Autor Tópico: Travessia do Mar Vermelho  (Lida 10557 vezes)

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Offline ronysalles

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Travessia do Mar Vermelho
« Online: 13 de Dezembro de 2009, 12:12:20 »
Pessoal, eu gostaria de recorrer a vocês no sentido de refutar, se for possível, as falácias da apresentação do link que vou colocar. Na verdade tudo ia bem, eu estava vendo a apresentação sem problema, mas no final quando o cara colocou palavras do tipo: “preferem ser cético”, aí eu fiquei desconfortável e resolvi responder ao e-mail, (foi um e-mail de um católico fervoroso), no final, a parte que me parece mais apelativa é quando ele diz que a mídia impede dos supostos fatos arqueológicos de serem divulgados. E as dezenas de programas evangélicos, tanto católicos como evangélicos que existem, ele esqueceu? Tem até TV católica. Outra coisa, ele diz: “retratar estes FATOS VERDADEIROS na luz da FÉ”. Como assim? Outra, ser cético é uma questão de PREFERÊNCIA?

Eu gostaria de saber a  opinião de vocês em relação a isso. Por favor, assistam e depois coloquem suas opiniões.

O link:

http://www.scribd.com/doc/10984488/A-TRAVESSIA-DO-MAR-VERMELHO


« Última modificação: 13 de Dezembro de 2009, 14:38:04 por ronysalles »
“A maior decepção de um crente fervoroso seria, ao chegar no céu, vê um ateu”. ronysalles

Offline FZapp

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #1 Online: 13 de Dezembro de 2009, 14:29:00 »
No consegui abrir o pps.
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Offline ronysalles

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #2 Online: 13 de Dezembro de 2009, 14:33:34 »
“A maior decepção de um crente fervoroso seria, ao chegar no céu, vê um ateu”. ronysalles

Offline Eremita

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #3 Online: 13 de Dezembro de 2009, 19:18:19 »
Olha, O tal "poço de Jacó" parece ser interessante; vale a pena dar uma pesquisada pra ver se há algo verdadeiro nessa história. O argumento da Montanha Hor é um completo non sequitur - "a Montanha Hor é a mais comandada, então a Bíblia tem razão quando fala do Êxodo". Fail de que fez os slides. O resto, especialmente os dois túmulos e a tal da ponte de terra, me parecem um tanto quanto forçados, algo tipo "i wanna beeleev!".

Eu vou falar do que conheço - Lingüística. Segundo a mitologia bíblica, o tal "povo hebreu" teria se desenvolvido no Egito a partir dos doze filhos de Jacó. E é fato conhecido que comunidades estrangeiras, após duas, três ou quatro gerações - especialmente quando a comunidade é pequena e está em freqüente contato com uma vista como mais culturalizada, como a egípcia. Logo, deduz-se que os hebreus perderiam sua língua nativa e adotariam no lugar o egípcio, mas não há nada que corrobore isso: o hebraico é do ramo canaanita, e não do ramo egípcio. Logo, há algo de muito podre nessa história, e ela me parece A Volta dos que Não Foram.
Latebra optima insania est.

Offline FZapp

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #4 Online: 14 de Dezembro de 2009, 07:54:55 »
Também acho forçado estimar 2,5 milhões de judeus no egito de 900 AC, não precisariam ir embora, esmagariam o império!

Não fica claro se a tal ponte faz ser desnecessário um dues que ajude a atravessar ou não.

Achar rodas antigas num local como esse não necessariamente prova ser egípcia, e da mesma época.

Vou pesquisar o assunto para ver se há mais dados menos viciados. ;)
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Offline André Luiz

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #5 Online: 14 de Dezembro de 2009, 10:12:28 »
Há registros egipcios sobre tal debandada de escravos?

Acho que nao

Offline West

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #6 Online: 14 de Dezembro de 2009, 10:21:08 »
Há registros egipcios sobre tal debandada de escravos?

Acho que nao

Os apologistas geralmente argumentam que não existem registros egípcios porque os egípcios não seriam idiotas a ponto de fazer propaganda alheia ou anti-propaganda.
"Houve um tempo em que os anjos perambulavam na terra.
Agora não se acham nem no céu."
__________
Provérbio Iídiche.

"Acerca dos deuses não tenho como saber nem se eles existem nem se eles não
existem, nem qual sua aparência. Muitas coisas impedem meu conhecimento.
Entres elas, o fato de que eles nunca aparecem."
__________
Protágoras.Ensaio sobre os deuses. Séc. V a.C.

Offline Spitfire

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #7 Online: 14 de Dezembro de 2009, 10:41:02 »
Há registros egipcios sobre tal debandada de escravos?

Acho que nao

Os apologistas geralmente argumentam que não existem registros egípcios porque os egípcios não seriam idiotas a ponto de fazer propaganda alheia ou anti-propaganda.

Posterior a debanda faria sentido... mas existe algum registro de antes da debanda? Imagino que 2,5 milhões de judeus deixariam alguma espécie de contabilidade por parte dos egípcios.

Offline André Luiz

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #8 Online: 14 de Dezembro de 2009, 11:14:19 »
Há registros egipcios sobre tal debandada de escravos?

Acho que nao

Os apologistas geralmente argumentam que não existem registros egípcios porque os egípcios não seriam idiotas a ponto de fazer propaganda alheia ou anti-propaganda.

Até faz sentido,  mas os egipcios costumavam guardar registros sobre suas derrotas, é por isso que sabemos sobre os hicsos, Kadesh, batalhas contras os persas...

Há quem diga que os hicsos eram os proprios hebreus que reinaram sobre um certo tempo sobre o egito e depois foram expulsos

Offline West

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #9 Online: 14 de Dezembro de 2009, 16:19:43 »
Encontrei isso daqui:

Citar
         
O ÊXODO DOS HEBREUS SEGUNDO HISTORIADORES E ARQUEÓLOGOS: ÊNFASE NA PERSPECTIVA MINIMALISTA A PARTIR DA OBRA DE FINKELSTEIN E SILBERMAN [Josué Berlesi*]


RESUMO

Distintas correntes interpretativas analisaram e continuam a analisar a história do Israel
antigo, e, ao que tudo indica, o consenso parece distante. Neste presente artigo tentar-se-
á contemplar um determinado grupo de pesquisadores, a saber: os minimalistas. O
evento bíblico do êxodo constitui-se no objeto do presente estudo. O conteúdo
majoritário dessa pesquisa reside em analisar como o êxodo foi interpretado por
historiadores e arqueólogos, entretanto, será dada uma ênfase na perspectiva dos
estudiosos minimalistas, sobretudo, em Israel Finkelstein e Neil Silberman autores da
obra “The Bible Unearthed: Archaeology’s New Vision of Ancient Israel and the Origin
of Its Sacred Texts”.
__________

       A análise da pertinência histórica da Bíblia é uma prática de longa data no
mundo ocidental. Paralelamente a uma postura fundamentalista de defesa do texto
religioso desenvolveu-se uma postura de crítica, de contestação dos escritos bíblicos.
Com o êxodo, por ser parte significativa do Antigo Testamento, não poderia ser
diferente. O referido evento foi e permanece sendo analisado sob diferentes enfoques e
olhares. No presente estudo tentar-se-á demonstrar como o êxodo foi interpretado fora
dos ambientes teológicos, sendo assim, serão utilizadas, sobretudo, as obras de
arqueólogos e historiadores.

         Não se pode negar que a produção intelectual dos estudiosos que contestam a
historicidade das passagens bíblicas é, em grande parte, estimulada pela necessidade de
combater a literatura de cunho fundamentalista. Nesse sentido as palavras de Fox são
ilustrativas:

              Os fundamentalistas também tentam explorar conhecimentos do tipo
              histórico. O ponto de contato mais fácil é a arqueologia, a disciplina
              em que a história parece fazer o uso máximo da ciência e que para
              todos os efeitos trabalha com indícios diretos, e portanto nada
              ambíguos. A arqueologia pode ser apreciada por seu público sem a
              interposição de qualquer barreira lingüística, e à medida que este
              público vai crescendo os fundamentalistas encontram cada vez mais
              razões para invocar seus achados como provas de que a narrativa
              bíblica é verdadeira. Exemplos particulares são usados como base
              para a ampla difusão de uma convicção geral de que todo o conteúdo
              das escrituras poderia ser confirmado caso fosse possível escavar
              suas relíquias. Os indícios escritos, porém, são mais refratários.
              Também neste caso, os fundamentalistas enfatizam os textos
              exteriores à Bíblia que confirmam nomes, lugares e fatos
              mencionados em certas passagens de sua narrativa. Em seguida, dão
              a entender que o que ocorre com esses exemplos poderia aplicar-se a
              tudo que ela nos conta. Quando os textos não confirmam a Bíblia,
              questionam o valor desses indícios discordantes: a convicção popular
              de que os historiadores podem encontrar a verdade final é menor do
              que a fé nos cientistas. Naturalmente, esta dúvida nunca é voltada
              contra os próprios autores da Bíblia (FOX, 1993, p. 41).

