Bom, peço desculpas aos leigos, mas não vou economizar no jargão filosófico neste post. Mas, logo, logo eu vou postar no meu blog uma explicação mais acessível e detalhada, é que primeiro eu gostaria que os filósofos do fórum dessem uma boa criticada no meu candidato a argumento arrasa-quarteirão contra a existência de Deus
Primeiro vamos introduzir a terminologia:
Deus: Causa primeira do universo, inteligente e dotada de vontade própria.
Argumento teleológico: é o argumento do desígnio, segundo o qual o universo carece de um projetista para explicar sua complexidade.
Argumento cosmológico: é o argumento de que todo ser contingente deve ter uma causa necessária.
Ser contingente: um ser que poderia ser diferente do que é. Todo ser contingente requer uma causa para explicar que ele seja como é, e não diferente.
Ser necessário: um ser absoluto, que só poderia ser como é de fato, não poderia ser diferente. Um ser necessário não precisa de causa e não poderia não-existir.
Os argumentos cosmológico e teleológico são dois dos principais argumentos em favor da existência de Deus. Na verdade, em minha opinião, o teleológico é o único argumento que presta (na forma do argumento do fine-tuning, por exemplo), já que o cosmológico prova no máximo que todo ser contingente depende de um ser necessário para poder existir. Por isso mesmo, o argumento cosmológico depende do argumento teleológico para justificar que essa causa primeira seja um Deus.
A formulação de Leibniz do argumento cosmológico (
contingentia mundi) é a seguinte:
1. Todo ser finito e contingente deve ter uma causa
2. Nada finito e contingente pode causar a si mesmo
3. Uma cadeia causal não pode ter tamanho infinito.
4. Portanto uma Causa Primeira deve existir (um ser necessário, isto é, um ser que não poderia não existir)
Porém, eu acredito que nesses termos há uma contradição entre os dois argumentos, o argumento teleológico refuta o argumento cosmológico. Explico: o argumento teleológico só faz sentido se o universo for um ser contingente, ou seja, se ele pudesse ter sido diferente. O argumento do fine-tuning, por exemplo, alega que se qualquer das constantes físicas do universo fosse ligeiramente diferente, a vida não seria possível, portanto elas devem ter sido meticulosamente ajustadas por um projetista inteligente. Pois bem, mas se o universo é contingente e ele foi planejado por um projetista, esse projetista também tem que ser um ser contingente, nunca um ser necessário!
Afinal, se o universo poderia ter sido diferente, mas foi planejado como é pela vontade de Deus; então a vontade de Deus também é contingente, pois ela poderia ter sido diferente. Deus poderia ter querido um universo sem vida. Deus poderia ter querido criar outro Deus. Deus poderia ter querido criar um universo ligeiramente diferente do nosso, onde nós não tivéssemos cóccix ou apêndice. Ou Deus poderia não ter querido criar nada. Mas se ele criou tudo da forma como é, em vez de como poderia ter sido, mais que isso, ele planejou o universo conforme sua vontade, então a vontade de Deus só pode ser contingente. Se não fosse, não seria sua vontade, Deus não seria livre. Se a vontade divina fosse necessária, então o universo também seria necessária: Deus só poderia querer criar o universo, ele não teria outra opção, uma vontade necessária não é uma vontade, mas um imperativo, um dever, haveria algum imperativo para o universo ser criado e criado da forma exata como ele é. E se o universo é consequência de um imperativo, e não da vontade, se ele só pode ser como é, e não diferente, então o universo é ele mesmo um ser necessário e Deus é inútil. Mais que isso, se a característica que distingue Deus da natureza é justamente o fato de ele ser dotado de vontade própria, e se a vontade é contingente, só podemos concluir que Deus não pode ser um ser necessário, o único ser necessário possível seria um ser sem vontade própria, isto é, a natureza. O único Deus é o de Espinosa.
Que acham, posso escrever um artigo anunciando a prova da inexistência de Deus?