Autor Tópico: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.  (Lida 4201 vezes)

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Offline JUS EST ARS

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Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Online: 01 de Outubro de 2008, 23:50:14 »


O método científico é excelente para as descobertas e comprovações dos fatos relevantes para as ciências naturais.

Sou cético, no entanto, em tê-lo como critério universal de validade para a aferição de tudo, para só se ter por verdade o que se sustenta após o crivo do método científico, e para alguém adotá-lo como filosofia de vida.

O método científico tem a grande e poderosa vantagem de ser objetivo. Basicamente, os dogmas do método científico são:

1) a exclusão de percepções meramente pessoais.
2) a prova empírica (outros podem repetir o experimento).
3) a previsibilidade (com base no conhecimento adquirido ante o método científico, tem que ser possível prever novos acontecimentos idênticos).

Acontece que qualquer fato que não deixe evidências ou resultado naturalístico não passa pelo crivo dos dogmas do método científico:


  • Uma pessoa vê o portão de sua casa aberto, entra, você e mais 10 pessoas vêem o bandido, ele se assusta e sai correndo. O bandido cometeu o crime de invasão de domicílio. Como provar a veracidade deste fato ante o método científico, se não deixou pegadas, não caiu cabelo etc.?

  • Uma pessoa tem permissão para ter arma em casa. Ela pega essa arma, e na frente de 10 pessoas, sai na rua e ameaça dar um tiro em alguém. Não dispara e volta para casa. Comete o crime de porte ilegal de arma de fogo e ameaça. Como provar de acordo com o método científico?

  • A verdade de uma teoria filosófica abstrata que se anteponha à validade da realidade (como o solipsismo).

  • A falseabilidade de Popper é infalseável ante o método científico.


O que há de comum em relação a todos estes acima, é:
1) ou as situações acima só podem ser provadas através de percepções pessoais (testemunhas), ou nem através delas.
2) a simulação ou reconstituição (empirismo) em alguns casos é impossível, em outros só prova a possibilidade do fato ter ocorrido, mas não prova quem o realizou.
3) não há previsão útil a ser feita, que demonstre que qualquer das situações acima seja verdadeira ou falsa.


Assim, há limites no método científico, o qual, como foi dito, se mostra excelente para as descobertas e comprovações dos fatos relevantes para as ciências naturais; mas não pode ser adotado como único método de aferição da verdade.



Offline Hold the Door

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #1 Online: 02 de Outubro de 2008, 00:26:46 »
Sou cético, no entanto, em tê-lo como critério universal de validade para a aferição de tudo, para só se ter por verdade o que se sustenta após o crivo do método científico, e para alguém adotá-lo como filosofia de vida.
Mas o método científico nunca foi desenvolvido tendo em vista esses fins.
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Offline JUS EST ARS

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #2 Online: 02 de Outubro de 2008, 00:35:27 »

Bom, existe o cientificismo, e uma tendência natural entre os céticos de só aceitar o que passa pelo crivo do método científico (onde acabo me incluindo, por várias vezes).



Offline Luis Dantas

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #3 Online: 02 de Outubro de 2008, 04:06:21 »
Concordo com você, Jus.

Sou cético, no entanto, em tê-lo como critério universal de validade para a aferição de tudo, para só se ter por verdade o que se sustenta após o crivo do método científico, e para alguém adotá-lo como filosofia de vida.

De fato, o método científico visa à obtenção de informação confiável sobre fenômenos objetivos.  Acontece que existem muitas situações, principalmente afetivas e motivacionais, em que confiabilidade e objetividade não são fatores decisivos.  Não quer dizer que são assuntos "inferiores" e sim que são, por assim dizer, mais pessoais.

E como você bem ressaltou, o método científico não aborda tudo o que é real.  Muita coisa que de fato não é assunto da ciência é absolutamente real, apenas não pode ser reduzida a elementos objetivos satisfatoriamente.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Gigaview

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #4 Online: 02 de Outubro de 2008, 08:24:16 »
Tem uma parte deste artigo que aborda esse assunto. Podemos discutí-lo aqui.

http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol34/s1/8.html
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Moro

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #5 Online: 01 de Junho de 2010, 00:00:14 »
up.. bom tópico de um grande forista.

