Autor Tópico: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville  (Lida 1635 vezes)

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Offline uiliníli

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Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Online: 23 de Fevereiro de 2009, 21:06:00 »
Existe muita polêmica sobre o que ateísmo, o que agnosticismo, se uma pessoa pode ser ao mesmo tempo ateia e agnóstica, se dá no mesmo, se não dá... Eu mesmo me considerava ateu e agnóstico, porém, após ler "O espírito do ateísmo", do filósofo francês André Comte-Sponville, eu me dei conta de que na verdade eu sou ateu. Não pretendo com este tópico convencer ninguém a "mudar de lado", mas propor uma nova maneira de ver a situação.

A definição tradicional de agnosticismo, conforme o inventor do termo, o biólogo T. H. Huxley, agnóstico é quem considera a validade de proposições de natureza metafísica desconhecida ou mesmo incogniscível. Em outras palavras, seria quem considera impossível saber se Deus existe realmente.

Sponville contesta essa definição vocês já verão porque, mas antes é preciso citar Kant para explicar que existem 3 níveis de crença:

1) a opinião, que não basta nem subjetivamente e nem objetivamente.
2) a convicção (ou fé), que basta subjetivamente, mas não objetivamente.
3) o conhecimento, que basta tanto subjetivamente quanto objetivamente.

Segundo Comte-Sponville, é óbvio que ninguém tem de fato conhecimento para dizer se Deus existe ou não. Se tivesse, ele seria capaz de convencer as outras pessoas, pois, como o conhecimento tem valor objetivo, ele pode ser demonstrado. Não é o caso de Deus, porém... Se fôssemos usar a definição de Huxley de agnosticismo, "seríamos todos agnósticos, salvo cegueira particular, e o agnosticismo perderia em compreensão o que ganharia em extensão", ou seja, todo mundo seria agnóstico e a palavra se esvaziaria de significância.

Então as pessoas intelectualmente honestas têm duas opções: a convicção (fé) e a opinião. Quem tem convicção está convencido de alguma coisa, mas sua crença só tem valor subjetivo, já que ele é incapaz de demonstrá-la. Quem tem convicção deve saber que crê, e não crer que sabe. Os convictos são os chamados ateus dogmáticos e a maioria dos teístas.

A outra forma de crença é a opinião. O próprio Comte-Sponville declara que sua descrença em Deus é uma opinião, ele se considera um ateu não-dogmático. Embora ele não esteja convencido de sua opinião, ele considera que há melhores motivos para não crer em Deus do que para crer - e em seu livro ele explica esses motivos, mas isso é irrelevante para esta discussão. Eu me identifico nesta categoria também, eu não acredito em Deus, mas essa descrença é uma opinião, eu não posso demonstrá-la objetivamente e mesmo subjetivamente eu não posso me convencer que Deus é completamente impossível.

E quanto ao agnóstico? Segundo o filósofo, o agnóstico é quem se recusa até a opiniar sobre a questão, o agnóstico se considera incapaz de dar uma resposta sobre o assunto. Comte-Sponville faz questão de ressaltar que o agnosticismo é uma posição completamente válida e defensável e eu também acho. Mas eu percebi que, sob essa definição, eu não sou um agnóstico, eu sou ateu. Ateu não-dogmático.

Agora, será que não podemos dizer que um ateu não-dogmático é a mesma coisa que o que costumamos chamar de ateu-agnóstico? Bom, sob a definição huxliana, até faz sentido, mas sob a definição de Comte-Sponville não, pois você não pode ao mesmo tempo ter e não ter uma opinião.

