o´tópico (
../forum/topic=19100.0.html) saiu um pouco do contexto original e começamos a debater sobre a alegação feita por budistas de que essa religião seria superior às demais. Resolvi abrir este tópico para que seja especializado no tema.
Minha intenção aqui, como já disse N vezes, não é falar que o budismo é bom ou ruim. Isso pode ser feito em outra hora. Minha intenção é demonstrar que, por mais que clamem os defensores do budismo neste fórum, não há motivos para dizer que ele é superior a qualquer outra religião como espiritismo, catolicismo, e outras.
O que eu pontuar como demérito do budismo é apenas como comparativo a outras religiões.
A possiveis debatedores. Coloquei os argumentos em pontos interconectados. Por favor, antes de responder a um ponto específico, leia todos eles.
1- Críticas à religião: Eu posso fazer? Como pergunta Dawkins, porque não podemos criticar a religião? Podemos falar sobre investimentos, sobre a racionalidade de atos do governo, mas se eu questiono a religião já vem aquela patrulha que me diz que isso é um assunto de cunho pessoal e que eu devo respeito à religião do indivíduo.
Em meu ponto de vista eu não devo nada. Eu posso utilizar meu cérebro para criticar qualquer coisa que possa ser dita, escrita, ou criada. A religião tem ainda hoje um status diferente, é sujeito a um respeito irracional, um resquício de sagrado que está impregnado em nosso cérebro.
Não dou para a proposição da religião nenhuma regalia frente a lógica e ao bom senso que não daria para qualquer outra proposição
2- A falácia do especialistaEsta falácia é utilizada quando alguém questiona sua crítica sobre um tema apresentado afirmando que você não conhece o bastante sobre ele.
A falácia acontece com esses elementos
A- É fornecido pelos próprios religiosos um tema para fazer análise, um texto, uma parte da doutrina por exemplo.
B- São encontradas diversas falhas e inconsistência
C- O religioso afirma que você não conhece o todo para criticar, e que ele tem anos de vivência e sabe o que está falando
D- Nunca contextualizam o que esse conhecimento a mais que possuem poderia influenciar em sua análise
Se fosse lhes dar crédito, teria que:
A- Ou ir a igreja deles.
B- Se embrenhar em um milhão de escritos e fazer uma tese de doutorado
Para A, sem chance. Não tenho motivo para achar que devo ir.
Para B: Eu leria mais se alguém tivesse me mostrado um texto decente e não apenas textos ridículos.
Com isso eles pretendem:
A -Se proteger em um auto-engano ao acreditar que realmente há outras coisas mais profundas inacessíveis ao leigo
B- Prolongar a discussão sem reconhecer qualquer conclusão
3- Um pouco de senso práticoEm uma discussão as vezes pautadas por afirmações como "A minha religião é superior, eu conheço e você não conhece", poderíamos tentar fugir de discutir questões teóricas e cair um pouco em coisas mais práticas.
O que se espera de alguém, um país, uma amostra populacional, que siga um preceito moral melhor, mais inteligente, menos fanático e mais adequado à evolução? Simples, que sejam mais morais, inteligentes, menos fanáticos e que evoluam mais. Dito isso:
A- Budistas participaram de genocídios em guerras, execuções sumárias e outras barbaridades? Claro, veja extermínios perpetrados por japoneses, chineses, etc..
B- Há fanatismo religioso? Ex, Sri Lanka.
C- Países de terceiro mundo budistas estão evoluindo melhor do que países de terceiro mundo cristãos? Não,
D- Budistas são mais gentis do que cristãos, ao se comparar países com desenvolvimento humano similar (Japão e Suécia, Haiti e Sri Lanka). Não.
E- Budistas que temos contato são mais calmos, se acham menos superiores, do que espíritas? Não.
...
O senso prático nos mandaria questionar a afirmação de que a religião A é melhor do que a B. A não ser que a religião não seja útil para esses temas que levantei, aí ficaria aguardando uma proposição de utilidade para a religião.
4- A DoutrinaComo toda a religião, temos uma doutrina (os princípios que deveriam ser básicos, os preceitos) e a prática (o que é realizado pelos fiés frente à sua religião, a liturgia, a interpretação aplicada do crente, o senso/consenso dos praticantes daquela corrente específica).
A doutrina é passível de uma leitura e uma análise, pode ser criticada e pode ter inclusive suas afirmações reputadas como mentira.
Primeiro ponto: Quem quer se comunicar o faz se é capaz e se tem algo a comunicar. Essa questão de reputar qualquer afirmação que é um lixo como sendo uma metáfora de algo sábio/divino que é absolutamente reflexo da melhor capacidade e inspiração da pessoa que lê e acredita é meramente uma estratégia conveniente à manutenção da religião, um
demérito a filósofos que não caíram na tentação de burlar sua falta de inteligência e capacidade de expressão e tiveram coragem de tocar de maneira direta no ponto chave que queriam defender, além de ser, como veremos, uma fábrica de alienados.