         Os pesquisadores que assumem uma postura crítica em relação a Bíblia
procuram enfatizar em seus estudos as incoerências do texto religioso tais como os
dobletes das narrativas, os anacronismos1 e as informações contrastantes. É bem
verdade que as pesquisas sobre o antigo Israel assumem cada vez mais um caráter
interdisciplinar, porém, ainda é necessário avançar nesse sentido. São poucos os
arqueólogos e historiadores com suficiente capacidade de analisar os escritos
veterotestamentários em sua forma original. Resulta disso uma parca exegese bíblica
que, muitas vezes, é a responsável pela produção de um raciocínio ilógico, ou, até
mesmo, adaptações forçadas. Exemplo deste gênero pode ser verificado na obra de
Louis Frédéric quando o mesmo tenta explicar as distintas versões sobre a saída do
Egito:
            Um grupo dos Habiru, mais indisciplinado do que os outros, pôde se
            revoltar abertamente, sendo perseguido pelas tropas do faraó. Um
            outro grupo preferiu fugir; daí, a existência, na Bíblia, de duas
            versões: uma dizendo que os Hebreus foram perseguidos, e outra
            segundo a qual eles fugiram apesar da oposição das tropas do faraó,
            que os teriam perseguido. Isto explicaria, também, as duas rotas
            seguidas pelos hebreus no deserto: a do norte, pelas tribos que foram
            perseguidas; e a do sul, pelas que teriam fugido, ou vice-versa
            (FRÉDÉRIC, 1978, p. 128).

        Contrastar as informações bíblicas com as fontes extra-bíblicas é metodologia
comum entre os autores aqui analisados. Verifica-se até que ponto a Bíblia corresponde
às evidências materiais, sejam elas artefatos encontrados em escavações arqueológicas,
fontes escritas, ou ainda a ausência de ambas, o que promove o descrédito da
informação bíblica pela falta de sustentação no registro material. Evidentemente
também se procede a uma análise do contexto histórico ao qual a narrativa bíblica se
refere, nesse sentido, John Romer afirma, por exemplo, que a história de José é
plausível pelo fato de estrangeiros terem migrado ao Egito em busca de melhores
condições de vida. Contudo, o citado autor compactua com a idéia de que uma história
como a de José seria mais aplicável ao período de dominação hicsa.

        Entretanto, o próprio Romer adverte:

            É evidente que existe muita coisa nas narrativas bíblicas sobre o
            Egito que as coloca com firmeza em um ambiente egípcio genuíno,
            como acontece com as narrativas sobre a Mesopotâmia. Porém, por
            mais coerentes que sejam essas semelhanças culturais, não fornecem
            a prova de que tais narrativas relatam acontecimentos históricos
            verdadeiros ou que seus personagens existiram – da mesma forma que
            as cuidadosas descrições que Tolstoi faz do exército de Napoleão em
            Guerra e Paz não provam que os personagens do romance tenham
            existido realmente (ROMER, 1991, p. 43).

        É também característica dos estudiosos críticos da Bíblia, valerem-se de
explicações naturalistas2 para desqualificar os supostos milagres relativos ao êxodo. A
esse respeito Frédéric comenta:

            Quanto aos prodígios, provavelmente, são uma extrapolação do
            redator do livro do Êxodo para confirmar o poder de Yahwé, se bem
            que várias explicações científicas tenham sido apresentadas para
            explicá-los: fenômeno cósmico (passagem de um cometa muito
            próximo da terra), fenômeno geológico (conseqüências da erupção do
            vulcão da ilha de Santorim por volta de 1447 a.C.), fenômenos
            naturais devidos a uma enchente excepcional do Nilo e que teria
            provocado as pragas. Todas as explicações são possíveis, mas em
            nenhuma hipótese poderiam ter servido para castigar o faraó, porque
            estes fenômenos teriam sido interpretados de outra forma pelos
            egípcios. Se ao contrário, admitimos tratar-se de um acréscimo tardio
            (o que poderia explicar a composição do texto, a duplicidade de
            algumas passagens e os absurdos), os prodígios teriam sido
            acrescentados apenas com um fim religioso, o que parece ter sido o
            propósito do redator (FRÉDÉRIC, 1978, p. 130).

        De forma geral, os autores analisados no presente estudo, absorvem a narrativa
sobre o êxodo de forma literal e procedem a uma análise da historicidade da mesma.
Sendo assim, as investigações iniciam-se com José e se estendem até depois do
acampamento em Kadesh-Barnea.

        Determinadas parcelas do relato sobre o êxodo são absolutamente inaplicáveis
ao contexto histórico que narrativa tenta se referir. Independente das datas propostas
para a saída do Egito, se no século XV a.C. ou XIII a.C., a quantidade de participantes
do referido evento é, sem dúvida, descabida. Comentando a esse respeito Dever afirma:

             Algumas das informações são claramente fantasiosas, assim como a
            lista de censo tribal (Num. 1) que totaliza 603.550; similarmente a
            contraditória alegação de que as tribos poderiam formar um exército
            de 600.000 homens (Ex. 12.37) os quais defenderiam uma população
            de 2.5-3 milhões. É simplesmente impossível que o deserto do Sinai,
            naquela época ou agora, pudesse suportar mais do que poucos
            milhares de nômades (tradução própria). (DEVER, 2003, pp. 18-19) 3

        Porém, os problemas vão além da quantidade de participantes descrita na Bíblia.
Antes mesmo da própria saída do Egito, John Romer, comenta quanto a concepção de
opressão. Segundo afirma:

            A escravidão em tal escala e do tipo descrito no Livro do Êxodo não
            existia no antigo Egito nem em parte alguma daquele mundo antigo,
            onde a humanidade estava estabelecida em uma ordem sagrada, na
            qual todos, desde um faraó até um camponês escravizado, estavam à
            disposição dos deuses e do Estado. Nesse mundo, as concepções
            modernas de escravidão e de liberdade, e mesmo de propriedade e
            compra e venda, tinham pouco sentido. Além disso, prova documental
            explícita do antigo Egito demonstra que os estrangeiros que viviam
            naquele país, quer como prisioneiros de guerra quer como pacíficos
            imigrantes, eram cuidadosa e rapidamente integrados à massa da
            população [...] As idéias antigas sobre raça e cultura eram muito
            diferentes, e o tema da liberação da opressão contido no Êxodo é
            inteiramente incompatível com a realidade antiga [...]. (ROMER,
            1991, p. 52).

        A falta de registro extra-bíblico do êxodo é, sem dúvida, um dos pontos mais
enfatizados pelos autores analisados nessa pesquisa. Conforme afirmam, a perda de um
significativo contingente de trabalhadores teria provocado um abalo econômico e social,
o que certamente constaria nos registros egípcios (ROMER, 1991, p. 48).
        Entretanto, apesar das improbabilidades de certos trechos do relato em questão, é
raro encontrar algum pesquisador que considere o referido evento como mera ficção.
Sendo assim, os estudiosos compactuam com a idéia de que a narrativa bíblica da saída
do Egito contém um cerne histórico, mesmo que mínimo.

        Robin Lane Fox, por exemplo, preocupa-se com o processo de elaboração do
relato sobre o êxodo. Nesse sentido comenta a dificuldade da referida narrativa ser
historicamente fidedigna, uma vez que seu(s) redator(es) não contava(m) com indícios
primários, sem mencionar o fato de que, até o momento de sua fixação por escrito, a
versão bíblica do êxodo circulou longo tempo na oralidade. Dessa forma, Fox afirma:

            Como é que uma tradição oral poderia ter preservado detalhes
            verdadeiros por tanto tempo? No máximo, podia recordar um grande
            acontecimento, ou um novo início: como a Guerra de Tróia dos
            gregos, o Êxodo dos israelitas do Egito foi um grande acontecimento
            desse tipo, que seus herdeiros supunham ser verdadeiro. Talvez fosse
            de fato uma memória histórica: não temos como saber, mas acho
            difícil acreditar que nenhum israelita jamais tenha deixado o Egito
            sob a condução de seu deus especial, Jeová, embora o Êxodo talvez
            não tenha sido a migração de todo um povo (FOX, 1993, p. 163).

« Última modificação: 14 de Dezembro de 2009, 16:22:40 por West »
"Houve um tempo em que os anjos perambulavam na terra.
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Provérbio Iídiche.

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Offline West

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #10 Online: 14 de Dezembro de 2009, 16:20:24 »
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        1 Os Minimalistas

        Na década de 90 do século XX começaram a surgir determinadas obras
absolutamente inovadoras acerca do Israel antigo. O tom da crítica destinava-se a toda
metodologia então usada para produzir conhecimento sobre a história de Israel. Essa
tendência agregou um grupo de pesquisadores que foi pejorativamente classificado
como “minimalista”. Estes pesquisadores uniram-se em torno de suas frustrações quanto
ao debate sobre o Israel antigo. Não contestavam apenas a historicidade dos eventos
bíblicos, mas sim o próprio uso da Bíblia como fonte histórica.

        A primeira reunião desses estudiosos aconteceu em 1996, em Dublin, na Irlanda.
Este evento marcou a constituição do Seminário Europeu sobre Metodologia Histórica.4
A partir de então seguem-se reuniões freqüentes que abordam distintos temas da história
dos hebreus.

