Autor Tópico: A psicologia numa tangerina - Crônicas do Clube Cético  (Lida 6627 vezes)

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Offline Dr. Manhattan

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Re: A psicologia numa tangerina - Crônicas do Clube Cético
« Resposta #50 Online: 09 de Setembro de 2009, 10:09:48 »
Ok, entao lá vai um microconto, feito na hora:


DILEMA


Ele acordou em um quarto branco. O chao, as paredes, suas roupas, tudo de uma brancura suspeita.
Hospital, pensou ele, ou uma prisao. Nao quis pensar na terceira possibilidade. Era forçoso reconhecer que
o fio de sua vida agora apresentava uma lacuna: houve o Plano. O Roubo. A Perseguiçao. O Cerco. E entao: nada.

E agora ele estava nesse quarto asséptico. Era óbvio que tudo tinha ido a merda. Ele agora se perguntava o que
teria acontecido ao seu colega. Enquanto isso, as horas escorriam lentamente.

Depois do que poderia ser uma eternidade, ou um punhado de horas, ele ouve o som de passos. A porta - branca, se abre.
Ah, pensou ele, agora estava claro: era uma prisao. Poderia ser pior, muito pior, mas ele nao queria pensar nessa possibilidade.

O oficial, ou juiz ou advogado, o que for, ele nao ofereceu nomes, foi direto ao ponto: "Vocês estao encrencados.
Muito encrencados."
"Isso eu ja tinha percebido." Disse ele.
"Pois bem. Eu vim aqui para lhe oferecer uma oportunidade. Algo que poderá facilitar sua vida."
Silêncio. O sorriso do oficial-juiz-etc. era irritante, mas ele sabia jogar o jogo do silêncio.
"Eu garanto que você vai se interessar."
Silêncio. Ele podia sentir uma leve irritaçao surgindo no rosto do seu carcereiro. Ou seria tédio?
Isso lhe divertia - um dos pequenos prazeres dos indefesos.
Ao mesmo tempo, ele temia que a oferta fosse realmente interessante.
"Pois bem, isso é o que temos para você." Ele mostra um papel. Uma confissao!
"Você apenas tem que assinar este papel, e sua pena será reduzida.
Tenho certeza que você entende as consequências."
Ele passa os olhos sobre o documento:
de acordo com o que estava escrito, ele assumiria a culpa, juntamente com seu colega.
"Ele assinou?" Mais uma pequena vitória: seu interlocutor nao pôde evitar sua surpresa.
"Ainda nao. Mas saiba que se vocês nao aceitarem, suas penas nao serao reduzidas.
E se ele assinar, mas nao você, sua pena
será maior do que a dele."
"Isso vale para mim também?"
"Sim."
"E qual será minha pena, caso ele assine e eu nao?"
"Bem, isso ainda dependerá do juiz. Mas saiba que nesse caso, ela pode chegar a virtualizaçao forçada."
Era isso que ele temia: ter seu corpo paralizado, ligado a eletrodos, viver em uma prisao virtual. Fuga impossível, por definiçao.
Pior: ser obrigado a trabalhar como escravo de programadores, avaliando cenários virtuais ou, nos piores casos, ser personagem
de jogos, obrigado a lutas enfadonhas e inócuas contra adolescentes ricos. Era pior do que a morte.

Merda. "Dê cá esse papel." Dane-se seu colega.

Ele acordou em um quarto branco. O chao, as paredes, suas roupas, tudo de uma brancura suspeita.
Hospital, pensou ele, ou uma prisao. Nao quis pensar na terceira possibilidade. Era forçoso reconhecer que
o fio de sua vida agora apresentava uma lacuna: houve o Plano. O Roubo. A Perseguiçao. O Cerco. E entao: nada.
You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

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Offline André T.

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Re: A psicologia numa tangerina - Crônicas do Clube Cético
« Resposta #51 Online: 11 de Setembro de 2009, 00:32:22 »
Muito bom!

Bom, vou arriscar postar aqui o texto que levei uns vários dias ruminando e que terminei hoje. Espero que não achem tão ridículo quanto eu já estou achando agora :D



Fernando, o simulador

(Conto longo e bobo inspirado em A última pergunta do Asimov.)

Fernando se aproximou de seu DX-100 com uma ideia nova. Lá por aqueles idos de 2740, não havia muito o que se fazer na rua. As pessoas passavam a maior parte de seu tempo conectadas, navegando na Rede, discutindo o sexo dos anjos.