Levando isso em consideração, podemos afirmar que o Budismo mostra em seus textos um verdadeiro show de groselhas (e falamos sobre parábolas também no próximo ponto)
"Verdadeiramente, bhikkhu, um nobre discípulo que é hábil e que compreendeu por ele mesmo, independente da fé em outros, que ‘Quando existe isso, aquilo existe; com o surgimento
disso, aquilo surge..."
ou
"Quem vê a origem dependente vê o Dhamma; quem vê o Dhamma vê a origem dependente"
ou
"Vejam, da ignorância como requisito necessário surgem as fabricações"
ou
"Porém, esta geração se delicia com a adesão, está excitada com a adesão, desfruta da adesão. Para uma geração que se delicia com a adesão, excitada pela adesão, desfrutando da adesão, esta verdade, isto é, a condicionalidade isto/aquilo e a origem dependente são difíceis de serem vistas. E também, é difícil de ver esta verdade, isto é, o silenciar de todas as formações, o abandono de todos apegos, o fim do desejo, desapego, cessação, Nibbana. Se eu fosse ensinar o Dhamma, os outros não me entenderiam e isso seria fatigante, enervante"
Um deva (sânscrito e pali), no budismo, é um dos diferentes tipos de seres não-humanos. São mais poderosos, vivem mais e, no geral, tem uma existência mais satisfeita que a média dos seres humanos.
...
O termo deva não se refere a uma classe natural de seres mas é definida de modo antropocêntrico para incluir todos os seres mais poderosos ou mais bem-aventurados que os humanos. Ele inclui vários tipos bem diferentes de seres, seres estes que podem ser alinhados hierarquicamente. As classes inferiores desses seres são mais próximas em sua natureza com os humanos que com as classes superiores de devas.
...
Diz-se que os humanos originalmente tinham muitos dos poderes dos devas: não requerer comida, a habilidade de voar e brilhar pela sua própria luz. Com o tempo eles passaram a comer alimento sólido, seus corpos ficaram mais densos e seus poderes desapareceram.
O guia moral é rígido, descontextualizado de situações reais presentes em tratados de ética, e como prêmio propõe que a pessoa se tranforme em um super-homem. Os poderes que você ganha quando consegue seguir a proposição moral está aqui
../forum/topic=19100.150.html#msg418785Se para explicar que a ação de alguém afeta outrem eu preciso falar do Bikhu de cinco olhos no mundo de Brahma, que no nirvana o sujeito não sente frio nem calor e depois ele ouve as 3 vozes do além.... eu vou descartar isso e vou taxar o texto de ridículo. E se as pessoas defendem esse texto dizendo que é apenas uma estorinha, não reclamem que eu peço ONDE no mesmo texto o autor classifica isso de estorinha... Ou então não reclamem que eu diga que o texto é alienante e pode gerar confusão e fanatismo.
O interessante é que existe um reconhecimento tácito de que a doutrina é besteira, já que os budistas mais esclarecidos, assim como cristãos mais esclarecidos, insistem em se distanciar/"tirar o foco" e via de regra não discutem o texto ,basicamente ao afirmar que ninguém prega os atributos super-humanos (o que vamos ver que é mentira). Ou seja, tiram sua importância/foco com o velho argumento da alegoria, ou dando a ela um senso estético para a prática, ou taxando-na de complexa em um apelo a ignorância do tipo "quem sou eu para falar do Nirvana".
Mas de uma maneira geral, há a recusa de se debater a doutrina, basicamente porque seria algo como debater o livro cristão, não há muita solução no contexto da lógica e ceticismo.
4- Ora, são apenas parábolas - A influência da cultura na crençaNas comparações que tenho visto, os budistas me colocam links mostrando grandes idiotices cristãs principalmente evangélicas. Não há nada o que se falar sobre essas idiotices a não ser que são idiotices.
O problema é que usam isso para provar a superioridade do budismo frente ao cristianismo, o que é uma besteira.
O que fazem é um compêndio dos piores momentos cristãos com os melhores momentos budistas.
Primeiro vamos às parábolas. A afirmação é que budistas não acreditam nela. Quais Budistas não acreditam? Quais cristãos acreditam em Noé?
A questão é que em paises onde há mais informação, educação e riqueza, esses textos são naturalmente reputados como parábolas ou metáforas pela maior parte da população. Em países onde a ignorância é mais acentuada, esses textos são levados mais ao pé da letra.
Assim, o cristianismo pode ser fonte de crendices no Brasil, e fonte de metáforas para Suécos. Sei que não é estatística, mas minha sogra que é Sueca e cristã e não entende como alguém pode acreditar em virgens dando a luz, cristo sob as aguas, ela defende seu ponto de vista dizendo que isso não é feito para se acreditar.
Da mesma forma, o budismo vai ser levado ao pé da letra em países pobres como o Sri Lanka e menos em países mais instruidos como o Japão. No brasil, como o budismo é uma religião de elite, o que acontece é um comportamento mais similar a países desenvolvidos.
