Ao contrário, o pensamento deletério e a ser combatido é a intolerância religiosa, que se expressa quando alguém desrespeita ou se incomoda com a opção e o sentimento religioso alheios, o que inclui querer eliminar os símbolos religioso
Certamente o incômodo de um cidadão deriva do fato dele possuir uma crença diferente daquela que é ostentada em prédios públicos. Não se trata de intolerância religiosa, mas de ver um órgão que deve servir a todos exibir objetos da crença de alguns.
O próximo passo será proibir também os símbolos na mesa de trabalho, seja porque o ambiente pertence ao serviço público, seja porque em tese poderia ofender algum colega que visualizasse o símbolo.

O crucifixo nas cortes, independentemente de haver uma religião que surgiu do crucificado, é uma salutar advertência sobre a responsabilidade dos tribunais, sobre os erros judiciários e sobre os riscos de os magistrados atenderem aos poderosos mais do que à Justiça.
Como é que é? Desde quando o Estado deve se guiar por ideais religiosos? A justiça deve ser feita porque cabe ao Judiciário buscar dar a cada um o que é seu de forma justa, igualitária e impessoal. O que tem a ver o crucifixo com o dever que magistrados e tribunais tem de aplicar a lei? É para isso que eles estudaram, foram aprovados em concurso e estão ocupando a vaga que ocupam.

Todos se recordam do lamentável episódio em que um religioso mal formado chutou uma imagem de Nossa Senhora na televisão. Se é errado chutar a imagem da santa, não é menos agressivo querer retirar todos os símbolos. Não chutar a santa, mas valer-se do Estado para torná-la uma refugiada, uma proscrita, parece-me talvez até pior, pois tal viés ataca todos os símbolos de todas as religiões, menos uma. Sim, uma: a “não religião”, e é aqui que reside meu principal argumento contra a moda de se atacar a presença de símbolos religiosos em locais públicos.
O que o ato de um religioso intolerante tem a ver com um cidadão que se sente discriminado em sua liberdade de crença ao se deparar com um símbolo de outra religião em um órgão público?
Assim como o Protestantismo foi uma reação aos que não estavam satisfeitos com o catolicismo romano, o antiteísmo, ou ateísmo militante, que vemos hoje, é uma reação dos que estão insatisfeitos com a religião. Interessante perceber que esta linha de ateus é intolerante e, como foi historicamente comum em todas as religiões iniciantes ou pouco amadurecidas, mostrou-se virulenta e desrespeitosa no ataque às demais. Esta nova religião, a “não religião”, ao invés de assumir o controle ou titularidade da representação divina, optou por entender que não existe Deus nenhum. Em certo sentido, ao eliminar a possibilidade de um ser superior, assumiu o homem como o ser superior. Aqui o homem que professa tal tipo de crença não é mais o representante de Deus, mas o próprio ser superior. Nesse passo, a nova religião tem outra penosa característica das religiões pouco amadurecidas, consistente na arrogância e prepotência de seus seguidores, apenas igualada pelo desprezo à capacidade intelectual dos que não seguem a mesma linha de pensamento.
Agora a defesa do laicismo virou uma arma dos antiteístas ou ateus contra as religiões instituídas...

Penso que um ateu consciente sabe bem que não é superior, mas que é um animal como qualquer outro - apenas um tanto quanto mais evoluído. E olha que isso não significa que somos mais sábios ou espertos. Nossa capacidade de destruir supera a de qualquer outro ser vivente... É... sob essa ótica, somos um tanto quanto parecidos com o tal deus cristão... egoístas, destruidores, invejosos, ciumentos, etc.

Ao meu ver, discutir os símbolos religiosos é mais fácil do que enfrentar a distribuição de renda, a fome, injustiça e a desigualdade social. Não nego a importância do assunto, mas acharia cômico se não fosse trágico que as pessoas se ofendam com uma cruz o bastante para acionar o Estado e não o façam diante de outras situações evidentemente mais prementes.
Nossa... Esse argumento de 'não faz isso, mas faz aquilo que é tão insignificante' me deixa irritada. Só porque um problema é considerado menos ofensivo/grave não significa que não deva ser combatido. Avaliando que pouco se faz pelos problemas grandes, se deixarmos de lado os pequenos, aí é que o Estado não funciona mesmo.
Por fim, acaso fosse possível ser feita uma opção, não poderia ser pela visão da “minoria”, mas da “maioria”. Talvez essa afirmação choque o leitor. Dizer que se for para optar, que seja pela “maioria” choca, pois o conceito de “respeito às minorias” já está razoavelmente assimilado. Mas também deveria chocar a ditadura da minoria, a tirania dos que se transformam em vítimas ao invés de evoluírem o suficiente para ver nos símbolos religiosos não uma ofensa, mas um direito, e entender que os que já estão por aí, nas ruas, repartições e monumentos são apenas uma consequência da nossa longa formação histórica e cultural.
Chamou a mim e diversos outros de pessoas não evoluídas... :'(
Certo. O Estado afirma-se laico, prega a liberdade de crença e culto, o direito à liberdade de expressar-se. Se a maioria adota uma crença específica (supostamente, já que católico é todo mundo que foi batizado, mesmo nunca mais tendo colocado os pés na igreja), os demais precisam suportá-la. Um umbandista ou espírita não pode se sentir ofendido com uma imagem de senhora aparecida em um órgão público. Se ele é minoria, cabe aceitar a vontade da maioria. Sim, símbolos religiosos são um direito de cada um. No entanto, é um direito meu e de outros não me deparar com um juiz que ostenta um crucifixo e uma imagem de senhora aparecida sobre sua cabeça em plena sala de audiência. Se é um ambiente público, deve zelar pelo bom atendimento de todos, evitando qualquer forma de discriminação, seja ela de qual natureza for.

Excluir símbolos é fazer o Estado optar por quem não crê. A laicidade aceita todas as religiões ao invés de persegui-las ou tentar reduzi-las a espaços privados, como se o espaço público fosse privilégio ou propriedade de quem se incomoda com a fé alheia.
Pronto. Aqui ele se revela: a retirada das imagens é uma cruzada promovida por antiteístas e ateus. E não, a laicidade não apenas prega o respeito a todas as religiões, mas principalmente a idéia de que o Estado não deve manifestar-se optando por esta ou aquela religião. Ao assumir essa postura, é natural que todas as crenças sejam respeitadas justamente em razão da laicidade - o Estado não tem religião e todos os que estão sob o seu manto podem professar a fé que julgarem correta. Os cidadãos, não o Estado.

Bom dia, pessoal
Minha primeira postagem aqui no fórum.
Eu fiquei embasbacado com a opinião de um juiz federal sobre o assunto (que por sinal é protestante):
http://www.conjur.com.br/2009-ago-11/retirada-crucifixos-discussao-pirotecnica-intolerante
Tem uns argumentos do cara que chegam a ser cômicos se não fossem trágicos.
Eu acho que o que o cara quer na verdade é bater nos ateus/agnósticos, mesmo que tenha que apoiar por um tempo um argumento católico.
Seja bem vindo, André. E valeu por postar o texto do juiz. Nunca é demais ler os absurdos aos quais estão jungidos alguns de nossos magistrados... Pior que esse, só mesmo o juiz que defendia a utilização da psicografia como meio de prova.