Não sei se aceito apenas o método científico, mas não aceito algo falacioso como evidência para dar algo como verdadeiro.

Acho que toda o universo jurídico criou definições muito mais flexiveis para evidências, o que talvez seja o que o Jus acabou propondo aqui.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #6 Online: 01 de Junho de 2010, 13:05:53 »
Eu achei os exemplos fracos, e de forma alguma, apontam alguma espécie de fraqueza geral na ciência.

Quanto ao falsificacionismo não ser falseável, bem, para começar, acho que é meio como falar que "a correção das provas dos alunos não é corrigível", com o intento de sugerir que não dá para se fazer avaliação de alunos por meio de testes. Uma forma de testar o falsificacionismo seria comparar a eficácia dele em distinguir hipóteses como falsas ou não, com algum outro "método" qualquer. O "problema" que poderiam inventar seria que isso em si já é um falsificacionismo, então há uma "petição de princípio", mas desde o começo a questão é tão sem sentido que é até difícil conseguir colocar em palavras.

Offline Adriano

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Offline biscoito1r

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #8 Online: 01 de Junho de 2010, 13:48:31 »
O método cientifico não é onipotente mas continua sendo o método mais confiável que temos. Não é pq a ciência não é onipotente que podemos usar isso como justificativa para aceitar qualquer besteira que nos dizem.

"Eu penso logo existo", essa é a afirmação que confirma a auto existência, porém não há como saber se o mundo exterior existe ou se esse é apenas resultado de estímulos falsos que seus sentidos estão recebendo ( como no Matrix ). Então devemos assumir 2 coisas.

1- O mundo exterior existe.
2- Podemos aprender algo sobre ele.

Apesar de não haver uma maneira empírica de verificar  essas duas afirmações, essas podem simplesmente ser justificadas pelo fato de que se tudo é produto de nossa imaginação como alegam os solipsistas, não há como verificar e mesmo se houvesse uma maneira de verificar tal coisa, ainda sim estaríamos presos ao matrix e seriamos obrigados a viver como se o mundo realmente existisse.
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Offline Adriano

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #9 Online: 01 de Junho de 2010, 13:56:07 »
Penso logo existo é um grande erro. Existimos logo pensamos, é o correto. O pensar que embasa o existir no caso de Descartes é a própria condição do homem de um ser pensante. Nós como humanidade pensamos, logo existimos. O conhecimento nos humaniza, é uma questão mais antropológica. Mas não podemos cair no jogo de palavras e jogar a teoria da evolução na lata do lixo.

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« Última modificação: 01 de Junho de 2010, 14:02:37 por Adriano »
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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #10 Online: 01 de Junho de 2010, 16:29:49 »
O método cientifico não é onipotente mas continua sendo o método mais confiável que temos. Não é pq a ciência não é onipotente que podemos usar isso como justificativa para aceitar qualquer besteira que nos dizem.

"Eu penso logo existo", essa é a afirmação que confirma a auto existência, porém não há como saber se o mundo exterior existe ou se esse é apenas resultado de estímulos falsos que seus sentidos estão recebendo ( como no Matrix ). Então devemos assumir 2 coisas.

1- O mundo exterior existe.
2- Podemos aprender algo sobre ele.

Apesar de não haver uma maneira empírica de verificar  essas duas afirmações, essas podem simplesmente ser justificadas pelo fato de que se tudo é produto de nossa imaginação como alegam os solipsistas, não há como verificar e mesmo se houvesse uma maneira de verificar tal coisa, ainda sim estaríamos presos ao matrix e seriamos obrigados a viver como se o mundo realmente existisse.

Bom, mas eu acrescentaria dois outros itens:

3- O comportamento dos objetos físicos é consistente.
4- Os humanos percebem o mundo de forma semelhante.

O item 3 permite o uso do raciocínio indutivo, mas exclui da ciência possíveis fenômenos milagrosos (comportamentos inconsistentes e que
não podem ser repetidos). O item 4 é apenas a afirmação de que diferentes observadores podem concordar sobre
o significado de uma observação - ou seja, a objetividade é possível.

