Autor Tópico: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins  (Lida 5305 vezes)

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Offline Massacre no Congo

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Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Online: 16 de Novembro de 2009, 10:46:11 »
Não é para rir

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 16 de novembro de 2009

Georges Gurdjieff, que era um falso mestre espiritual mas um autêntico gênio do humorismo sádico, dizia ser a inteligência humana uma substância material, que existia no planeta Terra numa quantidade definida: quando um sujeito adquiria mais inteligência, ficava faltando para os outros. Essa teoria, evidentemente, só vale como piada, mas, nos meus momentos de depressão, chego a acreditar um pouco nela: afinal, como a experiência de décadas tem me confirmado, à medida que eu ia vencendo minha burrice natural e adquirindo alguma compreensão dos problemas da metafísica, da teoria do conhecimento e da lógica das ciências, ia concomitantemente observando meus contemporâneos perderem não apenas a capacidade para as distinções mais elementares, mas também a percepção das conseqüencias diretas e incontornáveis das afirmações em que acreditavam. Pior ainda: a diferença mesma entre inteligência e burrice ia se tornando para eles cada vez mais insensível, ao ponto de celebrarem como teorias respeitáveis certas idéias que, na geração anterior, um menino de escola perceberia de imediato serem totalmente autocontraditórias e inviáveis. A única explicação que encontro para esse fato é a hipótese gurdieffiana: cada vez que eu compreendia alguma coisa, a quantidade correspondente de potência compreensiva era suprimida de outros cérebros, fazendo com que eu progredisse na vida do intelecto às custas da imbecilização geral. Devo ser, em suma, um ladrão de conexões sinápticas.

Por exemplo, o dr. Richard Dawkins, que é um meu companheiro de geração. Sua teoria dos "memes" baseia-se inteiramente na incapacidade de perceber a diferença entre um programa de computador e um vírus de computador – entre um princípio organizador e uma força de dissolução entrópica. Ele começou por acreditar que tudo na natureza acontece por acaso, sem finalidade ou propósito. Até aí, tudo bem: é uma teoria como qualquer outra. Mas depois a glória midiática subiu-lhe à cabeça e ele começou a pensar que também podia explicar por processos randômicos e sem sentido tudo o que se passa no campo da história e da ação humana. Os memes não passam disso: são unidades de informação, sem nenhum significado especial em si mesmas, que se espalham e dominam sociedades inteiras simplesmente porque sim. A Catedral de Chartres e os Concertos de Brandeburgo, em suma, foram construídos pelos mesmos métodos do furacão Katrina ou de um acidente de trânsito. Acreditar nisso pressupunha, desde logo, abdicar de toda diferença entre possuir uma explicação e não possuir nenhuma. Ao mesmo tempo, era proibido aplicar a teoria memética a ela própria: quem quer que dissesse que ela era apenas um vírus de computador surgido por acaso numa mente em mau funcionamento tornava-se automaticamente um fanático, um réprobo, um ser anti-social indigno de participar de tão altas discussões.

Como, ao mesmo tempo em que o dr. Dawkins pensava essas coisas, os vírus de computador se espalhavam realmente pelo mundo e a multiplicação de informações sem sentido fazia da internet uma selva selvaggia na qual só podemos nos orientar mediante uma certa capacidade instintiva de recusar atenção a praticamente tudo, é claro que muitos processos de disseminação de idéias no mundo passaram a copiar quase literalmente a proliferação de vírus de computador, isto é, a dissolução de um pequeno núcleo de informações organizadoras num oceano de irrelevâncias estupidificantes.