É claro que cada um é livre para escolher a definição que quiser, com certeza muita gente preferirá a tradicional definição de T. H. Huxley ou outra qualquer de outro pensador, em vez da de Comte-Sponville, mas eu, pessoalmente, considero a definição de Huxley problemática e confusa, tanto que dá margem a toda essa confusão que vocês estão cansados de testemunhar por aqui, a de Sponville é mais precisa.
« Última modificação: 23 de Fevereiro de 2009, 23:13:03 por uiliníli »

Offline Luiz Souto

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #1 Online: 23 de Fevereiro de 2009, 22:57:11 »
Legal Uíli!
Eu também me encaixo na definição de Sponville de ateu não-dogmático mas faço uma ressalva: em relação á uma concepção abstrata de Deus. Em relação a deuses "concretos" e nomináveis ( Jeová , Krishna , etc...) sou ateu dogmático.
E este livro do Sponville é um dos primeiros na lista de compras assim que sair da moratória ,já tinha folheado e achei muito bom.

Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Offline uiliníli

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #2 Online: 23 de Fevereiro de 2009, 23:11:01 »
Com certeza é um livro que vale à pena. A parte dos argumentos contra a existência de Deus eu achei meio fraca (mas acho que sou muito exigente, pois pensei a mesma coisa de Deus, um delírio), mas claro que nós dois não precisamos mais ser convencidos disso, não é? Mas o resto do livro compensa esse detalhe - estou quase terminando. O Comte-Sponville não é um desses "neo-ateus" proselitistas que querem destruir a religião e acusá-la de ser maligna, pelo contrário, ele prega a convivência e tolerância mútua, ele reconhece a importância do Cristianismo para a Civilização Ocidental e ainda prega uma certa fidelidade aos valores cristãos (claro que sem prescindir da crítica), para ele, da mesma maneira como os judeus ateus se mantém fiéis à cultura judaica, os ateus podem se identificar com as coisas boas que existem no Cristianismo. Além disso, no final do livro ele propõe uma espiritualidade ateísta, materialista e imanente ao mundo. Muito interessante :)

Offline mrmirror

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #3 Online: 24 de Fevereiro de 2009, 01:57:08 »
uiliníli eu não concordo muito com certas coisas.
Eu me defino como agnóstico e como deísta na maior parte do tempo, tenho também meus períodos menores de ateísmo.
Sou agnóstico por considerar impossível provar a existência de um deus e deísta por ter nojo a religião e revelação. Tenho simpatia por parte da filosofia budista mesmo sendo contrario a ela enquanto religião cheia de rituais e superstição.
Na questão do budismo tenho que admitir que algumas coisas ali tem que ser melhor entendidas, Sam Harris fala sobre isso. Existe algo nesse estado budhico que eles pretendem, que deve ser trazido a luz da ciência e salvo do obscurantismo religioso.

Como deísta tenho minha opinião pessoal sobre a possível existência de algum tipo de ser consciente que nos escape o entendimento.
Não sei onde foi que vi alguém falando sobre isso, mas devo concordar levemente com a idéia apresentada que diz respeito ao posicionamento ateu não poder ser confirmado como conhecimento inequívoco. No tocante a deus, se existir algo que se encaixe nesse conceito é possível, pode também existir alguém que tenha isso como conhecimento por algum meio viável. Seja admitindo a hipótese da revelação que tanto desprezo ou por outra forma.
Nem todo conhecimento é objetivo, não no sentido de poder ser provado. Muito do que vivi nesses meus 45 anos de janelinha, são hoje conhecimento presente apenas em minhas memorias e na memoria de amigos. Conhecimentos que não podem ser observados por ninguém além dos envolvidos.
Ao trabalhar no campo hipotético, e como agnóstico acho que isso é tudo com o qual podemos contar, a hipótese de alguém possuir conhecimento de Deus está implícita, mesmo que ela seja, como diriam aqui, uma hipótese groselha ao estilo unicórnios rosas.
“Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existirem muito mais crentes do que pensadores.” - Bruce Calvert

