Autor Tópico: Comoção social e hipocrisia Re: Avião com 228 a bordo desaparece perto da costa brasileira  (Lida 2686 vezes)

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Offline Hugo

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Concordo em parte com a autora do texto.

Sobre o acidente que comove mais, depende da publicidade que se der à ele.

Cá com meus botões, ficava me perguntando porque os programas "jornalisticos" que davam mais ênfase aos acidentes e, principalmente, aos  mais horripilantes, tinham uma audiência grande. E essa audiência estava restrita à classe mais pobre.

A resposta é simples: necessitamos ver que existem pessoas que estão em situação pior que a nossa.

Incluo isso no roll dos consolos metafísicos.
"O medo de coisas invisíveis é a semente natural daquilo que todo mundo, em seu íntimo, chama de religião". (Thomas Hobbes, Leviatã)

Offline Südenbauer

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Boa observação.

Offline Donatello

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Hugo e Strangelove, fazem alguns sentidos! :)

Mas ainda fica-me a impressão de um componente social muito forte e não tanto pelos agentes mas pela vítima (não importa quem seja o assassino, desde que a vítima tenha um sobrenome bonito) . Outra coisa é que os pobres também participam da onda (mesmo entre os mais fodidos encontrar uma menina bonita e bem nutrida na lixeira é mais "chocante" do que saber que uma menina "qualquer" foi jogada numa lixeira [este negócio do tinha uma vida muito bela pela frente até pode ser Strange, mas acho de uma abstração muito grande]).

Strange, dois eventos recentes se levarmos em conta o tamanho das catástrofes, o número de vítimas, a familiaridade que elas tem conosco, as causas, et cetera e que me parecem depor contra a maioria dos seus pontos (plausíveis, já disse) como o negócio da distânccia cultural, ou da previsibilidade...

Foram as recentes enchentes de Santa Catarina e mais agora de vários estados nordestinos, não? Convenhamos que uma mobilizou muito mais governo, ongs, pessoas, igrejas, imprensa do país inteiro, não? E eram tão parecidas em quase tudo (exceto pelo ponto em questão aquí)... :|

adolescente não é xingamento (que eu saiba).
Pois então: não é! Mas você usou claramente como se fosse... como se fosse algum demérito ser adolescente (coisa que, pelo visto, a autora nem é).

Que razão teria chamar uma "não-adolescente" de adolescente ao fazer uma crítica a ela se não para usar o termo "adolescente" como uma espécie de xingamento? Acho que também estou com problemas de compreensão (ou continuo com eles, como queira :D) :P

Offline Fernando Silva

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E essa estória de poder aquisitivo elevado de quem viaja de avião... Eu definitivamente não me encaixo nessa categoria de poder aquisitivo, mas em função do trabalho cheguei a viajar de avião até duas vezes por mes. Viajo de avião desde 94 em função do meu trabalho e conheço muita gente na minha situação.
Quem vale mais para o país:

- 200 pessoas treinadas, com nível de instrução superior e experiência em alguma função que poucos estão capacitados para exercer, representando um investimento caro e demorado em sua formação, e que serão muito difíceis de substituir?

- 200 pessoas que ninguém conhece e que fazem um trabalho que só exige força física e podem ser substituídas imediatamente?

Quem você prefere que morra: o cara que paga seu salário ou o faxineiro que é substituído de vez em quando sem afetar você?

Era melhor que todos morressem de velhice, mas, se tivermos que escolher, o que seria menos pior?

Offline Tupac

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O menos pior seria eu continuar vivo... o resto ahahah... whatever...
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida."
 - Carl Sagan

"O que é afirmado sem argumentos, pode ser descartado sem argumentos." - Navalha de Hitchens

Offline Diegojaf

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Pois então: não é! Mas você usou claramente como se fosse... como se fosse algum demérito ser adolescente (coisa que, pelo visto, a autora nem é).

Se você diz.
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

http://umzumbipordia.blogspot.com - Porque a natureza te odeia e a epidemia zumbi é só a cereja no topo do delicioso sundae de horror que é a vida.

