A conta do contoUma conta corrente bilionária e sem movimentação pode ser o indício de que os banqueiros do JP Morgan sabiam que havia algo de errado no reino de MadoffRELAÇÕES BANCÁRIAS são iguais pelo mundo afora. Possuem algumas variações de acordo com o nível de endividamento ou investimento do cliente.
Mas, no geral, não mudam. Quando as dívidas apertam e a conta corrente permanece no vermelho, não demora muito até o gerente responsável fazer uma cordial ligação oferecendo soluções para o problema. O mesmo ocorre quando uma súbita quantia de dinheiro aparece na conta de alguém. Em questão de horas, ou no máximo dias, o cliente é convidado a fazer algum tipo de investimento. Mas parece que, quando se trata de Bernard Madoff, as coisas nem sempre acontecem como manda a cartilha. Ou, pelo menos, aparentam não acontecer. O banco JP Morgan vem sendo cercado por investidores furiosos que querem saber por que a instituição jamais questionou os bilhões de dólares colocados por Madoff em sua conta corrente. A polêmica veio à tona em janeiro, após o banco afirmar ter tido exposição próxima a zero em relação à fraude Madoff.
E ganhou força na última semana, quando o ex-presidente da Nasdaq afirmou, durante seu julgamento, que por anos manteve o dinheiro de seus investidores em uma única conta corrente do Chase Manhattam (que pertence ao JP Morgan), sem investir em nenhum produto financeiro do banco ou de qualquer outra instituição.
A vista grossa e o saque repentino são apenas mais evidências de que há muito mais pedras escondidas nos escombros da pirâmide de Madoff do se poderia imaginar.
O grande enigma em torno da conta bilionária no Chase Manhattan está no fato de os banqueiros jamais questionarem por que um suposto "dono" de um fundo de investimentos possuía tanto dinheiro parado e não aplicava em nenhum tipo de ativo. A única movimentação feita por Madoff, segundo ele próprio, era a transferência de determinados valores para a filial de sua empresa em Londres, dando a falsa impressão aos reguladores de que seu dinheiro era aplicado em mercados europeus. Outro ponto que coloca o JP Morgan em uma posição delicada é o fato de o banco ter praticamente "zerado" sua posição de US$ 250 milhões nos fundos de Madoff poucos meses antes da descoberta da fraude, estimada em US$ 65 bilhões, em dezembro do ano passado.
Durante o anúncio de resultados do quarto trimestre de 2008, uma das porta-vozes do banco, Kirstin Lemkau, afirmou que o banco havia revisto sua exposição ao fundo e decidido zerá-la por dúvidas sobre a transparência do mesmo.
Quando questionada sobre por que o JP Morgan não informou a seus investidores tais dúvidas, Kirstin foi categórica. "Não tínhamos o direito de divulgar nossas apreensões", disse. Assim sendo, o JP Morgan não teve perdas, mas seus clientes que investiam diretamente nos fundos Madoff, sim. Clientes que o próprio banco havia estimulado a investir nos fundos de Madoff em meados de 2006, segundo afirmou o The New York Times. Os saques efetuados pelo JP Morgan aconteceram em setembro de 2008, mês em que o banco captou US$ 10 bilhões no mercado acionário com a emissão de 246 milhões de ações ordinárias. Foi também em setembro que o JP Morgan comprou as operações do já falido Washington Mutual por US$ 1,9 bilhão, criando assim a maior instituição de depósitos e poupança dos EUA, com US$ 900 bilhões em depósitos na época. Após as últimas declarações de Madoff, o banco JP Morgan não se pronunciou. O porta-voz oficial, Joe Evangelisti, se negou a falar com a imprensa e o banco não divulgou nenhum comunicado para defenderse dos rumores. Além de investidores arruinados e dúvidas sem respostas, resta saber quem será o próximo cadáver encontrado no que restou do legado Madoff.
http://www.terra.com.br/istoedinheiro/edicoes/598/a-conta-do-contouma-conta-corrente-bilionaria-e-sem-movimentacao-129112-1.htm