Ele já havia desenvolvido várias simulações computacionais. Criar universos completos levavam muito tempo; gostava mais de simular apenas situações específicas, ecossistemas fechados, acelerar drasticamente a seleção natural entre alguns poucos competidores e apostar mentalmente em quem iria ganhar. Às vezes acertava, às vezes errava, às vezes as espécies deixavam de competir entre si e passavam a conviver. Ele já tinha criado um ou dois universos completos, mas baseados no Universo padrão, sem alterações.

As simulações o entediavam com o tempo. Era sempre a mesma coisa; os seres se desenvolviam, criavam consciência, procuravam por Deus, se tocavam que provavelmente estariam dentro de uma simulação e, quase invariavelmente, se exterminavam com suas próprias tecnologias.

Dessa vez ele queria algo diferente. Fernando selecionou da Rede a simulação de Universo padrão e deixou ela aberta. Procurou com cautela as leis que precisaria alterar e incrementou a regra que tinha imaginado. Foi um pouco difícil relacionar informação biológica com constantes físicas, mas ele conseguiu.

Fernando rodou a simulação e ficou olhando enquanto seu Universo se expandia, se formavam as estrelas gigantescas, que depois explodiam e formavam estrelas menores e planetas. As usual.

Se tudo corresse bem, a alteração de Fernando só faria diferença depois de vida consciente surgir em sua simulação de Universo. Enquanto esperava, ele navegou pela Rede, procurando sem sucesso por experimentos semelhantes. Logo surgiam na simulação primeiras moléculas orgânicas, o primeiro sinal de vida. Fernando tomava nota de cada desenvolvimento promissor em cada planeta potencialmente habitável.

Seu DX sofria. Já havia passado mais de uma semana e praticamente todo o poder de processamento da máquina era destinado à simulação. E Fernando esperava, paciente, quando a primeira consciência se formou em um planeta qualquer e suas alterações começaram (ufa) a dar resultados.

Na simulação de Fernando, todas as leis do Universo conhecido eram mantidas e apenas uma nova regra foi adicionada. Era uma adição simples de ser definida, apesar de ser difícil de se conceber: toda vez que algum ser imaginasse algo com sinceridade, com fé de que aquilo aconteceria, havia uma chance em cem de que o evento realmente acontecesse. Fernando chamou essa possibilidade simplesmente de 'milagre'. Qualquer coisa era permitida, de curar uma doença a criar asas, de se teletransportar a materializar nuvens no céu e fazer chover. Porém, não poderia ser algo que não tivesse materialização física (por exemplo, felicidade, imortalidade ou paz na Terra) nem contraditório com as leis fundamentais da natureza (voltar no tempo). No entanto, era possível materializar e desmaterializar praticamente qualquer coisa.

Fernando também tomou o cuidado de não permitir a passagem de eventuais alterações corporais aos descendentes, já que isso minaria todos os princípios da seleção natural. Além disso, depois do uso de um Milagre, o animal que o desejou não conseguiria realizar nenhum outro por pelo menos uma semana.

No começo as diferenças eram mínimas. Animais desapareciam das garras dos predadores e reapareciam distantes, em segurança. Predadores surgiam em cima de presas aparentemente vindos do nada.

Apesar de reduzir drasticamente a velocidade da simulação, Fernando percebeu que havia um problema fundamental em sua ideia. Ele havia medido a 'fé' dos animais através de padrões de ondas cerebrais. O problema é que mutações em determinados genes faziam os padrões de onda cerebrais serem facilmente atingidos, e a seleção natural acabava por 'preferir' os animais que tinham essas mutações. Afinal, é muito mais adaptável um animal que desaparece quando está a centímetros da boca do predador do que outro que simplesmente empenha todas as suas energias em fugir com suas patas.

O 'problema' se agravou rapidamente e logo todos os animais pensantes do pequeno planeta apresentavam o padrão de onda que Fernando tinha selecionado, praticamente durante o tempo todo.

Nesse ponto aconteceram eventos rápidos e interessantes. O padrão de onda começou a se desvalorizar entre os herbívoros, enquanto que entre grandes predadores ele foi fortemente estabelecido. A explicação para a desvalorização entre os herbívoros é simples; se muito cheios de fé, eles acreditavam que podiam enfrentar e vencer os predadores (uma possibilidade que somente uma vez em cada cem seria verdadeira e, mesmo nesses casos, uma vez por semana).

Únicos portadores da possibilidade do Milagre, os carnívoros se desenvolveram rapidamente e a cadeia alimentar entrou em colapso. Fernando teve que intervir, alterando a simulação enquanto ela estava sendo executada; alterou o padrão de onda buscado para um estado de consciência que conhecemos como Zen, que só poderia ser alcançado por animais que tivessem consciência de sua consciência.