Curioso que esses itens não são necessariamente válidos no caso de ciências humanas...
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Alan Watts

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #11 Online: 01 de Junho de 2010, 16:30:40 »
Penso logo existo é um grande erro. Existimos logo pensamos, é o correto. O pensar que embasa o existir no caso de Descartes é a própria condição do homem de um ser pensante. Nós como humanidade pensamos, logo existimos. O conhecimento nos humaniza, é uma questão mais antropológica. Mas não podemos cair no jogo de palavras e jogar a teoria da evolução na lata do lixo.

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Você saiu completamente do contexto, eu estava me referindo a auto-existência,  quando você pluraliza, vc esta automaticamente fugindo do contexto de auto-existência .
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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #12 Online: 01 de Junho de 2010, 16:36:25 »
3- O comportamento dos objetos físicos é consistente.
4- Os humanos percebem o mundo de forma semelhante.

Esses dois na verdade estão incluídos no numero dois, pois se o comportamento de objetos físicos não fossem constantes, então não poderíamos aprender nada sobre o mundo. Se humanos não percebem o mundo de forma semelhante, nós tmb não poderíamos repassar nosso conhecimento ou até mesmo interagir com outras pessoas, ou sejam não poderíamos aprender sobre o mundo.
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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #13 Online: 01 de Junho de 2010, 16:41:49 »
3- O comportamento dos objetos físicos é consistente.
4- Os humanos percebem o mundo de forma semelhante.

Esses dois na verdade estão incluídos no numero dois, pois se o comportamento de objetos físicos não fossem constantes, então não poderíamos aprender nada sobre o mundo. Se humanos não percebem o mundo de forma semelhante, nós tmb não poderíamos repassar nosso conhecimento ou até mesmo interagir com outras pessoas, ou sejam não poderíamos aprender sobre o mundo.

Antecipei isso. Na verdade, poderiamos aprender algo mesmo em um sistema inconsistente. O que não poderiamos fazer é previões.
É a diferença entre um simples dado observacional (objeto X agiu de forma Y) e uma lei (objeto X age de forma Y).

No caso de 4, você poderia imaginar um gênio solipsista que é capaz de aprender sobre o (seu) mundo mas que é incapaz de fazer
qualquer um concordar com ele. Mais ou menos como economistas debatendo :).


EDIT: Caso 4, não 3, no segundo parágrafo.
« Última modificação: 01 de Junho de 2010, 16:44:51 por Dr. Manhattan »
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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #14 Online: 01 de Junho de 2010, 16:56:01 »
O problema é que nesse exemplo do solipsista o mundo não existe, por tanto as pessoas tmb não existem, o solipsista não esta aprendendo com o mundo. Nós podemos observar vários padrões no comportamento das pessoas que demonstram que de uma maneira ampla, as pessoas se comportam de maneira similar, ou seja estamos aprendendo com o mundo.
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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #15 Online: 01 de Junho de 2010, 17:07:01 »
O problema é que nesse exemplo do solipsista o mundo não existe, por tanto as pessoas tmb não existem, o solipsista não esta aprendendo com o mundo. Nós podemos observar vários padrões no comportamento das pessoas que demonstram que de uma maneira ampla, as pessoas se comportam de maneira similar, ou seja estamos aprendendo com o mundo.

Na verdade, escolhi mal as palavras: em lugar de solipsista, use "solitário". E usei também a palavra aprender no sentido de "coletar informações
sobre o mundo", e não "descobrir padrões no mundo". A diferença é importante.

Em princípio, um observador poderia registrar:
"X aconteceu, depois Y aconteceu, depois Z aconteceu."
Ele está coletando informações, mas são dados desconectados. É bem diferente se ele registra:
"X aconteceu, portanto Y aconteceu, consequentemente Z aconteceu."
Neste caso, o observador não apenas detectou os eventos, mas assinalou uma relação entre eles. Ele poderia até afirmar:
"Assim, W acontecerá."