       O referido grupo também é denominado como A Escola de Copenhague, porém,
o termo minimalista tornou-se mais popular. A este respeito George Athas comenta:

             A Escola de Copenhague, popularmente conhecido como
            “Minimalismo” é um reconhecido método de estudo na área dos
            estudos bíblicos. Surgiu pela necessidade dos estudiosos de explicar
            as discrepâncias entre os textos bíblicos e as descobertas dos
            arqueólogos. Ela propõe ver a literatura bíblica como mera estória
            ao invés de literatura historiográfica a qual remete a verdadeira
            história. O método minimalista propõe usar apenas a arqueologia
            para o propósito de reconstruir a história. Esta abordagem possui
            muitas características atrativas mas falha para apresentar um método
            de investigação que seja inteiramente livre de problemas, inclusive de
            interpretações tendenciosas. Este é apenas um paradigma dentre
            outros que podem ser usados para investigar a história da Síria-
            Palestina (tradução própria).5

       Em princípio o grupo continha apenas pesquisadores europeus, entretanto,
estudiosos de todas as partes do globo passaram a compactuar e colaborar com a
argumentação da Escola de Copenhague.

       Os autores de postura “minimalista” representam, sem dúvida, um novo
paradigma no estudo da história dos hebreus. Algumas de suas obras são de fato
iconoclastas e apresentam interpretações inovadoras. O conteúdo de seus escritos
possibilitou que certos pesquisadores fossem classificados como anti-semitas, em
contrapartida, os ofendidos rotularam seus opositores de sionistas.

       William Dever é um dos autores que constantemente tem atacado a postura
minimalista, comentando acerca de seus adeptos ele afirma:

            Eles freqüentemente se denominam revisionistas; outros os descrevem
            como minimalistas. Eu tenho sugerido que eles são mais exatamente
            niilistas – quando eles acabarem de reescrever a história de Israel,
            cedo ou tarde, não restará nada que a maioria de nós possa
            reconhecer como história. É assim que eles tem feito, porém, sua
            conclusão fundamental (ou é isso uma pré-concepção?) é que
            ninguém mais pode escrever a história antiga de Israel, ao menos não
            uma história baseada nos textos bíblicos (tradução própria).
            (DEVER, 2003, p. 137). 6

        Recentemente a obra de FinKelstein e Silberman7 causou grande impacto dentro
e fora da academia. Na referida obra os autores chegam a uma conclusão distinta quanto
ao êxodo.

        Antes mesmo de abordarem a saída do Egito em si, os pesquisadores em questão
apontam para as incoerências do texto bíblico referente a José8. Segundo afirmam, a
presença de camelos na história do citado personagem reflete um anacronismo.

        Feita esta consideração, Finkelstein e Silberman preocupam-se em demonstrar a
pertinência da situação básica contida no relato do êxodo, ou seja, as migrações de
Canaã para o Egito são seguramente sustentadas pela evidência arqueológica, tornando
assim plausível esta parcela do relato bíblico.9

        Com base nos paralelismos entre a narrativa religiosa da saída do Egito e a
história dos hicsos escrita por Mâneto, os referidos autores apontam para a possibilidade
do êxodo. Nesse sentido afirmam:

            [...] fontes arqueológicas e históricas independentes relatam a
            imigração de semitas de Canaã para o Egito, e os egípcios
            expulsando-os com o uso da força. Esse resumo básico da imigração
            e do retorno violento para Canaã é paralelo ao relato bíblico do
            Êxodo (FINKELSTEIN & SILBERMAN, 2003, p. 85).

        Entretanto, essa interpretação gera complicações principalmente no tocante a
cronologia. Tradicionalmente duas datas são propostas para o êxodo, uma no século XV
a.C. e outra no século XIII a.C., sendo assim, os hicsos expulsos por volta de 1570 a.C.
não poderiam ser os participantes do êxodo que a Bíblia se refere.

        A data do século XIII a.C. é a mais aceita pela maioria dos estudiosos, desse
modo, o êxodo teria ocorrido na época de Ramsés II. Contudo, Finkelstein e Silberman
esforçam-se para desacreditar esse pensamento. Conforme afirmam, havia no período
do citado faraó um sistema de controle de fronteiras muito bem estruturado, o que
tornaria impossível a fuga de um contingente de trabalhadores.

            Pondo de lado a possibilidade de milagres inspirados divinamente,
            não é razoável aceitar a idéia de fuga de um grande grupo de
            escravos do Egito, através de fronteiras fortemente vigiadas por
            guarnições militares, para o deserto e depois para Canaã, numa
            época com colossal presença egípcia na região. Qualquer grupo
            escapando do Egito contra a vontade do faraó teria sido rapidamente
            capturado, não apenas por um exército egípcio que o perseguiria
            desde o delta, mas também por soldados egípcios dos fortes no norte
            do Sinai e em Canaã.

            De fato, a narrativa bíblica sugere o perigo da experiência de fugir
            pela estrada da costa. Assim, a única alternativa seria através das
            terras desérticas e desoladas da península do Sinai; mas a
            possibilidade de um grande grupo de pessoas caminhando por essa
            península também é contestada pela arqueologia (FINKELSTEIN &
            SILBERMAN, 2003, pp. 91-92).

        Há ainda outras razões que tentam desacreditar o êxodo no século XIII a.C.
Dentre essas, evidencia-se a ausência de registros arqueológicos, ou seja, na época de
Ramsés II não há nenhum sinal de ocupação do Sinai assim como não há nenhuma
evidência arqueológica do referido evento nos locais de acampamento citados na Bíblia
como, por exemplo, Kadesh-barnea10. Entretanto, Finkelstein e Silberman enfatizam
que uma das mais importantes indicações da imprecisão histórica do relato sobre o
êxodo reside no fato de não existir referência nominal ao “faraó da opressão”, diferente
de outros textos bíblicos posteriores onde constam os nomes dos monarcas egípcios
como, por exemplo, Sesac e Necau.

        Desse modo, os referidos autores vão compactuar com o egiptólogo Donald
Redford o qual relacionou a narrativa do êxodo ao século VII a.C. A intenção é
demonstrar que o relato do êxodo reflete o contexto da época em que foi escrito,
embora, é verdade, reconheçam que a saga da libertação do Egito tem origens anteriores
ao citado século.

            É impossível dizer se a narrativa bíblica foi ou não uma ampliação e
            uma elaboração de memórias imprecisas da imigração do povo de
            Canaã para o Egito e de sua expulsão do delta no segundo milênio
            a.C. Mesmo assim, parece claro que a história bíblica do Êxodo
            auferiu seu poder não apenas das tradições antigas e dos detalhes
            geográficos e demográficos contemporâneos, mas ainda e mais
            diretamente      das     realidades     políticas    contemporâneas.
            (FINKELSTEIN & SILBERMAN, 2003, p.103).

        Sendo assim, os autores vão concluir que o pano de fundo da narrativa do êxodo
se deu, na verdade, durante o período do rei Josias. Tendo em vista a situação política
da época (crescente conflito com o Egito) o relato do êxodo teria sido estruturado como
um apelo à unidade nacional.

            A saga do Êxodo de Israel do Egito não é uma verdade histórica nem
            ficção literária. É uma poderosa expressão da memória e da
            esperança, nascida num mundo em plena mudança. A confrontação
            entre Moisés e o faraó espelhava o significativo confronto entre o
            jovem rei Josias e o faraó Necau, recentemente coroado. Fixar essa
            imagem bíblica em uma só data e trair o significado mais profundo da
            históri. (FINKELSTEIN & SILBERMAN, 2003, p. 105).

        Embora exista uma pequena divergência nas questões cronológicas, a estratégia
minimalista para desqualificar a historicidade dos eventos bíblicos consiste em datar o
testemunho religioso o mais recente possível. Mario Liverani, por exemplo, é um
historiador que caminha nesse direção.

        No que concerne ao êxodo, o referido autor se utiliza de paralelos entre a Bíblia
e textos extra-bíblicos para justificar uma datação mais recente da narrativa
veterotestamentária. Ao tratar do itinerário da saída do Egito o autor afirma:

            A imagem do deserto, no complexo Êxodo-Números não é de tipo
            pastoral, onde a tribo vive em conforto; ao contrário é do tipo “zona
            de refúgio” ou “terra de exílio”, em uma perspectiva urbana de
            agudo desconforto. A estrada é difícil e perigosa pela presença de
            armadilhas e falta d’água. A travessia: o deserto grande e terrível, de
            serpentes ardentes e de escorpiões e de sede, onde não há água
            (Deut.8:15) é semelhante às preocupações logísticas do exército
            assírio para atravessar o deserto, como na expedição de Esarhaddon
            a Baza: um distrito remoto, uma distância desértica de terra salgada,
            uma região de sede... (com) serpentes e escorpiões que revolvem a
            terra feito formigas. (IAKA, pp. 56-57). Também os exércitos da
            monarquia de Juda haviam atravessado o deserto, exemplarmente na
            expedição contra Mo’ab; e a busca por água da parte de Moisés, que
            a fez brotar da rocha (Es. 17:1-6), os ecos da busca d’água pelos
            “profetas” alertaram o exército naquela ocasião: Assim disse
            Yahweh: escavarás nesta ribanceira poços e poços, por que assim
            disse Yahweh: não verás vento nem chuva, contudo, esta ribanceira se
            encherá de água e vós bebereis, vós e vossas tropas e vossos animais
            (de carga)! (2Re 3:16-17) (tradução própira).11

        Desse modo, o período a partir das deportações assírias e também o período
persa seriam o contexto histórico onde a oralidade do êxodo foi textualizada
(LIVERANI, 2003, p. 305-308). Entretanto, ainda faltam evidências para esclarecer o
que teria dado base para essa oralidade, ou melhor, como teria surgido a memória do
êxodo? Como já visto, Finkelstein e Silberman apresentam uma sugestão para sanar
esse questionamento assim como os autores, contrários aos minimalistas, que defendem
a idéia de que o êxodo foi um acontecimento histórico do século XV a.C. ou XIII a.C.

