Eu não acredito que a iniciativa privada possa dar conta de todos serviços e demandas do estado, embora considere essa possibilidade; mas diferentemente do anarcapitalista, para quem tudo se resume a "se hay gobierno, soy contra", não tenho tanta facilidade/credulidade em ver tudo dando certo, ou sendo, no mínimo, melhor do que é com o estado, ou mesmo diferente, em questões como essa da cobrança de impostos. Justamente por fatores como esse do efeito carona.
Penso que esse tipo de coisa poderia ser minimizado, como no formato de condomínios ou mega-condomínios, mas nesses casos, ocorre ou uma perda da liberdade, assumindo que os donos/administradores insistam em cobrar por todos serviços prestados, ou um risco muito grande do sistema em ruir, se eles tentarem aplicar a política de "paga quem quiser" nesses casos. Aqui, acredito que a falha de raciocínio libertarianista/voluntarianista e dos comunistas é a mesma: ambos negligenciam a mesma tendência humana de preferir a saída que custa menos.
A "solução" que o anarcapitalista apontou no caso das cobranças dentro de condomínios que se considerasse injustas, seria morar fora deles, o que pode simplesmente não ser uma possibilidade para a maioria (dependendo do sucesso dos condomínios como solução para a organização das pessoas), ao mesmo tempo em que não se pode evitar de morar em qualquer lugar onde uma empresa de segurança se proponha a estar atuando, onde uma empresa diz ser mais seguro graças ao trabalho dela. Não cola a desculpa "não, não precisam cobrar nada de mim, os bandidos que vocês prenderam dessa região não iam me roubar, só aos outros, porque eu tenho uma espingarda e três cachorros bravos".
E se colasse, então esse serviço simplesmente tenderia à falência pelo problema dos caroneiros e falta de financiamento/encarecimento para os poucos que pagam por todos os beneficiários, onde, supondo que eles não decidissem fazer cobranças compulsórias por sua proteção, as pessoas, sem eles, ou se manteriam a salvo graças aos próprios recursos quase individuais de proteção, ou se veriam tendo que fugir para a segurança dos condomínios e suas cobranças não mais opcionais que os impostos cobrados pela máquina pública. Sem garantias de que eles seriam ao menos um "estado mínimo" que cobra só aquilo que alguém podeira considerar justo, básico, sem incluir algo que não escolheríamos no pacote de serviços prestados. Se for algo lucrativo, e se não houver impedimento moral/filosófico dos gerentes do negócio, é o que farão. Não há porque imaginar que a fórmula de menor venda casada seria necessariamente a que teria mais sucesso no mercado.
Na melhor das hipóteses, acho que se trocaria seis por meia dúzia. A única forma de imaginar tudo correndo bem seria com crenças auxiliares quanto ao poder do capitalismo, que, agora não "restrito" pelo estado (quando argumentavelmente, é possibilitado pelo mesmo), possibilitaria a todos uma geração máxima de riquezas e seria mais verdadeira a asserção de que o crime não compensa. Todos prefeririam trabalhar honestamente a cometer qualquer crime, seja pela facilidade em se gerar riquezas, ou pela eficiência maravilhosa do combate ao crime pelas forças privadas.
Ainda assim, excluída a possibilidade de todos viverem numa situação onde ninguém se vê obrigado a pagar por qualquer coisa por ninguém, é interessante a questão sobre a extensão daquilo que se pode julgar correto se cobrar impostos, e a partir de quando as pessoas deveriam ser livres para escolher no que investir.