Mas isso só é possível se a realidade for consistente. Veja também que existem graus de regularidade: podemos imaginar um universo onde
algumas leis mudassem a cada século. Só que isso nunca foi observado.
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Alan Watts

Offline Adriano

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #16 Online: 02 de Junho de 2010, 02:51:54 »
Penso logo existo é um grande erro. Existimos logo pensamos, é o correto. O pensar que embasa o existir no caso de Descartes é a própria condição do homem de um ser pensante. Nós como humanidade pensamos, logo existimos. O conhecimento nos humaniza, é uma questão mais antropológica. Mas não podemos cair no jogo de palavras e jogar a teoria da evolução na lata do lixo.

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Você saiu completamente do contexto, eu estava me referindo a auto-existência,  quando você pluraliza, vc esta automaticamente fugindo do contexto de auto-existência .
A minha proposição foi exatamente a de contextualizar a existência individual em relação aos demais "objetos" vivos estudados na biologia. A auto-existência (existencia individual) é real a partir do nascimento e finda-se na morte. Não tem como fugir disso, é pegar a medicina (para especificar mais ainda a biologia neste caso) e joga-la no lixo.
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Offline Johnny Cash

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #17 Online: 02 de Junho de 2010, 03:32:11 »
O problema é que nesse exemplo do solipsista o mundo não existe, por tanto as pessoas tmb não existem, o solipsista não esta aprendendo com o mundo. Nós podemos observar vários padrões no comportamento das pessoas que demonstram que de uma maneira ampla, as pessoas se comportam de maneira similar, ou seja estamos aprendendo com o mundo.

Na verdade, escolhi mal as palavras: em lugar de solipsista, use "solitário". E usei também a palavra aprender no sentido de "coletar informações
sobre o mundo", e não "descobrir padrões no mundo". A diferença é importante.

Em princípio, um observador poderia registrar:
"X aconteceu, depois Y aconteceu, depois Z aconteceu."
Ele está coletando informações, mas são dados desconectados. É bem diferente se ele registra:
"X aconteceu, portanto Y aconteceu, consequentemente Z aconteceu."
Neste caso, o observador não apenas detectou os eventos, mas assinalou uma relação entre eles. Ele poderia até afirmar:
"Assim, W acontecerá."

Mas isso só é possível se a realidade for consistente. Veja também que existem graus de regularidade: podemos imaginar um universo onde
algumas leis mudassem a cada século. Só que isso nunca foi observado.

Dr. Manhattan, o que você quer dizer com "consistente"?

Offline lusitano

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #18 Online: 02 de Junho de 2010, 07:08:15 »
Gigaview


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Tem uma parte deste artigo que aborda esse assunto. Podemos discutí-lo aqui.

http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol34/s1/8.html

....... Etc..................................... Etc.................

««Qualquer que seja a resposta, parece-nos que no caso específico da psiquiatria há domínios de fenômenos em que as pesquisas avançam com considerável unidade teórica, como os estudos em psicofarmacologia da esquizofrenia e dos transtornos de humor. Enorme quantidade de pesquisadores e recursos está mobilizada nesses estudos, que envolvem práticas metodológicas e resultados empíricos que, em linhas gerais, são aceitos pela maioria dos psiquiatras.

Ao lado desses domínios, porém, há outros sobre os quais predominam divergências sérias e generalizadas. Casos típicos são as relações entre saúde mental e espiritualidade, principalmente nas situações que envolvem as chamadas “experiências anômalas” e os “estados alterados de consciência”.2 Nesses casos, há discordância sobre quase tudo, a começar pela própria realidade dos fenômenos. Admitida essa realidade, não há unidade de vistas sobre os padrões e as condições em que se apresentam e, sobretudo, sobre sua explicação. Não há, pois, nenhum enfoque teórico único direcionando a pesquisa, o que configura uma típica situação “pré-paradigmática”.

