Você pode, por exemplo, inventar, com uso de muita inteligência, uma mentira muito boa, e começar a propagá-la. Por ter sido bem inventada, será convincente, e as pessoas irão acreditar. Se lhes parecer importante, ou interessante, ou se for um bom tema para puxar conversa, poderão contar essa mesma mentira.
Mas o controle que se tem sobre a invenção do meme é independente dos mecanismos que fazem que os memes sejam selecionados. Você não está alterando o mecanismo de 'seleção natural' dos memes; só está escolhendo logo de cara memes que se espalham facilmente.
É como, por exemplo, descobrir uma mutação genética que faz as pílulas anticoncepcionais não funcionarem e inserir essa mutação em uma determinada população. Esse gene fatalmente se espalharia muito rapidamente. E você não está atuando na seleção natural; só está se aproveitando do conhecimento que tem dos mecanismos de seleção.
Estou meio perdido. Concordo com isso, e não acho que tenha dito nada que fosse contra isso.
O meu ponto é somente que, a "seleção natural" dos memes não é uma "alternativa" à inteligência no desenvolvimento da cultura, até porque, em parte, diz que não serão necessariamente os memes "mais inteligentes" a se tornarem mais populares.
Assim, por exemplo, boa parte da evolução tecnológica, não se dá por seleção de memes nesse sentido mais análogo ao de epidemias virais, mas é sim, invenção "convencional", dependendo do que se passa no cérebro de indivíduos, e não só "erros de cópia" aleatórios, passando de cérebro em cérebro, com os erros melhores ou menos piores sendo mais popularizados.
Pode até haver disso em algum grau, mas as pessoas "montam" coisas, "recombinam" idéias, nas suas cabeças, ou no papel, de forma consciente, inteligente. A célula basicamente copia e repara o DNA, enquanto o cérebro não faz só isso com as idéias, mas operações bem mais complexas.
Acho que uma 'seleção artificial' dos memes seria coisas como faziam os nazistas e comunistas algum tempo atrás: suprimirem ideias divergentes, etc, etc, etc, como alguem já citou aqui mesmo.
Pode ser, é uma analogia, e não vai encaixar 100%. Eu nem estava falando de algo que fosse análogo a "seleção artificial" ou "controle de pestes", mas de algo um pouco sem análogo muito forte no mundo genético, que é a "invenção" mesmo. O mais próximo talvez fosse "lamarckismo" ou uns tipos complicados de coisas existentes que parecem lamarckismo, mas não são, e que por sua especificidade biomolecular, não é de se esperar muita coisa para a analogia com o cérebro, muito mais complexo
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Ah, e nossos instintos e qualquer seleção natural que os tenha moldado são praticamente desprezíveis também. Para todos os efeitos, pode até se assumir que nossa personalidade é completamente maleável, que nem existem instintos humanos. Ainda assim, devido ao "ambiente ideológico" umas idéias poderão ser mais populares que outras, independentemente de sua validade.
Mesmo que de fato a tal 'tabula rasa' seja verdadeira, existem traços que independem de cultura que acredito possam ser explicados por estudos nesse sentido. É relativamente difícil encontrar uma cultura em que não haja algum tipo de crença na imortalidade, por exemplo. É claro que você está correto sobre a influência do 'ambiente ideológico': até mesmo dentro da adoração a deuses, sacrifícios animais antigamente eram muito comuns e hoje são só alvo de estudos antropológicos.
Nem estava sugerindo que "tábula rasa" fosse o caso, só estou dizendo que não importa qual a origem das tendências mentais que propiciam a reprodução de algumas idéias em detrimento de outras, contanto que se aceite alguns fatos psicológicos mais básicos e menos controversos ou potencialmente tornados em "espantalhos" de alguma espécie de "religião evolucionista"; como que as pessoas se enganam, acreditam em coisas erradas, se apegam a idéias ruins, têm resistência a idéias melhores, e etc. Tanto faz que essas tendências foram moldadas pela evolução, quase tanto como tanto faz que os átomos dos nossos cérebros vieram do big-bang. Claro, dá para se especular sobre uma ou outra tendência psicológica sobre a aceitação e popularização de idéias com base em alguma especulação sobre a evolução da nossa psicologia, enquanto o big-bang é inútil para isso, mas se assumindo meramente os aspectos "proximais" da psicologia já é suficiente para entender sobre o papel dela na evolução das idéias, independentemente de como vieram a se formar as bases biológicas da psicologia humana.
Quanto à armadura cética... bom, tenho algumas dúvidas. Muitos 'céticos' repetem afirmações do Dawkins ou do Harris, por exemplo, sem ter a mínima noção do que estão falando (estando certos ou errados, a ideia é a mesma). Mas acho que isso rende outro tópico 
Eu não acho que "ceticismo" garanta 100% de "imunidade" a bobagens. Os "céticos", uma vez que assimilam coisas meio como "balooney detection kit", "guia de falácias", vão pensar duas vezes antes de achar que OVNIs são naves tripuladas por ETs, em acreditar em alguma nova alegação mais espantosa de um médico meio esquisito na TV, esse tipo de coisa, e com sorte um pouco mais generalizado, como para política e economia, ao menos para as coisas mais escabrosas.