Offline mrmirror

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #4 Online: 24 de Fevereiro de 2009, 02:22:45 »
Legal Uíli!
Eu também me encaixo na definição de Sponville de ateu não-dogmático mas faço uma ressalva: em relação á uma concepção abstrata de Deus. Em relação a deuses "concretos" e nomináveis ( Jeová , Krishna , etc...) sou ateu dogmático.
E este livro do Sponville é um dos primeiros na lista de compras assim que sair da moratória ,já tinha folheado e achei muito bom.
Eu já agi muito como ateu-dogmático com esses deuses mencionados, hoje sou mais precavido, aprendi com os erros. Tem muitos conceitos obscuros no hinduísmo. Discuti com um cara certa vez que disse que o hinduísmo não é sempre politeísta. Ele falou sobre um panteísmo onde tudo é deus, até eu, minhas roupas, meus pensamentos, meu xixi, etc e tal. segundo ele deus não se limita a natureza, é o tudo, o nada e mais. Eles chamam a vida e o nada de Deus. É uma unidade paradoxal entre o tudo o nada e o transcendental.
De uma olhada na wiki, são bem exóticos os conceitos com que trabalham.
Como deísta tenho por opinião que é possível uma força estranha e indefinida. Tem cristão que prega umas doideiras sobre deus, os daimistas são mais loucos ainda.
Para debater Deus não existe o jeova de TJs e evangélicos, cada um cria um Deus único dentro da cachola. Deus acaba virando só uma palavra com seis bilhões de significados.

Coisas da vida acabei indo em outro tópico e achei um vídeo do atheist experience onde o cara acredita que quando comemos uma melancia estamos comendo deus.
« Última modificação: 24 de Fevereiro de 2009, 03:13:39 por mrmirror »
“Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existirem muito mais crentes do que pensadores.” - Bruce Calvert

Offline uiliníli

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #5 Online: 24 de Fevereiro de 2009, 14:03:04 »
Sou agnóstico por considerar impossível provar a existência de um deus

Mas é justo nesse ponto que o tópico toca: quase todo mundo sabe que é impossível provar a existência de Deus. Se é assim, então todo mundo é agnóstico, o mundo deve estar cheio de católicos agnósticos, protestantes agnósticos, espíritas agnósticos... Até o Papa deve ser agnóstico. Mas aí a palavra perde a relevância. Por isso eu gostei da definição de Comte-Sponville: agnóstico é quem não tem opinião. Se você é deísta, o que é direito seu, então você já tem opinião, logo não pode ser agnóstico. Mas, claro, isso segundo a definição dele, você não é obrigado a concordar com ela.

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Como deísta tenho minha opinião pessoal sobre a possível existência de algum tipo de ser consciente que nos escape o entendimento.

Eu respeito a postura deísta, embora não concorde com ela, ela ainda é muitíssimo mais racional que a crença em religiões reveladas. Uma crítica que eu faço, porém, é: se você opina sobre a possível existência de um ser que lhe escapa ao entendimento, como você sabe que ele pode ser consciente? Bom, mas este tópico não é para discutir sobre isso, até porque criei outro tópico justamente para falar dessa questão: O paradoxo cosmológico-teleológico.

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Não sei onde foi que vi alguém falando sobre isso, mas devo concordar levemente com a idéia apresentada que diz respeito ao posicionamento ateu não poder ser confirmado como conhecimento inequívoco. No tocante a deus, se existir algo que se encaixe nesse conceito é possível, pode também existir alguém que tenha isso como conhecimento por algum meio viável. Seja admitindo a hipótese da revelação que tanto desprezo ou por outra forma.

Acho que somente por engano algum ateu poderia pensar ter conhecimento definitivo sobre essa questão. Podemos até ter alguém convicto (o caso dos ateus dogmáticos, conforme Sponville), mas ninguém pode dizer que literalmente sabe que não existe(m) deus(es).

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Nem todo conhecimento é objetivo, não no sentido de poder ser provado. Muito do que vivi nesses meus 45 anos de janelinha, são hoje conhecimento presente apenas em minhas memorias e na memoria de amigos. Conhecimentos que não podem ser observados por ninguém além dos envolvidos.