Nem por isso, no entanto, a pesquisa fica aí inviabilizada. Situações desse tipo representam, antes, um estimulante desafio para as mentes criativas, herdeiras modernas do antigo ideal da busca do saber pelo saber, que caracterizou o advento da filosofia, na Grécia Antiga. Deve, no entanto, haver consciência exata da situação, para que o treinamento típico do cientista – que visa à formação apenas de um cientista “normal”, no sentido kuhniano – não interfira negativamente no avanço das investigações. Diversas possibilidades de tal interferência serão comentadas em Diretrizes para a exploração do desconhecido, neste artigo. Antes, porém, teceremos algumas considerações de caráter geral sobre a ciência, que ajudam na identificação dos principais problemas que surgem na exploração de novas áreas.»»

Etc..................... Etc..............

Parece-me, que é bastante consistente :!: :ok:
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #19 Online: 02 de Junho de 2010, 07:26:58 »
Adriano

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biscoito & Adriano: Penso logo existo é um grande erro. Existimos logo pensamos, é o correto. O pensar que embasa o existir no caso de Descartes é a própria condição do homem de um ser pensante. Nós como humanidade pensamos, logo existimos. O conhecimento nos humaniza, é uma questão mais antropológica. Mas não podemos cair no jogo de palavras e jogar a teoria da evolução na lata do lixo.

Apesar de aparentemente, ser como você diz - existo, logo penso - você de facto, só sabe que existe, porque pensa. Isto é: é uma autoconsciência, testemunhando a natureza "exterior".

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........................................................... .......

Você saiu completamente do contexto, eu estava me referindo a auto-existência,  quando você pluraliza, vc esta automaticamente fugindo do contexto de auto-existência .
 
........................................................... ...

A minha proposição foi exatamente a de contextualizar a existência individual em relação aos demais "objetos" vivos estudados na biologia. A auto-existência (existencia individual) é real a partir do nascimento e finda-se na morte. Não tem como fugir disso, é pegar a medicina (para especificar mais ainda a biologia neste caso) e joga-la no lixo.

Acredito que você tem razão :!: :ok: Mas entretanto, parece-me irrazoável, descartar, como ilógico, um certo solipsismo fundamental. :)

Quanto a mim - a natureza precisa - de observadores autoconscientes, sejam hominídeos ou não. :idea: 
 
 
 
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Adriano

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #20 Online: 02 de Junho de 2010, 10:21:49 »
Adriano

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biscoito & Adriano: Penso logo existo é um grande erro. Existimos logo pensamos, é o correto. O pensar que embasa o existir no caso de Descartes é a própria condição do homem de um ser pensante. Nós como humanidade pensamos, logo existimos. O conhecimento nos humaniza, é uma questão mais antropológica. Mas não podemos cair no jogo de palavras e jogar a teoria da evolução na lata do lixo.

Apesar de aparentemente, ser como você diz - existo, logo penso - você de facto, só sabe que existe, porque pensa. Isto é: é uma autoconsciência, testemunhando a natureza "exterior".
Não é da observação de si mesmo que o homem pensou sobre a vida e sobre a morte. É através dos outros, da observação de que os indivíduos (seus semelhantes) nascem e morrem. O saber que existe é um contraponto ao saber da não-existência, que é a morte.  Sabemos que existimos quer dizer que sabemos que estamos vivos.

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........................................................... .......

Você saiu completamente do contexto, eu estava me referindo a auto-existência,  quando você pluraliza, vc esta automaticamente fugindo do contexto de auto-existência .
 
........................................................... ...

A minha proposição foi exatamente a de contextualizar a existência individual em relação aos demais "objetos" vivos estudados na biologia. A auto-existência (existencia individual) é real a partir do nascimento e finda-se na morte. Não tem como fugir disso, é pegar a medicina (para especificar mais ainda a biologia neste caso) e joga-la no lixo.

Acredito que você tem razão :!: :ok: Mas entretanto, parece-me irrazoável, descartar, como ilógico, um certo solipsismo fundamental. :)

Quanto a mim - a natureza precisa - de observadores autoconscientes, sejam hominídeos ou não. :idea: 
Este seu pensamento está mais do que claro para mim e penso que para muitos. É a base de toda a discordância com o grosso do pensamento cético científico. É como dizer que a vida precisa de observadores para existir. Ela já existia antes da observação cognitiva.
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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #21 Online: 02 de Junho de 2010, 13:20:09 »

Dr. Manhattan, o que você quer dizer com "consistente"?