Resumidamente, esse desapego à literalidade não é uma questão da religião, mas sim uma questão de evolução da sociedade. Até porque é evidente, pois não vi nas doutrinas budistas até agora nenhum disclaimer --- Atenção, as próximas frases são metáforas...
Agora uma questão prática sobre parábolas. Eu já ouvi, N vezes, de todos os religiosos possíveis, que as parábolas são usadas como uma maneira de seres iluminados/evoluidos passarem sua mensagem para o povo babão.
O problema é que:
A- explicado a metáfora, não vemos nada de mensagem profunda. E já disse que estou esperando para ver quando um desses seres iluminados vai escrever algo profundo e iluminado.
B- Vemos que a mensagem poderia ser passada de maneira direta de uma maneira bem mais precisa e elegante.
C- Grécia estava discutindo democracia com o povo mas os sábios iluminados não podiam falar conceitos banais sem envolver o Bikkhu dos três pântanos.
5- O ruído no cérebroCom todos os budistas que discuti encontrei aquelas velhas idéias religisoas de que o mundo está piorando, não encontramos a verdadeira harmonia, verdadeira verdade e a verdadeira justiça...
Em links me passado pelo Dantas (que agora estão quebrados), havia trechos como este [conhecimento científico] é "dirigida exclusivamente para satisfazer interesses egoístas", que "o mundo parece estar repleto de conflito e sofrimento"
Dantas já discorreu longamente sobre o fato de advogados não representarem a verdadeira justiça e que, caso a tivéssemos, advogados seriam inúteis
Vejamos mais...
Victor fez um tópico semelhante... (
../forum/topic=19210.0.html#msg421683 ) mostrando contra todos os fatos que estamos indo de mau a pior....
Outro:
Mauricio Rubyo fazia exatamente o mesmo, falando que hoje queremos comprar comprar e não estamos mais ligados à natureza, que o consumismo está nos distanciando da realidade, etc..
../forum/topic=18363.50.html#msg386315Vou a Sócrates agora: "Often when looking at a mass of things for sale, he would say to himself, 'How many things I have no need of!"
Não dou a mínima para o Sócrates, só o citei aqui para mostrar que essa falácia é tão antiga quanto os ingênuos que acreditam que isso não é nada mais do que nosso modo de ser.
E quem é que afirma que estamos na merda ao mesmo tempo que propõe a resposta para os problemas? A religião. Mesmo sendo uma instituição milenar, essa resposta já funcionou alguma vez? Não. Isso se torna alguma evidência para alguém: Não.
it is very difficult for the words spoken by Buddha from the far bank of Enlightenment to reach the people still struggling in the world of delusion; therefore Buddha returns to this world Himself and uses His methods of salvations.
"Now I will tell you a parable," Buddha said. "Once there lived a wealthy man whose house caught on fire. The man was away from home and when he came back, he found that his children were so absorbed in play, had not noticed the fire and were still inside the house. The father screamed, 'Get out, children! Come out of the house! Hurry!' But the children did not heed him.
"The anxious father shouted again. 'Children, I have some wonderful toys here; come out of the house and get them!' Heeding his cry this time, the children ran out of the burning house."
This world is a burning house. The people, unaware that the house is on fire, are in danger of being burned to death so Buddha in compassion devises ways of saving them.
Sem levar em consideração aqui o texto asqueroso da compaixão de buda querendo me salvar e que o cristo, ops buda, voltou para me salvar...
Com esse tipo de groselhas na cabeça, as pessoas acabam fugindo de problemas inexistentes e se tornando reféns de sua vida religiosa, virando pessoas introspectivas, virando pessoas que não curtem a plenitude da vida possível em detrimento a uma harmonia utópica ou paraíso, se preferem.
Não existe crença sem efeitos colaterais. Acredita em energia de cristais? Que mal faz? Daqui a pouco você está gastando R$ 400,00 para limpar sua aurea, além de acreditar que isso vai fazer algo que na verdade você deveria estar fazendo.
Comunismo é a mesma coisa... fé em livre mercado é a mesma coisa... não deveria haver espaço para nenhuma crença
6- O simancolMuitas vezes a discussão com religiosos ou pessoas com uma ideologia profunda saem dos parâmetros normais.
Por exemplo, um comunista vai falar que o capitalismo é terrível porque mata pessoas mas vai defender os assassinatos de Che/Lenin/Fidel contra todos os argumentos e não vai suspeitar em hipótese alguma que sua capacidade crítica está corrompida pela sua ideologia.
A mesma coisa com o religioso. Todos os religiosos, 100% deles, falam que sua própria religião é superior à dos outros. E incrível, sem ironia, é que nenhum deles suspeita de nada.
Por isso, não há crença impune. Algo em nosso cérebro vai ser afetado. A sua decisão de aderir ao um sistema religioso vai afetar uma parte de seu cérebro.