Acho que é uma questão de identidade.
É hipócrita estar de luto por algum parente mas permanecer indiferente frente as milhares de mortes ocorridas a cada instante? A pessoa fica de luto porque se identificava de alguma forma com ela. Eu não conhecia pessoalmente o Beto Carreiro, só sabia que ele tinha um parque de diversões que alegrava muitas pessoas, e parecia uma pessoa carismática toda vez que aparecia na TV, aliás, a gente sempre identificava quando ele aparecia. Quando foi anunciada sua morte, eu nem sabia que ele era tão velho, ele nunca era cotado na lista de falecimentos famosos do ano pelos charlatões adivinhadores. Eu fiquei sensibilizado porque ele era uma representação de algo bom, que naquele momento nos deixava.
Morte nas favelas/hospitais/estradas são esperadas pela população e a classe-média não se sensibiliza com casos de tiroteio em favela porque não se identifica com isso, apesar de aquilo lhe afetar muito mais do que a queda do avião. Esta, inesperada. Morte instantânea de 200 pessoas que, assim como elas, viviam bem e tinham tudo para desfrutar o resto de suas vidas sem muitas complicações. Porém, essa sensibilização com acidentes aéreos está diminuindo aos poucos justamente porque está ficando frequente, esperado.
Da mesma forma, um terremoto que mata 500 pessoas não causa transtorno a um brasileiro porque ele não conhece a cultura do país, seu povo, nem mesmo onde localiza, ele não possui identificação com as pessoas envolvidas. Mas se o noticiário mencionar detalhes como as pessoas forem católicas, comerciantes, de ascendência lusitana e que falam o português a gente já fala: "Puxa, que pena...". Caso o noticiário diga que o terremoto arrasou com toda população local, as pessoas irão sensibilizar-se por saberem se tratar de uma grande perda cultural. E se os números forem exorbitantes, e as razões na qual as mortes ocorreram forem desumanas, como o Holocausto ucraniano, também há sensibilização.
Há também a questão de que tragédias com pessoas não resolvidas é vista como o fim do sofrimento, enquanto com pessoas ricas é justamente o fim para uma pessoa que tinha tudo para ser feliz. Mas isso já é mais complexo.
(a ideia não era escrever tanto, desculpem-me)