirizados tem maior sucessso. A própria existência da segurança privada também de certa forma implica na falência do sistema público em algum grau.
Mas continuando. Então temos uma polícia terceirizada. O estado capta dinheiro da população, que se não paga, vai para a cadeia, e paga a polícia, pretty much como faz hoje em dia, só que a polícia é uma companhia separada. E se então houvesse desconto nos impostos para quem pagasse segurança particular, e todos gradualmente fossem mudando para uma outra companhia de segurança? O que viria a seguir? Catástrofe? O apocalipse?
E se uma corporação de empresas de proteção (ou de voluntários) resolver "virar" um estado totalitário? Será que isso nunca teria análogo com estados propriamente ditos? Será que não existem ditaduras, golpes de estado?
Estado é essencialmente "placebo", um acordo de cavalheiros, tirando a parte de jogarem numa cela (ou matar em alguns casos) quem não segue suas regras - o que não difere muito do poder totalitário que condenariam se isso não tivesse o rótulo "estado". Não tem nada de mágico e fundamentalmente diferente de relações de prestações de serviço não-centralizadas.
A diferença essencial é essa centralização, a coordenação central. Que não precisa, necessariamente, de um estado propriamente dito, da mesma forma que uma empresa não é anárquica mas não é regida pelo estado. Essa centralização tem seus aspectos positivos e negativos.
Penso que a função essencial seria de ser de certa forma essencialmente "anti-mercado" ao mesmo tempo em que deixa o mercado em paz tanto quanto for possível; "forçando" através organização/centralização, metas que visam o bem público, mas que se julgue/verifique que não tendam a ser satisfeitas pelo mercado sozinho.
Um pouco como a diferença entre seleção natural e invenção. Seleção natural é "egoísta" só se "interessa" na reprodução e perpetuação, não se importa com o "bem" dos organismos. Já coisa inventadas (ou seleção artificial, em menor grau) tem um planejamento por trás, planejamento que pode contornar esses problemas resultantes da "improvisação" e "egoísmo" da seleção natural.