Eu já conhecia esses textos Mirror, desde muito tempo atrás...
Como eu disse, comecemos pelo básico, pelo inicio de tudo no budismo.
Mirror, tente me entender aqui.
Eu não concordo por exemplo que nascimento é sofrimento, não concordo que não ter o que se deseja seja sofrimento, nem que separação do que se deseja seja
sofrimento em grande parte da sua vida...
Eu não concordo com a questão da sensualidade... acho que temos que aproveitá-la quantas vezes quiser, até cansar, se é que se cansa disso... com quantas pessoas quiser... e não há nenhuma preocupação aqui...
E não concordo que quando temos dúvidas vamos ao ceticismo, e se isso acontecesse iria ser algo ruim...
Sua discordância não torna isso menos verdadeiro, principalmente quando essa discordância é muito mais fruto do não entendimento do que está sendo dito, do que qualquer outra coisa.
Você não atenta para algumas partes muito importantes da questão.
os cinco agregados da existência quando objetos de apego, isto é, quando tomados como “eu” e “meu” são sofrimento. Os cinco agregados da existência são: corpo, sensações, percepções, consciência e formações mentais.
O budismo identifica adequadamente que viver leva inevitavelmente a sofrer, na vida sofremos, isso fato, todos nós sofremos vez ou outra, alguns mais outros menos, por isso nascer é sofrer.
Quando um ente querido morre, sofremos.
Quando nos apaixonamos por alguém e não somos correspondidos, sofremos.
O budismo também entende que os sentimentos e sensações ruins são formas de sofrimento, então sentir inveja é sofrer, sentir ciúmes é sofrer, desejar algo que não pode ter é sofrer, sentir medo é sofrer, isso inclui o medo de perder algo desejado que se tem (o ciúmes mesmo é em parte fruto disso, mas existem outros tantos tipos de medos de perda), ansiedade é sofrimento (é até em muitos casos problema psiquiátrico).
Isso é claro varia em maior ou menor grau dependendo da pessoa, o sentimento ruim, o sofrimento criado por cada uma dessas coisas, varia de pessoa para pessoa segundo o apego que ele tem com cada uma dessas formações mentais.
Isso é conhecimento apurado do funcionamento da mente humana.
O budismo não classifica os sentidos e as sensações como sofrimento, ele não classifica o tesão como sofrimento ou qualquer prazer sensorial como sofrimento.
Quando ele fala sobre o desejo sensual, não fala contra o tesão ou sexo, o desejo nesse caso tem significado diferente, não se refere ao tesão, mas ao querer do ego, ao desejo egóico.
Então os cinco agregados da existência ou seja, corpo, sensações, percepções, consciência e formações mentais, não são apontados como sofrimento como você tenta refutar, eles só são considerados como sofrimento, quando se tornam objetos de
apego do
ego, isto é, quando tomados como “eu” e “meu”.
Isso nos leva a segunda verdade, a origem do sofrimento.
2ª - A Nobre Verdade da Causa do Sofrimento
Qual é a causa do sofrimento? é a ignorância, o desejo, o apego, a cobiça, o ódio, e a ilusão. Mas aonde o desejo e a ignorância surgem? aonde estão suas raízes? Aonde houver coisas deliciosas e agradáveis lá o desejo e ignorância surgem, lá eles têm as suas raízes. Visão, audição, olfato, paladar, tato e a mente são deliciosos e agradáveis lá o desejo e a ignorância surgem, lá eles fincam raízes. Quando percebemos um objeto pela visão, se o objeto é agradável a pessoa é atraída e se é desagradável a pessoa o repele. Então, seja qual for a sensação que experimente, se a pessoa o aprova e acha agradável então a sensação condiciona o desejo, e desejando a pessoa se apega ao objeto desejado. Então o desejo condiciona o apego. Quando a pessoa se apega ela irá agir pela palavra ou pelo o corpo para possuir o objeto desejado.
Deste modo, então o apego condiciona a ação, Karma, ou processo de vir a ser. O processo de vir a ser (ou existência) condiciona o nascimento. Dependendo do nascimento, a decadência e a morte, tristeza e lamentação dor e pesar, ressentimento e desespero. Assim surge essa imensa massa de sofrimento.
O desejo é causa do sofrimento? Pior do que essa afirmação é a groselha que temos que eliminar nossos desejos... Sorry cara, eu desejo várias coisas e isso não me faz mal algum..
Por exemplo, eu acho que uma causa de sofrimento maior é o cara acreditar em religiões que ficam falando que você tem sofrimentos de todo o tipo e se colocando como a ferramenta para você sair disso...
Groselha é tentar passar suas opiniões sobre uma questão que claramente não entendeu como verdade e tentar criticar quem discorda de você de uma forma tão rasa.
