O texto abaixo é uma resposta a um e-mail sobre uma apresentação em PowerPoint tentando provar que a Travessia do Mar Vermelho realmente é verídica. Na verdade, eu não me detive tanto à tentativa de convencer, e sim às palavras apelativas na última página da apresentação:
../forum/topic=21983.0.htmlQue é bonito não posso negar: o mar, a natureza, a geografia e o trabalho de PowerPoint. Tudo isso é lindo. Mas como o trabalho foi enviado a mim, que sou cético, não posso deixar de dizer que o mesmo não passa de uma grande apelação, principalmente as últimas palavras da apresentação, como: fé, preferem ser céticos etc.
Primeiro, o fato de se encontrar alguma coisa no fundo do mar não prova, apenas levanta hipóteses, provar mesmo, de jeito nenhum. Eu até gostaria, como simpatizante da História, que algumas estórias bíblicas fossem constatadas pela ciência. Mas infelizmente, em geral, essas supostas descobertas são feitas por religiosos, o que torna inválido suas afirmações. Além disso, existem opiniões divergentes em relação às supostas provas arqueológicas. Eu sei que pra você, como homem de fé, minhas palavras são desagradáveis. Isso já ocorreu comigo quando eu queria, de qualquer maneira, que as pessoas acreditassem no que eu queria que elas acreditassen. Mas não deu certo, não dá certo. Sabe por quê? Porque FÉ é um sentimento do coração, das emoções, da religião. Portanto, não acho que seja legal os homens de fé ficarem tentando conciliar suas crenças com a ciência. A menos é claro, que tais fatos sejam irrefutavelmente comprovados, o que automaticamente deixa de ser fé. Até cientistas devem ter fé, hipóteses, esperança, suposições, mas com uma grande diferença, desde que tais sentimentos existam no sentido de buscar a concretização, o que é contrário na religião, que DOGMATIZA, Ou seja, afirmações são feitas sem que sejam passivas de análises, sem que sejam verificadas, sendo apenas aceitas e ponto final.
Outra coisa que me parece meio inútil para os religiosos é querem a todo custo, que os céticos acreditem no que eles querem que seja acreditado. Eu fico me perguntando: pra que isso? Isso muda alguma coisa? Será que Deus, caso Ele exista, esteja realmente preocupado com isso? Suponho que não, pois se assim o quisesse, certamente Ele o resolveria de uma vez. Afinal, como pregam os religiosos, Deus PODE TUDO. Sendo assim, fazer com que as pessoas creiam nele não é coisa de Seu interesse. Isso é obvio, basta vermos os conflitos, discussões, teologias, crenças divergentes e muitas delas até mortais. Não acredito que isso contribua para uma humanidade melhor – porém devo admitir que a religião, como expressão cultural, tem seu valor.
Quando eu vejo uma apresentação dessas - como A Travessia do Mar Vermelho -, sinceramente tenho um respeito muito forte, mas quando o idealizador usa palavras do tipo “preferem ser céticos”, “ a mídia tende a impedir os FATOS etc.”, o que vejo é uma pessoa apaixonada pela sua religião tentando convencer os outros por meio de suas emoções. Isso foge do âmbito filosófico e racional. Fica girando em círculos. Ninguém vai, nesse mundo, se esforçar para provar de que estrelas existem. Ninguém vai ficar perdendo tempo tentando provar que a água existe. Por quê? Porque é obvio. O obvio não necessita de argumentos. Porém em relação a divindades, fantasmas, espíritos, duendes etc. sim, aí precisa de muito esforço, argumento, dedicação e, sobretudo, constatação para que tais entidades sejam tidas com reais e não como ficção.
Quando se diz que alguém “prefere” ser cético, passa a impressão de fraqueza de argumentos. Todo mundo sabe que uma pessoa com sede não beberá água porque prefere, pois sua condição não lhe permite ESCOLHER, PREFERIR estar com sede. Não há alternativa além de beber. É uma necessidade e não uma preferência. Assim como o católico não PREFERE acreditar em Jesus como salvador, pois sua fé se baseia na educação que recebeu, na cultura em que vive e outros fatores. O mesmo ocorre com cético, nós não o somos porque preferimos, e sim porque os nossos princípios de racionalidade não nos permitem. Enquanto para o crente é necessário apenas a pregação, um livro sagrado, um sermão, um dogma; para o cético, tais critérios não funcionam, se não fosse assim, não seríamos céticos. .. Infelizmente, para uma sociedade onde prevalece a crença no sobrenatural, a palavra cético carrega um estigma negativo. Mas isso é outra história.
Por que alguns religiosos nos tratam com desdenho por sermos o que somos? Se eles acreditam e estão felizes por sua fé, por que se irritarem com as pessoas diferentes delas? Em geral, os céticos são vistos com desprezo pelos crentes. Quando não somos xingados, somos excluídos. Eu não entendo, sinceramente por quê. É justo uma pessoa ser julgada pelas crenças religiosas que ela tem, e não pelo seu caráter? Marthin Luther king proferiu uma frase extraordinária, ele disse; “eu tenho um sonho, esse sonho é ver os meus filhos serem julgados pelo seu caráter e não pela sua cor”. Tendo como expiração desse grande homem, eu vou reformular sua frase: “eu tenho um sonho, tal sonho é ver os crentes julgarem os outros não pela suas crenças religiosas e sim pelo seu caráter”