Para mim (e para Kant), conhecimento é, por definição, objetivo. Se não é objetivo não é conhecimento, mas crença, convicção, fé, opinião... nesse sentido suas experiências pessoais não são conhecimento. Elas podem ser suficientes para você, mas não são suficientes para as pessoas que não compartilharam as suas experiências, você não pode dizer que seus testemunhos, que são irreprodutíveis, estão em pé de igualdade com observações científicas que podem ser reproduzidas em qualquer laboratório.

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Ao trabalhar no campo hipotético, e como agnóstico acho que isso é tudo com o qual podemos contar, a hipótese de alguém possuir conhecimento de Deus está implícita, mesmo que ela seja, como diriam aqui, uma hipótese groselha ao estilo unicórnios rosas.

Eu acho mais provável que essas supostas experiências das pessoas com Deus estejam dentro da cabeça delas, e não fora. Tem gente que testemunha ET, Chupa-cabra, fantasma, Saci, mula-sem-cabeça, santas, espíritos, demônios ou mais um sem número de criaturas mitológicas que variam de cultura para cultura. Será que tudo isso existe fisicamente? Ou está dentro da imaginação das pessoas? As pessoas tem grande facilidade para sofrerem de autossugestão, se impressionarem facilmente, encontrar padrões, ver desígnio e sentido em coisas que não têm nenhum, enfim, o ser humano parece estar programado para ser supersticioso. Sugiro a leitura deste artigo que traduzi para meu blog: Crentes natos: Como seu cérebro cria Deus.

Eu já agi muito como ateu-dogmático com esses deuses mencionados, hoje sou mais precavido, aprendi com os erros. Tem muitos conceitos obscuros no hinduísmo. Discuti com um cara certa vez que disse que o hinduísmo não é sempre politeísta. Ele falou sobre um panteísmo onde tudo é deus, até eu, minhas roupas, meus pensamentos, meu xixi, etc e tal. segundo ele deus não se limita a natureza, é o tudo, o nada e mais. Eles chamam a vida e o nada de Deus. É uma unidade paradoxal entre o tudo o nada e o transcendental.

Só se mudou o significado das palavras, mas não podemos discutir palavras, temos que discutir os conceitos. Se o que eles chamam de deus é "o todo", "a vida", "a natureza", bom, então é claro que deus existe! Mas isso esvazia o significado de deus. Quando nós falamos em Deus o que queremos dizer é ser consciente, transcendente ao universo e possivelmente criador e regulador do mesmo.

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Como deísta tenho por opinião que é possível uma força estranha e indefinida.

Grande coisa, eu sou ateu e estou convencido de que o mundo está cheio de forças estranhas e indefinidas. Só não fico chamando tudo o que eu não conheço de Deus, ou estarei deificando a minha ignorância.

Offline mrmirror

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #6 Online: 24 de Fevereiro de 2009, 17:36:55 »
Sou agnóstico por considerar impossível provar a existência de um deus

