Vou contar uma histórinha verídica para vocês, para resguardar os indivíduos todos os nomes e lugares serão fictícios.
Claro que também as circunstâncias em que vim a saber disto não importam.
Era uma vez um sujeito chamado Zé, que morava com a mãe e a irmãzinha de oito anos num bairro pobre de um periferia qualquer. Zé era um bom sujeito, apesar de quase analfabeto, era trabalhador e honesto. Zé tinha esperança na humanidade, tanto que convidou um amigo para morar com ele, pois este não tinha onde morar e residia na obra em que os dois trabalhavam. Zé teve pena dele e repartiu com ele o pequeno cômodo em que vivia com sua família.
Pois bem, esse amigo do Zé, chegou uma tarde em casa, completamente bêbado, e estuprou a irmãzinha do Zé, como se isso não bastasse a enforcou e escondeu o seu corpo debaixo da cama. Como ele estava completamente bêbado, acabou dormindo nessa mesma cama. Uma vizinha foi chamar a menina e, diante do silêncio, entrou na casa e descobriu o sujeito dormindo e reparou em algo debaixo da cama. A polícia conseguiu chegar a tempo de salvar o indivíduo do linchamento.
À noite, já refeito da bebedeira, ele confessou o crime e pôs a culpa do ocorrido na bebida. Claro que isso não serviu de consolo para ninguém, muito menos para alguns sujeitos que resolveram introduzir um cano de aço nele para ele sentir um pouco do que a menina deve ter sentido. Algum tempo depois desistiram da brincadeira, pois o indivíduo não mostrava reação nenhuma, sofrendo tudo resignado. Mesmo quando esquentaram o cano, ele continuou em silêncio.
Os seus companheiros de cela, como reza a lei da prisão, foram pragmáticos: ou vira menina ou morre, sem antes sofrer um bocado. Ele não virou menina, pelo menos não por vontade própria, e sofreu semanas, tendo sido até internado devido aos maus tratos. Depois de um tempo, os outros detentos desistiram de torturá-lo, pois o mesmo não apresentava nenhuma reação e nem tentava se defender.
Não sei que fim levou o dito cujo, se morreu ou foi solto, mas até hoje alguns presos lembram com um certo temor do sujeito que sofria as torturas sem dizer um ai.
Quanto ao Zé, bem... ele mesmo me contou que, tanto ele como sua mãe, acabaram por perdoar o sujeito.
Hoje ele tem uma filha que recebeu o mesmo nome da irmã assassinada.
Não sei se eu teria a mesma grandeza de caráter que o Zé teve ao resolver homenagear a sua irmã deste modo.