Uma vez estabelecida como disciplina acadêmica a ciência ou pseudociência da "memética", que o dr. Dawkins criou para descrever esses processos, tornou-se irresistível a tentação de aplicá-la a toda a história anterior da espécie humana, explicando-se então os progressos do conhecimento desde os tempos do homem de Neanderthal pelas mesmas causas que hoje espalham a estupidez coletiva, isto é, eliminando-se por completo a distinção entre conhecimento e ignorância, entre inteligência e burrice. Não duvido que a memética sirva para descrever, por exemplo, a própria evolução intelectual do Dr. Dawkins, que culmina na autocastração mental que o incapacita para as abstrações de terceiro e até de segundo grau. Perguntado quanto à origem da vida, ele respondeu que provavelmente os germes da vida foram trazidos por viajantes extraplanetários. Mesmo refreando, por uma questão de respeito, qualquer impulso maldoso de fazer piada quanto à teoria dos deuses astronautas, é impossível não perceber que a resposta exige uma incapacidade patética de distinguir entre o esquema geral "vida" e as encarnações concretas desse esquema na Terra – diferença que qualquer criança normal percebe instintivamente. Afinal, para que os germes da vida fossem trazidos, era preciso que eles existissem, e perguntar sobre a origem da vida é obviamente perguntar como vieram à existência e não quem os transportou de um lugar para outro. Isso não chega a ser propriamente uma sutileza, mas, para o dr. Dawkins, havia se tornado uma abstração inapreensível. Para que um homem com treino científico superior descesse a esse ponto, e para que sua platéia de estudantes não percebesse o vexame, foi preciso mesmo que uma quantidade assombrosa de memes se espalhasse pelos cérebros respectivos, cegando-os até mesmo para a boa e velha distinção aristotélica entre um ente corporal e sua forma inteligível, distinção sem a qual fica difícil captar a diferença entre remédio e bula, entre comida e cardápio ou entre sapato e número de sapato. Que isso é uma tragédia cognitiva sem precedentes na história humana, e que as conseqüências histórico-sociais da sua disseminação planetária arriscam ser as mais devastadoras, eis duas constatações que desestimulam qualquer veleidade de fazer troça a respeito.

Nos próximos artigos, explorarei algumas dessas conseqüências tal como aparecem no campo mais visível da política e do jornalismo.


http://www.olavodecarvalho.org/semana/091116dc.html

Offline André T.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #1 Online: 16 de Novembro de 2009, 10:52:01 »
Olavinho, como sempre falando besteiras sem sentido sobre coisas que ele não entende.
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Offline Massacre no Congo

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #2 Online: 16 de Novembro de 2009, 10:58:49 »
Dissequemos a suposta ineptude das afirmações de Olavo de Carvalho então. Alguém quer dar o pontapé inicial?

Offline André T.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #3 Online: 16 de Novembro de 2009, 11:03:08 »
Olha, de verdade, eu não acho que valha a pena. Se a 'compreensão' que ele tem de memética o faz recorrer a uma analogia de furacão criando os concertos de Brandemburgo, o melhor que se pode responder é: tio, vai estudar.

Muitas críticas podem ser feitas à memética, mas essa é ridícula.
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Offline Spitfire

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #4 Online: 16 de Novembro de 2009, 11:12:51 »
Coitado do Olavo... o que ele entende por viajantes interplanetários nada tem a ver com o que Dawkins falou.

Leitura recomendável para o Olavo:

http://www.boletimsupernovas.com.br/edicao/391/noticia/1191/BSN_cometas-contem-moleculas-organicas.htm
http://bitesebytes.com/option=com_content&task=view&id=552&Itemid=24
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-14282008000100003&script=sci_arttext

Inepto este Olavo... inepto.

Offline André T.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #5 Online: 16 de Novembro de 2009, 11:15:54 »
Ele provavelmente falou isso porque tem uma entrevista do Dawkins com um criacionista em que o cara fica colocando ele contra a parede sobre a possibilidade da vida ter sido 'plantada' na terra.
O Dawkins responde que poderia ter acontecido através de Ovnis e etc, mas que ele não acredita nisso. Claro que fizeram a edição de forma que fique parecendo que o Dawkins acreditaria em Design Inteligente, tanto que o 'designer' não fosse Deus.
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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #6 Online: 16 de Novembro de 2009, 11:36:51 »
André: então, segundo sua afirmação, a memética não pode ser aplicada a fim de se explicar diferenças fundamentais entre os fenômenos climáticos naturais e o desenvolvimento de um score musical de alta qualidade. Isto quer dizer, portanto, que a memética é uma teoria feita especificamente para um escopo limitado de fenômenos, o qual exclui:

1- O princípio entrópico por detrás de certos fenômenos naturais;
2- O princípio entrópico por detrás da música de alta qualidade;
3- As similaridades entre ambos princípios;

Spitfire: os links que vc apresentou não desmentem Olavo de Carvalho. No máximo, demonstram que ele apresentou a hipótese da vida extraplanetária de forma extremamente resumida (possivelmente pelo espaço limitado na coluna de jornal que foi transcrita para a web), mas ainda verídica.