Offline Südenbauer

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Outra coisa é que os pobres também participam da onda (mesmo entre os mais fodidos encontrar uma menina bonita e bem nutrida na lixeira é mais "chocante" do que saber que uma menina "qualquer" foi jogada numa lixeira [este negócio do tinha uma vida muito bela pela frente até pode ser Strange, mas acho de uma abstração muito grande]).

Strange, dois eventos recentes se levarmos em conta o tamanho das catástrofes, o número de vítimas, a familiaridade que elas tem conosco, as causas, et cetera e que me parecem depor contra a maioria dos seus pontos (plausíveis, já disse) como o negócio da distânccia cultural, ou da previsibilidade...
Não é questão do que tu acha com que a pessoa se identifica. A gente acha novela e acha bobagem porque aquelas pessoas bonitas, com belas casas e tudo mais não existem e não tem nada a ver com o contexto do brasileiro. Mas o pobre olha a televisão e se identifica com tudo aquilo, porque aquilo é uma representação de desejos íntimos dele. Então a personagem da novela morre e ele se comove, assim como a morte da atriz que a interpreta ou mesmo de uma pessoa que nem trabalha como atriz, mas corresponde ao estilo de vida que representa os anseios do povão.

Isso se reflete no governo e em outras camadas, e é por isso que houe toda aquela manifestação sobre SC.

Offline Maeve Brooks

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Concordo com a autora do texto quando ela critica a super exloração da mídia. Também me enche o saco ligar a tv e ver a mesma coisa durante uma semana, ainda mais quando começam a entrevistar até o cachorrinho da vítima. Não há necessidade, todos já conhecem a tragédia, já se comoveram, se identificaram, tomaram suas posições, depois de um ponto é só blá, blá, blá.
É simplista dizer que só nos comovemos porque podia ser um de nós, a tal "casta velada" que ela menciona, cada pessoa interpreta de maneira subjetiva o que a mídia mostra, claro que se o perfil da vítima for igual ao seu a identificação é imediata, chocante até, mas não acho que se ignore completamente acidentes bárbaros só porque são distantes.
O que me irrita mesmo nesses casos de tragédia, acidentes e similares é a pouca reação práticas das pessoas, sempre vemos casos de pessoas perdidas na mata e nem por isso os espertos que vão fazer trilha amanhã verificam a previsão do tempo; muita gente conhece quem tenha filhos pequenos e armas em casa e as mortes não intencionais de crianças por arma de fogo continuam....pelo menos nessa do avião a Air France trocou um instrumento que deixará o vôo mais seguro.
"Não existem inocentes. Apenas diferentes graus de responsabilidade."  Stieg Larsson

Offline Fabi

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  • que foi?
E essa estória de poder aquisitivo elevado de quem viaja de avião... Eu definitivamente não me encaixo nessa categoria de poder aquisitivo, mas em função do trabalho cheguei a viajar de avião até duas vezes por mes. Viajo de avião desde 94 em função do meu trabalho e conheço muita gente na minha situação.
Quem vale mais para o país:

- 200 pessoas treinadas, com nível de instrução superior e experiência em alguma função que poucos estão capacitados para exercer, representando um investimento caro e demorado em sua formação, e que serão muito difíceis de substituir?
Quando aconteceu aquele acidente da TAM, eu me dei conta que essas pessoas que viajam de avião são bem importantes (não em dinheiro, mas nas coisas que fazem)...Eu conhecia 2 pessoas que estavam naquele avião... um monte de gente que eu conheço de alguma forma conheceu alguma pessoa que tava naquele avião..

Será que é porque essas pessoas se relacionam mais? Quem viaja de avião conhece mais gente do que quem não viaja?  :umm:

Quando alguém fala que acidente de avião é só pra ricos, eu sempre lembro do Congo e aquela favela. Será que os moradores da favela do Congo eram ricos?
Difficulter reciduntur vitia quae nobiscum creverunt.

“Deus me dê a serenidadecapacidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar o que posso, e a sabedoria para saber a diferença” (Desconhecido)

Offline Fernando Silva

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Quando alguém fala que acidente de avião é só pra ricos, eu sempre lembro do Congo e aquela favela. Será que os moradores da favela do Congo eram ricos?
Muita gente altamente capacitada viaja de avião mesmo sem ser rica porque suas empresas pagam a passagem. Eles precisam chegar rápido.