        Segundo Lemche:

            O Israel do Antigo Testamento apresentou-se como um produto da
            imaginação literária. Sua história não foi de um mundo real, mas a
               sua organização foi baseada pelos requerimentos de dois mitos
               fundantes, o primeiro deles o Êxodo, e o segundo o Exílio Babilônico.
               Se partes dessa história realmente aconteceram ou não no mundo
               “real” a questão é que se formou essa história imaterial (tradução
               própria).12

          Como se pode notar as pesquisas de cunho minimalista possibilitaram novas
interpretações sobre todo o Israel antigo, conseqüentemente também sobre o êxodo.
Independente de sua pertinência acadêmica, a tendência é que a postura minimalista
cresça em importância no debate sobre a história de Israel. As razões para isso se
encontram, sobretudo, no fato dos minimalistas ocuparem importantes funções em
institutos de Arqueologia e História, mundialmente reconhecidos, desse modo, é
possível que os autores discordantes dessa linha de pensamento atuem cada vez mais
como vozes isoladas.

_________________
1
  Em relação ao êxodo Dever argumenta: Logo no início de sua caminhada, os israelitas escolheram entrar
em Canaã pelo “caminho da terra dos Filisteus”, isso é, a rota da costa ou a posterior Via Maris (Ex. 13:
17-18). Esta rota parecia fazer sentido, é a mais direta do Egito ao seu destino. Mas a referência aos
filiteus é um anacronismo. Este povo não estava assentado em Canaã até a época de Ramsés III, c. 1180
a.C. Os escritores bíblicos não teriam sabido disto, mas eles tinham conhecimento que o estabelecimento
dos filisteus nos sítios ao longo da costa teriam sido uma barreira. Assim a referência é inserida dentro de
Êxodo, da mesma forma que a rota alternativa descrita em Números (tradução própria). “Near the very
beginning of their wanderings, the Israelites contemplate entering Canaan [by way of the land of the
Philistines], that is, the coastal route or the later Via Maris (Exod. 13: 17-18). This route would seem to
make sense; it is the most direct one from Egypt to their destination. But the refence to Philistines is an
anachronism. That people did not settle in Canaan until the time of Ramses II, ca. 1180 B.C. The biblical
writers would not have know this, but they were aware that the Philistines establishment at sites along the
coast would have been a barrier. Thus the reference is inserted into the Exodus account, and thus the
alternate route described in Numbers. DEVER, William G. Who Were the Early Israelites and Where
Did They Come From?. Wm. B. Eedmans Publishing Co., 2003, p. 23
2
  Explicações desse cunho sobre as pragas e os milagres no deserto são encontradas em DEVER, 2003,
pp. 15 e 21.
3
  Some of the information is clearly fanciful, as for instance the tribal census lists (Num.1), wich total
603,550; similarly the contradictory claim that the tribes could field a fighting force of 600,000 men
(Exod. 12:37), wich would work out to a total population of some 2.5-3 million. There is simply no way
that the Sinai Desert, then or now, could have supported more than a very few thousand nomads.
(DEVER, 2003, pp. 18-19).
4
  www.airtonjo.com
5
   The Copenhagen School of Thought, popularly known “Minimalsim”, is an identifiable method of
scholarship within biblical studies. It arose out of the need for scholars to account for the discrepanices
between the biblical texts and the discoveries of archaeologists. It proposes seeing the biblical literature
as purely story rather than as historiographical literature which can shed light on actual history. The
“Minimalist” method proposes using archaeology alone for the purpose of reconstructing history. This
approach has many attractive features but fails to present a method of investigation which is entirely free
of problems, including bias. It is just one paradigm among others which can be used to investigate the
history of Syria-Palestine. www.airtonjo.com
6
  They often call themselves revisionists; others describe them as minimalists. I have suggested that they
are more accuretely nihilists – for when they are finished rewriting Israel’s history, early or late, there is
nothing left that most of us would recognize as history. That is as they would have it, however, for their
fundamental conclusion (or is it a preconception?) is that one can no longer write a history of ancient
Israel, at least not one based on the biblical texts.
7
   FINKELSTEIN, Israel & SILBERMAN, Neil Asher. A Bíblia não tinha razão; tradução Tuca
Magalhães. São Paulo: A Girafa Editora, 2003.
8
  A respeito de José, Liverani afirma: “A história de José (Gen. 37-48) é completamente diferente em sua
estrutura e ambiente. [...] Mas a história, com os seus principais valores morais encontra paralelos que se
concentram todos à época do Império Persa. Basta recordar a história de Ahigar, ambientada na corte
assíria, mas de redação posterior (o homônimo “Romanzo” é do século V), onde se narra sobre o sábio
que ascende desde uma origem humilde ao posto de conselheiro privilegiado e Visir de Esarhaddon. Ou a
história de Democede (in Hdt. III 129-137), médico grego levado como escravo à corte de Dario e depois
erguido à posição de comensal do rei. [...] A história de José pressupõe a presença de significativos
núcleos de emigrantes palestinos no Egito, inseridos em um mundo de diversas estruturas e costumes
econômicos, e não pode estar concebida e redigida antes do Século V” (tradução própria). “La storia di
Giuseppe (Gen. 37-48) è completamente diversa per struttura e ambientazione. [...] Ma la storia con lê
sue principali valenze morali trova paralleli che si addensano tutti all’epoca dell’impero persiano. Basti
ricordare la storia di Ahiqar, ambientata alla corte assira ma di redazione posteriore (l’omonimo
“Romanzo” è del V secolo), in cui si narra del sapiente Che assurge da umili origini al ruolo di
consigliere privilegiato e visir di Esarhaddon. Oppure la storia di Democede (in Hdt. III 129-137),
medico greco portato schiavo alla corte di Dario e poi assurto al rango di commensale del re.[...] La
storia di Giusepe presuppone la presenza di cospicui nuclei di emigrati palestinesi in Egitto, inseriti in
um mondo dalle diverse strutture e consuetudini economiche, e non può essere stata concepita e redatta
prima del V secolo”. LIVERANI, Mario. Oltre la Bibbia. Storia Antica di Israele. Roma-Bari, Laterza,
2003, pp. 295-296.
9
   “Há uma boa razão para se acreditar que nos tempos de fome em Canaã – do exato modo como a
narativa bíblica descreve – pastores e lavradores igualmente iam para o Egito a fim de se estabelecer no
leste do delta e aproveitar a sua confiável fertilidade. [...] Em outros períodos, os semitas podem ter ido
para o Egito apenas porque o país lhes oferecia a perspectiva de comércio e de melhores oportunidades
econômicas. [...] Sabemos que alguns foram designados escravos nas terras cultivadas dos templos do
Estado; outros terminaram subindo na escala social, chegando a se tornar funcionários do governo,
soldados e até mesmo sacerdotes.” (FINKELSTEIN & SILBERMAN, 2003, p.82).
10
    “A conclusão – de que o Êxodo não aconteceu na época e da forma descrita na Bíblia – parece
irrefutável quando examinamos a evidência de sítios específicos, onde os filhos de Israel supostamente
acamparam por longos períodos, durante sua caminhada pelo deserto (Números 33), e onde alguma
indicação arqueológica – se existente - , é quase certo, seria encontrada. [...] Da longa lista de
acampamentos no deserto, Kadesh-barnea e Ezion-geber são os únicos que podem ser identificados com
segurança, mas não indicaram nenhum traço dos nômades israelitas” (FINKELSTEIN & SILBERMAN,
2003, pp.94-95).
11
    L’immagine del deserto, nel complesso Esodo-Numeri non è di tipo pastorale, dove le tribù vivono a
loro ágio; è invenc del tipo “zona di rifugio” o “terra di esilio”, in uma prospettiva cittadina di acuto
disagio. La strada è difficile e pericolosa per presenza di insidie e mancanza d’acqua. Il paso: il deserto
grande e terribile, di serpenti brucianti e di scorpioni e di sete, dove non c’è acqua (Deut.8:15) è símile
alle preoccupazioni logistiche per l’attraversamento del deserto da parte degli eserciti assiri, come nella
spedizione di Esarhaddon a Baza: un distretto remoto, una distesa desertica di terra salina, una regione
di sete...(con) serpenti e scorpioni che ricoprono la terra come formiche. (IAKA, pp. 56-57). Anche gli
eserciti della monarchia di Viuda avevano attraversato il deserto, ad esempio nella spedizione contro
Mo’ab; e la recerca dell’acqua da parte di Mosè, che la fa scaturire dalla rocía (Es. 17:1-6), echeggia la
recerca dell’acqua da parte dei “profeti” annesi all’esercito in quell’occasione: Così dice Yahweh:
scavate in questo wadi pozzi e pozzi, perchè così dice Yahweh: non vedrete vento nè pioggia, eppure
questo wadi si riempirà d’acqua e voi berrete, voi e le vostre truppe e le vostre bestie (da soma)! (2Re
3:16-17). (LIVERANI, 2003, pp. 309-310).
12
   The Israel(s) of the Old Testament shoowed itself to be a product of a literary imagination. Its history
was not one of the real world, but in its organization was directed by the requirements of the two
foundation myths, the first of the Exodus, and the second of the Babylonian exile. Wether or not parts of
this history really happened in the “real” world is to the mind that formed this history immaterial.
LEMCHE apud DEVER, 2003, p. 140.

