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A hora do spreadCom o corte de 0,5 ponto determinado pelo Copom, a taxa básica de juros (Selic), no Brasil, agora é de 8,75% ao ano, a mais baixa da história do sistema de metas de inflação, implantado há dez anos. Baixa para os padrões brasileiros, ela continua no topo quando comparada com os juros básicos de outros países. O nível do nosso juro básico ainda é o quinto mais elevado, atrás apenas dos vigentes na Venezuela, Rússia, Argentina e Hungria. Mas esse fato, no momento, tem quase apenas valor estatístico.O fato relevante é que, em relação à atual estrutura financeira doméstica, a taxa Selic está cada vez mais perto do limite de equilíbrio do sistema. Já vimos a confusão que, no Brasil, juros básicos nominais abaixo de dois dígitos provocam nas decisões de investimento. E no cotidiano. Poupança, fundos de aposentadoria, financiamento do consumo e até nos seguros – essa uma lista certamente incompleta.A moral da história é que a parte da Selic na responsabilidade pelo travamento da economia brasileira está chegando ao fim. A nova realidade deixa claro como nunca o tamanho do juro cobrado do cliente final no Brasil, seja ele uma empresa ou um cidadão comum.Uma estimativa da Anefac, associação que reúne executivos de finanças, mostra que, com a Selic de 8,75% ao ano, um financiamento custa 6,02% ao mês no comércio, 10,64% ao mês no cartão de crédito e 5,26% ao mês no crédito bancário pessoal. Anualizadas, as taxas chegam a inviáveis 101,68%, 236,47% e 85%.O alvo principal agora tem de ser exatamente a discrepância entre a Selic e as taxas finais – o muito falado e pouco atacado spread bancário. Já passou da hora de o governo tratar o assunto com a seriedade que merece, não mais com bravatas. Temos esperado sentados que se faça um levantamento de verdade e, a partir dele, se definam medidas práticas e eficazes.O spread é caro porque não há concorrência no setor? O governo tem mecanismos para intervir e deve usá-los. Os impostos na intermediação financeira são mesmo elevados, como reclamam os bancos? Está ao alcance do governo reduzi-los. A inadimplência no Brasil é mais alta do que no resto do mundo, como dizem os banqueiros? O governo pode exigir dos bancos a adoção de sistemas mais modernos para medir o risco de crédito.Até hoje, as abordagens sobre o assunto não passaram de teatro mal encenado. Daqui para a frente, a pressão por juro mais baixo não deve recair apenas nos ombros do Copom. O braço fiscalizador do Banco Central e do Ministério da Fazenda, com a assessoria do Cade e da Secretaria de Direito Econômico, entre outras instituições, deve entrar correndo – e para valer – no jogo.http://colunistas.ig.com.br/jpkupfer/2009/07/22/a-hora-do-spread/