Offline André T.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #7 Online: 16 de Novembro de 2009, 11:41:29 »
André: então, segundo sua afirmação, a memética não pode ser aplicada a fim de se explicar diferenças fundamentais entre os fenômenos climáticos naturais e o desenvolvimento de um score musical de alta qualidade. Isto quer dizer, portanto, que a memética é uma teoria feita especificamente para um escopo limitado de fenômenos, o qual exclui:

1- O princípio entrópico por detrás de certos fenômenos naturais;
2- O princípio entrópico por detrás da música de alta qualidade;
3- As similaridades entre ambos princípios;

ZZZZ.

Você de alguma forma está afirmando que a teoria dos memes (ou a evolução biológica como um todo) vai contra a lei da entropia?

Hehehehe.

De qualquer forma, nem foi isso que eu disse. Eu disse que a analogia com o furacão é ridícula. Falar isso é dar prova que está falando do que não entende.

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Offline Spitfire

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #8 Online: 16 de Novembro de 2009, 11:42:46 »
Spitfire: os links que vc apresentou não desmentem Olavo de Carvalho. No máximo, demonstram que ele apresentou a hipótese da vida extraplanetária de forma extremamente resumida (possivelmente pelo espaço limitado na coluna de jornal que foi transcrita para a web), mas ainda verídica.


Citar
...Mesmo refreando, por uma questão de respeito, qualquer impulso maldoso de fazer piada quanto à teoria dos deuses astronautas, é impossível não perceber que a resposta exige uma incapacidade patética de distinguir entre o esquema geral "vida" e as encarnações concretas desse esquema na Terra – diferença que qualquer criança normal percebe instintivamente...

Mesmo?  :fiu-fiu:

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #9 Online: 16 de Novembro de 2009, 11:56:17 »
Citação de: Olavo de Carvalho
Ele começou por acreditar que tudo na natureza acontece por acaso, sem finalidade ou propósito. Até aí, tudo bem: é uma teoria como qualquer outra. Mas depois a glória midiática subiu-lhe à cabeça e ele começou a pensar que também podia explicar por processos randômicos e sem sentido tudo o que se passa no campo da história e da ação humana. Os memes não passam disso: são unidades de informação, sem nenhum significado especial em si mesmas, que se espalham e dominam sociedades inteiras simplesmente porque sim. A Catedral de Chartres e os Concertos de Brandeburgo, em suma, foram construídos pelos mesmos métodos do furacão Katrina ou de um acidente de trânsito.

Não, tanto quanto entendo, a noção de "memes" não implica nisso.

Apenas que, a cultura que culmina na construção de catedrais (os "memes") não é necessariamente benéfica aos seus veículos, ela só precisa despertar neles a vontade/necessidade de reproduzirem-na. Muito pouco tem a ver com furacões ou acidentes de trânsito, não me ocorre qual seria a analogia possível.


Citar
Acreditar nisso pressupunha, desde logo, abdicar de toda diferença entre possuir uma explicação e não possuir nenhuma. Ao mesmo tempo, era proibido aplicar a teoria memética a ela própria: quem quer que dissesse que ela era apenas um vírus de computador surgido por acaso numa mente em mau funcionamento tornava-se automaticamente um fanático, um réprobo, um ser anti-social indigno de participar de tão altas discussões.

Queria que ele indicasse fontes do "ocorrido". Não tenho conhecimento sobre os defensores da "memética" defenderem ser essa uma idéia fundamentalmente diferente e especial, entre todas as outras.



Citar
Perguntado quanto à origem da vida, ele respondeu que provavelmente os germes da vida foram trazidos por viajantes extraplanetários.