O preconceito está em achar que avião é uma futilidade de riquinhos sem ter o que fazer na vida.

Offline DDV

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E essa estória de poder aquisitivo elevado de quem viaja de avião... Eu definitivamente não me encaixo nessa categoria de poder aquisitivo, mas em função do trabalho cheguei a viajar de avião até duas vezes por mes. Viajo de avião desde 94 em função do meu trabalho e conheço muita gente na minha situação.
Quem vale mais para o país:

- 200 pessoas treinadas, com nível de instrução superior e experiência em alguma função que poucos estão capacitados para exercer, representando um investimento caro e demorado em sua formação, e que serão muito difíceis de substituir?

- 200 pessoas que ninguém conhece e que fazem um trabalho que só exige força física e podem ser substituídas imediatamente?

Quem você prefere que morra: o cara que paga seu salário ou o faxineiro que é substituído de vez em quando sem afetar você?

Era melhor que todos morressem de velhice, mas, se tivermos que escolher, o que seria menos pior?


 :susto:


Aquele princípio ético enunciado por Kant e pelo liberalismo clássico ("o ser humano é um fim em si mesmo, não deve ser considerado um meio para nada") parece-me que anda em baixa...e não se restringindo apenas à esquerda ou direita totalitária.
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline Contini

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Quando alguém fala que acidente de avião é só pra ricos, eu sempre lembro do Congo e aquela favela. Será que os moradores da favela do Congo eram ricos?
Muita gente altamente capacitada viaja de avião mesmo sem ser rica porque suas empresas pagam a passagem. Eles precisam chegar rápido.

O preconceito está em achar que avião é uma futilidade de riquinhos sem ter o que fazer na vida.

 :ok:
"A idade não diminui a decepção que a gente sente quando o sorvete cai da casquinha"  - anonimo

"Eu não tenho medo de morrer, só não quero estar lá quando isso acontecer"  - Wood Allen

    “O escopo da ciência é limitado? Sim, sem dúvida: limitado a tratar daquilo que existe, não daquilo que gostaríamos que existisse.” - André Cancian

Offline N3RD

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Acho que o ponto é: Se fosse um avião com 200 pedreiros que iriam fazer obras fora do país, teria a mesma repercussão ? Tendo a mídia noticiado da mesma forma só não fazendo alusão a profissão dos passageiros ?
Não deseje.

Offline Donatello

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:susto:
Sem falso moralismo, mas eu quase caí da cadeira também :D . Nem pelo que foi dito, mas que não esperava ler de forma tão explícita, esbofeteante.

Anyway, independente de questões éticas, o problema é que continua o ponto inicial. Por que apresentamos razões "nobres" quando o motivo do choro está bem mais próximo deste que o Fernando apresentou? Por que a necessidade de posar de chocado com a violência quando o choque é só pelo quem a violência atingiu? Não é a isto que se dá o nome de hipocrisia? Ou mexeram no meu dicionário?

Acho que o ponto é: Se fosse um avião com 200 pedreiros que iriam fazer obras fora do país, teria a mesma repercussão ? Tendo a mídia noticiado da mesma forma só não fazendo alusão a profissão dos passageiros ?
Pois é. Talvez nem esteja tão difícil de entender (que ninguém está atacando os passageiros de avião). Afinal você entendeu tão bem ;)

Offline Luiz Souto

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Quem vale mais para o país:

- 200 pessoas treinadas, com nível de instrução superior e experiência em alguma função que poucos estão capacitados para exercer, representando um investimento caro e demorado em sua formação, e que serão muito difíceis de substituir?

- 200 pessoas que ninguém conhece e que fazem um trabalho que só exige força física e podem ser substituídas imediatamente?

Este raciocínio que classifica seres humanos em descartáveis e não-descartáveis, além da questão ética lembrada pelo DDV, esquece o fato de que a fronteira entre uns e outros é bastante fluida e imprecisa. Onde termina um grupo e começa o outro é algo que dependerá de quem decide e quando - diversos portadores de MBA ,ao verem seus empregos dançarem , descobriram-se "descartáveis".


