O anarquismo prevê um Estado sem governo, no qual a população se articularia na ausência de leis e de um corpo político oficial.
Se baseia em uma noção falsa.
A anarquia contesta o estado como a autoridade da qual provem a lei e a entende como o que é, uma instituição que tomou para si, ou tenta tomar para si, o monopólio da lei.
Então erra ao dizer que na anarquia simplesmente nos articularíamos sem lei.
Embora eu me simpatize com alguns preceitos anarquistas, como a extinção da noção tradicional de hierarquia e o de que “toda autoridade deva ser questionada”, sei que é, em conjunto, uma utopia.Falar de anarquismo é falar do nó da conscientização.
Que conjunto?
A anarquia não traz por si uma proposta, apenas contesta a viabilidade da proposta estatal.
O estado poderia ser chamado de utopia, alguma proposta de algum anarquista também, mas a anarquia em si não.
O anarquismo só funcionaria se a população estivesse plenamente conscientizada dos seus direitos e deveres e se cada indivíduo respeitasse a sua liberdade e a do próximo.
O homem não respeitar o próximo é melhor argumento que se pode fazer contra o governo.
Criar uma instituição governamental onde essas mesmas pessoas se tornam super-poderosas e tem direito de decretar insanidades aos outros é uma verdadeira burrice.
E a anarquia não defende a ausência de ordem ou limites, nem espera que as pessoas tomem a atitude correta só por quererem. Isso é mito propagando por quem não sabe o que diz, bom pra refutar anarco-socialistas sem noção, mas não funciona para refutar a anarquia em si, uma vez que ela não propõe essa insanidade.
O nó da conscientização do qual me refiro é que sempre esperamos que a consciência resolva tudo, o que na teoria até pode ser verdade. Mas se formos esperar que só a consciência individual consiga regular o meio social, da consciência coletiva, entregaremos a sociedade ao léu.
Isso explica o motivo do mundo estar como esta...
Dessa forma, retirar a ordem político-jurídica, o alvo do anarquismo, faria com que a produção econômica, técnica e científica, ficassem submetidas apenas à moral das pessoas, o plano no qual atua a tal da conscientização.
O governo não representa a ordem político jurídica, nem a anarquia pretende abolir o que é natural.
Hoje sim a economia está submetida simplesmente a moral de certas pessoas, aquelas capazes de usar do aparato estatal para cravar suas garras nela.
Isso explica o motivo de tantas leis irem na contra-mão da lei da oferta e da demanda, com asnos tentando decretar preços e assim criando desemprego. É ai que nascem leis estúpidas como o salário mínimo e imbecilidade como a carteirinha da UNE.
Por exemplo: a engenharia pode muito bem dizer como construir uma bomba atômica, mas nunca dirá se é correto usa-la. Isto é, a engenharia explica como fazer, mas nunca se devemos fazer. É incapaz, assim como qualquer outra ciência (da biológica à econômica), de estabelecer um limite para si mesma.
Quem limita as ciências e a economia, o que podemos chamar de “fisiologia do país”, é a ordem político-jurídica, como mencionado; esta, por sua vez, é determinada pela moral dos que escrevem e aprovam leis e dos que assinam decisões políticas.
E quem escreve e aprova essas leis são pessoas livres para agirem segundo seus próprios interesses.
O monopólio da lei é o grande problema do governo.
Se não há nem política, nem leis, o que regeria a “fisiologia do país”? Apenas a moral cultivada pela conscientização individual? Como, sem a ponte que a ordem político-jurídica promove? É justamente neste ponto que se expressa o caráter utópico do anarquismo.
É justamente nesse ponto que se expressa o caráter utópico do estadismo. A idéia de um grupo restrito de pessoas decretando leis insanas e se declarando como as unicas com o direito a fazê-lo é patética.
Os estadistas parecem não perceber que esse corpo político-jurídico monopolista que defendem é formado por pessoas. O mesmo tipo de pessoa que não consegue se basear em sua própria moral individual.
Esse argumento, inspirado na elegante análise do filósofo Comte-Sponville em “O Capitalismo é Moral?”, caracteriza uma confusão de ordens prescrita por Pascal. Para o primeiro, seria um caso de angelismo; para o segundo, um caso ridículo.
Conscientizar é sempre bom, mas devemos contar com ela no plano particular, não no coletivo. A noção de moral-imoral age sobre cada um, mas precisamos de um eixo legal-ilegal para reger e regular a estrutura da nação.
Eixo legal-ilegal que não depende do governo para existir.
A única coisa que o monopólio da lei faz, é permitir que verdadeiros asnos decretem coisas absolutamente anti-éticas como sendo legais ao mesmo tempo em que decretam coisas éticas, desejosas e corretas como sendo ilegais e proibidas.
O governo ao tentar tomar para si o monopólio da lei destrói qualquer ordem política que pudesse emergir.
A lei é em parte natural, não é mera criação humana e o governo é por natureza ilegal.
Como se vê, nem você nem o autor entendem o que é anarquia.
Estão tentando refutar uma proposta quando não existe proposta.