Bibliografia
DEVER, William G. Who Were the Early Israelites and Where Did They Come From?.
Wm. B. Eedmans Publishing Co., 2003.
FINKELSTEIN, Israel & SILBERMAN, Neil Asher. A Bíblia não tinha razão; tradução
Tuca Magalhães. São Paulo: A Girafa Editora, 2003.
FOX, Robin Lane. Bíblia verdade e ficção; tradução Sérgio Flaksman. São Paulo:
Companhia das letras, 1993.
FRÉDÉRIC, Louis. A Arqueologia e os Enigmas da Bíblia. Rio de Janeiro: Otto Pierre
Editores, 1978.
LIVERANI, Mario. Oltre la Bibbia. Storia Antica di Israele. Roma-Bari, Laterza, 2003.
ROMER, John. Testamento os textos sagrados através da história; tradução Bárbara
Theoto Lambert. São Paulo: Melhoramentos, 1991.
_____________

*
  Josué Berlesi. Licenciado em História (UFRGS). Mestrando em Teologia (EST).

FONTE: http://www.gaialhia.kit.net/artigos/josue_1_2008.pdf
"Houve um tempo em que os anjos perambulavam na terra.
Agora não se acham nem no céu."
__________
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"Acerca dos deuses não tenho como saber nem se eles existem nem se eles não
existem, nem qual sua aparência. Muitas coisas impedem meu conhecimento.
Entres elas, o fato de que eles nunca aparecem."
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Offline FZapp

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #11 Online: 14 de Dezembro de 2009, 22:51:33 »
Há registros egipcios sobre tal debandada de escravos?

Acho que nao

Os apologistas geralmente argumentam que não existem registros egípcios porque os egípcios não seriam idiotas a ponto de fazer propaganda alheia ou anti-propaganda.


Só que na época a maioria dos 'escritos' era na pedra. Hoje temos registros da censura pós-Akhenaton, porque escrever e depois rasuraram a pedra.

Como esconder dois milhões de judeus ?
--
Si hemos de salvar o no,
de esto naides nos responde;
derecho ande el sol se esconde
tierra adentro hay que tirar;
algun día hemos de llegar...
despues sabremos a dónde.

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Offline Fernando Silva

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #12 Online: 15 de Dezembro de 2009, 06:55:09 »
Como é possível que 2 milhões de israelitas [1] tenham sobrevivido por 40 anos no deserto do Sinai, junto com seus animais?

A região, até hoje, e mesmo com a tecnologia moderna, mal consegue sustentar uns 50 mil beduínos (no máximo; os números são imprecisos e variam de 5 a 50 mil), sendo que muitos deles vivem em cidades.

A arqueologia encontrou sinais de povos caçadores-coletores em vários lugares do Sinai, mas datam de antes e depois da época em que o Êxodo deveria ter ocorrido. Dessa época, só foram encontrados restos deixados pelos soldados egípcios, e mesmo assim ao longo de uma antiga estrada ao norte, não onde os judeus teriam estado.

Como é que grupos pequenos, com dezenas ou centenas de nômades, deixaram vestígios detectáveis e 2 milhões de israelitas, durante 40 anos, não?

Segundo o Deuteronômio, eles passaram muito tempo no oásis de Kadesh-barnea, na parte leste do Sinai. O versículo 2:14 especifica: 38 anos. Não há sinais de 38 anos de permanência de 2 milhões de pessoas.

[1] Êxodo 12:37 fala em 600.000 homens. Números 1:46 entra em detalhes, por tribo, e chega a 603.550.
A maioria dos apologistas cristãos concorda com esse número, embora apele para milagres para explicar sua sobrevivência.

Offline ronysalles

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #13 Online: 15 de Dezembro de 2009, 11:39:14 »
Como é possível que 2 milhões de israelitas [1] tenham sobrevivido por 40 anos no deserto do Sinai, junto com seus animais?


Eu sei que você sabe. Mesmo assim, vou dar uma mãozinha, você disse que não sabe como isso foi possível. A resposta é, adivinha! a resposta é: FÉ, meu irmão, fé.
“A maior decepção de um crente fervoroso seria, ao chegar no céu, vê um ateu”. ronysalles

Offline West

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #14 Online: 15 de Dezembro de 2009, 17:27:21 »
Citar
Por que há tão poucas evidências históricas do Êxodo?
Moisés teria levado milhares de pessoas à Terra Prometida.
Mas, no deserto e em Israel, não há sinais de uma grande migração
por Texto Reinaldo José Lopes


A Bíblia está repleta de imagens inesquecíveis, mas pouca gente discorda de que uma das mais fortes é a de Moisés usando seu cajado para abrir o mar Vermelho e conduzir uns 600 mil israelitas rumo à liberdade. O consenso entre os historiadores, no entanto, é que a fuga dessa multidão do Egito nunca aconteceu ou, pelo menos, deu-se numa escala infinitamente menor. Em vez de serem escravos libertos e conquistadores de uma nova terra, os israelitas, ancestrais dos judeus, teriam surgido lentamente na própria Palestina, cristalizando-se a partir de povos que sempre estiveram naquela região.

De nômades a escravos

Só para refrescar a memória de quem nunca assistiu O Príncipe do Egito, vale lembrar como o Antigo Testamento relata o surgimento do povo de Israel. Segundo as Escrituras, uma família de pastores nômades que vagava pela terra de Canaã (onde hoje ficam Israel e a Palestina) se refugiou no Egito para escapar da fome e da seca. Os egípcios os receberam bem porque José, filho de Jacó (o patriarca da família, também chamado de Israel), era o primeiro-ministro do faraó. Passaram-se 400 anos e a família se tornou um povo numeroso. Com medo de que eles tomassem o poder, os egípcios os escravizaram. Inspirado por Deus, um líder carismático chamado Moisés forçou o faraó a libertar os israelitas e eles voltaram para Canaã, exterminando os habitantes da terra e tomando-a para si.

Acontece que esse roteiro parece ter mais furos que um queijo suíço. Para começar, nenhum documento egípcio ou de outros povos do antigo Oriente Médio traz qualquer menção a José, ao faraó que o “empregou” ou à fuga em massa dos israelitas. “Isso é um problema grave. O argumento de que os egípcios não registravam derrotas é falso: a saída de um pequeno grupo nem era um revés, e eles relatavam derrotas, sim, mesmo quando diziam que tinha sido um empate”, afirma Airton José da Silva, professor de Antigo Testamento do Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP). A menção mais antiga a Israel fora da Bíblia data mais ou menos do ano 1200 a.C., vem – ironicamente – de um documento egípcio e fala de um povo já instalado em Canaã. Num monumento, o faraó Merneptah diz que “Israel está destruído, sua semente não existe mais” – nitidamente um exagero da parte do monarca egípcio, que dizia ter vencido Israel.

Embora a Bíblia diga que Moisés e seu povo passaram 40 anos vagando pelo deserto do Sinai, os arqueológos não acharam nem sinal deles na área durante a época – por volta de 1300 a.C. – em que o Êxodo teria ocorrido. O grande problema, porém, vem dos dados obtidos na própria terra de Canaã. Segundo Israel Finkelstein, arqueólogo da Universidade de Tel-Aviv, os assentamentos que vão dar origem às cidades israelitas começam a aparecer nas montanhas da Palestina em torno de 1200 a.C. São pequenas vilas rurais e pastoris que apresentam exatamente o mesmo tipo de cultura material – cerâmica, ferramentas, maneira de construir as casas etc. – presente nas cidades costeiras de Canaã. Ora, a Bíblia diz que os habitantes dessas cidades, os cananeus, eram um povo inimigo e totalmente diferente dos israelitas.

Mas o que a arqueologia indica é que o próprio povo de Israel era uma dissidência dos cananeus – gente que teria se estabelecido em novas vilas nas montanhas por razões que ainda não foram totalmente esclarecidas.

Outros indícios de que a hipótese da origem cananéia está certa são lingüísticos: o hebraico, língua em que foi escrito o Antigo Testamento, é quase igual ao idioma dos povos vizinhos. Sem falar no próprio nome Israel: ele termina com o nome do deus cananeu El, enquanto os israelitas adoravam Javé, diz a Bíblia.

Ainda pairam, no entanto, algumas dúvidas. Por que diabos o povo de Israel inventaria uma origem escrava e estrangeira para si próprio? E como explicar a origem genuinamente egípcia do nome de Moisés? Para alguns especialistas, isso indica que um pequeno grupo de fugitivos do Egito se incorporou, de fato, ao grupo maior de cananeus que deu origem a Israel, de forma que sua história de libertação virou parte das narrativas sobre o surgimento dos israelitas.

Refugiados da atual Palestina costumavam ir para o Egito quando havia grandes secas, o que poderia ser uma inspiração para o Êxodo.

 

FONTE: http://super.abril.com.br/religiao/ha-tao-poucas-evidencias-historicas-exodo-447586.shtml
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"Acerca dos deuses não tenho como saber nem se eles existem nem se eles não
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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #15 Online: 15 de Dezembro de 2009, 17:55:14 »
Citar
 
O ÊXODO QUE NÂO HOUVE
Por Uri Avnery 25/04/2008 às 02:43


Confrontadas com o poder deste mito, o que importam as evidências de que o Êxodo do Egito jamais aconteceu? Milhares de documentos egípcios decifrados em anos recentes não permitem duvidar: jamais aconteceu qualquer êxodo em massa, como descrito na Bíblia, nem qualquer movimento remotamente semelhante àquilo.