Mas é justo nesse ponto que o tópico toca: quase todo mundo sabe que é impossível provar a existência de Deus. Se é assim, então todo mundo é agnóstico, o mundo deve estar cheio de católicos agnósticos, protestantes agnósticos, espíritas agnósticos... Até o Papa deve ser agnóstico. Mas aí a palavra perde a relevância. Por isso eu gostei da definição de Comte-Sponville: agnóstico é quem não tem opinião. Se você é deísta, o que é direito seu, então você já tem opinião, logo não pode ser agnóstico. Mas, claro, isso segundo a definição dele, você não é obrigado a concordar com ela.
Em minha humilde opinião existe uma ligação entre o agnosticismo e duvida. Tudo depende da força que se tem na crença ou descrença em Deus.
Me digo agnóstico por não saber se deus existe e não colocar muita foça na minha opinião que sei ser por muito subjetiva, tanto que por vezes acabo pensando que é muito mais fácil deus não existir, mesmo que na maior parte do tempo pense o contrario.
O agnóstico se caracteriza pela duvida, não pela total ausência de opinião.
Eu nunca conheci alguém que não tivesse um palpite preferido sobre essa questão, por isso dizem que agnósticos podem ser ateus e teístas.
Eu respeito a postura deísta, embora não concorde com ela, ela ainda é muitíssimo mais racional que a crença em religiões reveladas. Uma crítica que eu faço, porém, é: se você opina sobre a possível existência de um ser que lhe escapa ao entendimento, como você sabe que ele pode ser consciente? Bom, mas este tópico não é para discutir sobre isso, até porque criei outro tópico justamente para falar dessa questão: O paradoxo cosmológico-teleológico.
É aqui que entra meu agnosticismo, eu não sei se ele realmente existe, só tenho meus palpites subjetivos.
Acho que somente por engano algum ateu poderia pensar ter conhecimento definitivo sobre essa questão. Podemos até ter alguém convicto (o caso dos ateus dogmáticos, conforme Sponville), mas ninguém pode dizer que literalmente sabe que não existe(m) deus(es).
Concordo com esse ponto, mas hipoteticamente não podemos afirmar o mesmo sobre os teístas.
Sempre existe a possibilidade do pé grande existir e de alguém ter visto ele. Foi o que eu disse antes sobre a hipótese groselha implícita na questão.
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Nem todo conhecimento é objetivo, não no sentido de poder ser provado. Muito do que vivi nesses meus 45 anos de janelinha, são hoje conhecimento presente apenas em minhas memorias e na memoria de amigos. Conhecimentos que não podem ser observados por ninguém além dos envolvidos.

Para mim (e para Kant), conhecimento é, por definição, objetivo. Se não é objetivo não é conhecimento, mas crença, convicção, fé, opinião... nesse sentido suas experiências pessoais não são conhecimento. Elas podem ser suficientes para você, mas não são suficientes para as pessoas que não compartilharam as suas experiências, você não pode dizer que seus testemunhos, que são irreprodutíveis, estão em pé de igualdade com observações científicas que podem ser reproduzidas em qualquer laboratório.
Eu tenho o conhecimento das coisas que vivi e muito desse conhecimento foi compartilhado por terceiros no momento em que os acontecimentos ocorreram, são coisas que não podem ser observadas fora desse momento, isso não os faz menos verdadeiro.
O conhecimento objetivo é limitado pelo tempo, nem todo conhecimento pode ser reproduzido em laboratório.
Se de forma inexplicada amanhã o cometa harley desaparecer, o nosso conhecimento sobre ele não se torna algo falso ou subjetivo, mas não poderá mais ser observado no futuro.
Foi a isso que me referi, conhecimento mediante a observação não garante que a observação esteja sujeita a qualquer pessoa em qualquer tempo.

Concordo que o conhecimento sempre é objetivo, mas existem problemas na observação e pessoas que podem ter observado coisas e formado conhecimento sobre elas, que hoje não podem ser observadas por nós.