Citar
Quem você prefere que morra: o cara que paga seu salário ou o faxineiro que é substituído de vez em quando sem afetar você?

Era melhor que todos morressem de velhice, mas, se tivermos que escolher, o que seria menos pior?

Não ter que fazer esta escolha é um dos critérios que separa a civilização da barbárie.



Anyway, independente de questões éticas, o problema é que continua o ponto inicial. Por que apresentamos razões "nobres" quando o motivo do choro está bem mais próximo deste que o Fernando apresentou? Por que a necessidade de posar de chocado com a violência quando o choque é só pelo quem a violência atingiu? Não é a isto que se dá o nome de hipocrisia? Ou mexeram no meu dicionário?


Como dizia o moralista francês a hipocrisia é o tributo que o vício paga à virtude.
A maioria das pessoas atualmente tenderá a dividir os seres humanos em "importantes" e "desimportantes" que em última análise poderão ser transformadas em  "imprescindíveis" e "descartáveis". É um pensamento alimentado desde o culto de heróis ( tipo Tiradentes , Caxias) até o espetáculo midiático sobre indivíduos ( no caso da cobertura do acidente selecionando os passageiros sobre os quais fazer as matérias).Há toda uma ideologia de que as sociedades são fruto de indivíduos preparados , da elite , e não uma criação coletiva e contraditória de todos os seus componentes. A coberturta da mídia é um reflexo e um reforçador deste tipo de pensamento.

Por outro lado , o quanto da extensão da cobertura do acidente não é reflexo de uma entressafra de eventos noticiáveis e da necessidade de gerar pauta nas redações? O voô era francês , a maioria dos passageiros não era brasileira mas ocupa as primeiras páginas dos jornais tupniquins há mais de uma semana. Na França , a partir do quinto dia , o acidente sai das manchetes de primeira página do Le Monde e do Figaro. Se estivessemos em campanha eleitoral ,como os europeus , o acidente ainda renderia mesa redonda no Jornal das Dez da Globonews oito dias após?

Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

Conheça a seção em português do Marxists Internet Archive

Offline Fernando Silva

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Não ter que fazer esta escolha é um dos critérios que separa a civilização da barbárie.
Espero nunca me ver diante de um dilema ético do tipo
"Devo desviar este trem e matar 1 para salvar 10 ou não tenho o direito de interferir?"
ou
"Se eu apertar este botão, salvo meu filho, mas morre o filho de outra pessoa. Aperto ou respeito a decisão do acaso?"

Isto independe de civilização ou barbárie.

No caso do avião, não é nem uma decisão e sim uma avaliação dos prejuízos: "Aconteceu, não há nada a fazer, mas seria pior (ou melhor) se ..."
« Última modificação: 12 de Junho de 2009, 09:04:34 por Fernando Silva »

Offline Fernando Silva

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Como dizia o moralista francês a hipocrisia é o tributo que o vício paga à virtude.
A maioria das pessoas atualmente tenderá a dividir os seres humanos em "importantes" e "desimportantes" que em última análise poderão ser transformadas em  "imprescindíveis" e "descartáveis".
Seria hipócrita dizer "Fico igualmente triste se morrerem desconhecidos ou parentes meus".

Offline Luiz Souto

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Como dizia o moralista francês a hipocrisia é o tributo que o vício paga à virtude.
A maioria das pessoas atualmente tenderá a dividir os seres humanos em "importantes" e "desimportantes" que em última análise poderão ser transformadas em  "imprescindíveis" e "descartáveis".
Seria hipócrita dizer "Fico igualmente triste se morrerem desconhecidos ou parentes meus".

Uma coisa é a diferença entre o grau de tristeza pela morte de um conhecido e de um desconhecido.
Outra coisa é considerar que a morte de seres humanos é menos ou mais importante na dependência de sua posição social. Há uma distância gritante entre as duas situações.

