Invasão da Geórgia: Russos decidiram invadir em Abril
Quatro meses de preparação, permitiram operação fulminante
17.08.2008
A questão da invasão da Geórgia, tem vindo a ser objecto de várias análises por entidades internacionais. Não só as primeiras pesquisas efectuadas pela Human Rights Watch, ou as primeiras impressões tiradas por jornalistas ocidentais em Tskhinvali, quando as forças georgianas ainda estavam a retirar de Gori [1] começam a mostrar que a Rússia exagerou completamente nos relatos de numero de mortos, como além disso a soma e compilação de dados começa a mostrar que toda a operação de invasão da Geórgia estava preparada desde o mês de Abril de 2008.
Analistas militares ocidentais, concluiram que a operação foi preparada com muita antecedência e que se destinava claramente a remover do poder o governo de Mikhai Sakasvilii e a substitui-lo por um mais condizente com o governo de Moscovo.
A preparação começou em Abril de 2008, e foi influenciada pelo resultado da reunião de Bucareste na Roménia, em que a Geórgia viu o seu pedido de adesão à Aliança Atlântica ser recebido com alguma frieza por parte de alguns países europeus, nomeadamente a Alemanha. Moscovo achou que era um sinal de que Tbilisi estava sozinha.
Embora as várias análises ocidentais sejam em grande parte coincidentes, também na Rússia há quem tenha a mesma opinião.
A «ofensiva» russa pode ser tracejada até 2007, altura em que a Rússia se retirou do tratado europeu sobre armamentos convencionais, que estabelece o limite de veículos blindados, artilharia, tanques ou aviões que os países europeus podem ter ao serviço.
Quando deixou de cumprir com este tratado, a Rússia teve mão livre para transferir livremente armamentos que tinha colocado na reserva fora da Europa a leste dos Urais. Em meados de Abril deste ano, a Rússia colocou mais 1.500 soldados na região da Abkhazia, muitos deles, equipados com armamento pesado.
Pouco dias depois da chegada dessas forças os russos abateram um «drone» de vigilância georgiano, uma aeronave desarmada, que foi abatida por um MiG-29 da força aérea russa no espaço aéreo georgiano.
De notar que a Rússia não tinha autorização para efectuar aquele tipo de operações. Os russos negaram a ocorrência até ao momento em que os georgianos mostraram as imagens.
Avião russo MiG-29 abate drone espião da Geórgia no espaço aéreo georgiano, quando as tropas russas estavam a receber reforços. Sabemos agora porque os russos queriam evitar ser vistos e porque abateram a aeronave não tripulada.
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Em Junho, novos contingentes de tropas russas foram colocados na Abkhazia, aumentando ainda mais a tensão com a Geórgia. Nessa mesma altura os russos começaram a construir uma linha ferroviária entre Tsukhumi (a capital da Abkhazia) e a fronteira russa, alegando que se tratava de uma medida humanitária.
Os analistas ocidentais vêm agora essa construção apressada de uma linha ferroviária, como uma das formas utilizadas pelos russos para garantir o envio rápido de tropas para o noroeste da Geórgia.
Na última semana de Julho de 2008, a Rússia iniciou as manobras militares conhecidas como «Caucaso-2008», isto apenas quinze dias antes da invasão da Geórgia ter ocorrido. Na altura os mesmos analistas militares avisaram que as tropas russas iam começar os exercícios «Causaso 2008» na mesma altura que tropas americanas estariam a treinar tropas georgianas.
O envio de tropas russas para a Abkhazia, com muitas semanas de antecedência, explica a rapidez de acção das tropas russas na Geórgia em Agosto de 2008, ao mesmo tempo que explica porque os russos abateram tão depressa o avião «drone» que servia para vigiar o território georgiano da Abkhazia.
A Rússia nega veementemente qualquer preparação inicial da operação, embora os responsáveis do país tenham geralmente negado todo e qualquer facto que possa parecer menos positivo para a imagem internacional da Rússia mesmo quando praticamente todos esses factos acabam posteriormente por ser confirmados.
Entre os argumentos apresentados pela Rússia está o facto de o primeiro-ministro do país se encontrar na China e o presidente de férias.
No entanto, na verdade o presidente da Geórgia também se encontrava de férias em Itália.
Está ainda por explicar, como é que não tendo havido qualquer preparação russa e estando presidente e primeiro-ministro russos fora, as forças russas conseguiram aparecer no terreno em força 12 a 14 horas depois das acções georgianas, tendo segundo algumas fontes, chegado à «frente» em Tskhinvali, apenas 90 minutos depois de os combates terem começado.
A rapidez russa em afirmar que as suas tropas agiam para evitar um genocídio e a morte de mais civis (depois de já terem morrido 2.000 pessoas segundo o próprio presidente da Rússia), também esbarra aparentemente com o facto de nenhum observador independente, nem nenhum observador russo contactado por meios de comunicação ocidentais ter conseguido demonstrar que ocorreu de facto qualquer genocídio.
Assim, os vários dados conhecidos apontam para uma preparação russa que tinha que coincidir com o final dos exercícios militares de Verão «Cáucaso-2008» em que participaram essencialmente unidades do 58º exército russo.
As forças que participaram desse exercício estavam portanto não só prontas, como estavam preparadas e treinadas para uma operação prevista, previamente delineada e devidamente montada.
O único problema, era a necessidade de fazer aparecer a Geórgia como o agressor perante a opinião pública internacional.
A prestável colaboração das milícias pró-russas na Ossétia foi para isso de grande utilidade.
Varias escaramuças ocorreram no dia 6 e no dia 7 de Agosto. Segundo fontes georgianas (esta informação não está confirmada por fonte independente) os russos foram contactados pelos georgianos, mas responderam que iam ver o que se passava, sem ter efectuado qualquer diligência.
Perante a continuação dos disparos dos milicianos da Ossétia sobre as aldeias onde habitavam georgianos - os quais deveriam ser protegidos pelos russos - e perante a recusa russa em agir, o presidente georgiano deu ordens às suas forças para intervir na Ossétia do Sul.
Estava então criado o precedente necessário. As primeiras tropas libertadoras russas chegaram na forma de uma «Blitzkrieg» ou guerra relâmpago.
A partir daí, as forças russas avançaram sobre tropas georgianas, as quais não tinham qualquer possibilidade de reagir. Sem um plano de acção pré-concebido os georgianos recuaram desordenadamente para as planícies de Gori, e aí foram fortemente bombardeados pela artilharia e aviação russas.
Mesmo depois de as forças georgianas retirarem os russos continuaram a bombardear a cidade, enquanto os restos das tropas georgianas retiraram para a área da capital.
Posteriormente os Estados Unidos anunciaram que começariam a enviar ajuda humanitária para a Geórgia e os aviões C-17 começaram a pousar em Tbilisi. As tropas russas avançaram até cerca de 30km da capital da Geórgia, mas não avançaram até lá.
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[1] – Exemplo disto é a peça do jornalista russo Evgueni Moravitch, para a emissora de televisão portuguesa RTP. O jornalista esteve em Tskhinvali, reportou que a cidade estava destruída, mas não referiu o massacre na cidade, nem fez referência ao que inevitavelmente teria sido a primeira coisa a notar numa cidade onde morreram milhares de pessoas: O cheiro a carne putrefacta.
Fonte:
http://www.areamilitar.net/noticias/noticias.aspx?NrNot=616