As coisas se restabeleceram e continuaram um curso relativamente normal depois disso. Milhares e milhares de animais surgiram e desapareceram até que um pequeno bípede finalmente alcançou uma situação razoavelmente parecida à humana de desenvolvimento cerebral. Consciência de consciência, de consciência de consciência, etc

Os animais, chamados por Fernando de Obakus, se organizavam em grupos sociais e caçavam. A linguagem dos Obakus se desenvolveu devagar, mas logo transmitiam uns aos outros peripécias que haviam conseguido enquanto estavam em zen.

O tempo passou. Os Obakus se tornaram sedentários; animais foram domesticados. Corpos passaram a ser enterrados. E, é claro, a prática zen começou a ser entendida e praticada.

Em alguns momentos algum Obaku maluco desejava um martelo gigantesco pra esmagar o mundo mas, antes que algo grave pudesse acontecer, algum outro Obaku 'anulava' seu péssimo desejo com outro desejo. Foi por pouco em algumas situações, mas seu pequeno mundo sobreviveu.

E assim as coisas foram caminhando, e uma religião se formou, baseada em três verdades fundamentais:
- a adoração pelo Provedor do Milagre;
- o respeito por outros Obakus;
- o uso do Milagre apenas depois da aprovação dos mestres religiosos.

Por essa época, Fernando teve que intervir pela segunda vez. Os Obakus começaram a ficar folgados e, organizados socialmente, não faziam mais nada. Havia uma rotação entre 'desejadores de comida', 'desejadores de casas', 'desejadores de transportes', 'desejadores de construções'. Era muito mais fácil fazer as coisas pelo Milagre do que efetivamente produzindo. Toda a organização social dos Obakus se baseava nos desejos. Fernando não gostou disso. As coisas simplesmente não progrediam.

Fez uma alteração simples: deixou o Milagre muito mais raro: uma chance em dez mil. Além disso, criou limites físicos mais rígidos para os pedidos. Só se podia alterar o que se observava com os olhos; não era mais possível criar matéria/energia do nada (ela tinha que vir de algum lugar próximo, ser transformada). Não era mais possível alterar a realidade como antigamente.

No mundo dos Obakus, havia duas grandes massas de terra separadas por oceanos de água bem esverdeada. No continente leste, viviam os Obakus que se vestiam de azul e, no continente oeste, os Obakus que se vestiam de verde. A diferença fundamental entre eles é que os Obakus azuis dormiam com os pés voltados pro Norte, de acordo com os ensinamentos um sábio antigo, e os Obakus verdes dormiam com os pés voltados pro Sul, de acordo com os ensinamentos um outro sábio antigo, ou o mesmo, dependendo da interpretação.

A alteração de Fernando teve efeitos catastróficos sobre a economia e o mundo conhecido dos Obakus ruiu em poucas semanas.

Imediatamente, líderes políticos e religiosos dos dois continentes culparam o continente contrário pelos problemas em conseguir os Milagres. Alguns fundamentalistas afirmavam, nos dois continentes, que a simples existência do grupo concorrente era uma ofensa ao Provedor do Milagre e que, por isso, a desgraça se abatia sobre eles. Chegava o Fim, afirmavam.

E a guerra se abateu sobre o planeta. Os resultados de um confronto entre portadores do Milagre, mesmo com sua potencialidade reduzida, foram catastróficos; quase veio a extinção. Fernando observou de longe, rindo da situação, guerreiros explodindo as tropas inimigas usando paus, pedras e meditação zen. A capacidade de hipocrisia dos Obakus era enorme.

Mas finalmente a grande guerra, como ficou conhecida posteriormente, acabou. Nenhum continente conseguiu se manter organizado o suficiente para transmitir a seus seguidores uma informação sobre vitória ou derrota. Vieram tempos de paz; diversas religiões pacifistas surgiram. Os Obakus ainda usavam frequentemente o Milagre, mas aprenderam a dominar a Natureza de outras formas.

Devagar, engatinhando, surgiu a Ciência. E um grande cientista Obaku descobriu o padrão de onda que tornava possível o Milagre. E o tempo passou, e os cientistas chafurdavam mais e mais nas fundações da simulação, e vieram a Relativística, a Quântica. E um dia, nos cantos de um laboratório no meio da madrugada, um Obaku tentava resolver um problema clássico quando descobriu nas menores partículas da Natureza a inscrição do Milagre. Estava ali, sempre havia estado. Tudo se revelava a ele, o Universo fazia sentido, e ele entendia que estava olhando a Verdade por uma janela ampla, quase sem fim. Agora, eles poderiam manipular o Milagre, usá-lo para expandir os limites de sua raça, expandir a energia, o conhecimento. Antes eles tinham o Milagre; depois tinham o Conhecimento; agora tinham a infinitude do Milagre e do Conhecimento.