Algo tipo " Não fique tão triste com a morte de seu pai pedreiro e dos outros dez peões que estavam com ele no acidente do túnel pois os engenheiros se salvaram e as obras poderão ser retomadas"
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline Fernando Silva

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Seria hipócrita dizer "Fico igualmente triste se morrerem desconhecidos ou parentes meus".
Uma coisa é a diferença entre o grau de tristeza pela morte de um conhecido e de um desconhecido.
Outra coisa é considerar que a morte de seres humanos é menos ou mais importante na dependência de sua posição social. Há uma distância gritante entre as duas situações.

Algo tipo " Não fique tão triste com a morte de seu pai pedreiro e dos outros dez peões que estavam com ele no acidente do túnel pois os engenheiros se salvaram e as obras poderão ser retomadas"
Pode não ser simplesmente uma função da posição social e sim da maior ou menor importância que uma pessoa tem para nós. Se uma determinada pessoa morrer, vai me prejudicar mais do que se morrer uma outra (independente de eu ficar triste ou não).

Cada um é afetado de uma forma diferente pela morte de alguém, cada um vai sentir de uma forma diferente.

Felizmente eu não tive que decidir quem ia morrer. Espero que nunca tenha. Prefiro que fique a cargo do acaso.

Offline FZapp

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O Jucelino já tinha previsto a queda do avião (como sempre, ele aparece depois...) :

http://rogerrodrigues.wordpress.com/2009/06/05/previsao-jucelino-nobrega-da-luz/

Ontem eu vi ele de terninho e gravata num programa da tarde (vi uns 5 minutos na portaria do prédio do meu irmão, e o cara não convence nem o porteiro!)

-Ele sempre aparece depois ! - sequeixou o porteiro. -Por que não prevê os números da Mega Sena ?
-Não, ele só prevê notícia ruim!-respondi
-Ah, é, só zica o sonho dele! -respondeu. E caímos na gargalhada...

Mas o Jucelino ainda é chamado por esses programinhas da tarde meia-boca, ...
« Última modificação: 13 de Junho de 2009, 11:38:19 por FZapp »
--
Si hemos de salvar o no,
de esto naides nos responde;
derecho ande el sol se esconde
tierra adentro hay que tirar;
algun día hemos de llegar...
despues sabremos a dónde.

"Why do you necessarily have to be wrong just because a few million people think you are?" Frank Zappa

Offline Moro

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Re: Comoção social e hipocrisia Re: Avião com 228 a bordo desaparece perto da co
« Resposta #45 Online: 14 de Junho de 2009, 21:55:45 »
Eu também achei a parte de assumir o risco de voar soou um tanto estranho embora tenha entendido o ponto relacionado [de que há catástrofes que não podem ser evitadas, que tudo que o homem podia fazer para evitá-las ele fez (os acidentes aéreos geralmente estão neste grupo), já outras (como surtos de dengue e gente morrendo sem atendimento) podem ser evitadas e só não o são por falha coletiva nossa e que estas mereciam muito mais o nosso choque].

De resto não sei onde da falácia do início ao fim, Agnóstico? O que ela postula é muito simples, é o mesmo que eu postulei à minha profa: por que desta comiseração coletiva pela morte de 200, por que eu sou quase obrigado (ok! eu não sou obrigado, mas vou dizer que não estou chocado com o fato de o avião ter caído na rodinha do trabalho pra ver se não apanho) quando tantos ônibus descem da ribanceira nas estradas mal pavimentadas deste brasilzão de meu deus (e muitas vezes por falta de mesmo um adesivo que segure a direção, e que muitas vezes também invadem residências de pessoas e as matam antes que alguém me lembre) e não merecem de mim e de você e de ninguém que postou aqui até agora e do JN e das nossas rodinhas de conversa no trabalho mais do que um "que pena" (e na maioria das vezes nem isso, porque na maioria das vezes nem sequer tomamos conhecimento de que um ônibus lotado tombou na beira de uma estrada matando todos os seus "tripulantes" e os moradores de uma casa de beira de estrada)?