Provavelmente isso não é nem "citação fora de contexto", pois não chega nem a ser citação, é só uma atribuição de alguma coisa que ele disse num contexto provavelmente melhor do que o de explicar a origem da vida. Ao menos em um dos seus livros, Dawkins dá algum tempo mais a questão e se mostra perfeitamente ciente do óbvio do qual o Olavo de Carvalho parece se julgar tão brilhante por ter percebido, de que a origem primeira da vida não pode ter sido simplesmente que "veio do espaço". Imagino que Dawkins tenha sido perguntado sobre o problema da origem da vida na Terra para a evolução, e ele tenha dito que é irrelevante a origem, uma vez existindo, o natural é diversificação por acúmulo de variações hereditárias em diferentes linhagens, "podendo inclusive ter vindo de outro planeta". Isso não é a citação dele, estou só supondo, mas muito provavelmente é isso. Dawkins não é o melhor cientista do mundo, mas não é tão burro quanto o Olavo de Carvalho.


Offline André T.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #10 Online: 16 de Novembro de 2009, 12:00:15 »
Cuidado pra não devolver o almoço.

Dawkins a partir dos 4 minutos mais ou menos

<a href="http://www.youtube.com/watch/v/Mzi2sHTp-cU" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/watch/v/Mzi2sHTp-cU</a>
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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #11 Online: 16 de Novembro de 2009, 12:24:16 »
André: então, segundo sua afirmação, a memética não pode ser aplicada a fim de se explicar diferenças fundamentais entre os fenômenos climáticos naturais e o desenvolvimento de um score musical de alta qualidade. Isto quer dizer, portanto, que a memética é uma teoria feita especificamente para um escopo limitado de fenômenos, o qual exclui:

1- O princípio entrópico por detrás de certos fenômenos naturais;
2- O princípio entrópico por detrás da música de alta qualidade;
3- As similaridades entre ambos princípios;

ZZZZ.

Você de alguma forma está afirmando que a teoria dos memes (ou a evolução biológica como um todo) vai contra a lei da entropia?

Hehehehe.

De qualquer forma, nem foi isso que eu disse. Eu disse que a analogia com o furacão é ridícula. Falar isso é dar prova que está falando do que não entende.



André: não fui eu. Foi vc mesmo quem implicou nisso, quando classificou a analogia de OdC como ridícula. Eu apenas traduzi a lógica da sua afirmação na tese de que cai-se no uso ridículo da memética ao se apelar para fenômenos não-compreendidos por esta ou ao se comparar princípios essenciais entrópicos entre certos fenômenos.

Neste caso, para que a afirmação de OdC não decaísse ao ridículo, a memética:

1- Teria que compreender, integralmente ou em parte, os fenômenos que ele citara;
2- Teria que suportar comparações entre as duas categorias de fenômenos que ele citara;

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #12 Online: 16 de Novembro de 2009, 12:34:16 »
Spitfire: a resposta de OdC tem a ver com a teoria de Dawkins, mas está adequada ao ponto de vista dele, que é diferente do de Dawkins. Caso raciocinar a partir do ponto de vista de OdC leva a conclusões erradas, chegaremos nisto a seguir.

Buckaroo Banzai: sua afirmação não desmente a de OdC. Mérito dele ou não, ele apontou corretamente um erro inicial de cognição, o qual Dawkins corrigiu a posteriori.


Offline André T.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #14 Online: 16 de Novembro de 2009, 13:03:18 »
Neste caso, para que a afirmação de OdC não decaísse ao ridículo, a memética:

1- Teria que compreender, integralmente ou em parte, os fenômenos que ele citara;
2- Teria que suportar comparações entre as duas categorias de fenômenos que ele citara;

A analogia do OdC é ridícula porque parte do pressuposto de que os memes se espalham 'porque sim'. Por sinal, é idêntica à analogia do furacão que passa por um ferro-velho e monta um Boeing, muito usada por criacionistas e adeptos do DI para tentar atacar a TE. Assim como a analogia do Boeing não tem nada a ver com o mecanismo da TE, a analogia do furacão gerando uma sinfonia não faz sentido. Isso porque os mecanismos de ambas, TE e memética, terem um componente 'selecionador' além do componente aleatório.