Fernando sorriu ao notar o que o cientista havia conseguido. Teve a impressão de que, por um segundo, ou por um milésimo de centésimo de segundo, o pequeno Obaku tinha visto a ele, Fernando, por trás de todas as camadas de software e hardware, por trás de toda a Simulação.

Fernando ainda sorria quando desligou o DX-100 e foi para a rua, procurar por alguém desconectado.
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Offline Diegojaf

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Re: A psicologia numa tangerina - Crônicas do Clube Cético
« Resposta #52 Online: 24 de Setembro de 2009, 13:32:17 »
De acordo com a Lela, é uma crônica...


________________________________________________________
Coisas que acontecem. Ou não.

Silêncio. Faz quase 3 horas que estamos ali. A madrugada é sempre o horário mais frio, mas é o que deixa as coisas mais emocionantes. Uns estudando, outros ouvindo música, outros não desgrudam do telefone: "Não, meu bem... eu juro que estou trabalhando.". As desculpas não mudam muito.

Enfim é dado o sinal. Na escuridão, a única luz que brilha é a vermelha e branca, alternando-se de forma tediosa. Ouve-se o cantar dos pneus do carro e o barulho alto, constante, inconfundível.

A caçada começa. Esse momento se repete duas, três vezes por noite, mas ainda assim, sinto cada músculo do meu corpo tensionado. O frio na espinha jamais desaparece. Essa sensação é sentida mesmo por aqueles com 10, 20 anos de casa.

A cada curva, a esperança de encontrar a presa. Sei quais são as motivações de cada um. Hugo sempre quis ser polícia. Araújo queria um bom emprego e estabilidade até que terminasse a faculdade. Figueira sempre demonstrou uma certa sede de sangue e achou que ali poderia satisfazê-la. Salles tem 3 filhos para sustentar. Eu ainda não sei exatamente o porquê de estar ali, talvez um pouco de cada um, talvez nenhum deles, mas neste momento, nosso objetivo é apenas um, a presa.

Os pneus gritam, assustando os poucos transeuntes que fazem uma mera idéia do que está ocorrendo. Cães fogem a nossa passagem, luzes se acendem. Pouco presta-se atenção aos arredores pois o alvo encontra-se mais a frente, provavelmente tentando escapar mais uma vez a este encontro.

Enfim, nos encontramos. Por um instante, ao ser iluminado pela luz vermelha, o sangue dele gela. O nosso ferve. Esperamos o próximo movimento da caça, planejando mentalmente qual a será nossa reação. Não falamos, mas sabemos exatamente o que cada um terá que fazer. Então, ele se move. Usa todas as forças para se distanciar. A reação é instantânea. Somos três. Como um só avançamos de maneira rápida e constante. Cada um tem como maior responsabilidade a vida do outro. A caça nos une no nosso objetivo, mas ainda temos nossas motivações particulares.

Ouvimos cães latindo a medida que o alvo passa, invadindo territórios, atrapalhando descansos. Muros de madeira e papelão caem. Ele os atravessa numa linha reta. Os cortes e contusões sofridos não são sequer sentidos. Ele precisa sair dali. Ele precisa escapar.

Os caçadores continuam avançando. Agora somos dois. Hugo ficou para trás para garantir nossa passagem. Olho para Figueira brevemente e percebo uma ponta de sorriso. Ele sempre se diverte quando eles fogem. Mas reconheço aquele sorriso e sei que não posso deixá-lo chegar primeiro à caça. Ele nunca pode ser o primeiro. E é um constante desafio impedir que isso aconteça.

Enfim, ouvimos gritos. Nem todo mundo gosta de ter a casa invadida às 3 da manhã. A caça enfim está sem um refúgio. Acabou.

Olho para o lado, Figueira não está ali. Ele pegou um atalho. Ele vive pra isso.

Minha respiração já está ofegante. Tento em um último esforço correr mais do que ele. Atravesso as mesmas paredes que a caça ferida atravessou. Encontro olhos assustados, mas não dou atenção a eles. Meu alvo mudou. Não posso deixar que ele chegue primeiro. Ele nunca pode chegar primeiro.

Então, vejo uma silhueta. Lá está ele. A postura o entrega. O sorriso agora é largo. Ele me venceu. De novo.

Os olhos da caça me encaram por um momento. Ela percebe nesse momento que não deveria ter fugido. Elas sempre percebem isso tarde demais.