Deve haver uma boa razão para estes surtos de sensibilidade tão repentinos, não? E eu não sei o que existe de incomparável nesta catástrofe (ou na morte do João Hélio, lembrei o nome, ou na morte da menina que foi jogadada janela ou no assassinato da Liana Fenerbá) para que "a comparação com outras não diga nada", exceto evidente pela maior "importância humana" das vítimas.

Porque chamei de falacioso

Ninguém tem uma estatística demonstrando um índice de indignação por assuntos. Eu por exemplo vejo diariamente em jornais críticas quanto ao estado das estradas, à aberração do nosso sistema carcerário e judicial, desiquilibrio social, assassinatos, etc..
É evidente que, fôssemos juntar todas essas notícias em um prazo de um mês, haveria muito mais citações à todos esses temas do que ao air france.

Meu ponto de vista, na raiz desse post encontramos:

1- na verdade a autora é provavelmente preconceituosa e esquerdalóide. Não se conforma por haver essa comoção pelo que ela em sua entranhas chama de burguesia, e burguesia utilizando de um meio restrito à (cada vez menos) poucos.
2- O fato de não haver comoção em temas como corrupção e morte de pobres mostra algumas coisas muito graves: Essas ocorrências são demasiadamente frequentes para gerarem indignação; estamos amortecidos a elas; e pior, podemos estar dando um cheque em branco para essa corja nos roubar cada vez mais
3- Seres humanos prestam atenção em coisas que se distinguem do normal. Carajas teve muito impacto na mídia e essa pentelha provavelmente não estava lá enchendo o saco contra a cobertura da mídia pois provavelmente as vítimas se enquadravam no estereótipo de injustiçados que ela utiliza dentro do seu cérebro para poder raciocinar.  Burgês morreu aproveitando de suas regalias? Faz parte. MST tomando bala em uma situação onde razoavelmente poderíamos dividir as culpas? Esquece a crítica à mídia, pau nos PMs.

Então, o que a dona fez foi o seguinte:

1- Pegou uma reação normal e humana à uma catástrofe com contornos raros
2- Jogou dentro de sua mente deturpada por ideologias e preconceitos
3- Martelou uma teoria onde esse comportamento normal era um sinal que dávamos mais valor ao sofrimento dos ricos do que dos pobres
4- Ignorou, ou sequer pensou, em qualquer contra-ponto contra esse raciocínio
5- Publicou essa merda de post
« Última modificação: 14 de Junho de 2009, 22:33:11 por Agnóstico »
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

Peter Boghossian

Sacred cows make the best hamburgers

I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline Buckaroo Banzai

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Strange, dois eventos recentes se levarmos em conta o tamanho das catástrofes, o número de vítimas, a familiaridade que elas tem conosco, as causas, et cetera e que me parecem depor contra a maioria dos seus pontos (plausíveis, já disse) como o negócio da distânccia cultural, ou da previsibilidade...

Foram as recentes enchentes de Santa Catarina e mais agora de vários estados nordestinos, não? Convenhamos que uma mobilizou muito mais governo, ongs, pessoas, igrejas, imprensa do país inteiro, não? E eram tão parecidas em quase tudo (exceto pelo ponto em questão aquí)... :|

Eu não descarto maior empatia de acordo com maior associação (quase que um pleonasmo), embora concorde com várias ressalvas feitas e talvez até acrescentasse outras.

Nesse caso das enchentes, por exemplo, talvez o principal não seja uma identificação maior com os sulistas, mas simplesmente porque o assunto "vamos ajudar vítimas de enchente" saturou com eles, que tiveram a "sorte" de serem acometidos por isso primeiro. 

Uma vez li num livro que existe desse tipo de coisa, que tem por exemplo doenças "da moda" que conseguem mais doações para ajudar os doentes porque tem melhores "relações públicas" do que outras doenças que até afetam mais pessoas, e mais seriamente. E coisas parecidas.

O mais significativo que vejo no caso das enchentes, é que, mesmo que não tivesse havido a nordestina para comparação, já há aparentemente, ou evidentemente, uma comoção menor para situações que, na prática, são a mesma (ou pior) dos desabrigados nas enchentes, por aqui mesmo, por esses estados do sudeste e do sul. O mais próximo são as campanhas de doações de agasalhos.

 

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