Quanto a explicar uma sinfonia usando memética, bem, devemos nos lembrar de que esse é um trabalho ainda em desenvolvimento. Existem por aí algumas tentativas nesse sentido, por exemplo aqui:
http://cfpm.org/jom-emit/2000/vol4/jan_s.html

Note que não há nenhuma fonte citada no artigo sobre quando ou onde Dawkins afirmou essas coisas que o Olavo diz. Não há a desculpa de não haver espaço, já que, quando é conveniente, ele usa de citações diversas em seus artigos. Eu acredito que ele esteja sendo francamente desonesto, esperando que seu séquito de seguidores (que acreditam que ele, entre outras coisas, desbancou Kant, Newton e Cantor) não verifique as afirmações que ele atribui a outras pessoas.

Fora tudo isso, eu acredito que a memética é um esboço, uma proto-ciência para explicar naturalisticamente fenômenos culturais. É muito difícil delimitar os memes e explicar fielmente os mecanismos de 'seleção natural' (o que, claro, é bem diferente de afirmar o 'porque sim'). Acredito que uma abordagem evolutiva nas ciências sociais como um todo vai avançar muito nos próximos anos, ou expandindo os modelos que já temos, ou criando modelos melhores para explicar os fenômenos que observamos.
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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #15 Online: 16 de Novembro de 2009, 13:14:28 »
Olavinho, como sempre falando besteiras sem sentido sobre coisas que ele não entende.
[2]

E finge compreender ...
 :fiu-fiu: :rola:
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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #16 Online: 16 de Novembro de 2009, 13:24:14 »
Nem vem tanto em questão a parte de "descartar a seleção natural", a analogia com furacão simplesmente não tem sentido algum aí, só mostra que ele não sabe do que está falando (não inesperado dada a má capacidade de interpretação de texto, no caso da origem da vida - supondo não ser desonestidade, apenas dando aos seus fãs o que eles querem ouvir, sabendo que não vão verificar ou criticar).



A "memética" é só uma analogia da cultura com vírus. Que, como vírus, pode se transmitir independentemente de conferir vantagens reprodutivas/adaptativas aos portadores. Ou seja, a cultura não é transmitida apenas porque é boa, por fornecer alguma vantagem substancial, melhorar nossa capacidade de sobrevivência e/ou reprodução.

Basta na verdade, ter a capacidade de se reproduzir nas mentes das pessoas. Basta que, analogamente ao que o vírus faz com o maquinário celular, promova a sua própria reprodução através do maquinário cerebral.

Se propor a refutar a memética é desssa forma sugerir que a cultura é sempre benéfica às pessoas, de forma mais substancial do que "se sentir bem", seja satisfação como prazer ou senso de dever cumprido, ao transmitir/reproduzir ou manter uma "entidade cultural".


Se alguém supõe estar realmente refutando a memética (e não apenas dizendo que não é uma idéia totalmente inovadora, nunca antes pensada), simplesmente não sabe do que está falando, ou tem crenças sobre a cultura ser mágica.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #17 Online: 16 de Novembro de 2009, 13:29:16 »
A "memética" é só uma analogia da cultura com vírus.

Bom, tem gente querendo dar a ela status de ciência.
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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #18 Online: 16 de Novembro de 2009, 13:35:20 »
Até pode ser, não sei, não conheço muito dessa proposta. Se por exemplo, der para aproveitar ferramentas de epidemiologia de vírus e adaptar para o estudo da propagação e alguma forma de evolução da cultura, então acho que poderia se chamar isso de "memética".

Aí a "refutação" consistiria em mostrar que as adaptações dessas ferramentas perdem algo fundamental, o que até pode ser verdade, se foi tentado, e suas previsões não são cumpridas de forma significativa, que se aproveite. Mas o Olavo de Carvalho também não fez isso.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #19 Online: 16 de Novembro de 2009, 16:14:12 »
Que erro de cognição que Dawkins corrigiu, do que está falando?