Eu acho mais provável que essas supostas experiências das pessoas com Deus estejam dentro da cabeça delas, e não fora. Tem gente que testemunha ET, Chupa-cabra, fantasma, Saci, mula-sem-cabeça, santas, espíritos, demônios ou mais um sem número de criaturas mitológicas que variam de cultura para cultura. Será que tudo isso existe fisicamente? Ou está dentro da imaginação das pessoas? As pessoas tem grande facilidade para sofrerem de autossugestão, se impressionarem facilmente, encontrar padrões, ver desígnio e sentido em coisas que não têm nenhum, enfim, o ser humano parece estar programado para ser supersticioso. Sugiro a leitura deste artigo que traduzi para meu blog: Crentes natos: Como seu cérebro cria Deus.
Cara, não vou discutir isso com você, estou de acordo que é infinitamente mais fácil ser tudo delírio.
Só lembro que hipoteticamente esse tipo de conhecimento está implícito a cada um desses seres mitológicos.
Se temos a hipótese do saci existir, isso leva a hipótese de existir alguém que tenha conhecimento sobre esse ser. Não importa o tamanho da baboseira hipotética, quando se assume uma, temos a outra implícita.
Só se mudou o significado das palavras, mas não podemos discutir palavras, temos que discutir os conceitos. Se o que eles chamam de deus é "o todo", "a vida", "a natureza", bom, então é claro que deus existe! Mas isso esvazia o significado de deus. Quando nós falamos em Deus o que queremos dizer é ser consciente, transcendente ao universo e possivelmente criador e regulador do mesmo.
O problema está em saber se você é dogmático em sua interpretação pessoal sobre o que pensa serem esses deuses.
Se você conversar com três cristãos diferentes, vai encontrar três deuses diferentes, mais a sua própria visão do Deus bíblico.
Se for dogmático o vai ser com seu próprio Deus e não vai dialogar propriamente com esses cristãos, vai argumentar com base em um deus diferente do deles.
Eu só citei isso pela minha experiencia pessoal de acabar dando mancadas que eu podia ter evitado, ao ser dogmático em debates com cristãos.
É o que acontece com o agnóstico discutindo budismo e comparando o papa com o dalai lama e criticando a reencarnação. Por vezes nós criticamos o que pensamos que o outro disse por cair em dogmatismo, quando o outro está falando sobre uma coisa que não tem nada a ver com o que estamos contra-argumentando.

Podemos ser dogmáticos com deuses que incluem conceitos como onipotência onisciência, um é contraditório por definição e entra em conflito com o outro, só precisamos antes de tudo saber se o sujeito que se diz cristão inclui no deus pessoal dele esses conceitos.

O panteismo também estou de acordo com você, mas eles sempre incluem um tipo de consciência e transcendência, é como se a própria existência fosse viva e com um plano magico premeditado. É algo como uma gaia universal consciente.
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Como deísta tenho por opinião que é possível uma força estranha e indefinida.

Grande coisa, eu sou ateu e estou convencido de que o mundo está cheio de forças estranhas e indefinidas. Só não fico chamando tudo o que eu não conheço de Deus, ou estarei deificando a minha ignorância.
Você tem sua opinião eu tenho a minha, você baseia a sua na ausência de evidencias, eu a minha na subjetividade de que a vida tem muita coisa estranha que parece fugir a simplicidade com a qual encaramos a vida. O mundo me parece mais surreal do que aparenta na superfície, tiro disso que existir uma força consciente indefinível é possível. É só uma opinião e sei que é subjetiva, tanto que não raras são as vezes em que penso o contrario, mas no geral, na maior parte do tempo, vejo algum tipo de deus como possível. Sem fé nisso, só palpite... tão cientifico quanto pensar se vai chover amanhã sem recorrer a meteorologia.
É algo sem muita relevância na minha vida, é uma crença-opinião sem força.
« Última modificação: 24 de Fevereiro de 2009, 17:44:44 por mrmirror »
“Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existirem muito mais crentes do que pensadores.” - Bruce Calvert

Offline uiliníli

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #7 Online: 24 de Fevereiro de 2009, 18:22:50 »
Em minha humilde opinião existe uma ligação entre o agnosticismo e duvida. Tudo depende da força que se tem na crença ou descrença em Deus.
Me digo agnóstico por não saber se deus existe e não colocar muita foça na minha opinião que sei ser por muito subjetiva, tanto que por vezes acabo pensando que é muito mais fácil deus não existir, mesmo que na maior parte do tempo pense o contrario.
O agnóstico se caracteriza pela duvida, não pela total ausência de opinião.
Eu nunca conheci alguém que não tivesse um palpite preferido sobre essa questão, por isso dizem que agnósticos podem ser ateus e teístas.