Em lógica, um sistema consistente é um que não admite que uma proposição e sua negação sejam ambas verdadeiras.
No sentido que escrevi, consistente significa que, até onde sabemos, o Universo é regular: observa-se que os fenômenos
ocorrem sempre de uma forma ao longo do tempo. Por exemplo, observa-se que o calor sempre flui de um corpo mais
quente para um mais frio e nunca o contrário. Veja que, nesse exemplo, se o o calor ora fluisse do mais quente para o mais
frio, ora o contrário, de forma periódica, isso por si só já seria uma regularidade. 
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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #22 Online: 02 de Junho de 2010, 14:11:05 »

Dr. Manhattan, o que você quer dizer com "consistente"?

Em lógica, um sistema consistente é um que não admite que uma proposição e sua negação sejam ambas verdadeiras.
No sentido que escrevi, consistente significa que, até onde sabemos, o Universo é regular: observa-se que os fenômenos
ocorrem sempre de uma forma ao longo do tempo. Por exemplo, observa-se que o calor sempre flui de um corpo mais
quente para um mais frio e nunca o contrário. Veja que, nesse exemplo, se o o calor ora fluisse do mais quente para o mais
frio, ora o contrário, de forma periódica, isso por si só já seria uma regularidade. 

Era exatamente o que eu pensava.

Alguns posts acima, o biscoito1r tratou esse "consistente" como "constante" e isso causou certa confusão na minha interpretação.

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Re: Limites do Método Científico na Aferição da Verdade.
« Resposta #23 Online: 02 de Junho de 2010, 18:44:19 »
Adriano

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Apesar de aparentemente, ser como você diz - existo, logo penso - você de facto, só sabe que existe, porque pensa. Isto é: é uma autoconsciência, testemunhando a natureza interior e "exterior".

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Não é da observação de si mesmo que o homem pensou sobre a vida e sobre a morte. É através dos outros, da observação de que os indivíduos (seus semelhantes) nascem e morrem.


Concordo perfeitamente :!: :ok:

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O saber que existe é um contraponto ao saber da não-existência, que é a morte.  Sabemos que existimos quer dizer que sabemos que estamos vivos.

Exacto: um homem experiencia-se como um ser que vive. Mas não consegue experienciar-se como inexistente. E é aí, que surge o paradoxo; se eu de facto, só "confirmo" a morte do meu semelhante, então como é que posso epistemologicamente - demonstrar a mim próprio - que desapareço?

Eu sou de opinião, que é o momento, em que a "evidência anedótica" é indispensável como testemunho pessoal. Nada me garante, que se eu me eclipsar definitivamente, depois da minha exterminação física, não se eclipsa tudo comigo. :idea: :arrow: 8-)

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Acredito que você tem razão :!: :ok: Mas entretanto, parece-me irrazoável, descartar, como ilógico, um certo solipsismo fundamental. :)

Quanto a mim - a natureza precisa - de observadores autoconscientes, sejam hominídeos ou não. :)  

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Este seu pensamento está mais do que claro para mim e penso que para muitos. É a base de toda a discordância com o grosso do pensamento cético científico. É como dizer que a vida precisa de observadores para existir. Ela já existia antes da observação cognitiva.

Não posso concordar consigo, nesta importante questão ontológica e metafísica. Repare bem - toda a existência inclusive a minha - e a de todos os outros humanos e toda a vida em geral, são um espectáculo, que se evidencia perante a sua consciência auto-perceptiva.

Ora se você desaparecer, como é que vai testemunhar que tudo continua a existir exceptuando você? E não me parece, que isso viole o pensamento "céptico científico". :idea:

Quanto a mim, a existência vivente e a consciência, compôem uma "matrix" interactiva, em que a morte absoluta, é uma ilusão fantástica, que se desenrola perante os sentidos da consciência pessoal e colectiva. É uma espécie de hipnose absoluta, em que a autoconsciência se encontra programada. :idea:





Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Especulando realismo fantástico, em termos de
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paralogismo comparado - artur.

 

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