(2007)
"It could come about in the following way. It could be that at some earlier time, somewhere in the universe, a civilization evolved, by probably some kind of Darwinian means, probably to a very, very high level of technology, and designed a form of life that they seeded onto, perhaps, this planet."

(Setembro de 2008)
"But intelligent design (ID) is the polar opposite of a powerful theory: its explanation ratio is pathetic. The numerator is the same as Darwin's: everything we know about life and its prodigious complexity. But the denominator, far from Darwin's pristine and minimalist simplicity, is at least as big as the numerator itself: an unexplained intelligence big enough to be capable of designing all the complexity we are trying to explain in the first place!"

A segunda explicação conclui que, na opinião do próprio Dawkins, ele cometera um erro patético em 2007: o mesmíssimo erro que OdC atacou.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #20 Online: 16 de Novembro de 2009, 16:40:22 »

A analogia do OdC é ridícula porque parte do pressuposto de que os memes se espalham 'porque sim'. Por sinal, é idêntica à analogia do furacão que passa por um ferro-velho e monta um Boeing, muito usada por criacionistas e adeptos do DI para tentar atacar a TE. Assim como a analogia do Boeing não tem nada a ver com o mecanismo da TE, a analogia do furacão gerando uma sinfonia não faz sentido. Isso porque os mecanismos de ambas, TE e memética, terem um componente 'selecionador' além do componente aleatório.


Bom, aí vc implica que pode haver inteligência além do princípio da seleção natural atuando por detrás dos mémes (se não é 'porque sim', por que o seria?) o que refutaria outras das afirmações de Dawkins.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #21 Online: 16 de Novembro de 2009, 16:47:20 »
Explicando melhor, a seleção natural funciona 'porque sim', e nos casos do 'porque não' ela fica inerme; não atua (prezando pela simplicidade científica da tese de Darwin). Então, o que seria passível de propagar ou receber os mémes e o quê não o seria?

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #22 Online: 16 de Novembro de 2009, 16:54:53 »
Citar
Bom, aí vc implica que pode haver inteligência além do princípio da seleção natural atuando por detrás dos mémes (se não é 'porque sim', por que o seria?) o que refutaria outras das afirmações de Dawkins.

O que seria = Por exemplo, ideias que são 'simpáticas' aos nossos instintos moldados pela seleção natural tradicional. Instintivamente escolhemos ideias que se encaixam em nossas expectativas de sobrevivência, controle, etc.

De forma alguma é um mecanismo 'inteligente'.
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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #23 Online: 16 de Novembro de 2009, 17:24:34 »
A segunda explicação conclui que, na opinião do próprio Dawkins, ele cometera um erro patético em 2007: o mesmíssimo erro que OdC atacou.

Onde está o " erro Patético "  que ele teria corrigido ?

Vc confunde claramente as idéias de evolução de espécies com origem da vida. A idéia que vc sustenta para defender o OdC, ainda não faz qq sentido biológico ou concatenação lógica com as afirmações do biólogo britânico.

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Re: Dissecando a ineptude de algumas das afirmações de Richard Dawkins
« Resposta #24 Online: 16 de Novembro de 2009, 17:32:34 »
Explicando melhor, a seleção natural funciona 'porque sim', e nos casos do 'porque não' ela fica inerme; não atua (prezando pela simplicidade científica da tese de Darwin). Então, o que seria passível de propagar ou receber os mémes e o quê não o seria?
Adoro "lógica" de bogus!!! :lol:
Dá para se fazer um estudo do pq do sucesso editorial do OdC! :histeria:

Seleção natural funciona pelo sucesso reprodutivo de uma espécie.  Nos casos em que não funciona, a linha que não teve sucesso em sobreviver e se reproduzir se extingue. Aqui sua alegação da teoria científica, que vc por sua própria conta, chama de tese, se mostra errônea por vc sequer abordá-la.

A idéia de memes se relaciona com a sobrevivência de comportamentos sócio-culturais através de mecanismos igualmente evolutivos. Há várias ferramentas socias que podemos ver fazer tal papel, entre elas a doutrinação cultural, a coerção, a eliminação de grupos adversários.
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