Como eu disse, você pode ter uma definição diferente para agnóstico. Na minha opinião essa definição baseada na dúvida e na "força" de sua opinião é mais vaga do que a outra que apresentei, mas gosto não se discute, o importante é que saibamos o que, precisamente, cada conceito significa para cada pessoa se essa questão estiver em debate.

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Para mim (e para Kant), conhecimento é, por definição, objetivo. Se não é objetivo não é conhecimento, mas crença, convicção, fé, opinião... nesse sentido suas experiências pessoais não são conhecimento. Elas podem ser suficientes para você, mas não são suficientes para as pessoas que não compartilharam as suas experiências, você não pode dizer que seus testemunhos, que são irreprodutíveis, estão em pé de igualdade com observações científicas que podem ser reproduzidas em qualquer laboratório.
Eu tenho o conhecimento das coisas que vivi e muito desse conhecimento foi compartilhado por terceiros no momento em que os acontecimentos ocorreram, são coisas que não podem ser observadas fora desse momento, isso não os faz menos verdadeiro.
O conhecimento objetivo é limitado pelo tempo, nem todo conhecimento pode ser reproduzido em laboratório.
Se de forma inexplicada amanhã o cometa harley desaparecer, o nosso conhecimento sobre ele não se torna algo falso ou subjetivo, mas não poderá mais ser observado no futuro.
Foi a isso que me referi, conhecimento mediante a observação não garante que a observação esteja sujeita a qualquer pessoa em qualquer tempo.

Concordo que o conhecimento sempre é objetivo, mas existem problemas na observação e pessoas que podem ter observado coisas e formado conhecimento sobre elas, que hoje não podem ser observadas por nós.

Você gostaria de comentar sobre essas experiências que você teve?

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Cara, não vou discutir isso com você, estou de acordo que é infinitamente mais fácil ser tudo delírio.
Só lembro que hipoteticamente esse tipo de conhecimento está implícito a cada um desses seres mitológicos.
Se temos a hipótese do saci existir, isso leva a hipótese de existir alguém que tenha conhecimento sobre esse ser. Não importa o tamanho da baboseira hipotética, quando se assume uma, temos a outra implícita.

A questão é se esse "conhecimento" é verdadeiro ou não.

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O problema está em saber se você é dogmático em sua interpretação pessoal sobre o que pensa serem esses deuses.
Se você conversar com três cristãos diferentes, vai encontrar três deuses diferentes, mais a sua própria visão do Deus bíblico.
Se for dogmático o vai ser com seu próprio Deus e não vai dialogar propriamente com esses cristãos, vai argumentar com base em um deus diferente do deles.
Eu só citei isso pela minha experiencia pessoal de acabar dando mancadas que eu podia ter evitado, ao ser dogmático em debates com cristãos.

Bom, alguma coisa em comum os deuses de cada cristão devem ter, ou ninguém entenderia ninguém. Acho que é quase universalmente aceito no Ocidente que Deus é uma entidade inteligente, com vontade própria e criadora do universo. Por mais que cada pessoa tenha um conceito ligeiramente diferente, geralmente há um ponto de intersecção que permite a compreensão.


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Como deísta tenho por opinião que é possível uma força estranha e indefinida.

Grande coisa, eu sou ateu e estou convencido de que o mundo está cheio de forças estranhas e indefinidas. Só não fico chamando tudo o que eu não conheço de Deus, ou estarei deificando a minha ignorância.
Você tem sua opinião eu tenho a minha, você baseia a sua na ausência de evidencias, eu a minha na subjetividade de que a vida tem muita coisa estranha que parece fugir a simplicidade com a qual encaramos a vida. O mundo me parece mais surreal do que aparenta na superfície, tiro disso que existir uma força consciente indefinível é possível. É só uma opinião e sei que é subjetiva, tanto que não raras são as vezes em que penso o contrario, mas no geral, na maior parte do tempo, vejo algum tipo de deus como possível. Sem fé nisso, só palpite... tão cientifico quanto pensar se vai chover amanhã sem recorrer a meteorologia.
É algo sem muita relevância na minha vida, é uma crença-opinião sem força.