Vejamos então o motivo de dizer isso.
Qual é a causa do sofrimento? é a ignorância, o desejo, o apego, a cobiça, o ódio, e a ilusão.
Mais uma vez, o budismo se refere ao desejo egóico, ao "eu quero", ao apego as sensações, não as sensações em si, ao "eu não quero", o apego a repulsa, a distinção do eu quero isso, eu não quero aquilo.
Ele se refere a identificação do eu apegado aos objetos mentais e sensoriais.
Quanto mais focado em um sentimento como a raiva, maior a sensação e o sofrimento, já que prolonga tal sensação ruim, quanto mais deseja algo que não pode ter, maior o sofrimento, quanto maior o apego a uma pessoa, maior o sofrimento do ciúmes ou da separação, seja o fim de um namoro ou a morte de tal pessoa.
A que ignorancia o budismo se refere?
Tem pessoas ignorantes que são felizes, não? que tipo de ignorância? religiosa? científica? matemática??
A ignorância sobre si próprio, como, por exemplo, a ignorância sobre o funcionamento da própria mente, local onde surge o apego que leva ao sofrimento.
Elimine a ignorância sobre si próprio e elimina o apego e sofrimento.
Não, todas as pessoas sofrem, ser feliz não é sinônimo de não sofrer. Eu sou um cara feliz e sofro, quando meu pai morreu eu sofri, quando me apaixonei pela namorada e um amigo, também sofri. Nem por isso deixo de ser feliz.
E a ignorância não elimina sofrimento.
Você pode dizer que alguém que ignora que está sendo traído, não sofre por ignorar isso, mas também não sofreria se não fosse ciumento e apegado a pessoa.
Quem sofre por estar sendo traído, sofre por apego e ciúmes, sofre por se sentir de alguma forma humilhado e agredido, mas o fato é que a pessoa só se sente assim, se ela se permitir sentir assim.
É como quando alguém tenta te ofender, só tem sucesso se você se sentir ofendido ao se identificar com tal formação mental.
Basta não ligar para a ofensa e pronto, não se sente ofendido. É novamente a questão do ego, do apego e da identificação com as formações mentais, sejam pensamentos ou sentimentos.
Somos nós quem damos força a elas, mas se quisermos podemos simplesmente não dar bola a tais formações mentais.
Percebe como você não está acompanhando a lógica que segue o budismo?
Por mais que se possam discutir certos pontos aqui, imagino até que o Dantas venha a discordar de algum detalhe até esse ponto do que tratamos, fica claro que de qualquer possivel discussão sobre essa parte, você passou longe, bem longe do que propõe o Budismo.
Pode-se discutir também até que ponto isso pode ser levado, quer dizer, é possível não ser ciumento? É possível se livrar completamente desse tipo de coisa?
Não sei, eu sei que eu não consigo, meu desejo é a fidelidade e segurança, mas eu sei que já fui mais ciumento e isso da pra controlar, já fui mais nervosinho e isso também da pra evitar. É só não dar bola para os pensamentos e sentimentos quando eles vem.
Se é possível chegar ao nível que o budismo propõe eu não sei, mas sei que ele acerta em cheio o alvo ao apontar essas coisas.
Mais verdadeiro que é isso impossível, os sentimentos e pensamentos tem origem na mente e podemos dar força a eles ou deixa-los pra lá.
Aonde houver coisas deliciosas e agradáveis lá o desejo e ignorância surgem, lá eles têm as suas raízes.
Essa frase eu considero alienante e criminosa... Faz com que as pessoas procurem inventar uma vida paralela.., e incrível, religiosa.
Deste modo Mirror, as nobres verdades são nobres groselhas.
Sinceramente, eu prefiro o espiritismo, e buda sabe que não gosto muito dele...
Considera alienante apenas porque entende dessa frase que o prazer sensorial em si é sofrimento, enquanto na verdade o budismo diz é que, pela ignorância e apego, tornamos o prazer sensorial em origem de sofrimento.
Isso não faz com que as pessoas inventem uma vida paralela, diz ao contrario que é identificada a causa do sofrimento e então nos levam a terceira verdade, que trata da existência de um meio que leva a extinção da causa do sofrimento, essa por sua vez, nos leva a quarta e ultima verdade, a apresentação do meio pelo qual podemos extinguir o sofrimento. Isso significa trabalho duro e foco
nessa vida para resolver o problema identificado na primeira verdade.
Esse ponto é bem claro e torna o budismo bem diferente do cristianismo, esse sim propõe uma vida alternativa após a morte onde tudo magicamente será perfeito.
O budismo não, ele aponta o trabalho em vida, nessa vida, para eliminar o sofrimento. Não tem aqui nenhuma promessa de mundo paralelo pós morte.