"Devemos respeitar os colegas pois somos todos iguais, mesmo os que tem mais dificuldade."
Vivem nos repetindo isso. Mas isso é uma falácia do caralho, com nome "quatro termos".
Em parte do argumento, usa-se "igual" no sentido de "ter os mesmos direitos e deveres". No outro, usa-se igual significando "ter os mesmos gostos e aptidões pelo método de aprendizado". Odeio isso.
As pessoas são diferentes. Bioquimicamente, geneticamente, e em seus condicionamentos.
Alguns aprendem mais pelo método auditivo (ouvem o professor falar), outros pelo visual (lendo);
Alguns aprendem mais pela prática, outros pela teoria;
Alguns através de instrumentos lúdicos, outros pelo formalismo lógico.
Sem contar que todos, eu disse todos, entram com condicionamentos completamente diferentes na escola; estes condicionamentos interagem com os que eles obtêm na própria escola, e isso resulta em gostos pelas matérias completamente diferentes. Não se caça bois oferecendo salmão; tampouco se caça tigres oferecendo azeitonas. Entendem o que quero dizer?
E a aptidão pelas matérias que deriva [em partes] pelos gostos, como resolver? Seres humanos gostam de desafios, e sentem-se satisfeitos quando encontram um difícil, porém solúvel. Diminua o desafio e uns não se satisfarão mais, por terem aptidão maior e não verem a aquilo como "desafio". Aumente-o, e outros verão como insolúvel, por terem menos aptidão.
Na falta de como agradar a todos, opta-se pelo meio termo, e mata-se as pontas.
Agora, pegue um/a superdotado/a. Qualquer um, com aptidão incrível para, digamos, matemática abstrata. Coloque-o/a com a bunda numa cadeira, "aprendendo" que "a cruzinha é quando você junta as coisas, o risquinho é quando você tira coisas". Sendo que o/a garoto/a já está entrando nos rudimentos da álgebra. Ele/a vai se sentir frustrado/a e reprimido/a.
Poderia ser tão, ou mais, brilhante que Leibniz, Sklodovska-Curie, Maxwell, Chomsky, mas não importa. Essa criança vai sentar sua bunda na cadeira por ao menos 11 anos, talvez 15/16, aprendendo "receitas-de-bolo" e ouvindo os três mantras "vestibular, mercado de trabalho, carreira". Não estou falando que as três coisas não são, ou são, importantes, mas pô, escola deveria fornecer meios para as pessoas serem felizes, e não para serem workaholics!
E se essa criança superdotada tiver aptidão para diversas áreas, for um polímata, ela se fode². Nunca se sentirá satisfeita com um emprego de carreira, tentará flertar com diversas áreas. E aprenderá o quarto mantra: "escolha uma profissão, e continue até o fim".