Vamos ver se eu entendi as coisas:
1) Todas as pessoas são boas naturalmente e adoram fazer filantropia e trabalho voluntário;
Não necessariamente.
2) Escambo é uma forma excelente de promover a riqueza;
Pode-se dizer que sim, de forma extremamente simplificada. Obviamente, as pessoas tem que oferecer algo de valor, saber investir e economizar.
3) As empresas adorariam investir em um nicho de mercado ou uma cidade deficitária apenas porque são boazinhas, talvez recebesse galinhas como forma de pagamento;
Não. Os meus pontos quanto a isso são basicamente:
- as pessoas viveram durante séculos sem coisas como eletricidade e encanamentos, se adaptando com os recursos dos quais dispunham;
- na medida em que essas coisas forem realmente essenciais para os moradores de um local onde isso não existe, eles vão procurar ou mudar de lá, ou investir lá como puderem, com empréstimos ou o que for;
Se, por exemplo, um bando de pessoas decide mudar para uma ilha deserta, e viver caçando lagartos e insetos que conseguem habitar aquele local. Só o fato das pessoas estarem lá já dita o dever do estado em urbanizar a ilha? Qual o sentido em fazer algo assim, quando provavelmente são necessários menores investimentos para que lugares já com infra-estrutura mais próxima do ideal possam absorver os habitantes da ilha?
Se, por outro lado, os habitantes da ilha são bem numerosos, e têm uma economia razoável, é provável que eles mesmos vão dar conta de urbanizarem a sua região do deserto de forma natural. Se eles pagarem, pessoas de fora vão criar encanamentos, levar eletricidade ou construir as instalações necessárias para isso.
Outra analogia possível é com empresas a beira da falência. Obviamente podem pedir empréstimos e tentar progredir, mas se os empréstimos não parecem seguros para os investidores, o que você sugere é a estatização, ou um empréstimo do estado, que assume um risco que ninguém mais queria correr - mas essencialmente obrigando todos a assumirem um pouco desse risco, se ainda estivermos falando do estado financiado por impostos.
Qual a diferença entre uma cidade deficitária e um condomínio privado deficitário?
4) Se uma empresa não quiser investir em uma cidade, então é na verdade uma oportunidade, já que seus moradores poderiam investir e criar coisas como centrais elétricas, telefônicas etc.
Não disse que "é uma oportunidade". É um fato com o qual as pessoas têm que lidar se por alguma razão preferem ou precisam viver lá em vez de se mudar para algum lugar com melhor estrutura, meio como seria com o caso duma região não coberta por TV por assinatura. Se realmente a eletricidade para eles é muito necessária, vão ou comprar geradores, ou eventualmente negociar com alguma empresa a cobertura daquela área, ainda que inicialmente seja através de um empréstimo. Isso não é tão diferente do que ocorre com o estado se declarando ativo nesse tipo de coisa, uma vez que não há viabilidade econômica para trazer toda estrutura para qualquer lugar onde algumas pessoas habitem ou decidam habitar. Mesmo o estado tem que fazer essas mesmas decisões, e idealmente, as faria por razões econômicas, e não populistas.
5) Se achar que um serviço está muito caro, então pode-se mudar para outro local ou criar seu próprio serviço, como uma força policial (ou um exército particular?);
Não penso que isso seria o caso para a imensa maioria das pessoas, isso é verdade apenas na mesma medida que é verdade que "qualquer um pode comprar uma frota de Ferrari para fazer a companhia de táxi mais impressionante do mundo", ou seja, algo que não é ilegal - mas pode também ser, principalmente no caso de forças armadas, mas essencialmente de qualquer outra coisa, se os donos do local assim decidirem e puderem impor. O que não difere em nada do estado.
6) Pobres são pobres porque querem ser pobres;
Não
7) Imposto é na verdade um roubo e não uma forma de financiamento da máquina do estado e de serviços público.
Eu não gosto da qualificação do imposto exatamente como "roubo", ao mesmo tempo em que acho meio problemático o seu caráter obrigatório. Acho que é meio que o inverso de um eufemismo, ainda que também ache que esse tipo de colocação como "forma de financiamento da máquina do estado e de serviços público" também é um eufemismo. Traficantes ou milícias poderiam também recolher seus impostos com a mesma racionalização.
De qualquer forma, como venho colocando, acho que é algo meio inevitável, alguma espécie de imposto existiria de qualquer forma, independentemente da ordem social ser ditada pelo que chamamos de estado ou de alguma coisa "capitalista", a menos para aqueles que pudessem viver no meio do mato como eremitas, desde que, claro, aquele mato não fosse de ninguém mais.
Essa coisa do imposto talvez até rendesse um tópico só para ela. Será que não seria interessante, por exemplo, que cada um que não concordasse com o desvio do rio São Francisco, por acreditar que é uma obra populista e faraônica que não vai ajudar a quem deveria, e que traz riscos ecológicos graves, não precisasse pagar por ela, eventualmente dessa forma fazendo com que fosse inviável? Entre outras coisas, menos um mínimo essencial do qual todos acabam usufruindo, e que têm que pagar da mesma forma que teriam que pagar se fosse uma empresa privada fornecendo o mesmo serviço.
Poderiam ainda haver governos paralelos, mas legais. Se você acredita que a transposição do São Francisco é a solução, financia esse programa. Se acredita que na verdade uma outra solução proposta é melhor, pode contribuir financeiramente para ela, em vez disso.
Acho que isso meio que se encaixa também no tópico de "melhorar a democracia", penso que talvez devêssemos votar nos projetos, que seriam "sem dono", em vez de nos políticos com seus pacotes propostos. E quem quer que fosse "eleito" teria que cumprir o que foi votado, não um programa mais arbitrariamente desenvolvido por sua equipe.