O leão e a gazela*
Uri Avnery**

ONTEM À NOITE, judeus em todo o mundo celebraram o Sêder, a única cerimônia que une os judeus, onde estejam, ao seu mito fundador: o Êxodo, a saída do Egito.

Todos os anos maravilho-me com o calor desta cerimônia. Reúne-se a família, e todos ? do mais venerável avô ao bebê recém-nascido ? têm um papel a desempenhar. Convocam-se todos os sentidos: a visão, a audição, o olfato, o gosto e o tato. O texto do Haggadah, que se lê em voz alta, o alimento simbólico, as quatro taças de vinho, o canto que todos cantam, a exata repetição de todos os passos, ano após ano ? tudo isto se imprime na consciência das crianças desde a mais tenra idade, numa memória que não se apaga e que continua com todos até o túmulo, sejam adultos religiosos ou não. Ninguém esquece a segurança e o calor da grande família à volta da mesa do Sêder, e aquela lembrança permanece, sempre evocada com nostalgia, até a velhice. Um cínico verá aí exemplo perfeito de lavagem cerebral.

Confrontadas com o poder deste mito, o que importam as evidências de que o Êxodo do Egito jamais aconteceu? Milhares de documentos egípcios decifrados em anos recentes não permitem duvidar: jamais aconteceu qualquer êxodo em massa, como descrito na Bíblia, nem qualquer movimento remotamente semelhante àquilo. Os documentos que hoje se conhecem, que cobrem detalhadamente cada área e todas as épocas da Canaã de então, provam que não houve qualquer ?Conquista de Canaã?, nem reino de Davi e Salomão. Durante um século, arqueólogos sionistas devotaram esforços incansáveis à tarefa de buscar qualquer prova, por mínima que fosse, que confirmasse a narrativa bíblica. Nada encontraram.

Nada disto importa. Na luta entre a história ?objetiva? e o mito, o mito que atende às necessidades de Israel sempre vencerá. De goleada. Não importa o que houve, só importa o que incendeie a imaginação dos israelenses. Assim chegamos ao dia-a-dia que Israel vive hoje.

A NARRATIVA BÍBLICA só se conecta à história documentada à altura do ano 853 a.C., quando os 10 mil soldados e os 2.000 carros de combate de Ahab, rei de Israel, aliaram-se, numa grande coalizão, aos reinos da Síria e da Palestina, contra os assírios. A batalha, documentada pelos assírios, aconteceu em Qarqar, na Síria. Se não derrotaram os assírios, conseguiram, pelo menos, detê-los.

(Uma nota pessoal: Não sou historiador, mas penso sobre a história de Israel há muitos anos; cheguei a algumas conclusões, que aqui apresento. Muitas destas conclusões estão baseadas no que já é consensual entre vários especialistas, em todo o mundo.)

Os reinos de Israel e Judá, que cobriram parte do território entre o Mediterrâneo e o rio Jordão, em nada diferiam de outros reinos da região. A Bíblia diz, bem claramente, que por ali se ofereciam sacrifícios a várias divindades pagãs ?em qualquer colina e à sombra de qualquer árvore verdejante? (Primeiro Livro dos Reis, 14:23).

Jerusalém era uma pequena vila, uma feira, pequena demais e pobre demais para que ali ocorressem os eventos narrados na Bíblia, àquela época. Nos livros da Bíblia que tratam daquele período, praticamente não se encontra a palavra ?judeu? (Yehudi, em hebraico); e, quando aparece, a palavra designa simplesmente algum habitante da Judéia, região à volta de Jerusalém. Quando, na Bíblia, ordena-se a um general assírio que ?não nos fales em hebraico? (Segundo Livro dos Reis, 18:26), entende-se por ?hebraico? um dialeto local, falado apenas naquela região.

A revolução ?dos judeus? aconteceu no exílio da Babilônia (587-539 a.C.). Depois que os babilônios conquistaram Jerusalém, membros da elite dos judeus foram exilados para a Babilônia, onde entraram em contato com importantes correntes culturais do tempo. Daí resultou uma das maiores criações da humanidade: a religião judaica.

Passados cerca de 50 anos, alguns dos exilados voltaram à Palestina. Traziam com eles o designativo ?judeus?, que se aplicava a um movimento religioso-político-ideológico; dizia-se ?judeus?, mais ou menos como hoje se diz ?sionistas?. Portanto, só depois deste retorno é que se pode falar de ?judaísmo? e de ?judeus? ? no sentido que hoje se atribui a estas palavras. Nos 500 anos seguintes, a religião monoteísta judaica gradualmente se cristalizou. Naquele mesmo momento, foi composta uma das criações literárias mais extraordinárias de todos os tempos ? a Bíblia Hebraica. Os que escreveram a Bíblia não pretenderam registrar a ?história?, no sentido que hoje se dá a esta palavra; sabiam que estavam compondo um texto religioso, edificante e instrutivo.

PARA ENTENDER o nascimento e o desenvolvimento do judaísmo, é preciso considerar dois fatos importantes:
(a) Desde o início, quando os ?judeus? voltaram da Babilônia, a comunidade judaica foi minoria entre os judeus em geral. Ao longo do período do ?Segundo Templo?, a maioria dos praticantes do judaísmo vivia longe dali, em áreas que hoje se conhecem como Iraque, Egito, Líbia, Síria, Chipre, Itália, Espanha e outras.

Os judeus, naquele momento, não eram uma ?nação? ? idéia que ainda nem nascera. Os judeus da Palestina não participaram das rebeliões de judeus na Líbia e em Chipre, contra os romanos; e os judeus de outros locais não participaram da Grande Revolta dos judeus em Israel. Os macabeus não foram guerreiros ?nacionalistas?; foram guerreiros religiosos, praticamente como o Taliban que conhecemos hoje; e mataram muito mais judeus ?helenizados? do que os soldados inimigos.

(b) A diáspora dos judeus não é fenômeno único. Ao contrário: a diáspora, naquele momento, era norma. Noções como ?nação? são conceitos do mundo moderno. Durante o tempo do ?Segundo Templo?, e dali em diante, o padrão sociopolítico era o de uma comunidade político-religiosa que se autogovernava e não estava ligada a nenhum específico território. Um judeu em Alexandria podia casar com judia em Damasco, mas não com a mulher cristã da esquina de sua casa. Ela, por sua vez, podia casar com um cristão em Roma, mas não com o vizinho helenista. A diáspora dos judeus foi uma, dentre outras, em comunidades deste tipo.

Este padrão social foi preservado no Império Bizantino, assumido depois pelo Império Otomano; e ainda há vestígios dele no Direito israelense. Hoje, uma muçulmana israelense não pode casar com um judeu israelense; drusos não podem casar com cristãos (não, pelo menos, em Israel). Os drusos, já que se falou deles, são exemplo sobrevivente daquela específica diáspora.
Os judeus só são únicos, num aspecto: depois de os povos europeus moverem-se gradualmente para novas formas de organização, e converterem-se, afinal, cada povo, em nação, os judeus continuaram a ser o que já eram: uma diáspora comunal-religiosa.

O QUEBRA-CABEÇAS que preocupa os historiadores é: como uma minúscula comunidade de exilados babilônicos converteu-se em diáspora planetária, de milhões? Só há uma resposta convincente a esta pergunta: a conversão.

O moderno mito judeu diz que todos os judeus são descendentes de uma comunidade de judeus que viveu na Palestina há 2.000 anos e foi expulsa de lá pelos romanos, no ano 70 da era cristã. Esta idéia não tem, é claro, qualquer fundamento. A ?expulsão da própria terra? é um mito religioso: Deus, desgostoso dos judeus por seus muitos pecados, exilou-os de Sua terra (da terra de Deus). Mas os romanos não tinham o hábito de movimentar grandes populações, e há muitas evidências de que grande parte da população judaica permaneceu no país depois da Revolta dos Zelotes e depois do levante de Bar-Kochba; e de que a maioria dos judeus vivia longe daqui, desde antes.

À época do Segundo Templo e depois, o judaísmo era, par excellence, religião de prosélitos. Durante os primeiros séculos da era cristã, o judaísmo competiu ferozmente com o cristianismo. Ao tempo em que os escravos e outros povos oprimidos no Império Romano foram mais atraídos pela religião cristã, com sua comovente história humana, as classes superiores tenderam na direção do judaísmo. Ao longo do período imperial, muitos abraçaram o judaísmo.

A origem dos judeus asquenazis é particularmente intrigante. Ao final do primeiro milênio, surgiram na Europa ? saídos não se sabe de onde ? muitos judeus cuja existência jamais havia sido documentada. De onde vinham?

Há várias teorias sobre os judeus asquenazis. A mais aceita convencionalmente diz que os judeus vagaram do Mediterrâneo para o norte, concentraram-se no vale do Reno e dali, fugindo dos pogroms, chegaram à Polônia ? naquele tempo o país mais liberal da Europa. Dali se dispersaram pela Rússia e Ucrânia, levando com eles o dialeto alemão que se converteria no iídiche. Para o professor Paul Wexler, da Universidade de Telavive, a história é outra e o íidiche seria dialeto não do alemão, mas de uma língua eslava. Por esta hipótese, muitos dos judeus asquenazis seriam descendentes dos sérvios, povo eslavo que viveu no leste da Alemanha e foi forçado a abandonar seus credos pagãos ancestrais. Muitos deles tornaram-se judeus, em vez de tornarem-se cristãos.