Cara, eu concordo inteiramente com você que  existe um monte de coisas estranhas que nós não compreendemos no mundo. Só não ouso dizer que essas coisas sejam sobrenaturais ou produtos de uma consciência cósmica: afirmar essas coisas já é pretender saber demais. Haver mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia não diz nada a respeito dessas "mais coisas", só diz algo a respeito de nossa própria ignorância.

Offline Prometheus

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #8 Online: 25 de Fevereiro de 2009, 17:05:28 »
Estou gostando de vê esse debate,aprendendo bastante.:D
O profundo
tédio, que como névoa silenciosa desliza para cá e para lá nos abismos da
existência, nivela todas as coisas, os homens e a gente mesmo com elas, numa
estranha indiferença. Esse tédio manifesta o ente em sua totalidade.(Heidegger)

A angústia manifesta o nada.(Heidegger)

Offline Dbohr

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #9 Online: 25 de Fevereiro de 2009, 17:17:32 »
Prometheus, dá uma olhada nessa discussão aqui, a partir da mensagem do colega Diego.

../forum/topic=1805.2225.html#msg416994

Basicamente, pedimos que os foristas aqui usem caracteres latinos no Nick.

Offline Prometheus

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #10 Online: 25 de Fevereiro de 2009, 18:26:11 »
Dbohr

Obrigado pelo avisto,grato.
O profundo
tédio, que como névoa silenciosa desliza para cá e para lá nos abismos da
existência, nivela todas as coisas, os homens e a gente mesmo com elas, numa
estranha indiferença. Esse tédio manifesta o ente em sua totalidade.(Heidegger)

A angústia manifesta o nada.(Heidegger)

Offline lusitano

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #11 Online: 25 de Março de 2009, 09:33:33 »
Citar
citando Uilinili:

Bom, alguma coisa em comum os deuses de cada cristão devem ter, ou ninguém entenderia ninguém. Acho que é quase universalmente aceito no Ocidente que Deus é uma entidade inteligente, com vontade própria e criadora do universo. Por mais que cada pessoa tenha um conceito ligeiramente diferente, geralmente há um ponto de intersecção que permite a compreensão.

Quase todas as pessoas com tentações solipsistas, apesar de não se sentirem omniscientes e omnipotentes, têm momentos, em que misteriosamente desconfiam, que o Universo, só existe, porque eles existem. Ou seja: tudo existe, porque eu existo.

_____________________________________________________
especulativamente - artur.
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

_______________________________________
Especulando realismo fantástico, em termos de
__________________________
paralogismo comparado - artur.

Offline lusitano

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Re: Ateísmo e agnosticismo segundo Comte-Sponville
« Resposta #12 Online: 25 de Março de 2009, 09:56:26 »
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Citando MrMirror.

O panteismo também estou de acordo com você, mas eles sempre incluem um tipo de consciência e transcendência, é como se a própria existência fosse viva e com um plano magico premeditado. É algo como uma gaia universal consciente.

Estou em crer, que certos naturalistas, fatalmente, projectarão na Natureza a necessidade de existir um amplo EGO virtual ou espiritual, que eventualmente transcende o expectro físico ordinário.

Eu estou para a Humanidade, como as minhas células, estão para o meu corpo.
"Não se sabe" - se alguns ióguis, entram em comunhão com o Todo - "a verdade", é que alguns, afirmam, que se pode alcançar o "Samadi", através do treino...!?!...

Humh - aventuras subjectivas muitos pessoais de cada um - vá-se lá saber, quais são os limites da auto-sugestão...

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especulativamente - artur. 
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Especulando realismo fantástico, em termos de
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paralogismo comparado - artur.

 

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