Figueira chegou primeiro.
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

http://umzumbipordia.blogspot.com - Porque a natureza te odeia e a epidemia zumbi é só a cereja no topo do delicioso sundae de horror que é a vida.

Offline Andre

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Re: A psicologia numa tangerina - Crônicas do Clube Cético
« Resposta #53 Online: 20 de Janeiro de 2010, 12:12:04 »
Escrevi isso hoje, não tem título ainda e estou sem idéia.


Da janela de meu apartamento, via-se uma casa simples, dessas de madeira. Vivia
nela uma senhorinha, que passava o dia a olhar pela janela da cozinha. Às vezes,
vinham visitá-la; talvez fossem seus filhos ou seus sobrinhos ou seus netos...
como haveria eu de saber?

Certa vez, reparei que a senhorinha não apareceu mais. As visitas também não
vieram mais. A casa vivia fechada, exceto pela janela da cozinha que ficou
aberta, como se esperasse que a senhorinha viesse dar uma última espiada. Talvez
ela já nem fechasse mais, talvez a madeira empenara, ou coisa assim.

O tempo passou e vieram desmontar a casa -- porque o leitor bem sabe que essas
casas não são construídas, são montadas -- e foram levando-a, telha por telha,
tábua por tábua. E assim foram-se desmontando as memórias da senhorinha, e as da
casa também, por que não? Todos os momentos de felicidade, todos os momentos de
tristeza, de alegria descontrolada, de desespero... assim, telha por telha,
tábua por tábua. Que histórias não teriam elas para contar?
Se Jesus era judeu, então por que ele tinha um nome porto-riquenho?

Offline Rey-ctba

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Re: A psicologia numa tangerina - Crônicas do Clube Cético
« Resposta #54 Online: 25 de Janeiro de 2010, 09:25:29 »
Não sou mesquinho não!

Além de ser um zero à esquerda em termos de qualquer coisa sou um artista plástico realizado. Não sou frustrado, como muita gente se considera, já que atualmente arte é apenas alguma coisa feita por quem se autodenomina "artista".  Tem tanta porcaria aí fazendo sucesso que os verdadeiros artistas deveriam ficar indignados, como os juizes de direito ficaram quando os árbitros de futebol eram chamados de juizes também.

Mas, voltando ao assunto, sou um artista plástico autodidático. É assim mesmo, pois eu me auto ensino-me a mim mesmo todo e qualquer assunto, menos Português. Tentando voltar ao assunto, faço trabalhos com lâminas de madeira. São quadros e caixas com os mais variados desenhos.

Um dia destes uma colega de trabalho pediu que eu fizesse um quadro com a face de Cristo, aquela bem clássica, com a coroa de espinhos, o rosto triste e gotas de sangue escorrendo pela testa. Pois bem, fiz o quadro e quando fui entregá-lo uma amiga da amiga gostou tanto que pediu mais dois, um pra ela e outro pra sua filha. Feliz da vida, fiz mais estes dois quadros, totalizando, como todos já perceberam, três quadros com o rosto de Cristo. Foi o que bastou para que todos na empresa começassem a me chamar de Judas, que entregou Cristo três vezes antes do cantar do galo, por trinta dinheiros.

Foi nessa hora que perdi a paciência e reclamei que a comparação era injusta e maldosa. Afinal de contas eu cobrei 65 dinheiros por cada quadro!

Offline Sergiomgbr

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Re:A psicologia numa tangerina - Crônicas do Clube Cético
« Resposta #55 Online: 15 de Janeiro de 2019, 23:45:05 »
Eu como caquis também de um modo que eu não vejo muita gente fazendo igual. (muito embora não me lembre de muita gente comendo caquis). Caqui pra mim tem que ser maduro,vermelho vivo como de sangue arterial, e firme mas sem ser cascudo, tem que ser doce mas com um pouco daquela adstringência típica dos caquis. Pego um Caqui de tamanho mediano, de preferência, mais pra grande que pra miúdo, e o lavo com sabão minunciosamente, tirando aquela parte central onde se dependura no pedúnculo, e o enxáguo bem, depois o coloco pra esfriar na geladeira por uma meia hora, mas não no freezer, pra não ficar congelado, daí mordo-o lateralmente e sugo aquela maçaroca tenra e saborosa, e com a boca vou percebendo os seus gomos internos, e sigo saboreando até poder botá-lo todo a boca mas sem destruí-lo, deixo entre aparte interna dos lábios e os dentes inteiro, e o vou sugando com a língua e os dentes suavemente num processo de fruição deleitosa inenarrável, como se fosse um vampiro, até ficar só a pele externa a ser finalmente sorvida.
Até onde eu sei eu não sei.

 

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