Em livro recentemente lançado, com o provocativo título de ?When and How the Jewish People was Invented?
[1]
[1] (?Quando e como o povo judeu foi inventado?), o historiador israelense Shlomo Sand argumenta ? como Arthur Koestler e outros antes dele ? que muitos dos judeus asquenazis são, de fato, descendentes dos khazars, povo turco que criou um grande império na região que é hoje o sul da Rússia, há mais de mil anos. O rei dos khazars converteu-se ao judaísmo e, conforme esta teoria, os judeus do leste da Europa seriam, na maioria, descendentes de khazars conversos. Sand também acredita que muitos dos judeus sefaraditas são descendentes de tribos árabes e berberes do norte da África que não se tornaram muçulmanas e converteram-se ao judaísmo; e que participaram da conquista da Espanha.

Quando o judaísmo deixou de ser religião de prosélitos, os judeus tornaram-se comunidade étnico-religiosa fechada (como diz o Talmud: ?os conversos são difíceis para Israel, como doença de pele?).

Mas a verdade histórica, seja qual for, pouco importa. O mito é mais forte que a verdade; e o mito diz que os judeus foram expulsos de sua terra. Este é um estrato fundacional na consciência moderna dos judeus, e não há pesquisa acadêmica que o sacuda.

NOS ÚLTIMOS 300 anos, a Europa ?nacionalizou-se? em várias nações. A nação moderna substituiu os antigos padrões sociais (a cidade-estado, a sociedade feudal e o império dinástico). A idéia de nação tudo arrastou, como avalanche, inclusive a história. Cada uma destas novas nações formalizou uma ?história imaginada? para ela mesma. Em outras palavras, cada nação reacomodou os antigos mitos e os fatos históricos de modo a modelar uma ?história nacional? própria, para proclamar a própria importância e servir como solda que tudo unifica.

A diáspora dos judeus, que ? como já disse ? era ?normal? há 2000 anos, tornou-se ?anormal?, excepcional. Isto intensificou o ódio aos judeus, que de certo modo já crescia na Europa cristã. Dado que os nacionalismos europeus eram ? mais ou menos ? anti-semitas, muitos judeus sentiram que estavam sendo ?excluídos?, que não havia lugar para eles na nova Europa. E alguns decidiram que os judeus deviam acompanhar os sinais dos novos tempos: e a comunidade dos judeus foi convertida numa ?nação? dos judeus.

Para operar a transformação, foi necessário remodelar e reinventar uma história judaica; e converter a diáspora étnico-religiosa em mito épico da história de uma ?nação?. Este foi o trabalho de um homem que pode ser considerado padrinho da idéia sionista: Heinrich Graetz, judeu alemão que foi influenciado pelo nacionalismo alemão e criou uma história nacional judaica. Suas idéias modelaram e até hoje ainda modelam a consciência dos judeus.

Graetz tomou a Bíblia como se fosse história; reuniu todos os mitos e construiu uma narrativa histórica completa e contínua: o período dos Patriarcas, o Êxodo do Egito, a Conquista de Canaã, o ?Primeiro Templo?, o Exílio na Babilônia, o ?Segundo Templo?, a Destruição do Templo e o Exílio. Esta é a história que todos os israelenses aprendemos na escola ? e é o fundamento sobre o qual se construiu o sionismo.

O SIONISMO foi uma revolução em muitos campos, mas a revolução mental nunca foi completa. Sua ideologia converteu a comunidade dos judeus em povo judeu, e converteu o povo judeu em nação judaica ? mas jamais definiu claramente qualquer diferença. Para conquistar as massas de judeus com inclinação religiosa no Leste europeu, o sionismo tornou-se também religioso e misturou tudo num coquetel complexo ? a religião é também nação; e a nação é também religião. Mais tarde, acrescentou-se a idéia de que Israel é um ?Estado judeu? que pertence a seus cidadãos (judeus?), mas pertence também ao ?povo judeu? espalhado pelo mundo. Para a doutrina oficial israelense, Israel é o ?Estado-nação judeu?; mas, para o Direito israelense, ?judeu? é quem pratica a religião judaica.

Faltou coragem a Herzl e seus sucessores para fazer o que fez Mustafa Kemal Ataturk, ao fundar a moderna Turquia: fixou limites claros entre a nação turca e a religião islâmica; e impôs completa separação entre ambas. Em Israel, tudo continuou uma enorme salada. A confusão tem muitas implicações na vida real.

Por exemplo: se Israel é o Estado do ?povo judeu?, como diz uma das leis israelenses ? o que impede um judeu israelense de juntar-se à comunidade judaica na Califórnia ou na Austrália? Não surpreende, de fato, que praticamente todos os filhos dos líderes israelenses já tenham emigrado.

POR QUE é tão importante estabelecer limites entre a nação israelense e a diáspora judaica? Uma das razões é que ?nações? não se definem para elas mesmas e frente às demais nações como uma diáspora étnico-religiosa.

Pelo mesmo princípio, animais diferentes têm diferentes modos de reagir às ameaças. Uma gazela dispara a correr, ao primeiro sinal de perigo; e a natureza a equipou com os instintos necessários e com as necessárias capacidades físicas. Um leão, por sua vez, firma-se no território e o defende, se o sente ameaçado. Os dois métodos têm boas chances de sucesso, ou já não haveria no mundo nem gazelas nem leões.

A diáspora judaica desenvolveu resposta eficiente, bem adequada à sua realidade: quando os judeus sentem-se ameaçados, dispersam-se. Por isto a diáspora judaica conseguiu sobreviver a inúmeras perseguições, e até ao Holocausto. Quando os sionistas decidiram converter-se em nação ? e, de fato, criaram uma verdadeira nação em Israel ? adotaram a resposta nacional: defender-se nacionalmente e atacar as fontes de perigo. Mas é impossível ser diáspora e ser nação, ser gazela e ser leão, ao mesmo tempo.

Se os israelenses queremos consolidar nossa nação, temos de nos livrar dos mitos que nos prendem a outro modo de existir; e temos de redefinir nossa história nacional. O conto que narra o êxodo do Egito é bom como mito e alegoria ? ele celebra o valor da liberdade. Mas temos de saber ver a diferença entre mito e história; entre religião e nação; entre uma diáspora e um Estado, para descobrir o lugar que nos cabe na região onde vivemos; e para conseguir estabelecer relações normais de convivência com os outros povos que também vivem aqui, nossos vizinhos.

**Uri Avnery,85 anos, é membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelense). Adolescente, Avnery foi combatente no Irgun e mais tarde soldado no exército israelita. Foi três vezes deputado no Knesset (parlamento). Foi o primeiro israelense a estabelecer contato com a liderança da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1974. Foi durante quarenta anos editor-chefe da revista noticiosa Ha'olam Haze. É autor de numerosos livros sobre a ocupação israelense da Palestina.

NOTAS
URI AVNERY. The Lion and the Gazelle. 19/4/2008. Gush Shalom [Grupo da Paz], em  http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1208037443/
Reprodução autorizada pelo autor e pela tradutora.
[1][1] SAND, Shlomo. 2007. Matai ve'ech humtza ha'am hayehudi? [Quando e onde o povo judeu foi inventado], Telavive: Resling (em hebraico). Sobre o livro, ver ?Shattering a 'national mythology'?, artigo de Ofri Ilani, no jornal Haaretz, 21/3/2008, na internet, em  http://www.haaretz.com/hasen/spages/966952.html, em inglês.

FONTE: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/04/418116.shtml
"Houve um tempo em que os anjos perambulavam na terra.
Agora não se acham nem no céu."
__________
Provérbio Iídiche.

"Acerca dos deuses não tenho como saber nem se eles existem nem se eles não
existem, nem qual sua aparência. Muitas coisas impedem meu conhecimento.
Entres elas, o fato de que eles nunca aparecem."
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Offline West

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #16 Online: 17 de Dezembro de 2009, 11:28:27 »
Pelo que foi postado até aqui já dá pra dizer alguma coisa sobre a possibilidade real do acontecido. Mesmo desconsiderando as partes claramente fantasiosas da narrativa bíblica, o que se tem é o seguinte:

Primeiro, os autores são unânimes em afirmar que não existem evidências arqueológicas que sustentem o deslocamento de quase um milhão de pessoas pela península arábica em qualquer tempo. É ingenuidade imaginar que um contigente populacional dessa magitude presente durante quarenta anos em uma determinada região não deixasse qualquer vestígio de sua passagem.

Os próprios dados populacionais descritos no texto bíblico são historicamente incoerentes para a época.

Ausência nos registros egípcios (ou de outros povos), mesmo anteriores ao exôdo, que assinalasse a presença de tamanho contigente populacional na região. Ausência nos registros egípcios de mudanças econômicas condizentes com o desaparecimento de número tão expressivo de trabalhadores - O Egito deveria simplesmente "quebrar" em um situação dessas.

Uma fuga também não seria possível, já que a própria Canaã da época era território Egipício. Acampamentos e fortalezas egípcias se encontravam espalhadas por toda a região. Seria como fugir do Egito para o Egito. No mínimo eles teriam sido expulsos.

