Uma nota semi-pedante, ou talvez plenamente pedante, e' que "lamarckismo" nao se resume e nem tem como principal elemento a heranca de caracteres adquiridos. O "darwinismo" original tambem adotava essa perspectiva de hereditariedade, nao era "mendeliano". Mas acabaram virando mesmo sinonimos, apesar de ser uma relativa distorcao.
Ha' um bom tempo se sabe que de fato existe heranca extra-genetica, ou, epigenetica, como e' chamada. Talvez possa se dizer, se nao for exatamente a explicacao terminologicamente correta, que e' isso que faz com que um organismo com diferentes tipos de tecidos e celulas tenha tais diferenciacoes, apesar do genoma ser o mesmo em todas as celulas. Os genes vao sendo ativados ou desativados em diferentes graus dependendo da quimica "final" da celula da qual se dividiu, de interacoes com as adjacentes, e com o ambiente. Entao a celula de pele transmite os caracteres adquiridos (de pele), as celulas de figado as caracteristicas de figado, e assim vai.
Mas algo ao mesmo tempo analogo e "homologo" (por ser o mesmo mecanismo, apenas ocorrendo em outro nivel) ocorre com a reproducao de "individuos inteiros", embora a reproducao individual em macroorganismos seja meio que uma especie de "reset" nisso, ao mesmo tempo. Tanto nos gametas, quanto no utero/coisa do tipo, pode ainda ter alguma quimica, residual ou mais ativamente mantida, que vai tambem influenciar de alguma forma o desenvolvimento de um novo organismo . Isso na maior parte do tempo deve ser algo mais ou menos "acidental", nao adaptativo, e nao resultando necessariamente (talvez nem mais comumente) na heranca de uma "caracteristica adquirida". Mas em alguns casos pode acabar tendo esse efeito. Como hormonios que atuam no cerebro de forma a predispor a algum comportamento, numa dada situacao. Mas mesmo nesses casos o resultado pode nao ser "o mesmo", por se tratarem de estagios difernetes de desenvolvimento e um monte de complexidades diversas. Como "hormonios de estresse" na mae, em vez de fazerem um bebe com tendencia a ser mais estressado, poderia fazer com que tivesse tendencia a depressao, ou fosse mais medroso (exemplos hipoteticos).
Mas ao mesmo tempo tem sempre o problema da qualidade dos experimentos. Enquanto essas coisas doidas acontecem, e' sempre bom nao aceitar resultados como esse (ou resultados em geral) como "fatos" seguros. Nao e' incomum que experimentos de comportamento nao tenham os resultados reproduzidos por diferentes pesquisadores, e que pesquisadores de uma dada ideia tenham uma certa tendencia a enxergar os resultados que a confirmam.