Várias inconsistâncias temporais. Fatos e descrições que não batem com o período em que o suposto fato teria ocorrido, como a presença de camelos e e a narrativa de contruções que somente poderiam ter sido feitas durante um governo diferente do da época do suposto exôdo como indicado no texto bíblico. Também não existe consenso quanto à época do suposto ocorrido - mesmo as duas datas consideradas mais prováveis são historicamente incoerentes com a narrativa bíblica.

As conclusões a que se pode chegar é que se ocorreu de fato um exôdo do que poderíamos chamar de ancestrais dos hebreus, esse exôdo não teria qualquer semelhança com o descrito na bíblia.

Possívelmente um pequeno grupo - um clã ou família - em fuga, com nenhuma repercussão militar ou econômica a ponto de merecer ser registrado.

Esse fato pode ter ao longo do tempo permanecido no imaginário popular, sendo passado de geração a geração via tradição oral, sendo a cada passagem remodelado, até ganhar a forma de narrativa mitologica semelhante ao texo bíblico atual.

  

« Última modificação: 17 de Dezembro de 2009, 11:30:35 por West »
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Offline Fernando Silva

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #17 Online: 17 de Dezembro de 2009, 12:40:35 »
Para o professor Paul Wexler, da Universidade de Telavive, a história é outra e o íidiche seria dialeto não do alemão, mas de uma língua eslava.
O iídiche é claramente um alemão simplificado. Não tem nada de eslavo.

Offline Berehit

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #18 Online: 22 de Janeiro de 2010, 14:53:42 »
« Última modificação: 23 de Janeiro de 2010, 14:40:55 por FZapp »

Offline Mr. Mustard

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #19 Online: 22 de Janeiro de 2010, 14:56:56 »
Mais um tópico né Sr. Sabedoria?

Offline CTHULHUZINHO

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #20 Online: 22 de Janeiro de 2010, 23:12:48 »
Interessante sua colocação west, e pensar que na minha infancia eu cria nesses mitos... Em se falando de mitos, prefiro os Mythos :hihi:
http://www.warehouse23.com/img/full/FFGHP01.jpg
Ph'nglui mglw'nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn!

Offline André Luiz

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #21 Online: 27 de Janeiro de 2010, 08:10:05 »
Mas infelizmente a narrativa mitologica sempre ira prevaleçer

Tem hora que eu acho que qualquer descoberta arqueologica que possa alfinetar alguma religiao  convenientemente fica restrita aos circulos academicos

Nao há divulgaçao em massa

Offline Bulldog

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #22 Online: 27 de Janeiro de 2010, 10:08:36 »
Muito do desejo de acreditar, pouco de prova científica, menos ainda do bom português ou de boa formatação dos slides, resumindo,  nada que se aproveite.
Embora alguns dados até pudessem ser curiosos, o tom proselitista e o amadorismo da formatação tiram o "tesão" de pesquisar qualquer coisa a partir dai.
"Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada."
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Offline diego_h

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #23 Online: 03 de Fevereiro de 2010, 23:31:40 »
Há registros egipcios sobre tal debandada de escravos?
Acho que nao
Os apologistas geralmente argumentam que não existem registros egípcios porque os egípcios não seriam idiotas a ponto de fazer propaganda alheia ou anti-propaganda.
Até faz sentido,  mas os egipcios costumavam guardar registros sobre suas derrotas, é por isso que sabemos sobre os hicsos, Kadesh, batalhas contras os persas...
Há quem diga que os hicsos eram os proprios hebreus que reinaram sobre um certo tempo sobre o egito e depois foram expulsos

Vale lembrar que esse argumento da anti-propaganda é totalmente invalido uma vez que tais registros eram simplesmante para controle interno e não para divulgação a outros povos...
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Offline Geotecton

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Re: Travessia do Mar Vermelho
« Resposta #24 Online: 06 de Abril de 2010, 10:45:51 »
A travessia de Charlton Heston ("slide" 01).

A) Não é possível afirmar, pelas fotos, que os poços são iguais ("slide" 03). Aliás, sequer é possível afirmar que são poços.

B) O mesmo pode ser dito sobre a foto do suposto túmulo de Jacó ("slides"  04 e 05).

C) Da onde foi tirado o número de "2 a 3 milhões" de judeus que participaram do Êxodo? A própria Bíblia indica alguma coisa em torno de 600.000 pessoas.

D) O caminho traçado no "slide 9" é totalmente hipotético pois não consegui nenhum registro dele e a Bíblia é omissa quanto a isto.

E) Não sei qual foi o "tempo de resposta" das tropas egípcias entre o momento que foi detectada a fuga de 2 a 3 milhões de pessoas e o início da perseguição.

E1) É impossível você não identificar de imediato a movimentação de 2 a 3 milhões de pessoas.
E2) A distância entre o suposto ponto de fuga e o ponto do suposto "milagre" da travessia é de cerca de 320Km, em terreno acidentado, sob temperatura diurna de 45 a 50 graus Celsius, com mais de 2 milhões de pessoas caminhando e ainda cuidando de seus rebanhos. As tropas egípcias, mais preparadas e equipadas, não os teriam interceptado muito antes?

F) A imagem do "slide 10" não é a de uma trilha e sim de uma drenagem e é incompatível com o traçado proposto no "slide 9".

G) Da série de "slides 11 a 15" nada tenho a dizer pois não posso afirmar se realmente representam o local que afirmam ser.

H) "Slide 16",  A Explicação Científica!

H1) Qual é a batimetria representada pelo "slide"? Em outras palavras, onde está a escala para indicar a profundidade absoluta em metros?
H2) Mesmo assim o "slide 16" apresenta uma evidência marcante contra a suposta travessia. Reparem que na parede de chegada da travessia ("ponta da flecha") as linhas de curvas batimétricas se aproximam muito umas das outras, isto indica que aquela parede é muito íngrime, o que impediria ou pelo menos dificultaria uma passagem rápida daquela multidão.
H3) O Golfo de Aqaba é um braço de rift, com movimento transcorrente sinistral, relacionado à abertura do Mar Vermelho. Bacias relacionadas à rifts apresentam, com frequência, limites lineares e muito íngrimes.

I) Qual é o tipo de vento que se desloca bidirecionalmente a partir de um eixo central, com cerca de 13 Km de extensão (distância entre as margens) e que se mantém uniforme pelo tempo necessário de travessia de 2 a 3 milhões de pessoas? Certamente não o descrito na Bíblia, pois ela afirma ser um vento "oriental", portanto unidirecional.

J) O "slide 19" é um primor de desinformação e de erro.
J1) O círculo que indica o ponto de mergulho tem pelo menos 4 Km de diâmetro. Meio impreciso para um trabalho de arqueologia, não?
J2) As curvas batímetricas não podem apresentar aquela configuração, porque elas, por definição, ligam pontos de mesma profundidade e, portanto, não podem "subir a parede".

K) O "slide 20" apresenta um suposto belo aro de charrete "novinho", mesmo após 3.500 anos submersos em água de elevada salinidade? Pelo jeito não há sedimentação no local, pois eles estão praticamente na superfície.

L) Os "slides" 21 e 22 quando confrontados com o ("slide") 20 mostram algumas coisas interessantes... e inexplicáveis.
L1) O padrão dos aros das rodas é completamente diferente.
L2) O material usado aparenta ser diferente.

M) O "slide 24" afirma que o material da foto é osso humano (um fêmur), fossilizado, e que não pode ser datado pois foi totalmente substituído por minerais. Desculpe, mas pela foto não é possível identificar nada. Mas mesmo assim, estou curioso para saber como é que se deu o processo de fossilização em um ambiente rico em oxigênio. Sim, rico em oxigênio pois corais somente se desenvolvem em locais assim e com águas quentes. Faltou uma explicação mais adequado do ambiente geoquímico.

N) Não pesquisei sobre as colunas mencionadas nos "slides" 25 e 26 mas duas coisas me chamaram a atenção.
N1) O que propiciou a erosão em uma coluna de granito e na outra não? Eu acho que nenhuma delas é de granito, pois pela textura e pela cor eu acho que são de arenitos, rochas muito mais comuns na região.
N2) As duas fotos do "slide" 26 não parecem ter sido tiradas próximas do suposto local de travessia.

O) O Monte Sinai está a mais de 80 Km à sudoeste do ponto de onde eles supostamente atravessaram. E não está incluso no roteiro do "slide 9".

P) O "slide" 29 mostra inscrições hebraicas na Arábia Saudita. Não duvido que sejam, mas não tenho expertise para saber se elas são verdadeiras e, neste caso, de que período histórico são os símbolos.

Q) O "slide" 30 afirma que foram encontrados colunas, altares e restos do bezerro de ouro? Qual é a referência para esta afirmação? Além disto, a foto não demonstra nada disto.

R) O  "slide" 31 mostra um interessante exemplo de erosão física e química. O arenito estava fraturado, mas não separado, e com as sucessivas variações de temperatura, na qual a rocha ora contraía, ora distendia, rachou até a base e se separou. A água e o vento modelaram a forma arredondada.


Pela apresentação no "link" indicado não se pode afirmar como verdadeiro o conteúdo dos "slides".

Pobre na qualidade visual, medíocre no conteúdo informativo.


P.S. Quantos litros de água será que aquele bloquinho de arenito forneceu?
« Última modificação: 06 de Abril de 2010, 13:31:44 por Geotecton »
Foto USGS

 

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